‘’É apenas sexo, esqueceu?’’. Às vezes, a resposta vinha acompanhada de um sereno sorriso que, de certo modo, camuflava um pouco daquela aura misteriosa e com um Glamour alemão que só ela tinha. E, sim, era apenas sexo mas, talvez, eu nunca tenha lidado bem com isso.
Já era o terceiro mês, a nona noite. E, também, ocorria sempre da mesma maneira: Ela me telefonava, eu atendia, horário marcado, perfume e penteado, o caminho de carro, as cortinas vermelhas, velas, veludo branco, vinho alemão ou austríaco que eu nunca soube (e não vou procurar saber) pronunciar o nome e, duas ou três horas do melhor sexo que eu podia ter naquele momento.
Era ótimo, eu admito. Acredito que eu poderia viver naquele ‘vai e vêm’ de usar e ser usado por uns bons meses. Mas, como o idiota que eu sempre fui e que nunca se contentou com o que tinha em mãos, é, eu precisava de mais. E, em três meses, as únicas coisas que eu tinha era o nome de dois autores que pude ver de relance no canto de uma estante na sala e... um colar contendo um Faravahar que, constantemente, aparecia no criado-mudo ao lado da cama.
— Hermann Karl Hesse e... Oswald de Andrade? — Sim, nada se encaixava no pouco que pesquisei sobre cada uma das três coisas. A mulher tinha conhecimentos tão não-correlacionáveis que hora ou outra, eu estaria limitado e submetido à apenas o habitual ‘bate e volta’ de questões que, eu tinha certeza que jamais funcionaria com ela. Juro que pensei em comprar Demian ou qualquer livro sobre zoroastrismo, mas eu também tinha a mais absoluta certeza de que jamais teria paciência para esse tipo de coisa.
E, lá estava eu, na nona noite, deitado ao lado dela, silêncio. Tinha durado pouco mais de 2h15m e, em como todas as noites passadas, a minha vontade de saber um pouco mais sobre ela continuava presente. A minha boca abriu-se para falar e, antes que qualquer sílaba pudesse ver a luz do dia (ou da noite), foi eu quem pude ouvir o ecoar das palavras no mais fundo da minha mente, a mesma resposta de sempre: ‘’É apenas sexo, esqueceu?’’. Desisti.
Olhei pro teto, respirei fundo, ela quase riu. E, no instante mais inesperado possível, disse:
— Posso tirar uma dúvida? — Pensei em dar a resposta de sempre, mas eu era fraco demais para isso.
— Ah, claro. — Fraco demais.
— Por que você ainda continua vindo? — Era o mesmo questionamento que eu me fazia todas as manhãs quando ia embora.
— Bom, você sabe... — Virei o rosto para ela. — Apenas sexo. — E era só para mim que eu estava mentindo.
— Nós dois sabemos que não é só isso. Mas, principalmente você, também sabe que eu não vou falar de mim. Então, por quê?
— É apenas sexo.
— Tem certeza?
— Olha, você também continua me chamando todas as semanas, por quê?
— Apenas sexo.
— Idem. — Eu mentia muito mal.
Ela riu. Silêncio desconfortável:
— Espera, e a curiosidade repentina à respeito das minhas intenções, por quê?
Percebi um sorriso de canto. Levantou-se da cama passando por cima de mim e andou ainda nua até uma cômoda. Tirou de lá um casaco e respondeu enquanto o vestia:
— Você é casado, né? — Merda. Nesse momento, eu preferi nunca ter tentado saber mais dela.
— O quê? Não... Claro que não. Mas, isso importa?
Houve uma pausa. Terminou de abotoar o casaco e virou-se para mim:
— Promete? — Mais uma pausa.
— ... Sim.
— Então, não, não importa.
Foi a última noite. Ou, ao menos, parece ter sido. Já faz três semanas, quatro telefonemas, seis recados. Nada.
Talvez ela tenha arranjado outra pessoa. Ou só perdido o telefone. Ou... talvez tenha sido o destino. Mas, apenas sumir, por quê? A mulher era confusa até nas intenções. Estranho. Sinto... saudades. Mas, eu nunca nem a conheci de verdade.
Talvez eu leia Demian.
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