emily-christine8811 Emily C Souza

Todos temos cicatrizes; sejam elas na pele, no coração ou na alma. São marcas que jamais sairão de você, elas estarão sempre ali para lembrá-lo do que aconteceu e apenas nós escolhemos o que fazer com elas: Devemos esconder como escondemos quem realmente somos através de máscaras ou devemos acolhê-las como parte da nossa vida, do nosso ser? Na maior parte do tempo, Midoriya Izuku preferia fingir que elas não estavam ali, que não eram elas que haviam ditado como seria sua vida a partir do momento em que a primeira cicatriz foi impressa sob sua pele. Essa fanfic faz parte do desafio Norte e Sul do grupo Inkspired Brasil. Tema Baixa Fantasia. Deku Vilão. Universo Original ATENÇÃO: Possui cenas fortes com morte, sangue e menção a suicídio. Betado por Linest Albuquerque


Hayran Kurgu Anime/Manga Sadece 18 yaşından büyükler için.

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Kısa Hikaye
18
9.4bin GÖRÜNTÜLEME
Tamamlandı
okuma zamanı
AA Paylaş

O projeto, a pesquisa e o experimento



Essa fanfic faz parte do desafio Norte e Sul do grupo Inkspired Brasil

Tema: Baixa Fantasia.

Contém cenas fortes com morte, sangue e menção a suicídio.

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A Cobaia



Por um tempo, Izuku realmente acreditou que vivia em um mundo fantástico onde existiam pessoas com superpoderes e heróis combatiam o mal e dedicaram suas vida para salvar pessoas, sempre os mocinhos que venciam no final. Era divertido correr com seu boneco do herói número um, fazendo barulhos com a boca e narrando as lutas emocionantes e sofridas que via na TV; brincar de heróis foi, por muito tempo, o seu hobby preferido até que um dia não foi mais.

O som de passos chamou sua atenção, seu rosto, que estava abaixado, virou um pouco para a direita e seus olhos, escondidos pelo capuz do casaco, seguiram atentos a pequena figura que acabara de entrar na rua, indo em direção ao pequeno prédio perto de onde ele estava parado.

Com muita sutileza e calma, se desencostou da parede, abaixou ainda mais a cabeça, cobrindo metade do rosto com o capuz, e escondeu as mãos enluvadas nos bolsos do casaco se virando enquanto observava aquela pessoa andar distraída sem notar a armadilha ao seu redor. Em uma sincronia perfeita, um carro preto despontou no final da rua vindo em direção à ambos sem pressa e, não transparecendo suspeita, o automóvel passou pela vítima antes de parar bruscamente. Somente naquele momento, o garoto pareceu se dar conta da animosidade ao seu redor, porém era tarde demais para que ele reagisse ou escapasse – em menos de um minuto, sua boca foi tampada e seus braços imobilizados atrás de suas costas.

A vítima se bateu procurando exasperado uma forma de sair do aperto de ferro em que estava preso e, em seu desespero que tomava conta do seu raciocínio, mais duas pessoas saíram do carro, ele sentiu exatamente o momento onde amarraram suas mãos e pés, sua esperança de fugir findando. Seus olhos encheram de lágrimas nascidas do terror que o assolou e quando achou que não poderia ser mais assustador, um homem encapuzado aparece na sua frente; nas mãos dele havia um lenço grosso. Mineta não conseguiu ver seu rosto, mas antes de ser vendado, ele notou o sorriso arreganhado e medonho em seus lábios finos e secos.

Midoriya apertou bem o nó do lenço que usou para vendar Mineta, pegou no queixo do rapaz e o levantou, virando o rosto para os lados a fim de verificar se realmente não conseguiria enxergar nada. Apontou com o rosto para o carro, mandando silenciosamente levarem o garoto e os seguiu, entrando na porta traseira do lado esquerdo. Mineta foi colocado ao seu lado, sem poder se mover por conta das amarras que também foram colocadas nos seus braços e pernas, restou apenas a cabeça para que ele mexesse livremente, da sua boca saindo alguns grunhidos indistinguíveis. Assim que todos estavam dentro do carro; um dos homens ficou para trás para terminar o serviço, verificando se ninguém havia testemunhado o sequestro e arrancar as câmeras do local enquanto o carro partia para a sala de brinquedos de Midoriya.

— Peço desculpas pelo jeito brusco que meus amigos te trataram, — Izuku disse para a vítima. Retirou o capuz com alívio, e suspirou contente. — Estávamos com pressa, você sabe; esse horário é cheio de heróis meia boca correndo atrás de glória.

Mineta balbuciou fervorosamente, provavelmente irritado com a forma com a qual Izuku usou para falar dos seus “ídolos” ou apenas por ter sido raptado. Para Midoriya, ele parecia um porco grunhindo. O som era extremamente desagradável.

— Eu sei que você ainda está preso na ilusão de que heróis são os mocinhos da história, mas não se preocupe, vou gentilmente lhe mostrar que, na verdade, eles são apenas animais famintos por dinheiro, sucesso e reconhecimento. — abriu o casaco e girou os ombros, ultimamente sua pesquisa estava cobrando demais de si e, infelizmente, não sobrava tempo para descansar. Mas não reclamaria, não quando ele estava a um passo de alcançar seu objetivo. — Veja bem, a nossa realidade se resume a vilões matando e roubando; pessoas normais, como eu, tentando ter uma vida tranquila e a heróis que nunca aparecem quando realmente se é preciso, a menos que tenham uma multidão de espectadores para amá-los e venerá-los. Eu fico envergonhado com essa conduta desqualificada, sabe? E é por isso que eu vou limpar o mundo desses aproveitadores.

O pequeno garoto tentou jogar seu corpo em cima do seu “companheiro” de viagem. Ele se debatia com tanto afinco que acabou batendo o ombro na porta, o estalo causando uma careta em Izuku que soltou um assobio impressionado.

— Oh, não fique tão entusiasmado assim, eu preciso de você inteiro. Caso você realmente queira se machucar depois, eu mesmo concedo esse favor. Isso se sobrar alguma coisa de você, é claro.

A risadinha sádica que Midoriya soltou fez com que cada pêlo no corpo de Mineta arrepiasse. Um frio subiu pela espinha do aspirante a herói e ele tremeu da cabeça aos pés. O carro parou suavemente, Mineta sentiu o coração bater como louco e, quando a porta ao seu lado abriu, ele se remexeu, arrastando o que podia de si mesmo para o outro lado do banco. Ele só esqueceu que não estava sozinho, sobressaltando quando sentiu o aperto firme em seu ombro.

— Vamos lá, Mineta. — Midoriya sussurrou, — Não me faça te arrastar por essas bolas ridículas que você chama de quirk.

Instintivamente, diante do tom zombeteiro e irremediavelmente perigoso, Mineta se calou e parou de se mexer, virando praticamente uma estátua de tão tenso que seu corpo estava. Izuku riu anasalado, achando graça no medo e na tremedeira desenfreada da sua cobaia. Um dos seus “colegas” puxou Mineta pelo pé. O corpo pequeno – até demais, visto sua idade – caiu em um baque mudo no chão e continuou a ser arrastado. Mineta pode ouvir vários passos, mas de alguma forma, alguém, entre o que deveria ser três pessoas, andava como um maldito gato; suave, silencioso e taciturno. Soube imediatamente que era a mesma pessoa que a minutos atrás falava com ele e isso apenas fez com que tivesse ainda mais medo do homem desconhecido.

O grupo de três pessoas, e o peso morto que arrastavam, entraram no pequeno casebre que ficava no meio da floresta. O homem que anteriormente dirigia o carro verificou se não foram seguidos ou se não havia ninguém por perto enquanto seu parceiro levantou o alçapão, dando assim o acesso para Izuku entrar, mas antes de descer, ele fez sinal para que o homem jogasse Mineta escada abaixo. O som seco do corpo batendo contra a madeira velha foi como uma música para seus ouvidos e Midoriya desceu os degraus, sorrindo assim que a vitima alcançou o chão. Puxou uma pequena corda, no lado esquerdo perto da escada, e uma fraca luz iluminou o abafado local.

O ambiente empoeirado causou uma sensação de aconchego em Midoriya que nem mesmo a sua casa era capaz de dar, ele andou até a mesa retangular de ferro enferrujado e capenga, onde seus instrumentos para o experimento estavam repousados na ordem em que seriam usados. Retirou seu casaco, colocando-o na beirada da mesa e voltou para perto do corpo que se contorcia no chão, apontando com o queixo a saída para o ajudante no recinto.

— Pode ir agora. — murmurou e então se agachou, retirando a venda de Mineta. — Aguarde no carro.

Mineta demorou para se acostumar com a meia luz que mal iluminava o rosto do seu sequestrador, ele assistiu quando um dos companheiros dele subiu pela escada, abrindo o alçapão para sair do local, em seguida trancando ambos ali novamente. Em desespero quis gritar, mas infelizmente ainda estava amordaçado, ainda assim Mineta tentou dizer silenciosamente, sua boca ainda amordaçada, para que o homem o soltasse, o deixasse em paz e que nada tinha feito para merecer aquilo. Os olhos verdes de Izuku estavam com as íris dilatadas, a pálpebra aberta ao máximo, um brilho de diversão indisfarçada; o aspecto assustadoramente maniaco que fez com que Mineta ofegasse, o terror correndo por entre suas veias junto ao seu sangue em pânico frio.

Izuku se levantou puxando Mineta junto consigo pelo braço. Ele precisou pular para seguir seus passos, de forma forçada, e tropeçou três vezes, caindo em quase todas elas. Midoriya, que não possuía muita paciência, o levantou bruscamente e o jogou na cadeira de madeira no centro do porão, exatamente embaixo da lâmpada fraca. Mineta choramingou pela dor em seu cotovelo que atingiu os braços da cadeira. Izuku suspirou entediado com o drama desnecessário que o garoto fazia por causa de um bobo machucado – aquilo nem chegava perto do que o aguardava – e puxou o braço esquerdo, o prendendo com uma pulseira de couro conectada a cadeira. Fez o mesmo com o outro braço, os pés e o pescoço.

Estranhamente todos os toques do agressor ao prende-lo foram leves e sutis, como se ele nunca houvesse o atacado com tanto sadismo anteriormente. Mineta ficou confuso com as mudanças bruscas de comportamento; como a forma que, sem motivo aparente, os olhos do homem perdiam o brilho divertido e escureciam com um puro ódio que Mineta nunca viu antes.

Aquele desequilíbrio embrulhava seu estômago.

— Ah, assim é bem melhor. — Midoriya o olhou de cima a baixo, apreciando o fato de sua cobaia estar pronta para o teste. — Oh, quase me esqueci. — bateu levemente com o dedo indicador na própria testa, como se para se penalizar pelo deslize.

Midoriya se aproximou apenas para cortar as cordas que amarravam Mineta e assim que a vítima se viu livre das amarras, ele começou a se debater. Izuku franziu o cenho, desceu todo o braço causando um impacto forte do dorso de sua mão contra o rosto de Mineta. — Comporte-se! Caso contrário, eu arranco cada uma das suas unhas toda vez que se mexer.

Mineta retraiu os dedos, protegendo aquela parte tão pequena, mas tão dolorosa, da sua mão por puro reflexo. Midoriya assentiu satisfeito com a ação e se afastou para, novamente, admirar o quão pronto pro abate Mineta estava. Ele abriu um largo sorriso, orgulhoso.

— Vamos as apresentações. Sou Midoriya Izuku, um mero pesquisador biológico. — o moreno disse, soltando um riso sarcástico. Ele foi até a mesa e a arrastou para perto da cadeira, o som áspero do ferro raspando no chão causando um arrepio de pura agonia em Mineta. — Diferente de você, caro Mineta, eu sou um quirkless. Um ser que, nos dias de hoje, é desprezado e caçoado como uma maldita aberração... — pegou o primeiro objeto do topo da mesa; uma seringa de 20ml, com um líquido amarelado e rodeou o corpo imobilizado do outro homem. Com os olhos arregalados, Mineta seguiu seus passos de forma temerosa, chiando quando Izuku segurou o seu braço, esticando a pele na área do músculo deltóide. — ... mas a verdade é que as quirks não passam de uma maldição que corrompe a todos, inclusive os “mocinhos”.

Mineta não sabia o que mais o assustou; o possível conteúdo naquela seringa que estava prestes a ser inserida em seu braço, ou o fato daquele lunático tentar conversar com ele, em um monólogo sem sentido proferido de forma calma, como quem fala sobre o tempo. O cara o sequestrou e o prendeu em um porão com muitos materiais suspeitos, pelo amor de All might! Como diabos ele pode estar tão sereno em tal situação? Midoriya se aproximou mais dele e Minoru se retraiu, tentando fugir da seringa que o seu algoz segurava, porém a mão enluvada e fria de Midoriya segurou seu pescoço com uma pressão pesada que o assustou, causando uma paralisia imediata.

— Se você voltar a se mexer, eu vou começar pela unha do dedo indicador.

O aviso claro amedrontou o homem mais baixo e Mineta se manteve quieto, mesmo com seu corpo tremendo da cabeça aos pés. Izuku mirou bem e enfiou toda a agulha na carne do músculo deltóide, injetando o líquido bem lentamente, curtindo o grito abafado pela mordaça da sua cobaia.

— Isso, bom menino. — Midoriya murmurou com sarcasmo enquanto retirava a agulha. Limpou o local com algodão e voltou para a mesa, deixando a seringa lá e pegando um emaranhado de fios que Minoru não conseguiu identificar para o que servia. — Sinta-se honrado, Mineta, pois você é o primeiro voluntário da minha mais importante pesquisa. — separou pacientemente fio por fio. Minoru assistiu a cada movimento dos dedos dele sem saber o que aguardar. Seria enforcado? Desmembrado? — Desde meus onze anos de idade eu busco incessantemente uma cura para esse mal que assola os humanos: a individualidade.

Os olhos de Minoru se arregalaram em choque à medida que Midoriya terminava de desenrolar os fios; eram receptores que iam diretamente no sistema nervoso, interligados na coluna vertebral e no cérebro, ou seja, agulhas ainda maiores do que as que o homem havia acabado de enfiar em seu braço. Sem pensar em mais nada além de sair de perto daquele louco, Mineta se mexeu com tanta vontade e força que a cadeira caiu para o lado quando uma das pernas quebrou.

Izuku o encarou por alguns segundos e soltou um suspiro irritado. Estava tão perto de alcançar seu objetivo, ao qual trabalhou por anos, para um garoto inútil e chorão atrapalhar tudo. Chutou com a sola da sua bota o estômago de Mineta e o observou retrair o corpo com dor, o pano branco manchado pelo sangue, ficando satisfeito quando o pequeno idiota parou de se debater.

— Eu não queria chegar ao ponto de precisar te repreender, mas você não colabora, Mineta-kun. — Izuku murmurou descontente e levantou a cadeira, acertando o pé na posição correta e batendo dois parafusos na madeira, isso serviria como um quebra galhos por enquanto. Minoru o assistiu consertar a cadeira sem conseguir entender o porquê daquele cara ter parafusos e um martelo ali. Não, pensando melhor, ele nem queria saber o porquê.

Midoriya puxou um banquinho, que até então estava escondido na penumbra do porão e se sentou. Mesmo parecendo irritado, os movimentos dele eram de uma mansidão que tornava inacreditável o seu próximo ato enquanto pegava o alicate, se posicionando em frente da mão direita de Mineta para segurar com firmeza o dedo indicador da vítima e, sem qualquer hesitação, Izuku encaixou o alicate na ponta da unha de Mineta e a puxou para cima, a arrancando de uma única vez.

Doeu tanto, de uma forma que Minoru nem sabia ser possível. Gritou com todas as suas forças, a cabeça virada para cima e os olhos alucinados com a dor. Em seguida, desmaiou, sem suportar o choque que o ato causou em seu corpo.

— Fracote.

Sem mais o que fazer, Midoriya foi obrigado a esperar que Mineta acordasse, mas não levou mais de dois minutos para perder a paciência. Com a certeza que o rapaz despertaria assim que colocasse a primeira agulha em seu corpo, Midoriya tateou com precisão o local correto para que pudesse estimular o sistema nervoso com perfeição. No ato de inserir a primeira agulha, Mineta acordou imediatamente, berrando contra a mordaça e puxou a perna, rasgando a pele no processo.

— Você continua me desobedecendo e se machucando de forma desnecessária. — Midoriya resmungou. — O que eu faço se agora você sangrar demais e morrer antes de eu terminar o experimento?

Mineta não conseguia mais compreender o que aquele homem falava, muito ocupado tremendo com as descargas de dor excruciante que seu corpo sofria.

Impaciente, Midoriya arrancou a segunda unha e aproveitou mais um desmaio de Mineta para colocar rapidamente os outros receptores, notando com desprezo que o protótipo de herói havia feito xixi nas calças. Durante o processo, Minoru continuou tendo lapsos de consciência; hora desmaiando de pânico, hora acordando e gritando de dor. Quando tudo estava pronto, Izuku conectou os fios à pequena máquina portátil, tirando a mordaça de Mineta; colocou um ferro no meio da boca dele, entre os dentes, e se voltou para ligar a máquina, começando o processo de reversão dos genes responsáveis pelo desenvolvimento da quirk.

Minoru, que estava até então desacordado, se sobressaltou, voltando a consciência, mas não se debateu; ele simplesmente ficou lá, parado, o rosto virada para o teto e o corpo tensionado. Assistindo, Izuku cruzou os braços e segurou o queixo, compenetrado e quieto observando a ação do sistema que ele mesmo desenvolveu. Tudo foi como planejado nos primeiros três primeiros minutos de uso, mas então a pequena máquina rangeu e uma fumaça saiu do aparelho, o corpo pequeno de Mineta deu um espasmo antes de simplesmente explodir; os membros desprendendo do corpo e voando para todo lado, nada restando da cabeça. Midoriya fechou os olhos e suspirou decepcionado consigo mesmo. Seu trabalho ainda não estava pronto.

— Então ainda está incompleto. — constatou uma voz baixa e rouca atrás de Midoriya. Izuku não precisou se virar para saber quem era; somente uma pessoa teria o acesso ao seu improvisado laboratório em um momento como esse, apenas se limitou a assentir desanimado a carcaça da sua cobaia agora morta. — Exatamente como eu disse que estaria, hoje mais cedo.

Izuku estalou os dedos, depois o pescoço e então as costas. Inquieto, bateu o pé direito no chão em um ritmo crescente enquanto tentava impedir a frustração de dominá-lo. Não funcionou e logo Izuku estava andando de um lado para o outro, perdendo a cada segundo um pouco mais do controle das suas emoções.

— Eu fiz todos os cálculos, — começou, sempre o mesmo monólogo sobre seu esforço, o que comumente fazia quando precisava pensar rápido em situações estressantes ou quando estava frustrado. — Manipulei as substâncias criando um estimulante, que provoca a atividade exacerbada do sistema nervoso resultando em um novo elemento químico com prótons e elétrons perfeitos. Não houve equívoco no momento de montar a máquina de estimuladores e nem os receptores. Também estou certo que coloque nos lugares exatos todas as agulhas... — parou e olhou para Shinsou, que ainda estava parado perto das escadas, seus olhos verdes brilhando com as lágrimas não derramadas. Hitoshi suspirou já esperando aquele resultado, mas nada disse. — ... então por que não deu certo?!

A voz de Midoriya falhou na última sentença. Em meio aquele cenário – ossos, membros e sangue por toda parte, inclusive em seu rosto, cabelo e roupas – Izuku parecia apenas uma criança perdida que não conseguiu ajudar alguém que precisava de sua assistência com urgência. E esse era o retrato perfeito dele anos atrás, com apenas cinco anos de idade: em meio ao caos de fogo, sangue e a dor de ter falhado em um momento que seu melhor amigo mais precisou.

Hitoshi se aproximou com passos leves, temendo que Izuku recuasse de volta para a máscara de amigável frieza, o impedindo de ajuda-lo caso fizesse algum movimento brusco, e assim que sua mão alcançou o ombro dele, Shinsou o puxou para si, segurando-o com afinco em seus braços.

Fragilizado por ver seu projeto – e promessa – tão longe de ser concretizado, Midoriya não se afastou e se muniu da superioridade como normalmente faria. Não. Ele apenas se agarrou na blusa de manga longa de Shinsou e chorou como nunca fez desde que perdeu o melhor amigo.

— Eu não pude salvá-lo. — murmurou em meio aos soluços. — E mesmo depois de tantos anos, eu não posso cumprir minha promessa de proteger as pessoas daquilo que o matou. Eu ainda não consegui uma cura para a quirk.


Hitoshi acariciou o cabelo verde com delicadeza, incentivando Midoriya a continuar seu choro e lamentações em seu peito, mas de forma velada, é claro. Deku jamais permitiria uma cena tão deplorável e humana quanto aquela.

— Não se culpe por isso, Deku. — sussurrou com carinho. — Você sabe que ele não iria querer que sua vida se resumisse a essa obsessão.

No mesmo instante, depois de ouvir aquela palavra, Izuku se afastou como se tivesse se queimado. Shinsou percebeu tarde demais que o chamou da forma proibida, um apelido doloroso, e se castigou mentalmente por isso; o Deku frágil e desolado sumira em um instante, agora em sua frente estava o Izuku confiante, dissimulado e inabalável. Izuku agora usava a sua maldita armadura.

— Não seja ridículo, Shinsou-kun. — zombou e respirou fundo, ainda tremendo pela a explosão de minutos atrás, mesmo que escondesse agora esses sentimentos, e penteou os cabelos com os dedos, os jogando para trás. — Eu pesquiso isso para o bem de toda a humanidade, não por uma questão tão mesquinha como uma obsessão pessoal. Estamos presos nessa terrível realidade de vilões que fazem o que querem e heróis que só aparecem quando tem câmeras e mídia envolvidos e meu trabalho é desaparecer com essa maldição. Claro, estou desgostoso com uma falha esdrúxula como essa, porém não desistirei, de forma alguma. Amanhã reuniremos a U.A. Quero todos ajudando no projeto. Nosso tempo está acabando.

Hitoshi o encarou intensamente. Midoriya sustentou o olhar sem receio algum até que Shinsou desistiu de enfiar alguma coisa naquela mente tomada pela obsessão e desviou o olhar, desapontado.

— Até quando você continuará seguindo seus dias como se não soubesse que tudo o que você faz é para ele? — perguntou alto quando Midoriya passou por ele para subir as escadas, fingindo, mais uma vez que nada estava errado. Com frustração, Shinsou rosnou: — Ele está morto, Deku! Supere de uma vez!

Izuku virou o corpo tão rápido que Hitoshi quase não viu. Ambas as mãos enluvadas, e manchadas de sangue foram para a sua blusa e Deku o puxou com facilidade, mostrando o quanto a sua aparência magra mentia sobre a sua verdadeira força.

— Nunca. Mais. Diga. Algo. Assim. De novo. Entendeu? — cada palavra foi falada entre dentes. Os olhos verdes escureceram tanto, a fúria de Midoriya algo que Shinsou nunca viu no amigo antes. Ao menos não dirigida a ele. Hitoshi nunca sentiu medo de Izuku, afinal se conheciam desde a infância, mas aquela foi a primeira vez que temeu por sua vida. — E não me chame assim. — murmurou, por fim o soltando.

Por um momento Shinsou pensou seriamente em usar sua individualidade, o que significa fazer uma lavagem cerebral momentânea em seu amigo, lhe permitindo controlar todos os seus atos, mas Deku jamais o perdoaria caso fizesse isso. Na maior parte do tempo ele fingia que seu segundo melhor amigo não tinha nenhum quirk – mas, bem, fingir era tudo o que Midoriya fazia na vida.

Izuku subiu as escadas e bateu no alçapão. Hitoshi, sem outra opção, o seguiu e ambos saíram do casebre, não sem antes Midoriya dizer para os dois homens fazerem a limpeza do local. Depois disso eles seguiram pela estrada; Shinsou preferiu dirigir, não confiando na mente conturbada e nos ânimos alterados de Midoriya naquele momento.



Grupo de Heróis em formação Corrompidos



No outro dia todos os alunos da U.A que Izuku conseguiu manipular já estavam presentes para a reunião de emergência. O local informado não era um galpão abandonado, nem um hospital mal-assombrado, na verdade, era decepcionantemente comum; o escritório pessoal de Midoriya na universidade K, no centro de Tóquio. Eram poucas pessoas, exatamente cinco, contando com Shinsou, que faziam parte da organização.

Uraraka já estava acostumada com os horários loucos em que Izuku os chamava. Normalmente, sempre era sobre os relatórios de tudo o que observou durante a semana na U.A e, mesmo escrevendo muitas coisas, a maioria sendo inutilidades, ela precisava admitir que praticamente contava os minutos para cada reunião. Ochaco gostava da visão de mundo de Deku – pelo menos era o que ela achava. Na maior parte do tempo ele era simpático, sorridente e muito carismático, tendo o charme que fazia com que as pessoas quisessem segui-lo, mas ela sabia que não era bem assim. Izuku é uma pessoa triste e sozinha, percebeu isso quando havia dispensado a todos após o fim de uma das reuniões e ela retornou, com uma desculpa esfarrapada ensaiada, apenas para estar perto dele por mais dois minutos, Uraraka ficou surpresa quando o encontrou olhando para a janela com melancolia. Soube, dias depois, que ele era órfão e atribuiu o comportamento com algo relacionado a isso e ela simplesmente o admirou ainda mais por querer o bem da humanidade, com pesquisas genéticas estranhas para aprimorar ainda mais as quirks, mesmo depois de perder a mãe em um ataque de vilão.

Claro, esse sentimento que fazia seu coração bater forte e a aquecia toda por dentro era apenas a boa e velha admiração. Jamais estaria apaixonada ou alguma bobagem dessas, apenas queria ajudar o homem mais bonito e legal que já conheceu com a evolução humana.

— Muito obrigada por terem vindo. — Midoriya iniciou a reunião assim que Sero, o último integrante a chegar, entrou e fechou a porta do escritório. — Quero parabenizá-los pelos maravilhosos relatórios.

Se levantou e andou em direção a Iida, o primeiro integrante a ser “recrutado”, lhe dando um abraço e dois tapinhas no ombro. Fez o mesmo gesto com todos, menos Uraraka, a quem deu um beijo na bochecha e piscou divertido. A garota ficou bem vermelha enquanto Shinsou, que assistiu o ridículo flerte, revirou os olhos desgostoso.

— Eu não poderia ter uma equipe mais qualificada e talentosa... — voltou a se sentar e pediu, com um gesto da sua cabeça, que todos fizessem o mesmo. Hitoshi sentou ao seu lado, olhando de canto para Ochaco, ameaçador. A garota, no entanto, não pareceu perceber a aura possessiva dele. — ... O que nos leva ao motivo dessa reunião.

Shinsou desviou a atenção de Uraraka e pigarreou, fazendo uma careta para o sorrisinho convencido de Izuku.

— Falta muito pouco para que o estimulador esteja pronto, precisamos que vocês tragam duas coisas que são primordiais para o próximo teste.

— Em quem vocês estão fazendo testes? — Iida perguntou, incomodado com a ideia de que alguém estaria sendo usado como cobaia; mesmo que fosse voluntário.

Sempre gentil, Iida nunca imaginou participar de algo ilegal – não que Izuku fosse um criminoso, porém a pesquisa e os testes, assim como tudo o que Midoriya utilizava para realizá-los, não eram reconhecidos pelo governo ou o conselho de heróis, fazendo assim os atos ilegais. Contudo Tenya entendia o motivo dele fazer tudo às “escondidas”; como explicar que, por ter nascido sem individualidade, você acabou se interessando em evoluí-las para assim ter uma chance de ter uma sem parecer um vilão? Além da burocracia e olhares tortos, na descrença, no julgamento a cada segundo, Deku teria desistido, com toda certeza e Iida sabia que essa descoberta ajudaria a todos. Acima de tudo, realizaria o sonho do seu estimado amigo, então, sendo esse ato ilegal por um bom motivo, estava tudo bem. Ele se orgulhava de fazer parte desse pequeno grupo.

— Eu, é claro. — Deku respondeu tranquilo. — Não tenho quirk, como vocês sabem. Nada melhor do que estimular meu sistema nervoso e desenvolver esse dom que está adormecido em mim.

Dissimulado. Shinsou se sentiu enjoado.

Uraraka juntou as mãos, a felicidade irradiando em seu ser.

— E que coisas são essas? — ela perguntou, ansiosa para mostrar para Deku que poderia ajudá-lo no que quisesse.

— Essa informação é altamente sigilosa. — Izuku avisou, repentinamente sério, e o clima na sala mudou, todos olhando apreensivos para seu líder. Midoriya encarou cada um com muita intensidade, parecendo até ameaçador por alguns segundos, mas logo sorriu e os membros suspiraram aliviados. — Vocês receberão, no bip que eu dei para cada um, as coordenadas. Esses objetos estão lacrados e não devem romper. É para a segurança de vocês. Ninguém, eu repito, ninguém pode vê-los, então cuidado com câmeras e seguranças e tragam meus dois bebês a salvo.

— Desculpe, mas você está nos enviando para um roubo? — Asui perguntou, surpresa em seu tom assim e semblante, mostrando sua estupefação.

Inicialmente, Tsuyu embarcou nessa loucura de ‘evolução quirk’ por seus amigos; Uraraka, Iida e Sero, que já estavam ajudando Deku. Ela particularmente não gostava dele, comparando suas ações com as de um vilão. Mas todo seu conceito mudou ao vê-lo tão abalado quando, em um combate da U.A contra vilões, todos se machucaram. Izuku ficou devastado de uma forma que Tsuyu jamais imaginou presenciar – principalmente com toda aquela pose de dono do mundo. Depois disso, onde mostrou que realmente era seu amigo, Asui o observou, cada vez mais encantada com a sua determinação em ser melhor, em conseguir atingir a possibilidade de despertar uma possível individualidade adormecida para então se tornar um herói e, após quatro meses no grupo, Asui realmente seguia Deku por acreditar e confiar nele.

Izuku, como o bom ator que era, pareceu ainda mais chocado por Tsuyu pensar que ele seria capaz de algo do tipo.

Claro que não! — murmurou, parecendo verdadeiramente pasmo pela pergunta. Um ótimo ator. — Os dois objetos são meus, mas estão guardados a nível nacional porque pessoas que não deviam saber sobre eles descobriram de alguma forma e tentaram usar para o mal. Por isso ninguém pode ver vocês os pegando. Isso denunciaria o local onde eu e o governo os escondemos.

— Então por que você não pega? — Sero perguntou confuso.

Hanta Sero não era muito inteligente e apenas decidiu seguir Deku porque o achava maneiro, a possibilidade de ter uma individualidade melhorada seduzindo sua mente. Midoriya o aceitou porque, bem, não tinha muito o que fazer quando qualquer atitude poderia manchar sua imagem para seus fantoches e ele, definitivamente, não podia correr o risco. Contudo deixou claro que a cota para a equipe findou - embora ainda tenha deixado Asui entrar, mas pelo menos ela era útil.

Deku ficou tentado a responder com sarcasmo, ou fazer sua melhor cara cínica, mas decidiu por manter a máscara de bom rapaz.

Porque se eu pegar todos os que estão me vigiando, justamente para saber onde essas preciosidades estão, irão descobrir o lugar. — explicou com o tom beirando o tédio. — Os guardas vão estar cientes da sua “visita” então separem-se em duplas; uma mulher com um homem. Os itens são pesados.

Essa história para boi dormir foi o suficiente para acalmar os ânimos no grupo, limpando suas consciência e colocando ainda mais os três – no caso quatro – porquinhos na boca do lobo mal. Shinsou, às vezes, tinha medo da lavagem cerebral que Deku fazia com pura manipulação e dissimulação, de forma mais eficiente do que a sua quirk. Tinha certeza que se Izuku conversasse com os guardas por três minutos, ele seria mais eficaz do que Shinsou.

O quarteto se despediu já que as aulas estavam prestes a começar. Com muita empolgação, saíram, mal contendo sua ansiedade para receberem o comando e ajudarem Izuku.

— Quero morrer seu amigo. — Hitoshi murmurou assim que ficaram sozinhos e
Izuku riu.

— Apenas amigo?

Shinsou deixou cair seu semblante de descaso para tudo e todos, se permitindo sorrir, os olhos brilhando carinho.

— Eu quero muito mais.

— Ah, é? — Deku perguntou divertido. — E o que engloba esse ‘muito mais’?

Hitoshi aproximou o rosto do de Izuku, seus olhos analisando o conjunto perfeito que eram as sardas, os lábios rosados e olhos verdes, parando somente quando ambos os narizes se encostaram. Levemente esfregou seu nariz contra o de Deku, em um amoroso beijo de esquimó e mordeu os lábios.

— Tudo. — Sussurrou.

As pálpebras de Midoriya caíram, os olhos entreabertos, e ele ofegou pela proximidade de suas bocas. Os dedos de Shinsou tocaram com carinho a bochecha rechonchuda e ele segurou com firmeza seu queixo, mantendo sua cabeça levemente inclinada. Então as bocas se encontraram em um beijo lento; a pressão nos lábios, o movimento calmo e as línguas se entrelaçando, se reconhecendo, explorando a boca um do outro. Izuku gemeu entregue. Ali, nos braços do seu melhor amigo e amante, Deku se sentia estupendo, como se nada no mundo fosse lhe atingir, mas ao mesmo tempo se sentia como uma ferida aberta, pulsando viva.

Porque ter Shinsou era sinônimo de não ter Bakugou e não ter Bakugou machucava de uma forma que não poderia ser descrita.

Tê-lo perdido era uma ferida que jamais fecharia.

Segundo Teste


O plano “claro-que-não-é-roubo” foi um sucesso. Izuku ficou arrepiado ao ver o pequeno aparelho que o auxiliaria com a inserção dos conectores da máquina nas moléculas milimétricas. Essa pequena máquina de raio x, que parecia uma tela de celular fora do aparelho, fazia par com o grande objeto com a aparência de um motor velho; este que daria mais impacto, em volts, no sistema nervoso.

No dia seguinte, Izuku pediu para Shinsou trazer sua próxima cobaia. Por ser um vilão perigoso – o mesmo que ousou machucar seus fantoches, cena essa que o aterrorizou, o lembrando do pior dia da sua vida. Então Midoriya o escolheu para seu próximo teste, Hitoshi sendo o único capaz de pegá-lo usando seu quirk sem correr nenhum perigo com a quirk de Tomura; que podia derreter todos a quem tocasse. Com todos os preparativos prontos, Deku esperou impacientemente a chegada do vilão.

Estava no mesmo casebre em que Mineta morreu. Não corriam esse risco agora já que as novas máquinas controlariam todo aquele erro que causou a explosão do rapaz.

Deku mal conseguia ficar parado, ele andou de um lado para o outro, sua cabeça rodando com tudo o que aconteceria assim que Tomura chegasse. Pensou em cada possibilidade, desde a morte dele até a sua cura e, de repente, Izuku já não conseguiu controlar o tremor em seus lábios, nem as lágrimas em seus olhos. Se alguém, qualquer um que fosse, tivesse feito o que buscava fazer há onze anos, Katsuki ainda estaria ali.

Toda vez que os “e se” apareciam na sua mente, Izuku sentia seu coração morrer mais um pouco. Pensar em como seria se Bakugou ainda estivesse ali era o mesmo que se lembrar constantemente que não estava. Como era doloroso isso, viver sendo assombrado pelas possibilidades que não importavam mais porque Kacchan estava morto! Assassinado na sua frente! E as marcas em seu corpo o lembravam disso sempre.

Aquela dor insuportável…

Izuku foi retirado dos seus pensamentos assim que ouviu os passos próximos ao alçapão. Limpou as lágrimas rapidamente, acostumado a fazer isso, e se empertigou, a coluna ereta e a pose altiva. Como o maldito dono do mundo que ele era.
A primeira pessoa que viu foi Tomura, logo seguido por Shinsou que o prendeu na cadeira.

Mal-humorado, Izuku fez uma careta, não era muito divertido sem uma reação de Shigaraki, parecia um boneco. Izuku queria ver o lado humano dele, queria olhar nos olhos – lúcidos e não presos em sua própria mente – e ver o terror neles quando o seu “dom” simplesmente sumir.

— Pode sair, Shinsou-kun.

— Serei seu auxiliar hoje. — disse, um aviso em seu tom.

Izuku respirou fundo e sorriu sem vontade, se voltando para Shigaraki e silenciosamente agradecendo por Hitoshi não o tirar do transe. Caso contrário, Tomura teria derretido as amarras.

Foi rápido dessa vez. Deku injetou os ativantes, ligou os receptores; cada vez mais frustrado pela falta de reação de Tomura, e ligou a máquina que servia de conversor dos volts. Shigaraki acordou um pouco antes do corpo paralisar, então Deku teve o prazer de olhar nos olhos incrédulos antes de revirarem e Shigaraki sofrer com os espasmos. A coisa toda durou cinco minutos, a máquina desligando quando o cronômetro zerou.

Izuku se impediu de se mover, ficando impassível mesmo sentindo a descarga de nervosismo percorrer seu corpo. Cogitou que, mesmo com a conversão, Tomura poderia ter morrido, mas ele abriu os olhos e Midoriya esperou uma explosão de raiva, o uso, com sucesso, da quirk e outro fracasso, mas não aconteceu nada disso: Shigaraki pareceu perdido e, quando Deku tentou falar com ele, Tomura não foi capaz de responder.

Ou de fazer qualquer coisa.

Alguns exames depois Deku descobriu que havia apagado qualquer tipo de informação existente no cérebro do homem. Havia “resetado” Tomura que agora era como um bebê: não falava, não andava e não podia fazer nada sozinho.

Foi como um tapa na cara, mas a individualidade desapareceu, no entanto, e só por isso Izuku não caiu no choro novamente. Ainda assim, ele passou semanas recluso, sua cabeça doendo com ritmo em que sua mente fervilhava com todas as informações que acumulou por anos em busca dessa cura.

Não foi até um certo dia que se viu no espelho; olhos avermelhados e cabelo sujo. Completamente diferente de quando se portava como dono do mundo. Midoriya nunca olhava para seu corpo, fugindo das marcas claras da morte do melhor amigo, mas dessa vez seus olhos foram para lá como imãs.

Cicatrizes.

Levou os dedos trêmulos para tocar em uma delas, mas imediatamente afastou. Elas foram feitas há dezessete anos atrás e já estavam fechadas, não doíam, não fisicamente, mas na sua mente… Elas estavam sangrando. Sempre o lembrando daquele dia.


Terceiro Teste

Midoriya voltou para a pesquisa uma semana depois. Refez cálculos, percebendo enfim o erro; a dosagem do ativante. Decidiu diminuir o nível de prótons e elétrons.

Deku sozinho, munido apenas com seus ideais, foi em busca da sua terceira cobaia. Stain, o assassino de heróis.

A filosofia dele era parecida com a sua, por isso Izuku se arriscou como nunca. Essa seria a primeira vez que contaria seu real objetivo para alguém além de Shinsou, que só sabia porque o conheceu antes mesmo de Katsuki.

— O que faz aqui, doutor?

Midoriya o encontrou em um telhado, vigiando a cidade e se sentou ao seu lado, seu rosto abatido mostrando o quão perdido estava – algo que ele mesmo não percebia.

— Imagino que já me conheça.

— Certamente.

Ficaram em silêncio. Deku suspirou exausto, havia dias em que apenas queria acordar daquele pesadelo que estava preso por dezessete anos.

— Estou buscando uma cura para as quirks.

Stain não pareceu surpreso, mas olhou Midoriya interessado.

— E chegou a algum resultado?

— Sim, mas preciso testar.

— E eu sou sua cobaia? — Stain perguntou e Izuku assentiu, ainda sem olha-lo. Stain o encarou por alguns minutos, dividido entre pela admiração e pela incredulidade da tranquilidade do homem em admitir que estava ali para colocar a sua vida em risco. — Então você não deveria estar com mais pessoas para te proteger?


— Não creio que preciso de proteção.


— Você não tem individualidade para se proteger, doutor, e eu sou claramente uma ameaça.


— Nós partilhamos da mesma visão, Stain. — Izuku murmurou. — Ao contrário do mundo, percebemos que os heróis não são o que deveriam, que não passam de egoístas em busca de dinheiro e status. O que era pra ser uma nobre atitude virou um circo montado onde todos acenam e riem como se tudo estivesse bem.

Stain o contemplou silenciosamente antes de assentir e voltar a olhar a cidade.

— O que pretende?

— Não há riscos, fique tranquilo. Sua quirk vai ser apagada do sistema nervoso, infelizmente as lembranças também, contudo isso é para que a humanidade deixe de ser refém dessa maldição que todos, iludidos pela glória, acreditam ser benção.

Ficaram em silêncio. Stain não tinha nada a perder e até gostava da visão ampla e futurística do doutor. Olhou para sua espada - que pegou quando Midoriya se aproximou - refletindo sobre prós e contras. Deu de ombros, sem se importar muito.

— Tudo bem.

Midoriya assentiu, mas não se levantou. Stain continuou ao seu lado, hora olhando para o rosto melancólico de Izuku, hora observando as luzes indistinguíveis abaixo do prédio onde ambos estavam.

O terceiro experimento foi feito em um silêncio fúnebre.

A verdade era que Izuku estava preparado para se despedir de algo que o marcou por tanto tempo: sua pesquisa anti-quirk. Não tinha ideia do que faria depois de apagar as individualidades e, se fosse sincero, diria estar perdido.

Fez o experimento meio distraído, no automático, e nem ao menos comemorou quando apagou a quirk de Stain com o menor dano até então: perda de memória, porém Stain ainda conseguia falar e andar normalmente.

Bom, aquele teste era mais para lhe mostrar se a dosagem de ativante estava na medida certa ou se precisava de mais uma baixa de prótons e elétrons. Voltou para casa sentindo-se derrotado, mas não quis entrar no laboratório subterrâneo. Passou a noite toda tendo os mais variáveis tipos de pesadelos e acordou suando frio, sentindo um genuíno terror o assolar, porém sem conseguir se lembrar o que aconteceu.

No dia seguinte, exatamente às seis da manhã, Shinsou entrou pela porta, com suas chaves, e o beijou.

— Todos estão se perguntando quem foi que conseguiu resetar Tomura e apagar a memória do Stain, mas ainda não notaram que eles não tem mais quirk, apenas julgaram que ambos não conseguiam utilizar seus quirks pela falta de memória. Também estão aflitos com o sumiço do Mineta, já faz um mês e ninguém achou o corpo.

Deku não reagiu e Hitoshi franziu o cenho, estranhando o comportamento. Olhou para a parede que Izuku encarava e percebeu sua falha – era o dia do aniversário da morte de Bakugou Katsuki.

Suspirando, Shinsou puxou Izuku delicadamente e o levou para cama já que ele provavelmente não dormiu na noite passada.

O resto do dia se passou com ambos deitados. Em alguns momentos Deku chorava compulsivamente, em outros ele parecia morto, não reagindo a nada. Shinsou odiava aqueles dias e sabia bem que Izuku passaria uma semana em isolamento, vivendo como um vegetal. Mas não estava no direito de odiar Bakugou, ou a memória dele. Tinha ciúmes, sim, aquele pirralho mal chegou na vizinhança do orfanato que ele e Deku chamavam de lar, destratando Izuku na maior cara de pau, mas Midoriya, inexplicavelmente, quis ser amigo dele e o seguiu. A cada dia que passava, Deku desaparecia, só voltando no final do dia, contando as aventuras com o Kacchan – enquanto Hitoshi continuava sendo “Shinsou-kun” – e precisando de Hitoshi para rir e ser seu companheiro de quarto porque, se ele se negasse em ser esse confidente, perderia para sempre seu melhor amigo. Mas não durou muito. Um ano depois a casa de Katsuki foi invadida, toda a família morrendo, os pais assassinados e Bakugou queimado pela própria quirk.

Anos passaram, mas Deku ainda era aquela criança presa em seu amor e sofrendo, dia após dia, a dor daquela noite.

Shinsou nunca o teve de volta.

Uma semana depois, como sempre acontecia nessa época, Deku apareceu pronto para ir à universidade.

— O terceiro teste foi um divisor de águas. Estamos pronto para começar a apagar as quirks sem danos colaterais.

— Vamos começar por quem?

— Uraraka Ochaco.



A intensa dor da traição



Uraraka estava radiante.

Primeiro por passar na prova para tirar sua licença provisória de Herói e segundo porque foi chamada para um encontro com Midoriya Izuku, sua atual paixonite. Além de se sentir realizada por ter conseguido chamar a atenção dele, mostrando que todos esses meses sendo a melhor em tudo o que ele pedia para fazer não foi em vão, ela estava feliz por ser capaz de o ajudar com toda aquela tristeza que escondia.

Ficou surpresa com o local em que se marcaram, o melhor restaurante de Tóquio, e estava nervosa, esperando estar bem vestida pra ocasião e se portar de acordo com o nível do local em que estavam. De tão focada em tudo que acontecia na sua vida, não ocorreu à Uraraka o quão errado era um homem de vinte e dois anos estar saindo com uma adolescente de quinze que ainda estava no primeiro ano do ensino para heróis.

Ela deveria ser mais esperta, Hitoshi pensou assistindo Uraraka e Midoriya saírem aos risos do restaurante, caminhando despreocupados para onde o carro estava estacionado. Distraída, Ochaco não percebeu a estranheza do local, bem atrás do restaurante, na parte mais escura, e não olhou ao redor quando pararam próximos a um carro com janelas escuras demais.

— Muito obrigada pela noite, Deku-kun. — ela disse timidamente e o sorriso de Izuku morreu na hora.

— Como me chamou?

O tom dele foi grosseiro, fazendo Ochaco ficar nervosa.

— O Shinsou-san sempre te chama assim, então eu pensei…

— Pensou errado.

Os olhos verdes estavam tão frios que poderiam a congelar. Uraraka percebeu onde estavam e ficou ainda mais nervosa. Soltou uma risadinha quase histérica.

— Bom, não precisa me levar para casa, minha mãe vem me buscar. Desculpe pela liberdade que eu tomei.

Ela começou a andar apressada, mas não sabia bem por onde vieram, não conseguia encontrar nenhuma iluminação e o restaurante não era visível de onde estavam. Tremeu de medo, mas continuou andando. Izuku, que percebeu a clara mentira sobre a mãe da garota - que provavelmente esperava ficar com ele o resto da noite - riu alto e debochado.

— Lado errado, U-r-a-r-a-k-a- san.

Ochaco praticamente pulou de susto. Se virou dando um sorriso forçado, mas seu semblante transparecer seu medo assim que viu Deku próximo demais. Quando foi que ele voltou a andar? Uraraka não ouviu um passo sequer! Ela se virou e correu, mas apenas deu três passos antes de se ver presa nos braços de Shinsou.

— Me solta. — gritou desesperada. Sua mão levantada, pronta para usar sua quirk

— Hoje não, Uraraka-san. — Midoriya murmurou divertido e Ochaco o olhou aterrorizada, sem entender do que ele estava falando e, no segundo seguinte, ela estava desacordada por causa do boa noite cinderela que Deku injetou nela.

— Leve-a para o carro.

Hitoshi olhou da garota para Izuku, mas arrastou o corpo, a segurando por debaixo dos braços e dos seios, a colocando no porta-malas. Shinsou entrou no lado do motorista e Izuku no banco do passageiro.

— Não me chame de Deku, ela fez o mesmo. Eu quase dei um soco nela. Isso teria posto tudo a perder.

Ah, era por isso que ele tirou a máscara ao ponto de assustar a garota. Shinsou estranhou quando Uraraka começou a fugir sendo que o plano era Deku a levar sem luta para não chamarem a atenção como aquele grito e perseguição fariam. Poderiam ter sido pegos e isso acabaria com tudo.

— Desculpe. — respondeu sem olhá-lo. — Mas eu já te avisei o quão ridículo-


— Não use apelidos carinhosos que outra pessoa colocou em mim. Você não é ele, não tem direito de usá-lo.

Odiava quando Deku fazia isso, como se estivesse o diminuindo. “Você não é ele”.

— Sinto muito por não ter sido eu a morrer no lugar do seu querido Kacchan

Izuku socou o painel do carro com tanta violência que Shinsou se assustou e parou bruscamente o carro.

— Nunca mais fale assim! — explodiu. Hiroshi o olhou confuso e só entendeu aquela reação quando os olhos verdes brilharam em puro pânico. — Eu nem quero imaginar te perder também! — para o seu horror, Izuku sentiu as lágrimas quentes rolarem pelos seus olhos. Tentou limpar imediatamente, mas elas não paravam de descer. Escondeu o rosto sussurrando entre soluços: — Eu não posso te perder também.

Os olhos arregalados pela surpresa de Shinsou suavizaram. Sim, aquele era o seu Izuku, inocente e amoroso. Desejava que ele jamais tivesse presenciado aquela crueldade que fizeram com Katsuki, queria que ele não fosse essa pessoa traumatizada procurando manter o melhor amigo vivo a qualquer custo, até mesmo em uma maldita promessa irracional.

— Não, não chore. Estou aqui.

O beijou com calma tentando confortá-lo. Midoriya correspondeu, o tocando com tanta sede que Shinsou ficou excitado por alguns instantes, mas Deku apenas queria se certificar de que ele estava ali, que estava vivo. Não era o mesmo que acontecia quando, às vezes, via Bakugou nitidamente em seu quarto, ou laboratório, e corria para o abraçar, se deparando com a fria realidade onde o amigo estava morto.

— Não me deixe. — sussurrou contra os lábios de Shinsou, praticamente sentado em seu colo, a voz quebrada e frágil como Hitoshi nunca escutou. Ver Deku assim foi como ter seu coração esmagado por uma mão perversa.

— Estou com você até o fim, não vou te deixar.

Depois do momento mais embaraçoso da vida de Izuku, chegaram com rapidez no casebre abandonado e tiraram Ochaco do porta-malas, a colocando na mesma cadeira onde Mineta morreu, Tomura nasceu de novo e Stain se voluntariou.

Uraraka acordou desnorteada e só se lembrou do que aconteceu horas antes quando viu Izuku sentado na sua frente. Ochaco percebeu que Shinsou estava parado perto das escadas, mas só conseguiu ver a sombra dele.

— O que está acontecendo De- Midoriya-kun?

Izuku a encarou por alguns segundos então fechou os olhos e suspirou antes de se levantar.

— Eu menti para vocês o tempo todo. — explicou calmamente. — Minha pesquisa não é para evoluir a quirk e sim apagá-la.

Uraraka esperou. Esperou que o que ele disse fosse mentira; para que Izuku risse; “você caiu na pegadinha” quis que ele falasse. Mas a verdade finalmente estava ali, nua e crua, queimando seu coração e embrulhando seu estômago. O amargo gosto da traição subiu junto com a bile e Uraraka quis gritar, mas estava sem forças.

— Eu confiei em você. — sussurrou desoladamente.

— Eu sei, obrigada por isso, aliás. — Uraraka olhou para Izuku sem acreditar no quão tranquilo ele estava. — Você e seus amigos me ajudaram muito, esse projeto não teria chances de ser concluído com sucesso se não fosse por vocês.

Demorou um pouco para ela compreender que Midoriya dizia todas aquelas barbaridades com sinceridade. Ela riu histericamente.

— Você está brincando com a minha cara?

Izuku não entendeu o que poderia parecer engraçado no que disse.

— De forma alguma. — negou com a cabeça, parecendo genuinamente chocado com sua reação. Ele estava sendo sério.

— Você tem coragem de mentir para nós, seus amigos leais! E simplesmente agir como se isso fosse justificável?! — cuspiu ríspida, seu rosto contorcido em ira.

Midoriya parou na frente dela e acariciou suas bochechas. Uraraka não combinava com aquele tipo de expressão, no seu rosto delicado não deveria aparecer nada além de um alegre e puro sorriso.

— Não faça essa expressão medonha. Não combina com você. — disse, voltando para a mesa para pegar a seringa. Ele a inseriu de forma delicada. Uraraka estava tão devastada que nem sentiu a picada, o líquido sendo injetado nela. — É para o bem de todos nós, Uraraka-chan. O mundo não é do jeito que vocês pensam que é. Os heróis não são mocinhos e as quirk apenas dão mais liberdade para pessoas ruins machucarem os inocentes.

Uraraka tremia, as lágrimas caindo sem que percebesse, em seu olhar uma dor tão profunda que Shinsou não pode ver, desviando o olhar. Ela confiou em Deku, teve compaixão, o ajudou e ainda se apaixonou. Ficou com pena dela, a traição estaria sempre marcada como fogo em brasa no seu coração tão puro. Izuku fez com ela o que o homem gosmento fez consigo: a marcando da pior forma possível.

Depois do choque passar, Uraraka gritou e esperneou, mas diferente de todos que sentaram naquela cadeira, até mesmo antes de Mineta, a reação dela era pura e simplesmente pela traição de Izuku.

Midoriya não se abalou em nenhum momento e até sorriu, quase gentil, diante da fúria da garota desiludida.

Isso é, até que ela disse as palavras erradas.

— O único ser desprezível aqui é você. Não os vilões, eles assumem o que são e não fingem serem bons samaritanos.

Izuku não respondeu, não a torturou ou a feriu. Ele prosseguiu com o tratamento – como ele nomeou aquele crime – e a curou.

Diferente das outras tantas vezes que fizeram aquele mesmo procedimento, Ochaco não perdeu a memória. Ela continuou olhando para Izuku com raiva, mágoa, ódio e eles tiveram que prendê-la. Se ela contasse o que aconteceu, Izuku seria preso e não poderia acabar o que começou por Katsuki e pela humanidade. Foram obrigados a apressar os ataques.

O próximo foi Iida Tenya.

O confronto não foi tão dramático quanto com Ochaco. Ele parecia fora do ar, na verdade, perdido em sua própria mente. Izuku não poderia se importar menos. Ele ainda martelava o que Uraraka disse e, junto a isso, cada vez mais as lembranças voltavam a lhe assombrar. Depois que fez o mesmo com Sero e Asui, as notícias dos sequestros ganharam atenção e todo cuidado era pouco. Eles aproveitaram cada minuto para apagar tantas individualidades quanto pudessem.



Cicatrizes de um homem marcado pela vida


— Não é suficiente. — murmurou.

Não é suficiente, sua mente acusava.

Precisava retirar mais individualidade. Precisava salvar mais pessoas. Precisava curar a todos daquela maldição para que ninguém sofresse o que Kacchan sofreu... O que Midoriya sofreu. Precisava salvar Bakugou.

Onde ele estava? Porque ele não ficou ao seu lado em todos aqueles anos?

Entrou em transe depois da vigésima quinta pessoa curada. Não deixou que ninguém chegasse perto, nem mesmo Shinsou. Precisava entender o que estava acontecendo.

O que era aquele vazio? Não entendia.

Bakugou o deixou? Eles se mudaram? Não o via desde que foram brincar no riacho e então, quando anoiteceu, voltaram para a casa dele porque Deku conseguiu a rara permissão de dormir fora do orfanato e…

A avalanche de lembranças que Izuku guardava a sete chaves voltou como um tsunami; varrendo todo o equilíbrio e tudo que era sólido na vida de Midoriya. Lembrou como estava animado em dormir fora pela primeira vez; de contar alegremente para Shinsou como seria legal uma noite do pijama e que na próxima convenceria a tia responsável pelo lar deles a deixá-lo ir também.

Mas não teve próxima.

Lembrou de como Katsuki ficou confuso ao ver as luzes da casa deles todas ligadas; de quando encontraram os pais dele com olhos arregalados, bocas abertas, rostos pálidos e o corpos cobertos por uma gosma verde estranha. Lembrou do rosto infantil horrorizado de Bakugou e quando o chamou para saírem dali… Ele apareceu.

Era um homem de voz medonha e sem corpo físico. Katsuki tentou afastá-lo com uma pequena explosão e Deku se sentiu confiante. Todos na escolinha diziam, inclusive a professora deles, o quanto a individualidade do Kacchan era forte. E foi isso que o homem asqueroso disse antes de avançar sobre eles e começar a entrar pela boca de Katsuki.

Deku não lembrava de muita coisa depois disso, mas jamais esqueceria do terror que sentiu, dos seus gritos, das suas tentativa frustradas de puxar Katsuki das mãos dele. Nunca esqueceria do quanto gritou por socorro, de como chorou desesperado com medo de perdê-lo para aquele vilão. E nada no mundo tiraria a visão dos olhos vermelhos e aterrorizados do amigo que nunca temia nada e que sempre ressaltou que seria o herói numero um. O mais poderoso.

A casa foi tomada pelo fogo por causa da quirk do Bakugou e o homem fugiu quando percebeu que, antes de tomar o corpo daquela criança, ela iria queimar, se tornando inútil. Antes de tudo explodir, Deku se lembrava de tentar arrastar o corpo desmaiado e inerte do amigo, mas o vilão o empurrou. Izuku caiu para fora da casa e, antes que pudesse se virar para ajudar Bakugou, tudo foi consumido pelas chamas em uma explosão. Parte das suas costas, nuca, pernas e braços sofreu queimadura de terceiro grau e Midoriya ficou inconsciente por meses.

Quando acordou…

Izuku piscou. Estava caído no meio do porão.

Sim, quando acordou descobriu o que houve e ali mesmo, na cama do hospital, prometeu a Katsuki que iriam pagar pelo o que fizeram com ele. E a cada ano que passava, Deku estava mais e mais convencido de que o problema era a individualidade.

E ele estava certo.

— Izuku? O que aconteceu?

Shinsou correu escada abaixo e o sentou, o abraçando e beijando na nuca. Bem em cima da sua cicatriz.

Midoriya gritou, se arrastando pelo porão e, curvando as costas, bateu com as mãos em punho no chão tentando descontar sua ira. Todos os que estavam contaminados com aquela maldição deveriam ser curados. Somente assim teriam paz; somente assim ninguém sofreria o que ele e Katsuki sofreram.

Sentiu seu sangue correr pelas suas veias como fogo líquido. Uma queimação estranha atingiu seu estômago e uma dor avassaladora, agora física, tomou conta do seu ser. Seus olhos reviraram em sua órbita e Deku tossiu três vezes antes de arrotar. Mas o que deveria ser um arroto foi na verdade uma grande chama saindo da sua boca.

Izuku havia acabado de cuspir fogo. Assim como seu pai.

— Não. — sussurrou. Levantou cambaleando e negou com a cabeça. — Não. Não. Não. Não. — repetia sem parar enquanto sua cabeça rodava. — Não pode ser, eu não posso ser amaldiçoado também. — olhou para Shinsou que o encarava em choque. — Você tem que me salvar, você tem que me curar, eu não posso fazer o que fizeram com ele, Shinsou-kun... Hitoshi, me cura.

— Eu... Eu não sei como se faz isso. O doutor aqui é você.

— Sabe sim... — Izuku chorou. — por favor…

Izuku sentou na cadeira. Os olhos verdes lhe implorando para não deixá-lo ser o que tanto desprezava. Shinsou sentia sua mão tremer enquanto pegava o líquido – não a nova versão, mas sim o mesmo que usaram em Stain.

— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui.

Repetiu a mesma frase todo o tempo. Shinsou sabia o que aconteceria depois daquilo. Antes de colocar os receptores, Hitoshi se permitiu beijá-lo pela última vez. Izuku o olhou como se tivesse cinco anos de novo e Shinsou chorou silenciosamente enquanto conectava cada agulha.

Não conseguiu olhar, ficando de costas depois que ligou a máquina. Não se virou mesmo quando ela parou e tremeu quando Midoriya acordou.

— Onde estou...?


O inimigo da humanidade



Todas as vítimas do caso do Doutor Quirkless foram encontradas no subsolo da casa do jovem doutor Midoriya Izuku.

Ele, um jovem gênio, foi manipulado a trabalhar com Shinsou Hitoshi, um homem que odiava tanto heróis quanto vilões, não aceitando sua individualidade e nem quem as tivesse, por isso, escolheu o jovem aparentemente sem quirk para o ajudar nesse plano diabólico.

Eles atingiram o objetivo quando, inesperadamente, Midoriya manifestou sua quirk tardiamente. Shinsou não aceitou que o velho amigo sofresse desse mal e usou o experimento nele, o deixando sem memória e abandonado no casebre em meio a floresta.

Shinsou Hitoshi foi encontrado morto dois dias depois. Não se sabe o que aconteceu, mas há uma forte suspeita de que tenha sido suicídio. Não há nada, nem ninguém além de três seguranças pagos do jovem Midoriya para declarar o que aconteceu durante todos esses anos que os dois foram amigos. Testemunhas que conviveram com eles em várias épocas ajudaram a polícia a montar uma linha do tempo. Mas uma parte do depoimento foi unânime: Midoriya Izuku sempre foi um garoto gentil que acabou refém da obsessão do amigo contra a quirk.

O jovem doutor continua sob vigilância no hospital psiquiátrico de Tóquio sem direito a visitas.”

Stain desligou a televisão e olhou para o homem, que mais parecia um garoto perdido, ao seu lado. Ambos estavam na pequena sala de recreação do hospital. Sorriu.

— Você está famoso.

Izuku, que se concentrava em lembrar como diabos se vestia uma camisa, o olhou sem entender.

— O que é famoso…?

02 Eylül 2018 23:31 5 Rapor Yerleştir Hikayeyi takip edin
12
Son

Yazarla tanışın

Emily C Souza Não posso dizer que sou tudo aquilo que escrevo, mas tudo aquilo que escrevo tem um pedacinho de mim

Yorum yap

İleti!
Inkspired Brasil Inkspired Brasil
Olá, tudo bem? Como foi participar do desafio? Meu Deus, estou no chão, destruída... QUE HISTÓRIA FOI ESSA, MEU JAH??? Simplesmente amei! Amei o enredo e os detalhes que você narrou. A história me lembrou muito os livros da magia do Neil Gaiman misturado com X-Men e Death Note. Cara, foi épico de mais, o Midoriya todo sonso na frente das pessoas e sendo o maior idiota do World que alguém pode imaginar. E teve um pouquinho de gore na cena do Mineta, eu juro que gritei... Que obra! Só que meio que a história acaba não encaixando no subgênero sorteado. O anti-heroísmos está lá, tem toda a intriga e tudo mais, só que foca na modificação genética e se perde com Biopunk; na verdade, a história é mais Biopunk do que Baixa Fantasia. Também notei alguns errinhos ao longo da leitura e muitas palavras repetidas, aconselho você a corrigir. De resto, está tudo maravilhoso. De longe essa é uma das melhores histórias que li com um tema tão original e referências claras a grandes obras da cultura pop. Parabéns! Beijinhos 😘
October 04, 2018, 19:22
Ariane Munhoz Ariane Munhoz
Oi Amy! Demorei mas finalmente consegui chegar aqui e ler sua história maravilhosa! Gostei muito do desenvolvimento da trama e de como você fez tudo girar em torno da obsessão do Deku a respeito da morte do Bakugou. Eu abomino do fundo do meu coração BakuDeku, mas como era sua e o Kacchan tava morto, eu li ate o fim. Foi muito triste ver o que aconteceu com ele, em como o homem gosmento o fez matar os próprios pais antes de perser o controle e morrer para a própria quirk. Dá pra entender o motivo de Deku ter ficado assim. Achei muito legal a maneira como você trabalhou esse trauma em cima dele, só foi triste ver como Ochako e os outros foram enganados facilmente. Algumas coisas não me desceram, como o roubo que ele pediu pra ser realizado. Mas como estavamos falando de adolescentes deu pra acreditar, as vezes são burros e imprudentes. Ou inocentes demais como Uraraka. A morte de Mineta foi um negocio de doido. Imaginava o cérebro derretendo, mas isso foi digno de um fatality de mortal kombat! Por fim, Shinsou deu a maior prova de amor ao libertar Deku de sua quirk tardia. Foi muito triste, mas adorei a fic! Parabéns por concluir o desafio com uma fic tão maravilhosa. Com certeza uma das suas melhores que li!
September 12, 2018, 21:47
Zen Jacob Zen Jacob
Preciso voltar a ler Boku no Hero, mas mano do céu, você com certeza conseguiu ir por um lado do pobre Deku que com certeza saiu do Inferno... Me impressionou o nível de maldade e frieza que você imprimiu nele, a questão dos experimentos me lembrou bastante Frankenstein, apesar de o Dr. Victor ter a obsessão desenvolvida de forma bem diferente do Midoriya. Fiquei com pena da Uraraka e gostei de ver as motivações dos outros personagens serem pinceladas no plano de fundo, ajudou a mostrar que realmente você construiu um Deku bem manipulador, quase um Hannibal, ainda que mais descompensado. Acho que é pela minha tendência a me apegar mais por vilões do que por heróis, mas ainda me surpreendeu que o final tenha sido tão trágico. :/ Mas depois de tudo o que o Midoriya plantou, infelizmente acho que era o único desfecho possível que poderia colher. Fico triste pelo Shinsou, tive esperanças de que ele conseguisse dissuadir o Deku a alcançar uma redenção, me arrasou ver o fim a que ele foi levado. =( Poxa, moça, a senhora partiu meu coração, tá de parabéns, nota 10 (afinal, eu pago internet é pra sofrer, não pra ser feliz :v)
September 07, 2018, 19:46
LiNest LiNest
Ok, por onde começar esse comment? Com a minha confissão de eterno amor por vc ou meus vários xingamentos? Porque PORRA EMS! O QUÊ FOI ISSO? Primeiro, SHINDEKU! Deuses eu to pirando! Um dos meus ships favoritos com o Deku e vc acaba com eles nessa fic, pior, VC ACABA COM ELES, ACABA COMIGO E EU AINDA ASSIM ADOREI! Srsly, eu literalmente chorei lendo isso no trampo hoje, já que agora não tem a loucura do desafio e eu pude absover melhor toda a DOR desse angst. E que dor maravilhosa. Ok agora sobre a fic, primeiro, eu AMEI o Deku vilão, não apenas ele é um filho da puta, mas também dá muito para simpatizar com ele e sua espiral de loucura, meu coração quebrou quando vimos o flashback do que aconteceu com o Bakugou e, deuses, isso seria traumático para qualquer um, fato. Mais incrivel do que isso é que mesmo sendo um vilão o Deku ainda é o Deku sabe? Por mais que ele esteja fazendo coisas horriveis por uma obsessão psicótica, eu ainda conseguia ver o Midoriya ali e entender como foi fácil para ele manipular o grupo da Uraraka e até mesmo conquistar a confiança do Stain. E MANO EU AMEI A CENA COM O STAIN! Sério, foi a minha cena favorita na fic, e olha que eu amei praticamente TUDO nessa fic! Mas cara foi um momento tão sei lá bonito sabe? Foi uma calma na tempestade e nem é que a situação ainda não fosse horrorosa, mas foi interessante ver os dois encontrando um no outro um igual, o Deku achando alguém para compreender sua "luta" e até apoia-lo, algo que acho que nem o Shinsou fez completamente, mesmo tendo sido um cúmplice. Sei lá, só achei muito tocante. Tmb amei a Uraraka, gente a cena do teste com ela foi incrivel! Vc respeitou a personagem, o que sinceramente me deixou aliviada como já te falei em audio por conta de muita gente usar as personagens femininas de forma porca nas fics slash, mas vc não fez isso e eu te amo por isso <3 E tmb vc conseguiu dar destaque para todos os personagens, o que foi incrivel tmb, o pov da Asui, em particular, eu achei muito interessante. Agora sobre o final, GENTE O QUÊ FOI ISSO? EU TO CHOCADA ATÉ AGORA! MANO DO CÉU QUE FINAL INCRIVEL! Eu realmente, REALMENTE não esperava por isso, tipo sei lá, eu nem sei o que esperava, mas não era isso kkkkkk Shinsou é, sem dúvida, o melhor personagem dessa fic, desde a primeira vez que ele apareceu eu já adorei ele. Os povs dele eram is melhores porque ele é tão ácido e cansado com a besteira do Deku, mas ele ainda assim o ama demais para sair dessa loucura mesmo tendo consciência de que o Deku tá doente e que o que eles estão fazendo não é certo, é um contraste incrivel no personagem e eu só... Aff eu só adorei demais isso! Eu amo o Shinsou demais e ver como ele se sacrificou nessa fic, como ele perdeu o Deku mais uma vez e foi obrigado a ser a causa disso foi doloroso demais, E EU FIQUEI TÃO PUTA QUANDO ELE FOI CULPADO PELOS CRIMES! PORRA MANO SHINSOU DESERVED BETTER! Eu até achei bom ele ter se suicidado apenas pra não passar pelo desgosto de ser um bode expiatório, sendo que não duvido que ele aceitaria a culpa se isso significasse proteger o Deku ;3; sério, chorei com a cena dele tirando o quirk e apagando as memórias do Izuku ok? Altruísmo sempre me comove. E a parte final do Stain e do Deku no hospicio e o Deku completamente sem memórias foi apenas ouro puro cara, incrivel pra krlho, de verdade. Eu tive que respirar fundo e então gritar depois de terminar de ler a fic para expressar meus sentimentos, só pra vc ter uma noção do efeito que tem em mim ok? Te odeio! Me beija! Kkkkkk enfim, eu amei. Parabéns porque essa fic tá incrivel
September 03, 2018, 21:39
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