Quando Yixing chegou à Cidade Proibida pela primeira vez, tinha apenas oito anos de idade. Sua mãe o acompanhou até os portões dourados e soltou sua mão quando eles se abriram. Haviam outras crianças ali, algumas mais bem vestidas que outras. O pequeno Yixing abaixou o rosto, fitando seus pés descalços, suas calças sujas de lama e sua camisa gasta. Ficou envergonhado e se escondeu atrás da mãe, espiando de vez em quando os meninos bem vestidos que sorriam para seus familiares.
Os portões dourados se abriram, Yixing prendeu a respiração deslumbrado com a grandiosidade e beleza que havia por dentro dos muros. Logo a presença assustadora dos guardas reais tomou sua atenção e ele segurou com força nas roupas da mãe, repleto de medo.
Os guardas trouxeram em sua escolta, um homem jovem vestido com roupas luxuosas e um belo rosto andrógeno. Ele era o chefe dos Eunucos. O rapaz se afastou um pouco dos guardas, analisando os rostos dos meninos, alguns abastados e outros pobres. As crianças ricas foram educadas a vida toda por suas famílias para a vida no palácio e para crescer em importância, trazendo honra para sua família. As crianças pobres foram trazidas para que pudessem se salvar do demônio da fome.
Yixing já havia sido avisado pela mãe qual seria seu destino. Com as pernas tremendo e o coração acelerado, a criança adentrou a cidade proibida dando um último olhar para trás antes de ver os portões se fechando.
A primeira experiência de Yixing no palácio imperial foi lhe servirem uma pequena refeição. Ele pegou o alimento com as mãos os ingerindo avidamente, mas o chefe dos Eunucos bateu em seus dedos com uma vara o impedindo de continuar. Yixing ergueu o olhar amedrontado quando, o homem apontou para os kuàizi¹ que estavam ao lado de sua vasilha de arroz. Um pouco nervoso ele pegou os talheres. Devido à falta de costume com os kuàizi, o menino chegou a derrubar um pouco de comida na mesa, sendo repreendido mais uma vez pela vara.
— Vocês devem aprender que na Cidade Proibida a vida de vocês será muito diferente do que era longe de seus muros. – O Eunuco disse enquanto andava por entre os outros meninos com os olhos ainda em Yixing – A partir de hoje, não possuem mais família, parentes ou pretendentes. Vocês servem ao Imperador e a ninguém mais.
Quando tinha doze anos foi feita a cirurgia de Yixing. Certamente era dolorosa, mas as ervas que foram lhe dadas antes do procedimento o anestesiaram parcialmente para diminuir seu sofrimento. Um corte limpo e certeiro lhe tirou o saco escrotal e toda e qualquer chance de uma futura prole. A partir daquele dia ele não seria mais um homem perante a sociedade, nem ao menos era taxado como uma mulher. Yixing era apenas um ser a serviço do Imperador, dedicando sua vida para protegê-lo e supri-lo.
Sua educação foi rígida, aprimorando suas habilidades de escrita e oratória, fazendo com que Yixing superasse até mesmo seus colegas de famílias ricas. Com vinte anos já servia diretamente o príncipe herdeiro, tornando-se seu confidente e conselheiro. Obviamente, quando chegasse sua vez no trono, o príncipe escolheria Yixing para ser um de seus conselheiros principais.
Na primeira vez em que pôs os olhos sobre Lu Han, não passou pela cabeça de Yixing que aquele jovem era o herdeiro da China, ou até mesmo mais velho do que si próprio. Na época tinha somente dezesseis anos, e sua mente já atinava para a filosofia e prosa. Andando pelos jardins imperiais, o jovem eunuco rabiscava algumas linhas de um futuro poema, ou até mesmo uma canção quando, esbarrou em uma criança maltrapilha que fugia dos guardas palacianos.
Lu Han tinha dezenove anos, e ficou muito irritado por ter sido parado pelo eunuco. Os guardas logo o alcançaram e ralharam com o herdeiro pela tentativa de fuga da cidade. Yixing ainda estava estupefato com a revelação de que havia se colocado no caminho do príncipe herdeiro. Naquele momento temeu por sua garganta, e rezou aos deuses para que o príncipe Lu fosse mais misericordioso que seu pai.
Enquanto era arrastado de volta aos seus aposentos, por um momento, Lu Han virou o rosto dando uma última olhada para o rosto do seu captor. Yixing parecia apavorado.
— Qual o nome daquele rapaz, Hóng? — Lu Han perguntou a um dos guardas. Não gostava de ser escoltado o tempo todo e não saber o nome de seus seguranças.
— Ele é um dos jovens eunucos que ainda está terminando seus estudos, alteza, seu nome é Yixing — Disse o guarda. — Não seja maldoso com o menino, ele com certeza não o reconheceu imediatamente.
— Não vou — Disse rolando os olhos. — Só peguei suas anotações sem querer — Disse levantando o papel que antes Yixing carregava consigo, um sorriso arteiro moldava os lábios formosos do príncipe. — Hóng apenas balançou a cabeça sem saber mais o que dizer ao príncipe e continuou a escoltá-lo pelos corredores do palácio.
Em seu quarto, Lu Han leu o que o eunuco vinha escrevendo e ficou maravilhado com tanta delicadeza e sentimento. Tomado por uma curiosidade imensa, passou a perseguir o rapaz secretamente e pediu para que Hóng o vigiasse quando ele não pudesse. Logo percebeu o quão recluso e caseiro era o jovem eunuco. Ele passava a maior parte de seu tempo estudando em seu quarto ou andando só pelos jardins com um fino pincel e anotando aqui e acolá alguns versos.
— Me pergunto quando irá se aproximar finalmente, já faz meses que o segue como uma sombra e não lhe dirige uma palavra sequer — Hóng caçoou do príncipe enquanto andava ao seu lado aproveitando o sol da primavera.
— Não é como se eu pudesse me aproximar assim de repente. Não quero falar alguma coisa estupida. Yixing é erudito e recluso demais para que eu não tenha uma desculpa plausível para me aproximar.
— Ainda bem que eu estou ao seu lado então — Hóng se vangloriou quando por entre as estatuas Yixing apareceu caminhando com calma e parecendo distraído com os entalhes nas rochas. Lu Han abriu a boca para praguejar com o guarda, irritado e apreensivo com esse encontro premeditado pelo amigo.
— Você me paga. – Grunhiu, logo depois adotando uma postura mais séria e um rosto pacifico. Yixing ainda não havia notado que o príncipe estava próximo, já que estava perdido em meio aos seus devaneios. Hóng se afastou tentando não rir da postura meio forçada do príncipe, preparando-se para assistir a engraçada cena que se desenrolava.
— Nos encontramos novamente — Sussurrou próximo a nuca de Yixing que se encolheu assustado e virou o rosto, perdendo a cor imediatamente ao perceber que era o príncipe Lu Han que estava em suas costas.
— A-a-a-alteza — Ele curvou-se rapidamente e passou a pedir desculpas meio emboladas com frases desconexas e sem sentindo algum. O nervosismo pareceu nublar seu gênio fazendo com que, logo depois, Yixing se sentisse um completo estúpido. Lu Han apenas riu achando-o doce e logo acalmou o eunuco, que aceitou, mesmo que relutante, caminhar ao seu lado.
— Soube pelo palácio que aprecia poesia? — Começou o príncipe tentando disfarçar seu conhecimento do dia-a-dia e das preferências do jovem eunuco.
— Admiro muito Li Bai, Wang Wei e, é claro, Kung-fu-tzé — Começou com paixão. — Posso lhe recitar um dos meus favoritos do mestre Li Bai? – Lu Han confirmou tomado pela animação de Yixing.
As montanhas azuladas
Bordejam as montanhas ao norte.
A água cristalina
Contorna as muralhas ao leste.
Nesse lugar
Nos separamos.
Você erva errante
Os milhares de li.
Nuvem flutuante,
Humores vagabundos,
Sol que se vai, velhos amigos que se afastam,
Nós dois nos acenando
Na hora da partida.
— “Adeus ao amigo que parte” — Lu Han nomeou o poema — Recitou com tanta destreza! Já teve que se despedir de alguém querido?
Yixing suspirou voltando seu olhar para as estátuas. A lembrança de sua mãe sorrindo enquanto o deixava ser levado para dentro da cidade proibida era algo que ele jamais esqueceria.
— Já faz muito tempo, alteza...
Lu Han se calou percebendo que havia trazido lembranças tristes demais para a ocasião. Com um bonito sorriso, mudou a conversa de rumo, fazendo Yixing sorrir com seus relatos de peripécias infantis e tentativas de fuga. O jovem príncipe ficou encantando com as pequenas covinhas que se formavam quando Yixing deixava sua melodiosa risada preencher os jardins imperiais de vida. Naquela proveitosa tarde, a amizade entre o príncipe e o eunuco começou a ser construída.
Quando se recordava daqueles dias, Yixing se sentia afortunado por ter conhecido o príncipe Han antes do imperador Lu.
As campanhas militares que o Imperador, pai do príncipe Lu Han, incentivou no território do reino de Diamante foram malvistas por todo o reino e pelos nobres que viviam no palácio. Lu Han bufava pelos cantos reprimindo as inúmeras injurias que desejava proferir ao pai, sempre fugindo para os braços de Yixing quando terminavam as reuniões militares que decidiam como se daria a investida ao território em que tanto os súditos quanto os governantes, se mantinham reclusos aos seus limites.
Pura curiosidade, foi isso que motivou o Imperador.
Era um tremendo absurdo invadir um reino tão distante e pacifico como aquele. O reino de Diamante ficava em uma península relativamente distante da China. Correu a notícia, há muitos anos, que aquele povo possuía um rei forte e território unificado. A curiosidade corroeu a alma de viajantes e homens cultos e, principalmente, do imperador, que matutava sobre como seria seu rei, seus costumes e sua gente.
Quando o exército voltou, junto com ele foi trazido um dos jovens príncipes do reino de Diamante. Sua fisionomia era delicada com grandes olhos infantis, mas com traços fortes já sendo reforçados pela puberdade que o assolava. Seu nome era KyungSoo e tinha, na época, apenas doze anos.
Yixing entendia o olhar entristecido e cheio de saudade do garoto que a todo tempo estava cercado por guardas e eunucos. Ele queria estar em casa com sua família, não cercado por pessoas estranhas de língua estranha que tramavam seu futuro segundo os caprichos de um soberano louco. Ficou ao encargo de Yixing acalmar Lu Han quando chegou aos ouvidos de todos a sentença que recaiu sobre o príncipe de Diamante.
Nas semanas seguintes, não era o menino Kyungsoo que andava pelos jardins do palácio com seu olhar altivo e triste, mas a jovem Soo vestida com delicados ch'ang-p'ao² de seda vermelha ou um shen-i³ azul celeste que Yixing achava – particularmente – que era a cor que lhe caia melhor. Mas nada disso era suficiente para os dois jovens. Tanto Lu Han quanto Yixing não suportavam ver o príncipe – agora “princesa” de diamante – andar com seu rosto abaixado, suportando os comentários maldosos e as piadas a seu respeito, que foram surgindo na corte e por entre o harém real. Lu Han foi enérgico ao se opor ao pai quando foi dada a ideia de mover o príncipe para a ala das damas treinadas para se tornarem concubinas.
Kyungsoo a cada dia que passava naquele reino estranho sentia-se cada vez mais miserável. Derrotado e humilhado, todas as noites depositava suas lágrimas e seus gritos desesperados em seus travesseiros. O ápice de tudo havia sido em um dos banquetes reais que foi intimado a aparecer. Naquele fatídico dia, foi alvo das mais variadas chacotas e abusos, patrocinados pelo Imperador que a tudo assistia com um sorriso estranho nos lábios. Desesperado, Soo saiu correndo do salão, tropeçando sem rumo por entre os corredores até chegar ao jardim das cerejeiras.
Ainda com a vista nublada, a então princesa caminhou trôpega até uma das arvores e chorou copiosamente até seus olhos arderem. Ela queria ser forte, todos os dias ela tentava ser forte, mas todos pareciam empenhados em destruir seu espírito e sua determinação.
Soo não sabia até onde aguentaria.
— Soube que essa é a melhor época do ano para se apreciar a cerejeira em flor — KyungSoo se assustou ao escutar a voz estranha que pareceu ter surgido do além. Se virou rapidamente encontrando o eunuco conselheiro do príncipe a contemplar as flores com um sorriso satisfeito.
— Faz muito tempo desde que as apreciei realmente — Respondeu com a voz quebradiça em um mandarim ainda arranhado. Enxugou as lágrimas com a manga de seu shen-i, se arrependendo de ter chorado. Sua maquiagem devia estar toda borrada agora.
— Sempre o achei mais belo de azul — Yixing ofereceu a KyungSoo um lenço, sem se importar com o rosto sujo de maquiagem do menino – Um príncipe nunca devia mostrar suas lágrimas KyungSoo, ainda mais diante de um estrangeiro.
Kyungsoo apertou o lenço entre seus dedos e comprimiu os lábios ao tentar evitar um soluço.
— Eu não sou mais um príncipe.
— Qualquer um que o olhe sabe que és um príncipe — Yixing lhe sorriu. — Até mesmo seu andar tem mais classe do que muitos que se dizem nobres.
Kyungsoo não sabia o que dizer. Estava assustado, confuso e deprimido, mas as palavras de Yixing pareciam reavivar o fogo que havia queimado ardentemente no coração do jovem antes daquela desgraça lhe abater.
— Por favor, não abaixe mais seu rosto, gosto de olhar em seus olhos — Yixing se curvou para o príncipe e saiu andando por entre as árvores deixando KyungSoo para trás com os olhos cravados em suas costas.
Para Luhan, apaixonar-se por Kyungsoo foi tão fácil quanto respirar. Todos os dias ele tentava se convencer de que aquele sentimento era impossível. Tentava recordar que por baixo de todos aqueles robes de seda, maquiagem e longos cabelos negros, ainda havia o menino KyungSoo. Mas era tudo tão difícil, ainda mais quando estava na presença dele o ouvindo cantar ao som do Guqin (Cítara) de Yixing ou quando recitava um dos poemas de sua terra natal, mesmo que traduzido, para que pudesse entender. E quando Kyungsoo visitava os garotos mais pobres, trazidos para se tornarem eunucos, seu coração enchia-se de orgulho pelo coração bondoso que ele possuía.
Em uma noite fria de inverno, num dos cômodos mais bem aquecidos do palácio, ele observava Yixing tocar acompanhado pela voz de Kyungsoo, agora, com quase dezenove anos (faltavam poucas semanas para seu aniversário). Por mais maquiagem que colocassem sobre sua pele, nunca conseguiriam disfarçar o timbre melódico e masculino da voz do príncipe de diamante. O príncipe fechava os olhos e tentava se imaginar em qualquer lugar que não fosse aquele palácio, que não fosse aquele reino, em que ele não fosse príncipe de coisa alguma. Lu Han apenas queria ser feliz ao lado de Yixing e Kyungsoo, mas ele sabia que seu pai nunca permitiria tal sentimento dentro de seus domínios.
— O Imperador está morto! — Um dos eunucos particulares do imperador interrompeu a paz dos três amigos com seus berros. Lu Han se pôs de pé imediatamente e correu, sendo seguido pelos amigos até os aposentos do imperador. O médico se levantou do leito real e afirmou que o soberano havia morrido durante o sono sevido a sua doença do coração.
Kyungsoo tinha vinte e um anos agora, estava de joelhos diante do Imperador sentindo o coração acelerar cada vez mais. Ao seu lado, estava Yixing, machucado e com as roupas rasgadas, mostrando mais arranhões e hematomas por sob os tecidos. O príncipe, vestido de mulher, ergueu o olhar até o trono onde Lu Han se assentava. Suas feições eram impassíveis, mas, dentro dele, Kyungsoo sabia que havia uma tempestade.
Um dos eunucos que havia chegado com Yixing à cidade proibida e que ambicionava o cargo que ele possuía como conselheiro de Lu Han, tecia um enredo digno de uma peça teatral sobre a suposta traição do conselheiro do Real ao se deitar com uma das concubinas do Imperador – no caso, Kyungsoo.
Depois da morte do pai, para proteger Kyungsoo de possíveis atentados e desrespeito, Lu Han o escolheu como uma de suas concubinas reais, sabendo que nunca poderia revogar o selo do antigo imperador com relação a condição de Kyungsoo vestido com roupas femininas.
Era como se ele quisesse transformar o pobre garoto em uma piada eterna.
Mas Lu Han cortou as asas dos caluniadores e deu a KyungSoo um status mais elevado e poder para revidar qualquer injuria que lhe fosse dirigida, não estava em seus planos tocá-lo em qualquer momento. Há muito tempo ele tinha decidido trancar seus sentimentos com relação ao amigo no mais profundo de si mesmo.
Pareceu natural eleger Yixing seu conselheiro, mas em nenhum momento calculou que o velho amigo poderia acabar em perigo devido a sua posição. Sempre pensou que ele era apreciado por todos no palácio, assim como era para si. Devia ter prestado mais atenção em um de seus conselhos:
“Os sorrisos que aparentam ser os mais verdadeiros podem pertencer aos seus futuros assassinos, alteza”.
— Que provas você me traz dessas acusações?
— O meu testemunho, o do guarda que encontrou Yixing nos aposentos da princesa e o da Imperatriz mãe — Lu Han não disse nada. Ele voltou a observar os dois réus. Yixing parecia que iria desabar a qualquer momento, já Kyungsoo estava com o rosto erguido e o olhar nobre encontrou com o do Imperador.
— Chame-os aqui — O eunuco confirmou com a cabeça e Hóng adentrou o salão. Reverenciou o imperador e adotou sua postura de soldado aguardando as perguntas. Lu Han fitou o guarda com seriedade, mais do que o normal. Realmente de todos os guardas não esperava que ele fosse acatar os planos de alguém sem honra como aquele verme. Sua mãe entrou seguidamente e o reverenciou, ela tinha um olhar cheio de segundas intenções, mas deveria ser mais inteligente, Lu Han não era do tipo que se deixava ser manipulado.
— Oh, Imperador, que viva longamente! — Hóng o saldou — Eu estava acompanhando meus subordinados em uma das rondas quando ouvi barulhos estranhos nos aposentos da princesa Soo. Aguardei um certo de tempo e o eunuco Yixing saiu de lá com as roupas amassadas e parecendo ofegante. Nada mais tenho a dizer. – Ele se curvou novamente e se afastou do trono.
— Oh, Imperador, que viva longamente! Meu querido filho, este demônio com rosto de anjo tem lhe nublado a mente. KyungSoo seduziu seu pai e agora vem seduzindo-o também com suas artimanhas. Ela tem em suas mãos seu conselheiro mais próximo e vem desde então guiando sua mão, transformando-o em sua marionete. Escute sua mãe, esta estrangeira tem afastado você de sua família e de seus deveres para com o trono — Finalizou seu discurso satisfeita e preparou-se para fazer uma reverencia.
— Me acusa de ser tão manipulável assim, minha querida mãe? — Lu Han disse friamente — Por acaso acha que sou fraco e que me deixaria levar pelo seu veneno? — A mulher empertigou-se novamente, sentindo o rosto perder a cor.
— Majestade, a Imperatriz mãe...
— Cale-se, agitador! Já ouvi demais sua voz por hoje — Lu Han se ergueu do trono acenou para Hóng segurar o eunuco — Sei muito bem o que Yixing foi fazer nos aposentos da minha Dama. Eu o mandei lá aquela noite para cuidar de Kyungsoo, que estava tendo pesadelos nas últimas noites, já que eu não poderia estar lá. Me ofende saber que nem a Imperatriz mãe confia em meu julgamento. Fazem juízo sobre mim sem saber da verdade e planejam suas falcatruas semeando pelo palácio suas raízes envenenadas de mentiras — A Imperatriz mãe estava muda de espanto. Imaginou que o filho seria mais maleável que o pai. Trincou os dentes sabendo que a partir daquele dia, não teria mais a bênção do imperador.
— Talvez esteja na hora de voltar para sua família e descansar, Imperatriz mãe... — Lu Han sorriu. – Os ares de fora do palácio lhe farão bem.
— Eu... levarei em conta o conselho do imperador — A mulher se curvou novamente e retirou-se às pressas da sala do tron andando o mais rápido possível, ela sabia que aquele havia sido um convite amigável para ela se retirar da Cidade Proibida.
Kyungsoo estava a velar pelo leito de Yixing. O corpo dele havia ficado debilitado demais pelas surras que o Eunuco agitador havia ordenado que acometessem a ele. Com cuidado, ela segurou as mãos de seu amor e beijou os nós dos dedos de Yixing que abriu os olhos ao sentir os lábios de seu príncipe em sua pele.
Quando Lu Han entrou no cômodo, o eunuco tentou se levantar, sendo impedido pelas mãos delicadas de Kyungsoo.
— Descanse, meu querido — Lu Han se curvou sobre ele e o tocou nos lábios com os seus. — Precisa recuperar suas forças. Sinto muito por tudo que aconteceu.
— Não foi culpa sua, Hannie — Kyungsoo tocou o rosto de Lu Han que parecia atormentado.
— Eu deveria ter escutado o conselho de Yixing, e ter parado aquele verme antes que ele alcançasse seu objetivo — Lu Han descansou a cabeça no ombro de Kyungsoo, sentindo os olhos arderem. — Agora veja só! Está sem ao menos se mover! E a culpa é minha.
— A culpa foi do Shao e não sua — Yixing disse com dificuldade. – E ele não pode mais nos atingir, graças a você — O sorriso doce do rapaz acalmou um pouco da dor no coração do príncipe, mas a culpa ainda não havia sumido por completo.
— Nem ele, nem mais ninguém. Hóng está me ajudando a distinguir os sorrisos verdadeiros dos falsos enquanto você se recupera. Não permitirei que um episódio como este se repita novamente. Acho que deixei claro a toda corte que não aceito ser manipulado por quem quer que seja — Lu Han disse amargo. — Até minha mãe tramava contra mim! — Escondeu o rosto no pescoço de Kyungsoo, que acariciou por entre seus fios de cabelo, tentando acalmá-lo.
— Já dissemos que nada disso foi ou é sua culpa. Não digo que foi a melhor experiência da minha vida, mas em nenhum momento culpei você, meu amor — Kungsoo abraçou Lu Han, sentindo o corpo dele relaxar com seu toque.
— Eu não sei o que eu faria sem vocês dois. Não sabem o quão desesperado fiquei ao vê-los sendo ameaçados daquela forma. Se não fosse o protocolo, eu mesmo teria lhe arrancado a cabeça — Yixing queria se levantar e abraçar os dois, mas tudo doía como o inferno. Era realmente frustrante não poder consolar seu Xiao naquele momento.
— Veja Hannie, o Xing está com um bico enorme por se sentir excluído — Han esfregou o rosto no pescoço de Kyungsoo, sentindo seu perfume e a pele macia, depois voltou sua atenção para seu outro amante, que realmente estava emburrado.
— XingXing, não seja assim — O imperador deslizou o corpo pelo leito e deitou a cabeça no braço de Yixing, sendo seguido por Kyungsoo. Os dois beijaram as bochechas do eunuco que sorriu satisfeito ao sentir o calor das pessoas que mais amava no mundo ali... ao seu lado.
Estamos felizes, apenas felizes nesta noite.
Estamos tão inquietos quanto a amanhã.
Nesta noite somos dois patos mandarins (talvez três, riu Kyungsoo),
Um contra o outro,
Até que tombem todas as flores da ameixeira.
O gongo da torre bate agora meia-noite.
Sombras na tela da janela mostram a lua caindo a oeste.
Se pelo menos pudéssemos segurar a lua em nossas mãos!
Geng Menglong
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