Essa fanfic faz parte do desafio Tipos de Pai do grupo Inkspired Brasil.
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Eu nunca tive muitos planos para minha vida, quer dizer, nada além do básico: me formar, ter uma profissão, talvez casar.... e mesmo que eu tivesse planejado cada mínimo detalhe, eu jamais poderia imaginar o que a vida me guardava.
A primeira grande surpresa foi me apaixonar por ele; um garoto loiro de olhos dourados, sorriso fácil e uma simpatia irritante que entrou no time de basquete do meu colégio. De início, eu não curtia muito a companhia dele e muitas vezes fui grosso e insensível, ainda acho que o machuquei bastante com minha frieza e estupidez, porém ele, como o menino de ouro que sempre foi, me perdoou sem muita resistência, e hoje em dia agradeço silenciosamente por isso sempre que acordo e ele está ao meu lado. Kise Ryouta, meu marido, me conquistou quando nós tínhamos apenas quatorze anos, mas o namoro só veio depois de muito drama por parte dele, que nunca havia se apaixonado ou se atraído por outro homem antes, e muita birra minha, que, orgulhoso como sou, dificultei muito o processo para nosso primeiro beijo (e até o pedido de namoro, que foi apenas um resmungar: “quer ficar apenas comigo, idiota?”) acontecer.
A segunda surpresa foi eu continuar no basquete profissional enquanto Kise continuou a ser modelo, agora também de passarela. Foi uma época complicada, mal nós víamos, e volta e meia terminávamos o relacionamento em meio às brigas, apenas para no dia seguinte fazermos as pazes com muitas lagrimas, do Kise, e muitos beijos – meus em sua maioria. Mesmo com tantos problemas, seguimos nos amando e nos apoiando mutuamente. Penso que foi apenas por isso, pela nossa teimosia, que continuamos juntos nessa época.
A ideia de o pedir em casamento simplesmente surgiu em uma manhã chuvosa onde estávamos embrulhados, do pé a cabeça, assistindo um filminho besta, apenas curtindo a companhia do outro. Tínhamos vinte oito anos e foi um choque perceber que eu não conseguiria viver sem ele nem se eu quisesse, daí para o pedido, que veio quinze dias depois, foi um pulo; a essa altura eu já considerava que minha vida estava feita e que não faltava nada.
Mas não é bem assim que a banda toca. Kise amou o pedido, planejou o casamento, escolheu a casa e a decorou com muito amor e bom gosto, porém, ao contrário do que se passava em minha cabecinha, os planos dele iam muito além do que eu poderia imaginar e, assim que ele se deu por satisfeito de curtir o recente casamento – morávamos juntos a anos, no entanto parece que as coisas simplesmente mudam apenas por causa de uma aliança – jogou a bomba em minha cabeça:
— Eu quero ter um filho.
Bom, eu realmente não entendi o que aquilo queria dizer.
— Você está me pedindo o divórcio?
Kise pareceu ainda mais confuso que eu.
— Quê? Por que eu iria querer o divórcio? Acabamos de nos casar!
Foi aí que eu fiquei ainda mais perdido.
— Uai! Se você quer um filho e eu não posso gerar um pra você, automaticamente eu entendo que você quer se separar e procurar uma mulher.
Minha explicação – que fazia muito sentido pra mim, eu juro! – pareceu ser uma coisa completamente sem lógica, a julgar pelo olhar incrédulo que ele me lançou por alguns instantes antes de uma risada escandalosa, e muito gostosa, tomar toda a casa (e todo meu peito).
Eu poderia ficar bravo, fazer uma careta e me afastar com uma birrinha costumeira, mas a verdade é que eu amo tanto esse homem, que a vontade de rir com ele foi quase mais forte que a carranca de praxe.
— Daiki, pelo amor, estamos em pleno 2018, existem mil formas de ter um filho com outro homem. — E ele voltou a rir, mas agora apenas um risinho fofo.
Bufei.
— Por que não disse logo que queria adotar?
Kise parou de rir e se aconchegou mais contra meu peito.
— Não adotar, não agora, eu quero ter um bebê, estar presente na gestação, vê-lo crescer desde que ele era um grãozinho.
Eu entendi como aquilo era importante pra ele e, mesmo que isso nunca tenha se passado pela minha cabeça, eu não podia dizer não. Mas a ideia me assustava, e até hoje me assusta.
— E como vamos fazer isso?
Kise praticamente pulou do sofá que estávamos sentados e me encarou com os olhos brilhando.
— Podemos? De verdade?
Ri de leve com tanta animação.
— Claro, quer dizer, ‘tô bem assustado com a ideia de ser pai mas, se é com você, eu quero tudo.
Depois disso, um momento bem vergonhoso para mim, que tenho cara de mau, conversamos por meses até decidir como, quando e com quem teríamos esse bebê. A escolha óbvia era a Momo, que aceitou com muita animação. Durante os meses de gestação eu temia cada vez mais a tarefa difícil de ser pai e a probabilidade da Momo se apegar ao neném e não querer nos dar ele – o que era ridículo, hoje eu vejo, pois Kise é pai biológico do nosso primeiro filho, e tem tanto direito sobre ele quanto ela, sem falar que Momo sempre foi minha melhor amiga e jamais faria isso comigo.
Eu achei que estava preparado para o nascimento dela (sim, descobrimos que era garota no quinto mês de gestação, e eu quase surtei porque ter uma menina requer ainda mais responsabilidade), mas isso era só meu ego inflado falando no lugar da sensatez. Quando realmente chegou o dia, madrugada na verdade, eu entrei em pânico e não servi pra nada, inclusive Kise precisou me dar um tapa na cara, literalmente, para que eu voltasse para a realidade. Foi Ryouta quem fez companhia para uma furiosa e mordaz Momo no parto, e tudo o que eu pude fazer foi andar de um lado pro outro repetidas vezes na sala de espera com os nervos à flor da pele e quase chorando de tanto medo de algo acontecer as duas.
Graças a Deus elas ficaram bem. Horas depois permitiram que eu as visitasse e o momento em que a peguei nos braços... não, não tem como descrever algo assim. Foi tão puro, tão intenso, que eu caí no choro enquanto ela me encarava com os olhões dourados e segurava meu dedo com toda a força, até hoje, em meus quarenta anos de vida, eu nunca vivi um momento que se comparasse a esse.
É como se sua vida começasse ali, tudo o que você viveu antes não importa, o sentimento que te invade é um amor grande demais para caber apenas no peito e parece que ele toma todo o seu corpo, cada pequena célula, e quando você percebe tudo em você é dela; corpo, alma, coração, e você já não sabe onde começa você e onde termina ela.
Eu nunca esqueceria o sentimento avassalador que fez meu peito doer de tão intenso quando a vi pelo primeira vez.
Foi muito difícil no começo, não que eu já não soubesse, mas também não chegou nem perto do que eu pensei que seria ser pai. Rairakku, nossa filha, era agitada desde o ventre da mãe, e ao mesmo tempo em que era lindo vê-la soltando gaitadas, dançando segurando as grades do berço, e dando pulinhos, era desgastante ela ter toda essa energia às fucking três da manhã! Toda vez que ela fazia isso eu me perguntava o porquê de aceitar aquela loucura do meu maldito marido, que dormia em pé pelos cantos (e até mesmo posando para as fotos).
A quem eu queria enganar? Era só a pestinha dar um sorriso e eu bobo esquecia completamente as noites não dormidas, o chororô, e as bombas de cocô da sua fralda. Eu sou um trouxa, eu sei, fazer o que? É mais forte que eu.
Quando Rairakku fez dois aninhos, eu inexplicavelmente senti falta de toda a fase turbulenta de quando ela era um bebê. Como ela já estava maiorzinha, Rai-chan, como às vezes a chamamos, já tinha hora certinha pra dormir e era incrivelmente independente, para meu desespero, admito (nem quero pensar como vai ser quando ela casar e tiver a própria família). Conversei com Kise – sim, a ideia do segundo filho foi minha, e perguntamos se havia a possibilidade de Momo gerar o segundo.
— Queremos que eles sejam irmãos. — expliquei.
Ela, como sempre, ficou encantada.
— Claro que posso!
Para ser sincero, eu realmente acreditei que já estava acostumado com tudo aquilo, quer dizer, eu já tinha a Rairakku, nada poderia me surpreender agora.
Ledo engano.
Toda a mágica de ter um segundo filho era completamente diferente do primeiro, e ao mesmo tempo muito igual; fiquei ansioso para ver o rostinho, para saber o sexo e para ouvir as gargalhadas e conversas sem sentido que só um bebê pode dar, mas então você já tem um filho e a presença dele te deixa ainda mais ansioso para que o irmãozinho nasça e eles fiquem super amigos... não sei explicar.
Dessa vez Momo passou muito mal e o medo de perder meu segundo filho foi cem vezes mais forte, inclusive ela chegou a sangrar e teve o início de um aborto espontâneo, mas, graças aos céus, conseguimos salvar nosso filho. Passamos pela gestação a trancos e barrancos e eu até fiquei cheio de cabelos brancos pela preocupação, mas tudo simplesmente valeu a pena ao tê-lo em meus braços: Um garotão grande, cabeludo e de bochechas cheinhas. Minha cara com seus cabelos negros azulados e os olhos azuis escuros, a pele bem morena também.
Kise disse que eu estava com uma enorme carranca quando o peguei nos braços, mas que assim que a mãozinha dele segurou meu rosto, eu me derreti inteiro, chorando mais uma vez. Bom, sou muito orgulhoso dos meus filhos, só tenho isso a dizer.
Hoje meus filhos tem doze e nove anos; Rairakku é encrenqueira, bate nos meninos, o que é ótimo porque menino nenhum vai chegar perto da minha princesa, e adora cozinhar (não sei da onde ela tirou isso), enquanto Chairo, o meu garotão, é calmo, sorridente, e tira qualquer resquício de bronca minha apenas com aqueles olhões (isso eu tenho certeza que ele aprendeu com o pai).
Volta e meia eles caem na risada contando como todo mundo no colégio e na vizinhança acredita que eu sou ranzinza e malvado, e os pestinhas se divertem por saber bem que eu, Aomine Daiki, não passo de um velho babão nos meus bebês (assim como Kise, que falta morrer de chorar toda vez que percebe que eles estão crescendo e a gente ficando velho).
Pra mim não existe distinção ou preferência. Eu não amo mais um ou mais o outro. Os dois são uma extensão de mim, os dois significam tudo pra mim; princesa e garotão, os dois são meus e eu sou deles: de corpo, alma, coração.
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