yui-kawachima1575938847 Yui Garbe

Nesse terceiro conto de nossa trilogia, finalmente saberemos o que aconteceu, para que Kaliel, tivesse se tornado o guardião de sua amada Yui. Uma história recontada, mas pela visão daquele que mais sofreu calado em sua vida. Finalmente os "por ques?" serão revelados. Se começou por essa, recomendo a ler, primeiramente, o conto: Um amor de Dimensões e depois o conto: "Esperando pela vida" para depois continuar com esse conto.


Kısa Hikaye Tüm halka açık.

#romance #conto #drama
Kısa Hikaye
0
4.1k GÖRÜNTÜLEME
Tamamlandı
okuma zamanı
AA Paylaş

A dimensão de um Guardião

Em uma tarde de um dia qualquer, Yui e eu passeávamos por um grande e belo jardim, com várias árvores frondosas, outras frutíferas, várias flores e alguns animais que por ali passavam para se refrescar em um lago que lá havia. O dia estava calmo, a brisa fresca que soprava, tocava gentilmente a pele de minha companheira e minha. A observo, e vejo-a com o olhar brilhante de todos os dias, como se tudo fosse novo, mesmo já tendo passado por esse local, inúmeras vezes. Ela então me olha e subitamente, vejo seu rosto ficando levemente ruborizado enquanto sorri e diz:

- Nossa, meu amor, cada vez que nós vimos a esse jardim, gosto mais daqui, pois é sempre maravilho estar em sua companhia.;

- Fico feliz que goste, minha querida, pois adoro estar aqui com você. – digo e sorrio também.

Na volta para casa, decidimos parar em uma barraca de petiscos, e nessa hora, meu telefone tocou. Vejo que é um número conhecido, então atendo descontraidamente:

- Pode falar.;

- Preciso que venha até o salão nobre e traga Yui com você. – disse a pessoa do outro lado da linha.;

- Tudo bem, estaremos aí em breve, mas poderia me dizer o que houve? – pergunto intrigado.;

- Quando chegarem, tudo será esclarecido. – e desliga.

Depois de comermos, nos dirigimos até o salão nobre. É um prédio grande, com duas cúpulas prateadas em seu topo, ao seu redor, um jardim com árvores compridas, porém finas e cercadas com arbustos e flores. É um ambiente bastante agradável e acolhedor. Sua porta frontal é feita de carvalho, todo trabalhado e esculpido com cuidado e capricho, suas maçanetas, perfeitamente desenhadas em forma de asas douradas, dão um contraste bastante elegante e belo.

Chegamos ao balcão da recepção e nem precisamos anunciar o motivo de nossa ida, pois uma mulher de estatura mediana, com o cabelo chanel castanho escuro, sobrancelhas levemente grossas e óculos com lentes ovaladas amarelas, veio até nós dizendo:

- Boa noite, me chamo Isabela e os estava esperando, pois o senhor Rafael, lhes aguarda na sala de conferências. – diz cordialmente.;

- Boa noite Isabela. – respondo da mesma maneira. – Por gentileza, poderia nos indicar o caminho?;

- Não se preocupe quanto a isso senhor, pois os acompanharei até o local.

Ela então toma a dianteira de dois passos, fazendo uma reverência bastante sutil, nos convida a adentrar ao recinto, onde pudemos ver, admirados, um pátio não muito grande, porém, muito, mas muito organizado. Uma simetria impecável. Nas beiradas, quatro bancos, entre um banco e outro, arbustos podados em forma de quadrado, ao centro, uma linda fonte com uma estátua de uma mulher, segurando um vaso, com sua abertura para cima de onde a água escorria suavemente.

Chegamos até a porta, a senhorita Isabela bate levemente três vezes. Em segundos, ouvimos a maçaneta se movimentar. A porta é aberta e em nossa frente, estava um homem de meia-idade, de cabelos bem claros, uma barba rala, porém um bigode grosso e era notório que estava um pouco acima do peso. Este homem é Rafael. Ele nos olha, sorri e diz festivamente:

- Vamos, entrem, entrem, não precisam ficar plantados aqui nesse corredor. – nos convidando para sua sala.

Era uma sala espaçosa, havia vários quadros de vários temas diferentes, fotos de uma bela mulher de cabelos loiros e longos, acredito ser alguém muito especial para Rafael, pois havia fotos em uma mesa de canto, em seu aparador e em sua mesa, que por sua vez, tinha um tapete cinza felpudo abaixo. O piso era quadriculado preto e branco, as paredes beges, quase brancas e por todo o contorno da sala, um pequeno filete de luz amarela. Ele se senta em sua cadeira de couro preto e nos sentamos à sua frente. Ele nos olha, suspira e diz pesarosamente:

- Ahn, não sei como lhes dizer isso, mas é hora de um de vocês irem para aquela dimensão. – apontando para uma janela de seu escritório.;

- Por que isso agora, Rafael? – indago surpreso.;

- Disseram que o tempo de vocês está acabando aqui e por essa razão, foi decidido que um de vocês deverá ir para lá. – falando pesaroso.;

- Mas de uma hora pra outra decidiram isso? – exclama Yui exaltada, enquanto se levanta abruptamente.;

- Sinto muito Yui, mas não pude fazer nada para reverter essa situação. – olhando desgostoso para a mulher.;

- Acalme-se querida, vamos ouvi-lo. – digo pegando em sua mão e fazendo ela se sentar novamente.;

Rafael continua com a explicação:

- Disseram que está na hora de evoluírem, mas para isso, deverão passar por essa provação. – explica desanimado e continua. – Preciso saber, qual dos dois irá?;

Nos entreolhamos e em seguida olhamos para Rafael novamente que diz:

- Mas antes de decidirem, preciso-lhes dizer que somente quem ficar aqui, terá suas lembranças, ou seja, quem for enviado para aquela dimensão, esquecerá tudo o que passou e viveu nesse mundo.

Mais uma vez, olho para ela e ela para mim e ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ambos, nos levantando, dizemos:

- Eu vou, deixe-a ficar.;

- Eu vou, deixe-o ficar.;

Nessa hora, um se vira para o outro com surpresa e em alguns segundos depois, rimos, pois não imaginávamos que nossa sintonia era tão grande assim. Então, me viro para Rafel e digo:

- Eu me prontifico a ir para essa outra dimensão. – digo com firmeza em minha voz.;

- Está certo disso, Kaliel? – questiona Rafael.;

- Sim, estou. Não quero que Yui sofra, afinal, até onde sei, para enviar alguém para a dimensão que está além desse véu, a pessoa deve morrer nesta, não é isso? – indago o olhando com seriedade.;

Rafael surpreso questiona exaltado:

- Como sabe disso? Quem te contou? Onde conseguiu essa informação?

- Rafael, isso não é surpresa para algumas pessoas, vários de nós sabemos sobre isso, afinal, as “notícias” se espalham com o vento, não é, meu caro amigo? – falando com um leve tom de deboche.;

Nisso, Yui surpreendia exclama:

- O QUÊ?! Como assim, morrer aqui? De jeito nenhum, não vou deixar ninguém matar meu marido. – serrando os punhos e prossegue. – Se querem matar alguém, que seja outro. Ninguém vai tocar em um único fio de cabelo do meu querido Kaliel!;

Ela me pega pela mão e tenta me puxar, porém, não saio do lugar. Ela então olha para mim com o olhar cheio de fúria, que vai mudando pouco a pouco para uma expressão triste e aqueles lindos olhos verdes esmeralda, se enchem de lágrimas que vão escorrendo através de sua pele branca e macia. Ela segura minha mão tão firme, que consigo sentir seu desespero, vejo que sua respiração está alterada e sem soltar minha mão diz desesperada, porém sua voz quase não saiu:

- Por quê? Por que não vem embora também? Sou tão insuportável, a ponto de querer morrer pra se livrar de mim?

Nessa hora, algo me atingiu muito profundamente, que não consegui pensar em nada além de puxa-la e abraça-la o mais forte e carinhosamente possível. Ela me abraça forte e chora, com seu rosto escondido em meu peito. Apenas olho para Rafael, pedindo-lhe que nos deixe um pouco a sós, que gentilmente cede sua sala, para que conversemos.

Após vários minutos, Yui estando mais calma, retomamos o assunto. Ela ainda um pouco atônita pela situação repentina, mas não fez nenhuma objeção, porém como era tarde, decidimos que continuaríamos essa conversa no dia seguinte. Por fim, voltamos para casa. Provavelmente, serão meus últimos dias nesse lugar, deitado nessa cama. Quanto tempo será que ficarei longe de minha amada mulher? Quanto tempo mais, poderei olhar para seu rosto e sentir seu perfume? Essas dúvidas pairavam no ar, o que não me permitiu dormir muito bem.

Na manhã seguinte, voltamos até Rafael e ele explica o restante:

- Então Kaleil, você partira a semana que vem. Era pra ser amanhã, mas consegui que te dessem um pouco mais de tempo, pois disse que Yui estava muito abalada e que isso não seria bom para vocês.;

- Obrigado Rafael, assim poderemos aproveitar um pouco mais. Criar novas e boas memórias para nos confortar em nossa despedida. – digo com uma dose sutil de tristeza, pois sei que daqui sete dias, terei de deixa-la sozinha.;

- Está bom para você assim, Yui? – diz Rafael preocupado.;

Com um suspiro conformado e pesaroso, ela diz:

- Ahn, não importa o que diga, não vai mudar em nada, então apenas devo aceitar e me esforçar ao máximo para criarmos boas memórias, para quando ele se for, não nos esqueçamos um do outro.;

Nesse momento, Rafael olha para mim, e em segundos, se vira para ela e diz:

- Yui, você lembra o que disse sobre o processo da “viagem” para a outra dimensão, não é? Que somente quem...; – e é abruptamente interrompido por mim que digo:

- Já está tudo decidido, então não há mais nada o que fazermos aqui. Rafael, daqui sete dias nos vemos novamente. Enquanto isso, vou criar novas e lindas memórias, com a mulher mais linda de todas as dimensões. E olha como sou sortudo, essa mulher, está ao meu lado e é a melhor companheira que poderia ter. – falando e rindo, tentando disfarçar o nervosismo. – Bom, até mais Rafael. – saindo enquanto aceno de costas para ele.

Antes de fechar a porta, Yui diz seria:

- Amor, espera um pouco, por favor.;

- O que houve querida? – indago surpreso.;

Ela volta na sala e impõe:

- No dia dele partir, quero o acompanhar e não importa quem ou que tente me segurar, irei junto com ele. Entendeu bem?! – ela o olha tão fria e assustadoramente, que deu para ver que suas pernas chegaram a tremer e ele imediatamente gagueja:

- Si... si... sim, sim. Você pode ir junto sim, não tem nenhuma regra contra isso. – diz enquanto parecia suar frio.;

- Então pronto. Nos vemos daqui uma semana. – ela sai da sala, pisando duro e bufando.

Olho para Rafael, rio e acenando com a mão me despeço. Tudo o que podemos fazer agora, é criar boas lembranças e espero que isso possa conforta-la, já que não me lembrarei de nada mesmo.

Naquela noite, fomos ao jardim que gostamos de ir e ficamos deitados na grama, olhando para o céu e como estava cansado, acabo adormecendo, mas acordo com Yui me chamando:

- Amor, amor. Acorda. Veja que lindo. – falando encantada.;

Meio sonolento, abro meus olhos e vejo uma linda chuva de estrelas cadentes. O lago à nossa frente, parecia um espelho refletindo esse maravilhoso espetáculo. Ficamos ali, olhando, ela ficou encantada, parecia que nunca havia visto algo assim. Pude ver em seus olhos o brilho de emoção, algo como o brilho de uma criança vendo algo pela primeira vez. Ela se levanta e corre até o lago e diz maravilhada:

- Olha isso, amor! Olha que coisa mais linda! Meu coração está acelerado de tanta felicidade!

Não consigo dizer nada além de:

- Sim, lindo mesmo. – mas o que realmente queria dizer é que esse espetáculo cósmico, só está lindo porque estou ao lado da mulher mais linda que conheço. Poderia ter dito isso, mas não sei pelo qual motivo, não pude dizer. Provavelmente é porque em alguns dias, tudo isso se acabará. Ela, olhando para o céu diz:

- Espero que isso seja uma ótima memória para você, meu amor.;

- Uhn? – indago um tanto surpreso.;

- Nada não. – diz ela olhando as estrelas e sorrindo.

Yui se senta à beira do lago e eu me sento atrás dela e a abraço forte e apoio suavemente meu queixo, por sobre sua cabeça. Ela pega minhas mãos e as segura forte, porém ao mesmo tempo, com suavidade e delicadeza e assim ficamos até acabar a chuva de estrelas cadentes. Não percebi quanto tempo durou, mas para mim, durará para sempre.

Os dias vão se passando, nenhum de nós tocou no assunto em questão, apenas procurávamos nos divertir e cumprir nossa promessa de criar boas lembranças. Então, o fatídico dia chegou. Era hora de cumprir o que foi dito. Voltamos até ao salão nobre, Rafael nos aguardava juntamente com a senhorita Isabela e mais outros dois homens com vestes negras. Ambos com feições frias e nada cordiais. Percebi que Yui, ficara incomodada com eles, mas ela não teceu nenhum comentário. Atravessamos aquele pátio, a fonte estava desligada, pois uns funcionários a estavam limpando. Caminhamos em silêncio e chegamos a uma porta, aparentemente, bastante antiga. Ao abrir-se, ela rangera forte, o som alto de suas velhas dobradiças, se espalharam pelo pátio, e por de trás desta, revele-se um corredor extenso, com as paredes levemente prateadas e assim como na sala de Rafael, um filete de luz, porém azul, percorria toda a extensão que aparentava ter uns 30 metros de comprimento, porém para mim, era como se tivesse quilômetros. Chegamos ao seu fim e ali avistávamos uma enorme porta que parecia ser grossa e pesada. Era uma porta velha, partes já mostravam a ferrugem. Seus detalhes durados estavam opacos e arranhados, era como se ninguém cuidasse de sua manutenção. Esta não tinha maçanetas ou trancas e com um bater de palmas de Rafael, ouvimos sons de motores e engrenagens se movimentando para abri-la.

Atrás, pudemos ver a sala onde estava a câmara do sacrifício. Não era nada surpreendente ou aterrorizante, como seu nome sugerira, mas ainda assim, era um lugar triste e bastante solitário. A sala, diferente das demais, era redonda, ao centro, havia um pequeno degrau, mais acima, havia alguma espécie de maquinário antigo, com diversas agulhas que me lembraram, para-raios. À esquerda, ficavam os painéis de controle, que eram protegidos por uma parede translúcida de luz sólida. Era chegada a hora, não havia mais o que fazer, se não enfrentar meu destino, porém, não esperava pelo que estava prestes a acontecer.

Os dois homens, começaram a ligar os aparatos, o baralho que fazia, era bastante incômodo e até bem arrepiante e agudo. Vários estalos vinham daquele aparelho ao centro, e pude inclusive, ver algumas faíscas sendo lançadas de suas pontas. Então, me viro para minha amada e digo, com um sorriso no rosto, tentando passa-la segurança:

- É isso meu amor, agora não há mais volta, mas prometo que voltarei para seus braços, muito em breve.;

Ela, com os olhos cheios de lágrimas, indaga em alto e bom tom:

- Aos senhores aqui presente, antes que ele se vá, posso dar-lhe meu último beijo e abraço?;

Um dos homens responde secamente:

- Ande logo, mas atente-se a não pisar no centro desse elevado atrás dele, pois a máquina está ligada e assim que pisar ali, era se iniciará.;

Ela então olha para mim com um sorriso mais lindo que posso me lembrar, me abraça forte e espera pelo meu beijo. A beijo mais apaixonadamente que posso, porém, sem que terminasse, ela me empurra para o lado e repentinamente, se joga em direção a máquina, que desce sua proteção sólida e transparente. Rapidamente me levanto, indo em direção à câmara e pondo minhas mãos por sobre aquela parede de luz, exclamo:

- YUI! O que pensa que está fazendo? – falando enquanto escuto o aparelho se carregando.;

Ela então, me olha nos olhos, coloca suas mãos, em direção às minhas e diz sorrindo:

- Amor, me espere até que volte. Você é mais forte do que eu, não aguentaria ficar sem seu calor. Peço-te que guarde nossas memórias e que proteja nossa memória, daquela tão maravilhosa, chuva de estrelas cadentes. E quando retornar, se não me lembrar de você, me prometa que irá conquistar meu coração novamente.;

Com lágrimas nos olhos e de coração rasgado, sorrio e digo, enquanto aquela máquina cruel, a tira de mim:

- Sim, meu anjo, eu prometo.

Então, em um estalo como de um raio “cabrum!”, ela vai fechando seus olhos e aos poucos, vai se desfazendo em pleno ar. Era como se seu corpo, se tornasse partículas de pó brilhantes que em segundos, somem em pleno ar. Rafael vem em minha direção, coloca sua mão sobre meu ombro esquerdo e diz:

- Sinto muito Kaliel, não imagin...; - mas antes que termine, é atingido em seu rosto, por um soco de direita, com muita força, recebendo meu ódio e tristeza. Ele se levanta e diz, mesmo com seu rosto vermelho e saindo um filete de sangue de sua boca:

- Me bata o quanto precisar, até que se sinta satisfeito. Não esperava que ela fosse fazer isso, mas quando a máquina começa o procedimento, não podemos para-la. – Ele fica parado na minha frente, com um sorriso e continua – Pode me socar, meu amigo, eu aguento essa dor, pois certeza que ela é menor que a sua. Vamos lá, compartilhe sua dor comigo.

Não tive forças para dar o segundo soco, ou creio que não quisera dar o segundo, pois a culpa de minha dor, não era dele, mas sim minha, pois jamais imaginaria, que ela teria se sacrificado em meu lugar.

Volto para casa, um lugar que outrora quente e acolhedor, agora, frio e solitário. Não consigo deixar de pensar, e todas às vezes que fecho meus olhos, revejo aquela cena cruel, dela se esvaindo e eu não podendo fazer nada. Por exaustão mental, acabo apagando, sentado em nosso sofá de dois lugares revestido com tecido estampado com flores rosas e lilases. Ao longe, escuto meu telefone tocar, mal consigo me mexer, porém, faço um esforço colossal para atende-lo. Era Rafael. Já imaginei o motivo de sua ligação. Atendo, deixando no viva-voz:

- Fale Rafael, o que quer. – falando quase sem forças.;

- Kaliel, acho que posso te ajudar. Não podemos trazê-la de volta, porém, você vai poder vê-la e acompanha-la.;

Nesse mesmo instante, como um raio, me levanto do sofá, passo a mão no telefone e digo eufórico:

- Como é!? Explique melhor isso, por favor, Rafael!;

Ele então explica, detalhadamente como que poderia vê-la. Não tinha certeza se era algo bom, ou não, pois as condições eram bastantes frias, mas aceitei-as, pois era melhor do que não estar ao lado dela. Após uma longa conversa pelo telefone, confirmei os pontos principais:

- Deixe-me ver se entendi. – e começo a enumerá-las:

- Não poderei toca-la;

- Não poderei contar-lhe a verdade;

- Não terei o direito de fazer com que se apaixone por mim;

- Deverei me apresentar apenas como seu guardião e no máximo, dar-lhe conselhos;

- E, em hipótese alguma, deverei me intrometer, caso, ela se apaixone por alguém;

E por fim, pergunto:

- Mas, e o que faço, se ela se apaixonar por mim? E antes que queira dar alguma dura, não tenho a intensão de fazê-lo, porém, se acontecer, já que estarei cuidando dela todo o tempo.

- Isso não foi orientado, mas posso encaminhar essa dúvida e ver como eles reagirão. Tudo bem, assim? – responde preocupado.;

- Bom, é melhor eu nada, não é? – aceitando conformado.

E assim, ela surge naquela dimensão, e depois de um tempo, pude vê-la novamente. Frágil e indefesa. Não sei se ela pode me ver, mas está cercada de pessoas que sorriem para minha doce, e agora inocente amada. Certeza que jamais precisará de mim para protegê-la, mas mesmo assim, estarei lá, sempre que precisar. O tempo vai-se passando e a vejo se tornar uma mulher daquela dimensão, porém, enxergo nela, todos seus traços, que estão guardados em meu coração.

É noite, ao julgar por sua aparência, ela está com quatro anos e está assustada por causa de uma forte chuva que atinge sua região. Ela corre até o quarto de seus pais, mas é enxotada pelo homem. Naquela hora, minha vontade foi intervir, porém não podia fazer nada, mas algo que não esperava, aconteceu. Ela olha para mim e diz desconfiada:

- Quem é você, moço? Como está aqui dentro de casa?

Eu, sem saber o que fazer ou dizer, pois não estava preparado por isso, disse:

- Olá valente mocinha, me chamo Kaliel e sou seu... seu... seu anjo da guarda. – falando desconsertado. – Vim até aqui, pois vi que estava com medo da chuva. Mas agora é hora de ir dormir e não ficar com medo de nada, porque seu anjo aqui... – batendo no peito, com orgulho e determinação. – Não deixará que nada de mal te aconteça. – a olho e sorrio.;

Yui, que não era mais Yui, mesmo sem entender nada, se deita, mas antes de fechar os olhos e dormir, diz com um sorriso puro e inocente:

- Obrigada moço, você é o máximo. – e adormece.

Fico ali, olhando para ela. Meus olhos cheios de lágrimas, pois em outros tempos ela diria meu amor, mas agora diz apenas, moço.

Nessas horas, fico grato, por nossas dimensões serem sobrepostas, mas nunca imaginaria que alguém daquela dimensão, pudesse ver esta. Não sabia o que pensar, afinal, como ela me viu e como ela me ouviu? Tantas dúvidas, mas achei melhor não comentar isso com ninguém, pois poderia ser perigoso. Por hora, guardarei essa informação, apenas entre nós.

Passam-se os anos, ela agora é uma adolescente bastante arredia. Todos os dias, me preocupo com ela, pois está sempre se metendo em alguma confusão. Seus pais estão separados, pois não conseguiam suporta-la. Pelo que entendi, a usavam como arma, para se atacarem e isso partia meu coração, porém, sempre que acontecia algo que a deixava triste, ela me chamava e como prometi, cuidar dessa nova Yui, estava sempre de prontidão.

Um dia, ela desesperada me chamou:

- Kaleil, por favor, se puder, venha até mim, preciso muito de você. – chorava de soluçar.;

Então, prontamente “apareci” para ela dizendo:

- Diga, minha querida, o que aconteceu? Por que está assim tão triste? – olhando em volta e vendo que a janela de seu quarto estava fechada e aparentemente a porta trancada.;

- Não aguento mais essa vida. Não aguento mais viver nesse mundo, sinto como se não fosse daqui. Parece que meu coração pertence a outro mundo. – dizia enquanto apertava seu travesseiro contra seu rosto.;

Queria dizer a ela, que em outros tempos, era minha esposa, queria dizer-lhe que aquilo era algo que havia sido destinado a mim e que ela se sacrificou em meu lugar, porém não pude, fiquei receoso de me tirarem a permissão de estar ao lado dela, mesmo que como apenas um mero guardião, ou como eles dizem naquele mundo, como um anjo da guarda.

Conversamos por horas, até que ela se acalmou e decidiu caminhar, claro que a acompanhei por todo o caminho. Yui, parecia que queria fazer algo drástico, era como se ela estivesse atentando contra sua própria existência, mas sempre a aconselhava a não fazê-lo. Foram tempos difíceis aqueles, porém o pior ainda não havia ocorrido.

Ela agora é uma jovem adulta e se envolveu com alguém, que não aprovava, porém, não podia dizer nada, apenas a observava e cuidava para que nada a machucasse. Mas em certo dia, Rafael me liga afobado e até bastante preocupado:

- Kaliel, a partir de hoje, você está proibido de ajuda-la.;

- Como assim, Rafael? – pergunto perplexo.;

- Disseram que você está afetando as decisões dela, portanto, não deve mais ser um guardião.;

- Mas se não a tivesse ajudado a tempo atrás, ela provavelmente, estaria em uma situação terrível e jamais permitiria que ela sofresse, ao menos, não sofresse mais do que a vi sofrer até então. – fechando meus olhos e suspirando melancolicamente.;

- De qualquer forma, até segundas ordens, você não deverá se intrometer em sua vida. – e desliga.

Aquilo foi um choque para mim. Não esperava que fariam isso conosco, porém, eles estavam certos, estava muito próximo a ela e isso seria mais um problema do que uma ajuda. Então, me mantive longe por um longo período. Mesmo podendo vê-la através do véu, não me manifestava.

A vi brigar com amigos, parentes, se envolver com pessoas erradas, e mesmo com o coração partido, não me envolvia em suas situações. Foram mais de três anos, em tempos terrestres, que não me manifestava, pois estava proibido de fazê-lo, mas tive de pedir para que revogassem essa proibição, devido o que ela havia contado para uma amiga de faculdade.

Imediatamente, ligo para Rafael e relato o ocorrido. Ele então pergunta:

- Você se lembra, o que foi conversado? – pergunta um pouco impaciente.;

- Sim, me lembro bem da conversa. – e então conto-lhe o que ouvi:

- Alô, amiga, preciso te contar o que sonhei essa noite. – disse Yui empolgada.;

Como estava no viva-voz, pude ouvir o que sua amiga disse:

- Deve ter tido um sonho muito bom, para estar toda eufórica. – disse sua amiga.;

- Então, sonhei com um lugar bem parecido com nosso mundo e que meu nome lá, era Yui e que tinha um marido. E nossa amiga, como ele era lindo, pena que não lembro o nome dele. – diz pensativa.;

- Nossa, é um nome bem diferente, mas gostei, acho que vou começar a te chamar assim. – e rindo continua. – Mas e aí, contou pro seu namorado sobre esse sonho? Será que esse seu marido, não era ele não? – pergunta debochada.;

- Ai amiga, não conta pra ele não, mas certeza que não era, pq meu marido, no meu sonho, era bem mais alto que eu e o Bruno, não é muito maior não. – disse Yui certa do que falava.

Rafael preocupado questiona:

- Você teve algo a ver com isso, Kaliel?;

- É claro que não, Rafael. Acha que faria algo desse tipo? – respondo um pouco alterado.;

- Ahn, acho que é hora de permitir que volte a se mostrar para ela. Pedirei que revoguem essa proibição, mas por hora, apenas monitore a situação e se algo assim acontecer novamente, me avise na mesma hora, entendido? – diz ele afobado.;

- Claro, será o primeiro, a saber. – digo e após uns segundos, desligo o telefone.

Estranhamente, desde aquele dia, ela se apresenta para as pessoas como Yui e muita gente acha estranho, pois eles a conheciam, por outro nome, o que gerou bastante estresse para minha amada, mas nada comparado ao que estava por vir.

Ela chega de surpresa à casa de seu namorado e o vê beijando outra mulher. Ele a vê e tentando disfarçar diz:

- A... a... am... amor, não é o que está pensando. – gaguejando e tentando pensar em uma desculpa.;

- Sabia que estava me traindo, sentia isso a meses já, mas nunca pensei que seria tão descaradamente assim, seu cafajeste. Desde que tive um sonho, sobre meu verdadeiro nome, que senti que você não deveria fazer parte da minha vida. – dizendo isso, enquanto serra seus punhos e os olhos ficando marejados, mas continua. – Nunca mais me procure, você não é merecedor do meu coração. Seu cretino! – virando as costas e se afastando dali.

Ela então cai em uma depressão profunda, se fechando para o mundo. Passado algum tempo, Yui estava caminhando sem rumo definido e distraída, perdida em seus pensamentos, quando de repente, foi atingida por um carro que ultrapassou o sinal vermelho. As pessoas a ajudaram de imediato, porém havia desmaiado, devido ao forte impacto. Parte de suas memórias se foram, curiosamente, a única coisa de que ela se lembrava era de seu “novo” nome.

Após um ano, Yui se recupera totalmente, mas sua tristeza voltara, pois recuperou grande parte de sua memória, que era um fardo para que carregasse só e eu apenas podia observar, até que um dia, ela estava andando, voltando para sua casa e uma forte chuva a surpreende no caminho. Nesse exato momento, recebo uma ligação de Rafael, dizendo que deveria saber mais sobre a situação em que Yui se encontrava e que se necessário, deveria atravessar o véu. Agora, poderia encontra-la novamente, poderia estar ao lado dela, foi isso que pensei, mas havia uma condição, que ele disse firmemente:

- Você tem essa permissão, porém poderá estar ao lado dela, apenas alguns dias e nada além disso. Isso foi tudo o que consegui fazer por vocês, então não perca essa oportunidade.;

- Pode deixar, inclusive, já estou indo para lá agora. – mal termino de falar e desligando o telefone, atravesso o véu, com todas minhas forças, saindo em um descampado, em meio àquela chuva.

Percebo que ela está olhando para mim, quero correr, ir até ela, mas minhas forças estão no fim, fora um esforço imenso para atravessar por entre nossas dimensões. Só o que pude fazer, foi estender uma de minhas mãos em sua direção e esperar que ela aceitasse meu “pedido de socorro”.

Ela então vem em minha direção, com uma de suas mãos estendidas. A seguro e digo, enquanto a olho nos olhos e sorrio:

- Obrigado.;

Ela então responde, aparentemente, sem entender:

- De nada.;

Então a abracei forte, mas ao mesmo tempo carinhosamente. Enquanto estávamos abraçados, senti seu coração batendo forte e percebi que nossa ligação, transcendia dimensões. Todos os meus temores ocultos, se foram. Senti minha vida, voltando novamente. Ficamos abraçados, por alguns segundos, mas foram segundos que pareciam anos, pois a muito ansiava por isso. Ela então me solta e pergunta:

- Por que me agradeceu? – me olhando desconfiada e um pouco assustada.;

- Te agradeci, por existir. – disse de forma mais pura que pude, afinal, ela é minha amada, ela é quem quero e devo dividir minha vida, então, ela estando viva, estarei vivo também.

Após essas palavras, ela começa a chorar e sinto como se nossas vidas, estivessem mais uma vez, como era no início. Seco suas lágrimas e no mesmo instante, o céu se abre, exibindo um incrível luar, que nos iluminava. Ela então, retirou o capuz que cobria meu rosto e então vi que seu olhar se perdeu, não sabia o que dizer ou o que fazer, afinal, era um estranho para ela, pois ela nunca havia me visto ali, apenas através do véu. Então só pude dizer calmamente:

Senhorita.;

Yui arregala os olhos rapidamente, como se tivesse voltado a si e diz:

- Me desculpe. – falando com uma voz trêmula continuou. - Não sei onde estava com a cabeça, me desculpe por tê-lo deixado falando sozinho.;

Olhei para ela e então disse:

- Imagine, não há com o que se desculpar, você não fez nada de mais, porém deve estar com fome, não?

Ela olhou para mim, com um brilho vívido em seu olhar e disse:

- Sim, na verdade, estou com um pouco de fome.;

Com toda a certeza, ela ficou com vergonha de dizer que estava faminta, afinal, sou um completo estranho para ela. Então disse, estendo meu braço, para que fossemos juntos:

- Então, vamos ao centro da cidade para que possamos comer algo, pois também estou com fome.

Infelizmente tivemos de caminhar, o que não foi nada ruim, pelo contrário, foi maravilhoso, pois estava sem sua companhia e por mim, poderíamos andar até o fim do mundo. Chegamos a uma pequena lanchonete, bastante agradável e acolhedora. Mesmo depois de comermos, ela mal conseguia olhar para mim, porém eu, não conseguia deixar de olha-la, mas como gostaria de puxar algum assunto, mesmo sabendo a resposta, lhe perguntei:

- Poderia me dar o prazer de saber teu nome? – sorria para Yui, mas achei melhor me “apresentar” então continuei. – Que indelicadeza da minha parte. – suavemente segurando uma de suas mãos. – Muito prazer, meu nome é Kaliel. – e com muito tato, beijo as costas de sua mão, enquanto, faço uma leve reverência. Por mais que a tivera conhecido outrora, essa linda mulher que está à minha frente, não é exatamente minha Yui. O trabalho de saber sobre o que ela “se lembrava” da outra dimensão, era mais difícil do que imaginei, pois não poderia contar-lhe a verdade e muito menos perguntar abertamente, pois seria uma “porta aberta” para ser obrigado a dizer tudo. Enquanto todas essas informações passavam pela minha mente, ela, um pouco tímida diz:

- Muito prazer senhor Kaliel, meu nome é Yui.;

Me segurei para não dizer “Sim eu sei, você minha amada esposa, que veio para essa terra em meu lugar”. Ao invés disso, apenas disse:

- Não há a necessidade de me tratar com tanto formalismo, minha querida. – não resistindo e beijando-a em seu rosto.

Queria ficar ali por mais tempo, continuar em sua companhia, continuar a olha-la como sempre fiz. Meu coração ardia, sentia que estava se despedaçando, a cada pulsar, porém, já era tarde, para aquela dimensão, então, mesmo com o peito em frangalhos disse:

- Está tarde, acho melhor te levar para sua casa.;

Ela então me olha desnorteada e em segundos, Yui despeja diversas perguntas. À medida que ia questionando, ela ia ficando mais e mais afobada, a única coisa que pude fazer, foi abraça-la, acariciar seus cabelos e dando o máximo de mim para que se acalmasse e me deixasse acompanha-la à sua casa.

Na manhã seguinte, lhe enviei um pequeno mimo, um belo buquê com flores, com sua cor favorita e um pequeno cartão, onde coloquei meu coração em seus dizeres. E como havia prometido, na tarde do mesmo dia, fui até sua casa, porém, por não estar habituado com essa Yui, não sabia se era certo ir até lá. Quando chego, o pai atende e diz que havia saído a um tempo. Agradeci e em seguida este me convida para entrar. Digo que não quero atrapalhar e que a esperarei sentado na escada da varanda. E ali fiquei por uns longos minutos, até que a vi chegando, estava com lágrimas em seus olhos e por impulso a abracei e disse:

- Nossa Yui, você está linda.

Ela me abraça também e pergunta:

- Você não está chateado comigo, Kaliel?;

- Por que essa pergunta, Yui? – retruco surpreso.;

- Não sei, talvez porque você deva ter ficado aqui me esperando por muito tempo.;

Não pude resistir ao encanto de sua voz, então com um sorriso no rosto respondi:

- Esperaria minha vida toda por você, bobinha. – e inconscientemente beijo sua testa.

Ela fica um tanto sem jeito, sorri de uma forma muito bela e espontânea e ficamos ali conversando um pouco, até que me lembro, que naquelas redondezas, havia um pequeno lago. Não era igual ao “nosso” jardim, mas era um lugar perfeito para hoje, então a convido para irmos até lá. Quando chegamos, Yui parecia desapontada, pois aquele lago, ficava perto de sua casa, mas ela não esperava o que estava por vir. Colocando meu dedo indicador por sobre sua boca, aponto para o lago e digo:

- Você acha que conhece esse lugar, mas já viu isso?

Foi como daquela vez, ela ficou maravilhada e ao contrário de antes, dessa vez, fiquei bem acordado e pude vê-la, apreciar sua beleza enquanto olhava para o céu. Aquele momento foi mágico, foi incrível, porém, sentira que eram meus últimos momentos ao seu lado, mas não era hora para dizer nada, afinal, estava lá por ela, a essas alturas, já tinha até esquecido o real motivo de estar lá, só queria estar com ela e nada mais. Estávamos ali, deitados olhando para o céu, ela sorria intensamente, seu sorriso chegava a ofuscar o brilho das estrelas e tomado pela saudade de seus beijos, fui em sua direção que por “sorte” ou destino, acalentou meu desejo e depois de tanto tempo, finalmente nós demos nosso “primeiro” beijo.

Ao anoitecer do dia seguinte, fui até a casa dela e para minha surpresa, encontrei minha bela, adormecida em seu sofá. Seu pai insistira para que a acordasse, porém, a deixei dormi, era uma visão rara para mim, poder vê-la dormir tão serena. Ao acordar, Yui olha para mim surpresa e então sorrindo digo:

- Boa noite, minha bela adormecida.;

- Boa noite meu príncipe. – disse ela, se levantando e me abraçando e continua – Como entrou aqui?;

- Seu pai me deixou entrar, disse que estava dormindo e que era para eu ver. Ia te chamar, mas quando te vi dormindo com esse rostinho de anjo, e um sorriso puro, achei melhor deixar você descansar.;

- Mas Kaliel, por que não me chamou? Você deve ter ficado entediado ai. – disse ela levemente preocupada.;

- Olhar para você nunca me entedia, minha luz. – olhando para ela e sorrindo levemente.

Após isso, fomos àquela pequena lanchonete de outro dia, pois era hora de contar-lhe que não me restava mais tempo, porém, ao vê-la ali, na minha frente, com aquele sorriso, me contando coisas, que já havia presenciado, mas sem ela saber, e a empolgação contagiante com que contava, não resisti e também contei, ou melhor, relembrei com ela, o que fizemos esses dias. Infelizmente, não tive coragem de dizer que eram nossas últimas horas juntos.

No dia seguinte, era inevitável, meu tempo ali estava no limite, não podia mais adiar, então fui até sua casa. Ela estava ajudando seu pai a lavar o carro. Quando a vi, disse, com uma voz séria:

- Boa tarde, razão da minha vida.;

Ela então disse, como se tivesse se lembrado, de “nosso” passado nessa dimensão:

- Oi meu anjo e protetor. O que houve meu amor, você está parecendo diferente hoje?

Então, criei coragem e disse:

- É que essa noite é meu último dia aqui. – disse, tentando conter minhas lágrimas, porém essas rolavam, sem permissão.

Yui indignada questiona:

- Como assim? Por que é seu último dia aqui? Que história é essa, Kaliel?

Então, com os últimos minutos que me restavam, lhe revelei:

- Minha doce Yui, o que tenho para lhe dizer, pode parecer loucura, mas não é. Eu sou de outra dimensão, sou aquele que está sempre ao seu lado, que lhe sopra ideias e conselhos, sou aquele que te ama mais que tudo, que abriria mão de tudo por você, mas infelizmente, me foi dado à permissão de vir para cá, por só alguns dias, eu sinto muito por ter que te deixar.

Ela em prantos grita tão forte, que pude sentir sua dor, uma dor tão densa que poderia ser pega. Ela me abraça forte, como tentando me segurar lá. Confesso que queria mesmo ficar, mas pouco a pouco, meu corpo começa a se desfazer, como se estivesse virando poeira e antes que voltasse para meu local de origem, digo-lhe:

- Amor! Jamais a abandonarei, sempre estarei com você onde quer que vá, só não estarei nessa dimensão, você me sentirá, sentirá meu perfume, sentirá meu carinho e meu beijo toda vez que estiver se sentindo só, mas não me é permitido ficar aqui por enquanto. – e mesmo com o coração em frangalhos, tentando manter a calma, peço para ela. – Meu anjo, me dê um beijo, o mais gostoso beijo para que nos lembremos disso e quando nos encontrarmos novamente possamos repeti-lo por muitas vezes depois.

Então, nos beijamos e antes que pudéssemos trocar nosso último olhar, voltei para minha dimensão, deixando lá, meu coração. Não tinha forças para nem um passo sequer, então simplesmente apago no chão de minha casa.

Acredito que tenha se passado algumas semanas, pois perdi a noção de tempo e espaço, já que estava acostumado com o tempo daquele lugar, então achei que era hora de ligar para Rafael e avisa-lo que havia retornado:

- Alô, Kaliel, como está? – pergunta ele preocupado.;

- Olá Rafael, não faça perguntas difíceis, meu amigo, acabei de “perder” minha esposa pela segunda vez. – dando aquele sorriso levemente desesperado.;

- Tem razão, mas desculpe ser insensível, você descobriu o que ela recordou daqui? – questiona ele.;

- Rafael, Rafael, acho que falhei completamente nessa “missão”, mas descobri coisas importantes estando lá. – digo, me lembrando dos momentos que passamos.;

- E o que descobriu? – indaga surpreso.;

- Acho que seria melhor, se conversássemos sobre isso, pessoalmente. Vou até o “jardim da Yui”, quero ver como está o lugar favorito de minha amada. Se quiser, apareça por lá e poderemos conversar, mas leve um café, pois a conversa pode ser longa. – desligo o telefone, tomo um banho, coloco roupas mais suaves, nada formal, apenas roupas leves, para caminhar no calor que estava fazendo e sigo para o jardim.

Quando chego lá, Rafael está sentando em um dos bancos de madeira, embaixo de uma árvore frondosa. A sombra estava fresca, mesmo com o sol se pondo, ainda estava quente. Ele me oferece um copo do café que trouxe e começamos a conversar:

- E então Kaliel, o que descobriu lá? – diz ele intrigado.;

- Descobri que não importa a dimensão, sempre amarei Yui, com todas minhas forças. – digo com um sorriso.;

- Isso não é nenhuma descoberta. – diz Rafael, enquanto sorri e dá aquela “ombrada” amigável.;

Solto aquele sorriso conformado e digo:

- E engraçado, não é?

- O que é engraçado, Kaliel? – pergunta intrigado.;

- Antes de ir para lá, conseguia me projetar através do véu, podia ver o que se passava naquela dimensão. No começo não entendia o motivo dela conseguir me ver, mas depois aprendi que era por causa dessa projeção.;

- Sim, é assim que fazemos, quando queremos que alguém de lá nos veja, mas está me contando isso, tão pesaroso, o que aconteceu?

- Pois é, faz um tempo que voltei, porém, não consigo mais me projetar, na verdade não consigo mais nem ver através.

- É bem complicado Kaliel, infelizmente não posso te ajudar, pois sei tanto sobre o véu quanto você, mas acredito que esse tenha sido o preço pago, pelo tempo que esteve do outro lado. – fala, chateado, mas com seriedade.;

- Uh, acho que tem razão, mas sabe de uma coisa, fico feliz com algo que percebi. – falo olhando para lago, enquanto lembro daquela chuva de estrelas cadentes que assistimos.;

- O quê? Algo que te deixa feliz? Você está mudado mesmo, nem parece aquele que sempre que estava longe dela, ficava desanimado e murcho. – fala enquanto se vira para mim surpreso.;

Então, me viro para Rafael com um sorriso sereno e afirmo:

- Mesmo estando a uma dimensão de distância, mesmo que não possamos no ver, mesmo até que nos tornemos estranhos um para o outro, nossos corações baterão na mesma frequência e nosso amor nos ligará novamente. – erguendo o copo de café para o alto.


História criada por:

Yui Garbe Pires

13/10/2019

21 Aralık 2019 16:50 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
0
Son

Yazarla tanışın

Yui Garbe Olá, tudo bem? Meu nome é Yui e sou uma mulher trans e acabei descobrindo o gosto por escrever pequenos contos, aos quais me expresso, me fazendo sonhar, assim como me ajudam a suportar minha realidade, que não é uma das mais fáceis, devido a tudo o que me aconteceu no passado, mas isso não é algo relevante para esse primeiro encontro. Espero que meus contos e histórias, possam lhe trazer algo prazeroso, divertido e emocionante de ler. Por favor, fique à vontade e boa leitura

Yorum yap

İleti!
Henüz yorum yok. Bir şeyler söyleyen ilk kişi ol!
~