Gai olhou para capa laranja do pequeno livro sentindo uma pitada de curiosidade que o impulsionava a pegá-lo em suas mãos e finalmente descobrir o que estava escrito ali. Então ele abriu na primeira página. E no terceiro capítulo, sentia seu rosto queimar, não acreditando na coragem de Kakashi de ler algo daquele tipo em público. Mas ainda sim, ele continuou. Porque se Kakashi gostava tanto daquele livro, talvez Gai poderia surpreendê-lo com alguma daquelas ideias.

Gai se preocupava. Diferente de todos, que apenas o parabenizavam pelo trabalho bem feito, pelo sucesso nas missões, por ser tão eficiente. Aos outros, não importavam os pesadelos que o atormentavam noite após noite, o sentimento de raiva contra si próprio que crescia cada vez mais, nem sequer a escuridão que lentamente o consumia. Mas a Gai sim. Mesmo que não o quisesse, ele sempre estava lá, como um único ponto de luz que iluminava seu escuro caminho.

Kakashi observava escondido o treino intenso demais de seu autoproclamado "Eterno rival". A cada soco, ele percebia o tremor de dor. Nos chutes, cada um mais forte que o anterior, ele via os rasgos no estúpido spandex que o garoto usava. E soube que tinha razão em trazer alguns suprimentos médicos que haviam em sua casa. Porque Gai era um idiota que sempre se machucava além da conta e ele era aquele que se preocupava em colocar um curativo em seus cortes para que seu pai não se preocupasse.

Daquela vez, havia sido Kakashi a escolher o desafio, e era por isso que Gai estava sob uma velha cerejeira, com Kakashi deitado com a cabeça em seu colo, relendo seu livro favorito. Porque manter-se calmo e atento aos pequenos detalhes, era uma importante habilidade que um shinobi deveria ter.

Mesmo depois de tantos anos sem poder treinar como antigamente, Gai ainda acordava cedo. Às vezes ele iria até a varanda observar o nascer do sol, faria algumas flexões e depois prepararia o café da manhã. Mas algumas vezes, ele apenas ficaria observando seu rival dormindo tranquilamente em sua cama.

Kakashi poderia se lembrar perfeitamente as expressões de Gai. O mover frenético de seus lábios murmurando seu nome. Os olhos negros que encaram o vermelho do seu, brilhando excitados por saber que ele nunca esqueceria nenhum detalhe daquela cena. E Kakashi sorria, porque não tinha o menor problema com isso.