Não me conte mentirinhas,
Dói demais!
Do Kyungsoo andava pelas ruas de cabeça baixa, chutando as pedrinhas no meio fio.
Os cabelos escuros caíam por cima dos seus olhos, fazendo cócegas em seu nariz. Ele não sabia exatamente porquê continuava indo até aquele parque. Era tudo tão melancólico. Ele observava as outras crianças brincando sendo sempre observadas atentamente pelos pais. Peraltas, elas corriam por todos os lados, subindo no trepa-trepa, no escorregador e enchendo as roupas de baixo dos colegas de areia.
Kyungsoo as odiava.
As odiava por serem tão felizes.
Mesmo que choramingassem aqui e ali, as mães afoitas sempre vinham dar um pequeno sermão seguido de um carinho.
E Kyungsoo queria o que as crianças tinham.
Alguém para lhe passar um sermão, um afago. Alguém para beijar seus machucados, elogiar suas notas perfeitas e dizer que ele era um bom garoto.
Kyungsoo nunca foi uma criança ruim. Ele era educado, inteligente, e, até onde sabia, as pessoas o achavam fofo. Então "Por quê?", aquela pergunta martelava em sua cabeça. "Por que nunca ninguém lhe quis?", "Por que nunca foi adotado?". Do enxugou uma lágrima solitária enquanto observava a última criança correr até o pai.
O parquinho agora estava vazio.
Ele andou até o balanço e ficou ali se mexendo devagar. Às vezes, ele inclinava o corpo e se balançava. Ele se balançava tão alto que tinha a sensação te tocar o céu. Kyungsoo queria tanto voar. Ele queria ser piloto. Daqueles aviões grandões que via na tevê e faziam dezenas de manobras mirabolantes no céu. Kyungsoo queria ser livre.
— Qual o seu nome?
Kyungsoo parou de se balançar de repente, quase perdendo o equilíbrio. Em sua frente um garoto magrelo e mais baixinho o observava, meio curioso. Kyungsoo o olhou, meio estático. Ele nunca tinha falado com ninguém no parquinho. Sentia seu rosto ficar vermelho. Aquele moleque não parava de o encarar.
— Quantos anos você tem? Você não fala?
— Você pode fazer assim ó!
O garoto mostrou nove dedos.
— Eu, tenho nove, – falou pausadamente – e você?
— Eu sei falar - Kyungsoo disse baixinho – E eu tenho oito.
— Oh! Que legal! - O garoto magrela gritou - Então sou seu Hyung.
— Eu não vou te chamar de Hyung - Kyungsoo fez bico - Você é baixinho.
— Eu não sou tão baixinho.
O garoto cruzou os braços, contrariado.
— E sou o mais velho, então sou seu Hyung e pronto!
— Qual o seu nome?
— Byun Baekhyun. E o seu?
— Do Kyungsoo.
— Certo, Dongsaeng, do que vamos brincar agora?
Kyungsoo deu de ombros e começou a brincar com areia usando os pés.
— O que acha de ver quem balança mais alto?
— Pode ser.
— Aish, que desânimo!
Kyungsoo deu de ombros novamente. Baekhyun sentou no outro balanço e os dois começaram a balançar.
— Kyungsoo!
Os dois corpos se chocaram, caindo na caixa de areia. Kyungsoo xingou algo em um resmungo, mas, no fim, perdoou o afoito Baekhyun. Era só o Byun fazer carinha de choro que Kyungsoo fazia todas as vontades do garoto. Baekhyun sempre escolhia os jogos, os brinquedos e o sabor do sorvete. Kyungsoo não se importava muito, contanto que Baek continuasse a ser seu amigo.
— Hey, Kyung.
Baekhyun rolou na grama e ficou de lado olhando para o rosto do amigo. Kyungsoo estava de olhos fechados apreciando a brisa que passava por eles.
— Hum.
– Eu tava pensando…
Ainda de olhos fechados Kyung assentiu, incentivando o amigo a continuar.
— Não seria legal se a gente fosse irmão?
– Quê?
Kyungsoo deu um pulo onde estava, encarando Baekhyun meio atônito.
—Tipo. Eu já considero você meu irmão, sabe. Mas eu acho que seria mais legal a gente morando na mesma casa. Você podia dormir no meu quarto. Eu ia dividir meus brinquedos. Não tem problema. Aí a gente ia pra escola juntos e você ia chamar minha mãe de "mãe" e o meu pai de "pai". Eu não me importo em dividir eles também, contanto que seja com você. Ei? Kyungsoo? O que você acha? - Baekhyun falou tudo de uma vez, meio atropelando nas palavras.
Retomando o fôlego, ele encarou o amigo de volta.
Kyungsoo parecia meio aéreo.
Se sentia em um sonho.
Um irmão (meio retardado, mas ainda sim um irmão),
Pai,
Mãe...
Fazia tanto tempo que ele tinha desistido.
— V-V-Você tá falando sério, Baek?
Baekhyun observou o brilho nos olhos do amigo. Pela primeira vez desde que se conheceram, ele viu Kyungsoo sorrir. Era um daqueles sorrisos rasgados que mostra todos os dentes da boca. E tinha formato de coração! Baekhyun ficou tão maravilhado. Ele tinha que fazer o garoto sorrir mais vezes. Era tão lindo. O sorriso mais radiante que ele já tinha visto.
— É claro que tô falando sério! Nunca falei tão sério na minha vida!
Kyungsoo, com os olhos rasos de lágrimas, se jogou em cima de Baekhyun o abraçando com força.
— Eu adoraria! Adoraria ser seu irmão de verdade, Baek. Eu te amo!
Baekhyun nunca esteve tão feliz em toda a sua vida. Ele abraçou Kyungsoo de volta sentindo seu coração bater mais forte.
Baekhyun com certeza faria Kyungsoo sorrir mais vezes.
Essa se tornou uma tarefa árdua para Baekhyun. Ele de vez em quando fazia Kyung soltar um risinho ali e outro aqui, mas nada comparado ao sorriso do outro dia. Isso deixava o garoto meio frustrado. Mas nada mais frustrante ainda ver o rostinho decepcionado do Dongsaeng toda vez que ele perguntava se já tinha falado com os pais. Baekhyun meio que desconversava, e tentava entreter o amigo com outras coisas, mas ele sabia que Kyungsoo entendia tudo. Kyungsoo nunca foi bobo.
Por isso naquele dia Baekhyun andou decidido até o escritório do pai e bateu na porta de forma tímida. Quando ouviu o “entre”, correu até a escrivaninha, esperando o pai olhar para ele.
O senhor Byun ergueu os olhos da papelada e parou para observar o filho. Franziu o cenho, meio desgostoso. Aquele garoto era magrelo demais, delicado demais, adoentado demais. Tudo que o Byun mais desprezava. Aquela mulher não lhe serviu nem para dar um filho decente. Estalou a língua e maneou a cabeça para que o garoto dissesse logo o que quer. Era só isso que ele fazia mesmo. Gastar seu dinheiro.
Baekhyun ainda sentia suas costas doerem.
Seu pai nunca havia lhe batido. Ele não entendia o porquê de tanta raiva. Ele não entendia o que "viadinho" queria dizer. Ele só sabia que amava Kyungsoo. Que queria vê-lo sorrir de novo. E que se sentia culpado por não poder brincar com Kyungsoo naquele dia.
Kyungsoo estava no balanço sozinho.
Ele nem se importava mais com as lágrimas que escorriam pelas bochechas.
Ele já deveria saber.
Já deveria saber.
Era tudo bom demais para ser verdade.
Kyungsoo se balançava com raiva, com força.
Seu corpo tremia com os soluços enquanto ele tentava voar, enquanto tentava alcançar o céu.
E então ele caiu,
e tudo ficou escuro.
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