lieblos Lieblos 89

Há mais de seis anos Minseok não possuía mais o espírito de natal dentro de si, o sentimento destruído em uma tragédia que o marcou desde então. Para encobrir todos os seus pensamentos ruins, ele se matava de trabalhar naquele mês odioso. Porém isso acabou por afetar não só a si mesmo, como a todos ao seu redor. E para evitar um futuro que o faria se arrepender, três entidades foram mandadas à sua casa para tentar fazê-lo parar de viver no passado para viver no presente e não estragar seu futuro. [XIUHAN] [DRAMA] [FANTASMAS DO NATAL]


Hayran Kurgu Gruplar/Şarkıcılar 13 yaşın altındaki çocuklar için değil.

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Parte I

PARTE 01

A enxaqueca voltou mais forte do que antes, trazendo com ela a vista levemente embaçada que dificultava para Minseok continuar a digitar os códigos necessários e terminar todo o sistema que estava a criar há dias. Muito possivelmente a culpa era da quantidade de café que vinha tomando há uma semana, se entupindo do líquido preto — muitas vezes completamente frio — para manter-se acordado depois de dormir por poucas horas, a insônia o atormentando como sempre fazia naquela época do ano.

Minseok sabia que tudo aquilo estava lhe fazendo mal, porém não podia se preocupar menos. O trabalho mantinha sua cabeça ocupada, o que significa que não precisava olhar para o mundo ao seu redor e ver todo o clima ridículo que insistia em aparecer todos os anos. E o fato de que faltava pouco, mas muito pouco para finalmente terminar tudo o que vinha fazendo e poder mostrar a todos seu novo protótipo de uma nova criação robótica, apenas o motivava mais a passar horas sentado criando todo o sistema operacional enquanto seus engenheiros terminavam a parte física, dando partes àquilo que poderia ser uma revolução para o mundo, caso desse certo — podia ter um longo caminho pela frente e esse era o décimo terceiro protótipo que fazia, mas uma hora conseguiria realizar aquilo que desejava.

Estava tão concentrado em todos aqueles números correndo nos dois monitores em sua frente, seus dedos digitando tudo o mais rápido que conseguiam, que não prestou atenção na sombra de um corpo atrás de si se formando na parede a sua frente.

— Seok… Acho melhor você dar um tempo para tudo isso — Murmurou Lu Han conforme deslizava suas mãos pelos ombros de Minseok e lhe fazia uma pequena massagem ali, seu objetivo de querer relaxar a postura tensa e cansada do outro sendo perfeitamente entendida.

— Saí daqui, você está me atrapalhando — O homem concentrado no trabalho disse em tom rude, arrancando uma das mãos do outro de cima de si — Volte ao trabalho, Lu Han.

— Seok, já é quase onze horas da noite… — Retrucou se afastando do outro como fora mandado, sua voz carregada em preocupação — Você está aqui desde as dez horas da manhã de ontem, todos nós estamos. Precisamos ir para casa descansar e...

— E daí? — Minseok interrompeu, bufando em irritação e fazendo sua cadeira giratória se virar para o outro atrás de si. Não estava interessado em ouvir Lu Han falando mais uma vez sobre todos estarem cansados e precisarem de descanso, principalmente ele que parecia estar vinte quatro horas trabalhando.

O ouviu falar e falar em sua orelha desde que Minseok teve uma nova ideia e rapidamente foi pedir um empréstimo no banco para dar início a ela.

O problema não era o dinheiro ou sobre conseguirem ou não cumprir com o objetivo. Eles sabiam que conseguiriam, logo que todos confiavam na inteligência e habilidade de Kim Minseok, quase um Steve Jobs coreano. O verdadeiro problema — pelo menos aos olhos de Lu Han — era que ele estava forçando a todos a trabalhar num ritmo quase desumano e sobrecarregando a mente dos cinco funcionários da, atualmente, microempresa que Minseok fundou após se formar na faculdade.

— Logo-logo eles terão que voltar pra cá mesmo e terminar o serviço — Argumentou Minseok com a expressão de aborrecimento por ter o trabalho atrapalhado por idiotices — Se quiserem, podem dormir aqui mesmo. Eu preparo alguns colchões e cobertores — Sugeriu, rindo internamente do fato de ainda ter a empresa em sua própria casa.

— Do que você está falando? — Lu Han disse confuso, as sobrancelhas se enrrugando e deixando sua pinta na testa mais evidente — Amanhã é véspera de natal, Minseok! Todos têm planos para o feriado, incluindo eu — Contorceu a expressão em frustração.

— Eu preciso terminar isso antes do ano-novo, então todos irão me ajudar a terminar o mais rápido possível — Contrapôs, se levantando autoritário. Era mais baixo que o outro, portanto não podia olhá-lo de cima como queria no momento para deixar sua presença ser mais dominante, logo que os dois tinham personalidade forte — Incluindo você! — Cutucou forte o peito de Lu Han, fazendo o rosto desse modificar-se para irritação — Eu estou quase finalizando o sistema, mas pelo que eu vi hoje mais cedo, vocês nem sequer terminaram o que tinham que fazer — Mudou o foco do assunto, não gostando da forma que os olhos do outro pairavam sobre si.

— Você fala como se fosse fácil terminar tudo — Alguém se intrometeu na conversa, chamando a atenção dos dois homens se enfrentando no meio da sala — Por que não faz melhor? — Minseok virou-se para o rapaz que possuía a mesma altura que si, Do Kyungsoo, e ergueu uma sobrancelha em arrogância, antes de revirar os olhos e retornar a olhar os monitores atrás de si.

Minseok conseguia sentir o olhar de todos em si, o que apenas o estava deixando mais estressado já que pararam o trabalho para ver a discussão que ele estava tendo com Lu Han, e um intrometido até mesmo foi meter o dedo onde não devia como sempre. É por isso que tinha raiva quando o chinês resolvia discutir consigo na frente de todos, pois odiava que o vissem perder a compostura — mesmo que por alguns segundos —, afinal era isso que Lu Han conseguia fazer na maioria das vezes.

— Vocês estão em cinco e eu sou um — Revidou enquanto salvava o trabalho que tinha feito e se preparava para desligar seus computadores. Sua enxaqueca apenas piorou com essa discussão inútil, sentia o peso do cansaço e da dor martelando em sua cabeça, então decidiu que talvez fosse melhor dormir por algumas horas — Vocês estão com a parte mais fácil e ainda estão demorando, e era para tudo estar pronto antes de Dezembro. Para ajudar vocês, eu acabei atrasando a minha parte e olha onde estamos agora — Virou-se novamente para os dois homens atrás de si e abriu os braços no ato representativo de mostrar suas situações — Iremos longe assim, não é? — Disse com sarcasmo.

— Você enlouqueceu de vez?! — Lu Han levantou a voz. A forma como todos pareciam estar atrás dele, do lado dele, só mostravam que eles deixaram toda a situação para o chinês resolver — Quer saber? Não importa — Rendeu-se a teimosia de Minseok, respirando profundamente como se tentasse se acalmar antes que perdesse a cabeça com o outro — Precisamos falar sobre essa sua idiotice de não dar folga para ninguém na véspera de natal — Retornou ao outro assunto, fazendo a expressão prepotente de Minseok mudar para séria.

— Na véspera, no natal e no ano-novo — Disse simplesmente, cruzando os braços rente ao peito.

— Você tomou tanto café que ele foi para o seu cérebro? — Kyungsoo se intrometeu novamente, irritando Minseok outra vez por ouvir a voz dele em uma discussão com Lu Han — Diferente de você, temos uma vida longe do trabalho.

— Não tem como você não dar nenhuma folga para eles, Minseok — Lu Han disse pacientemente, tentando mais uma vez convencê-lo — Seok, todo mundo está cansado, incluindo você — Aproximou-se de Minseok e disse baixo, apenas pra que esse ouvisse, evitando que os outros sentissem a intimidade entre os dois.

— Lu Han, deixa eu dizer de uma forma mais clara… — Manteve a voz levemente alta para que todas as outras quatro pessoas também ouvissem — Ou eles aparecem aqui amanhã, ou não precisam mais — Falou em alto e bom som, deixando bem claro sua decisão e fazendo todos se calarem.

[...]

Após Minseok mandar que fossem para casa descansar — nunca esquecendo de dizer que voltassem às dez da manhã —, os funcionários pegaram suas mochilas nos armários no fundo do porão e foram embora, tão cansados que nem mesmo conseguiam ficar bravos por seu chefe os obrigar a trabalhar no feriado depois de mais de um mês sem muitas folgas além da obrigatória no domingo.

Minseok permaneceu mais um pouco no porão, terminando de organizar algumas coisas ou guardar outras que esqueceram do lado de fora. Só quando sentiu que por ora seu trabalho já estava feito, desligou as luzes e saiu, trancando a porta a chave e indo diretamente ao banheiro para tomar um banho quente, engolindo antes disso um comprimido para a sua dor de cabeça para que assim que saísse do chuveiro, já estivesse um pouco melhor.

Depois de um banho rápido e de fazer a higiene bucal, Minseok, antes de ir dormir, foi em direção a cozinha pegar uma garrafa d’água — velho costume de sempre manter uma ao lado de sua cama — e acabou por se deparar com a figura de Lu Han sentada na poltrona da sala de estar, a postura em que se encontrava mostrando que ele não estava adormecido, apenas tinha os olhos fechados.

Não era estranho o outro estar ali como se fosse sua própria casa, então de imediato o coreano não pensou que talvez ele quisesse alguma coisa. Aliás, estava até um pouco contente de Lu Han parecer que iria passar a noite ali, ele não dormia consigo há mais de dois meses.

Assumindo que ele havia decidido dormir em sua casa, Minseok deixou-se ficar em uma postura mais íntima em relação ao outro, esquecendo toda aquela história de patrão e empregado.

— Ei, Han — Chamou Minseok, encaminhando-se para perto do outro — Vamos para o quarto — Chamou, passando a mão pelos cabelos descoloridos do chinês, sentindo os fios finos e macios deslizarem por entre seus dedos pequenos.

Minseok se colocou sobre o colo de Lu Han, uma perna de cada lado do chinês ao tempo que se sentava sobre as coxas, e carinhosamente deslizou suas mãos pela bochecha dele conforme o fazia levantar o rosto para si, recebendo uma visão melhor do rosto que não conseguia esconder o quanto ele estava exausto, as olheiras enormes iguais as suas ao redor dos olhos pequenos.

— Minseok… — Ao ouvir seu nome sair da boca de Lu Han, o coreano envolveu-lhe os lábios e iniciou um beijo calmo, algo simples apenas para sentir-lhe.

Não conseguia se lembrar da última vez que tiveram um contato íntimo. A relação deles estava tão fria e distante, que talvez não pudessem mais dizer que tinham algo, e muito possivelmente não possuíam mesmo, talvez não houvesse nem amizade direito entre eles.

Estava tudo tão esquisito e Minseok sabia exatamente o motivo, só não aceitava que fosse por causa disso e por essa razão ignorava o problema, empurrando os “precisamos conversar” para longe e evitando ter mais discussões — todas compreensivas — com Lu Han, evitando ter mais tensão entre os dois. E, de qualquer forma, o chinês sempre voltava no dia seguinte e o ajudava com tudo, estava sempre ali do seu lado.

Isso era o que importava.

Desde que Lu Han sempre voltasse para ele depois de tantas brigas por motivos diferentes — mas sempre a mesma causa que os iniciava —, Minseok podia continuar a se ocupar para não ver a bola de neve que se formava em sua vida. Não tinha tempo a perder com bobagens como estas, estava colocando todas as suas cartas na mesa e não podia perder aquilo. Era sua chance de subir ao topo, ter tudo o que sempre estudou e batalhou para ter, e não deixaria algo tão bobo quanto uma discussão com Lu Han estragar isso e esperava que o outro também não permitisse.

Ao sentir a mão de Lu Han o empurrando de leve, apartando o beijo poucos segundos após seus lábios se juntarem aos dele, Minseok abriu os olhos e se levantou, vendo o homem sentado na poltrona fazer o mesmo, o que o fez recuar um pouco por sentir que tinha uma certa tensão entre eles, e particularmente isso o deixava desconfortável, já sabendo que novamente precisaria fugir do que viesse.

— O que foi agora? — Minseok questionou em um tom mais grosso do que gostaria de soar, porém dando de ombros logo em seguida por achar que o outro não se importaria.

— Precisamos conversar — Lu Han disse firme, a expressão séria dele fazendo com que Minseok quisesse se virar e acabar logo com aquilo antes que começasse.

— Lu Han, eu não estou no clima para isso, ok? — Retrucou, massageando as têmporas — Se você quiser transar eu topo, mas se for para ficar com esse blá blá blá todo, eu prefiro ir dormir — Continuou, tentando colocar um ponto final em tudo aquilo. Sabia que a “paz” não duraria por muito tempo, as discussões dos dois sempre voltavam.

No entanto, pelo menos por ora poderia acabar.

— Não, Minseok, a gente realmente precisa conversar — Afirmou com veemência, cruzando os braços rente ao peito, a boca se fechando de forma que ficasse a formar uma linha reta com os lábios.

— Sobre o que? — Bufou em desagrado e indagou rispidamente, revirando os olhos quase de forma imperceptível antes de se sentar no sofá e encarar o outro, o rosto mostrando sua teimosia — Vamos, fale de uma vez.

— Por que você está agindo como um babaca? — Lu Han logo foi dizendo, a pergunta totalmente retórica para Minseok — Essa não é a primeira vez, na verdade parece que a cada ano você piora. E agora você está agindo de uma forma que eu não posso virar minhas costas e fingir que não estou vendo — Desabafou de uma só vez, gesticulando com as mãos em indignação.

— Essa era a grande coisa que você queria falar? — Disse, dando uma risada de deboche e se levantando do sofá — Pelo amor de Deus, Lu Han, te mandaram vir falar comigo? Então mande-os se acostumarem com a vida — Respondeu, levantando a voz em aborrecimento, arrependendo logo em seguida ao sentir sua cabeça ainda um pouco ruim reclamar disso — Eles estão reclamando por não conseguir passar o feriado em casa enchendo a barriga de comida e álcool? Bem, um dia estaremos mais ocupados que agora e não conseguiremos mais. Se vocês querem mesmo iniciar uma vida nesse meio, se acostumem.

Sabia que o que estava falando era escrotice, porém foi mais rápido do que sua consciência. Falou a primeira coisa que veio à cabeça, contudo sua cabeça não estava no lugar certo.

A forma como Lu Han o olhou naquele momento fez com que Minseok automaticamente desviasse os olhos dele, o arrependimento batendo à porta. Mesmo que quisesse manter a postura dominante para cima do outro, o que viu passar rapidamente pelo rosto do chinês não foi nada além de desgosto, e por mais que conseguisse aturar isso de qualquer outra pessoa, não conseguia fazer o mesmo com Lu Han.

Não com ele.

— Você está se ouvindo? — Ouviu ele perguntar perplexo, as palavras saindo pausadamente. — Você está ouvindo toda essa merda que você está falando?

— Lu Han, eu realmente não estou a fim disso, ok? — Comentou com a voz cansada, suplicando para que tudo aquilo acabasse.

Estava sendo sincero, não era apenas querendo fugir de tudo. Há quanto tempo vinham tendo brigas diárias? E há quanto tempo o mês de dezembro consistia nos dois brigando por algo idiota, desde a pequena árvore de natal de mesa que Lu Han insistia em colocar na casa de Minseok, até esse querer se matar de trabalhar ou estudar no feriado? Todo ano eles brigavam naquele mês desgraçado. Com isso o coreano passou a querer que eles ficassem longe um do outro a ter que aturar aquilo.

Mas lá estavam eles novamente.

Um nó começou a se formar em sua garganta devido a forma que estava ouvindo Lu Han falar consigo, a voz carregada em desagrado. E a imagem da expressão de desdém dele rodando em sua mente também estava contribuindo para deixá-lo pior, a cabeça latejando um pouco com o pequeno fio de dor que ainda restava mesmo depois de quase vinte minutos desde que ingeriu o remédio.

Não só queria dar um tempo para aquela discussão por não querer falar sobre aquilo, contudo também porque sentia um certo peso em suas costas o forçando a isso. Só queria ficar em paz e não pensar em mais nada, sentir mais nada. Porém para isso precisava deixar de sentir falta de Lu Han, e só então poderia tentar superar aquele mês.

Mesmo que ficassem quase vinte quatro horas por dia ao lado um do outro, não estavam mais juntos. De longe via o chinês ajudar os outros funcionários, rir com eles, sorrir para eles, combinar de saírem juntos e se divertirem. No entanto ele não fazia isso com Minseok. Não mais. E por causa disso o sentimento de inveja e ciúmes aflorou-se em seu peito, o tornando mais rabugento e ranzinza do que já era, acabando por descontar em Lu Han isso, o que o fez se afastar cada dia mais de si.

Irônico.

Se ainda tivesse o espírito de natal em si, provavelmente pediria que, pelo menos por aquela noite, os dois parassem de brigar e fossem dormir juntos como no passado. Mas o que essa maldita noite poderia fazer por si? Nada além de deixá-lo pior.

— M-Minha cabeça doeu o dia inteiro... E eu estou cansado — Minseok confessou, engolindo a bola de emoções que se formou em seu peito e colocando sua máscara de orgulho, tomando coragem de voltar a olhar para o chinês, o rosto dele em apenas total indignação, para o seu alívio — Se você vai dormir aqui, ótimo. Mas se você vai ficar me enchendo o saco mais do que já fez nessa droga de semana, eu sugiro que você pegue suas coisas e vá à merda.

Conseguia se surpreender como usava a grosseria para lidar com a vida, mesmo que no fundo tudo o que falasse fosse em seu automático e ele não pensasse em quase nada. Apesar de na maioria das vezes ser a si mesmo falando as babaquices que lhe vinham à cabeça, quando falava com Lu Han aquele tipo de coisa não era as palavras que realmente queria dizer, e só percebia que havia dito depois do estrago ser feito. Porém, também, não é como se fosse se desculpar por tudo o que disse; na verdade, parecia que há anos não se desculpava por nada que saía carregado de palavras com sarcasmo, arrogância e desdém.

— Talvez eu devesse pegar todas as minhas coisas… — Lu Han disse depois de um longo silêncio entre eles em que os dois ficaram a se encarar, uma atmosfera incrivelmente pesada fazendo com que Minseok se sentisse muito inconfortável, ainda que escondesse muito bem — E ir embora mesmo… — Completou hesitantemente, abaixando o olhar para o chão.

O silêncio voltou a cercá-los, somente o barulho do relógio de parede fazendo com que o nada fosse cortado por um pequeno barulho simples. Era possível escutar os minutos exatos que se passaram antes do coreano recuperar a voz que morreu em sua garganta, uma voz de falsa estabilidade emocional e certa do que queria.

— Então vai e me deixa em paz — Foi a última coisa que Minseok disse antes de apontar o braço para a saída. Lu Han deu-lhe as costas sem dizer mais nada e foi embora, a porta sendo fechada com força e fazendo um estrondo ecoar pela casa solitária.

Ao ver-se sozinho, imediatamente arrependeu-se das palavras que disse para o chinês há poucos minutos.

Seu celular estava em seu bolso da calça de moletom, só precisaria enfiar a mão ali e pegá-lo, digitar um pedido de desculpas e enviar para o chat de Lu Han. Não levaria mais do que vinte segundos para fazer isso…

No entanto, Minseok escolheu ignorar a situação.

Suspirando profundamente, jogou-se no sofá. Seu corpo implorava para que ele fechasse os olhos de uma vez e desse um pouco de descanso a sua mente, no entanto sua própria mente não lhe deixava em paz o suficiente para que pudesse finalmente dormir de uma vez.

Minseok ficou a encarar o teto da sala de estar, o som do relógio dando-lhe a sensação que estava em um consultório de um psicólogo, prestes a contar sobre todas as desgraças a cercar-lhe vida. Virou o rosto para o lado devido a luz da lâmpada o deixando incomodado com relação a enxaqueca — que, apesar de já ter passado, deixou um pequeno rastro de desconforto ali — e se deparou com uma pequena árvore de natal sobre a mesa de centro, uma bem menor que a do ano anterior e feita de gesso. Ele esticou o braço e fez um pequeno esforço para alcançar o objeto depositado singelamente sobre a mesinha. Assim que conseguiu agarrar a pequena estátua de árvore, a olhou atentamente diante de seus olhos, vendo os detalhes muito bem desenhados.

De repente o desgosto o atingiu, o fazendo se sentir com raiva de algo que nem ao menos sabia o que era. E foi assim que a pequena árvore de natal deixada por Lu Han foi parar em pedaços no chão depois de ser jogada de encontro a parede com força e ódio.

— Depois ele volta.

[...]

Antes que Minseok sequer percebesse que suas pálpebras não faziam mais questão de se levantarem, ele já estava dormindo encolhido em si mesmo no sofá com uma almofada sobre seu corpo — que inconscientemente ele mesmo quem colocou para servir de cobertor naquela madrugada fria — e outra servindo-lhe de travesseiro.

Foi levado para o mundo dos sonhos, para um lugar distante onde a neve, que mais parecia algodão, cobria cada pedaço do chão, impossibilitando que soubesse se estava sobre a terra ou sobre o asfalto, e as árvores quase perdiam o marrom de seus galhos pelados. O branco brilhante predominava tudo, com exceção do céu coberto de nuvens cinzas, que quase não deixavam espaço para o negro da noite aparecer.

Minseok girou-se lentamente em torno de si mesmo em busca de alguma coisa que lhe chamasse a atenção, mas não havia nada à sua frente e nada atrás de si. Mesmo que estivesse com uma calça e uma camisa de moletom comum, não sentia nenhum frio em meio ao corredor feito por carvalhos e gelo. Confuso, colocou-se a andar em frente, seus pés descalços afundando na neve e mesmo assim não sentindo nada além da sensação leve de algo gelado ao redor de sua pele.

Não sabe por quanto tempo andou sem nunca chegar a algum lugar. Tudo parecia ser igual, nenhum galho fora do lugar ou algum animal a passar por ali. Era como se todo aquele extenso corredor fosse o reflexo da primeira parte ou ele estivesse a andar em uma esteira de exercícios. Nem mesmo as nuvens pareciam se mover, passando a deixar Minseok um pouco agitado sobre o que estava acontecendo.

Até que de repente algo finalmente surgiu: em uma parte do corredor de árvores, havia uma pequena passagem entre os troncos e galhos.

Minseok não pensou muito antes de correr até lá e enfiar-se dentro da passagem, se sentindo com um pouco de falta de ar ao passar por entre as árvores que trepavam uma nas outras, o espaço apertado quase o impedindo de se mover.

Assim que saiu do outro lado, deparou-se novamente com o mesmo cenário de onde estava: o longo corredor branco.

Porém neste corredor ele não estava sozinho.

Segurando sua vontade de correr até a outra pessoa e afogá-la com perguntas, Minseok fez sua compostura rapidamente e caminhou sem pressa até o garoto ajoelhado no chão, as roupas dele cobertas de flocos de neve e tudo da cintura para baixo afundado no mar branco como se ele estivesse ali desde que começou a nevar.

— Você demorou, Hyung — Uma voz, supostamente a do rapaz, disse em um sussurro que não poderia ser ouvido se não estivesse tudo tão silencioso, fazendo com que um arrepio subisse a espinha de Minseok ao escutar o timbre e o parando no mesmo instante.

Há anos que não ouvia aquela voz…

Há tantos anos que até mesmo pensou que pudesse tê-la esquecido, contudo, aparentemente, sua memória fez o favor de guardá-la com muito carinho em um lugar especial… Ou quem sabe estivesse sua mente brincando sadicamente com ele?

— J-Jongdae? — Minseok indagou, hesitante em se aproximar mais.

A figura ajoelhada virou-se um pouco para trás, um sorriso fechado adornando em seus lábios bem desenhados, revelando-se por completo para o homem espantado a poucos metros de distância.

Instantaneamente a saudades misturada a angústia caiu sobre Minseok, o fazendo contorcer o rosto com o choro que queria sair, o mesmo que o fez se desfazer há quase seis anos anos. Apenas algumas lágrimas silenciosas saíram, no entanto, teimosas demais para permanecerem guardadas. Tinha feito um grande esforço para mantê-las, porém com a imagem de seu falecido irmão caçula bem à sua frente, não tinha como evitar, não quando seu peito doía tanto daquela forma.

— Jongdae? — Minseok questionou novamente, aproximando-se cautelosamente, ainda um pouco estupefato com a situação — Isso tudo é um sonho, não é? — Se deu conta após alguns instantes, não recebendo uma resposta imediata.

Não se lembrava de um dia ter visto o irmão daquele jeito, as únicas lembranças que tinha do caçula de doze anos eram as que mais queria apagar de sua mente, se possível para sempre. Entretanto, se isso acontecesse, não sobrariam mais nada de Jongdae; nada além de fotos que nada significavam para si, somente eram imagens-arquivo dentro de um cartão de memória guardado numa gaveta.

— Essa é a forma que eu consegui falar com você — Respondeu Jongdae após um tempo, que para Minseok tornou-se cada vez mais longo conforme encarava o rosto sereno do mais jovem, inconscientemente gravando aquela imagem para ela se tornar sua melhor lembrança de Jongdae, ainda que fosse completamente falsa e fruto de sua imaginação — É exatamente por sua causa que eu estou aqui — O rapaz ajoelhado disse de repente, chamando a atenção do homem que somente o encarava sem nada dizer.

— O que você quer dizer com isso? — Minseok perguntou assustado, dando alguns passos para ficar mais perto do outro, mas logo se parando.

— Hyung, uma coisa engraçada sobre o mundo espiritual é que mesmo não estando ao seu lado, eu consigo saber o que está acontecendo com você — Comentou, desviando os olhos do irmão mais velho e passando a olhar o corredor sem fim — Não estou apegado a vida que já não mais tenho, eu parti em paz e pronto para deixar tudo para trás… — A mão, que até então estava sobre a barriga, escorregou até a neve e a tocou gentilmente como se fizesse carinho nela — Mas graças a você, eu não consigo sair desse limbo.

— G-Graças a mim? — O pânico tomou conta de si com a acusação, o fazendo prender a respiração sem que percebesse. Se já não estivessem em sua mente, Minseok tinha certeza que essa o atormentaria com vozes lhe dizendo que a culpa sempre era sua.

— Antes eu pensava que era a nossa mãe, mas quando ela morreu… — Jongdae se interrompeu, a tristeza presente em sua voz — Nunca pensei que na verdade é você quem me mantém preso a isso. — Revelou depois de alguns segundos quieto, se levantando, a neve por todo o seu corpo escorregando e caindo em um monte — Não se sinta mal por isso, não estou bravo com você — Tentou tranquilizar Minseok, um sorriso calmo se formando não só em entre seus lábios, mas passando a serenidade para todo o seu rosto — A situação é outra, na verdade. Eu quero que você se desapegue do passado para que não acabe se arrependendo de tudo o que está a fazer no presente quando for tarde demais para mudar as coisas.

— Do que você está falando? — Franziu as sobrancelhas em confusão, engolindo em seco por tudo aquilo que estava sendo dito para si.

— Hoje três entidades irão lhe visitar — Divulgou seriamente, o sorriso de antes sumindo tão rápido quanto apareceu — Eu espero que você aceite ir com eles — Falou de forma quase autoritária, como se ele fosse o irmão mais velho dos dois e estivesse a comandar o outro.

Se a situação fosse outra, com certeza Minseok daria-lhe um tapa leve na cabeça pela ousadia. Porém nem mesmo em um sonho ele conseguiria fazer isso com o caçula; a dor e a culpa o corroendo demais para sequer agir como antigamente, brincar despreocupadamente com o mais novo se nenhuma preocupação.

— Não peço que faça isso por mim, nada do que você irá ver hoje se trata de mim. — Jongdae completou — E eu espero que isso te ajude a decidir qual estrada escolherá seguir sua vida — Finalizou, voltando a ficar de costas para o mais velho e a se ajoelhar no chão, seu corpo sendo tomado novamente pela neve que cobriu-lhe as cintura em uma rapidez estranha.

— Espera, Jongdae… — Minseok apressou-se em dizer, completamente desconexo com as palavras do irmão.

— Feliz natal, Hyung — Revirou o rosto e sorriu inocentemente, mandando um choque de dor para o peito do outro — E adeus.

[...]

Minseok despertou arquejando por ar, seu corpo reagindo como o de alguém que tivesse acabado de sair do fundo do oceano. Estava um pouco desorientado, não sabendo que dia era ou o que estava fazendo ali. No entanto enfim se lembrou que acabou por adormecer no sofá da sala, as luzes ainda acesas e tudo.

Era como se não tivesse dormido nada. O corpo parecia estar mais cansado do que quando se deitou e a boca abria para que ele bocejasse a cada vinte ou trinta segundos. Para melhorar sua situação, seu braço direito acabou dormindo devido a posição em que ficou: dobrado sob seu corpo. Estava tão perdido em sua situação, que só depois notou uma segunda presença no cômodo.

Assustando-se o bastante para o ar faltar-lhe, Minseok afastou-se o máximo que podia no sofá e encolheu-se em si mesmo.

— Quem diabos é você?! — Bravejou, metade irritado e metade assustado por se deparar com um estranho agachado de frente para a parede.

As costas do sujeito que invadiu a casa estavam curvadas de uma forma esquisita, passando uma aflição em Minseok por parecer ser uma posição muito desconfortável e até mesmo dolorida devido aos ombros salientando pela roupa, dando a impressão que estavam deslocados. Não conseguia ver exatamente o que o homem tanto observava no chão, porém o que importava naquele momento era o fato de um estranho entrar em sua residência sem ser convidado.

— Saia agora ou chamarei a policia! — Avisou em tom forte, sua voz soando grave.

— Por que você destruiria algo tão bonitinho assim? — O estranho disse bem baixo, quase em um sussurro que Minseok não soube como conseguiu ouvir — Ele comprou pensando especialmente em te dar, sabia? — Finalmente virou-se, revelando um rosto jovial de pele morena e olhos pequenos e puxados, adornados com um tom escuro sob eles que dava a impressão de olheiras.

O estranho se levantou, ficando totalmente em pé e revelando ser um homem bem alto — possivelmente maior que Lu Han, ou seja, bem mais que Minseok. Usava roupa tradicional chinesa, a cor vermelha do tecido ornamentado contrastando com sua pele escura e cabelos negros, e segurava em mãos o maior pedaço do que foi a pequena árvore de gesso que Minseok havia quebrado. Mas esse não notou nada disso, estava ocupado demais com o que mais lhe incomodava naquele sujeito: os olhos sem íris completamente inumanos que o encaravam fixamente sem nunca piscar.

— Quem é você?

Estranhamente não estava mais com medo, como se de alguma forma soubesse que aquele homem não fosse lhe fazer mal. Só que não mudava o fato de que ele havia invadido sua casa e sempre é bom desconfiar.

— Ah! É mesmo, eu já ia esquecendo de me apresentar! — Exclamou o estranho, uma grande animação tomando conta dele de repente, fugindo da imagem séria que possuía ao se virar e questionar sobre o objeto quebrado — Me chamo ZiTao. Mas já que seremos bem íntimos, pode me chamar de Tao — Apresentou-se com um sorriso amigável entre os lábios finos, curvando levemente o corpo e esticando os braços em uma apresentação digna de teatro.

— “Íntimos”? Do que é que você está falando? — Franziu o cenho em confusão ao que lhe era dito, colocando-se de pé e afastando um pouco, as costas indo de encontro a estante da sala de estar — Espera… — Balançou a cabeça e levantou a mão em sinal de tempo — O que você está fazendo na minha casa? Como entrou aqui? — Questionou, o tom de antes voltando no mesmo instante, juntamente com o rosto sério.

— Eu pensei que Jongdae tivesse lhe contado tudo… — Murmurou mais para si mesmo que para Minseok, coçando a cabeça em insatisfação — Bem, eu não tenho paciência para explicações, então vamos logo com isso, ok? — Logo depois de poucos segundos pensando, ZiTao disse, abanando a mão no ar e se aproximando do homem, o pegando pelo antebraço e o levando para a área um pouco mais aberta detrás do sofá, que ficava a poucos metros da passagem que levaria a cozinha.

Assim que a mão do estranho o tocou, um choque percorreu toda a espinha de Minseok, fazendo seus pêlos da nuca se eriçarem; isso mandou um pressentimento ruim para ele, que imediatamente tentou puxar o antebraço do agarre. Não sabia o que aquele estranho iria fazer consigo, no entanto seus instintos lhe diziam para escapar o mais depressa possível.

Sem pensar duas vezes, Minseok levou a mão ao bolso do moletom, pegou seu celular e o desbloqueou, pronto para apertar a discagem rápida para a polícia.

— Se eu fosse você, não faria isso — Avisou Zitao, fazendo Minseok arregalar os olhos em espanto. Ele nem sequer o estava olhando, encarava a porta para o outro cômodo; mas a forma como falou mostrava que sabia exatamente o que o outro estava prestes a fazer — Irá desperdiçar o tempo deles à toa quando eles podem precisar fazer outras coisas — O estranho o puxou para que ficasse a sua direita, pendeu a cabeça para o lado e virou o rosto para ele, dando uma visão mais nítida de seus olhos que possuíam apenas esclera branca — Está preparado para uma pequena viagem no tempo? — Sorriu animado, amenizando o quanto seus olhos eram assustadores. — Talvez você sinta que vai cair, mas não se preocupe com isso.

— Do que você…

Interrompendo a indagação, subitamente um círculo negro se formou suspendido na frente deles, deixando Minseok atônito. Antes que ele pudesse pensar em algo, seja para deixar alguma palavra sair de sua boca ou para piscar — já que seus olhos arregalaram-se e não recebiam a informação que o fizessem se fechar —, Zitao voltou a puxá-lo pelo antebraço, dessa vez em direção ao portal, que terminou o trabalho ao sugá-los para dentro.

Não havia chão, teto ou paredes. A sensação de que ia cair a qualquer momento era assustadora, o que fazia Minseok ficar a se mexer como se tentasse procurar por seu equilíbrio. Só quando percebeu que seu corpo estava a flutuar, essa mesma energia desconhecida que o deixava assim o fazendo seguir ZiTao, pôde relaxar um pouco e o medo desapareceu, sendo substituído pelo espanto.

De fato não tinha nada que parecesse sólido por ali, porém os cercando havia algo semelhante a um rolo de filme antigo que ficava a passar por todos os lados, carregando cenas da vida de Minseok. Viu a discussão que teve com Lu Han antes de dormir, viu a vez na semana passada que se zangou com Kyungsoo por esse errar e quase quebrar algo, viu o dia de sua formatura, viu a si mesmo encarando o caixão de sua mãe no funeral há três anos, viu Lu Han o consolando enquanto a si mesmo chorava pela forma como sua mãe piorava dia após dia, se vi encarando sua mesa de trabalho e se questionando se não deveria desistir de tudo.

Eram tantos momentos de sua vida que queria esquecer, eliminar de seu banco de memórias para não precisar mais pensar ou se lembrar deles nos seus momentos solitários antes de dormir. Mas como não tinha como apagar de sua cabeça, escolhia se matar de trabalhar para quando fosse se deitar na cama, acabasse por dormir de imediato devido ao puro cansaço.

— Tenho certeza que está por aqui em algum lugar… — ZiTao disse, chamando a atenção do homem que estava distraído observando o momento de si mesmo e de seus amigos indo ao cinema, uma das últimas vezes que saiu com eles — Achei! — Exclamou contente, agarrando o antebraço de Minseok mais uma vez e o puxando para dentro de uma lembrança que ele não conseguiu ver antes qual era.

Minseok caiu com tudo no chão, o rosto indo de encontro ao assoalho. Ao se recuperar da queda, se levantou gemendo em dor e acabou por se encontrar de volta em sua casa.

No entanto não era a mesma que deixou antes de entrar naquele suposto portal.

— A diferença é realmente notável — Comentou ZiTao com um assobio, girando em torno de si mesmo para ver tudo ao redor.

A sala de estar antes vazia e sem nada além dos móveis simples estava cheia de decorações natalinas. A estante que antes tinha apenas a televisão e um aparelho de dvd agora estava decorada com festões, e ao lado dela tinha uma árvore de natal robusta que foi perfeitamente embelezada com luzes pisca-pisca e enfeites que iam desde pequenos papais-noéis a flocos de neve.

Só por ter o espírito do natal presente, já diferenciava muito da casa atual de Minseok — embora os retratos da família na estante e nas mesas de cada lado do sofá também mostrasse algo bem diferente do presente.

— Onde estamos? — Minseok questionou a ZiTao, abraçando a si mesmo.

Sabia exatamente onde estava, mais especificamente em que tempo estava. Aquela era a época em que sua casa finalmente ganhava um ar diferente, algo que sua mãe fazia questão de trazer para dentro da residência a qualquer custo. Certamente jamais se esqueceria de quando ela e seu irmão se divertiam na sala de estar preparando tudo para o natal no exato dia primeiro de Dezembro. Para lembrar-lhe mais, o cheiro delicioso dos doces que ela costumava preparar para levar para as crianças no hospital estava ali presente naquele exato instante, tomando conta da casa inteira como sempre fazia, atraindo os filhos para comer apenas para a mãe depois falar um grande “não”.

Realmente estava de volta ao passado.

De repente uma mulher por volta dos quarenta anos surgiu em cena, arrancando uma arquejada de Minseok ao ficar surpreso com a presença repentina de alguém que não via há anos, nem mesmo por fotos, afinal todas elas foram retiradas dos porta-retratos e colocadas dentro da mesma gaveta com um cartão de memória.

A mulher estava bem arrumada, certamente para sair. Usava a roupa nova que comprou há duas semanas para a exata tal ocasião e o perfume caro que ganhou do filho mais velho nos dias das mães, já o cabelo chanel havia sido modelado para formar pequenas voltas nas pontas, ficando tudo rumo ao pescoço da senhora. Estava tão linda quanto ele se lembrava que ela era.

A mãe de Minseok passou reto ao lado dele, tão próximo que era quase possível sentir o pequeno vento perfumado de quando ela foi apressada em direção à cozinha. Porém ela não disse nada sobre a presença de duas pessoas paradas atrapalhando a passagem, na verdade nem ao menos pareceu notar.

— O-O que está... — Minseok começou a indagar, estupefato em seu lugar a encarar ZiTao em busca de respostas — Quem é você?

— Já me nomearam de muitas coisas… — Respondeu, passando em charme a mão pelos cabelos negros e os colocando para trás — Charles Dickens diria que eu sou o “Espírito dos Natais Passados” — Riu meio exibido, recebendo uma avaliada dos pés a cabeça do outro.

— E por que eu estou aqui? — Perguntou um pouco exaltado, a desorientação sobre o que estava acontecendo o deixando com um pouco de medo — Por que você me trouxe aqui?

— Resumidamente é para ver — Disse simplesmente, dessa vez com seriedade na voz.

— Ver o que? — Não conseguia de forma alguma entender o que estava acontecendo. Contudo, antes que ZiTao falasse mais alguma coisa, algo os interrompeu.

Uma versão mais nova de Minseok colocou a cabeça dentro da sala de estar pela passagem que levava ao hall de entrada, cautelosamente observando o que estava acontecendo no recinto. Os olhos em formato felino estavam bem arregalados como se isso fosse lhe dar uma visão melhor, e os dentes mordiam o lábio inferior em uma possível concentração.

Foi então que Minseok conseguiu entender um pouco, seus olhos também se arregalando iguais aos de sua outra versão, porém por motivos completamente diferentes.

— Ver o seu passado, Minseok — Zitao mostrou com o braço o rapaz que procurava algum sinal da mãe e que agora sorria satisfeito, se afastando da sala e indo para o hall de entrada.

A tristeza abateu Minseok no mesmo instante com a avalanche de lembranças daquela noite. Era óbvio que estavam no natal numa época diferente, mas nunca iria imaginar que seria levado para aquele dia. De todo o seu passado, era um dos dias que jamais conseguiria esquecer por mais que quisesse, por mais que rezasse a qualquer divindade que pudesse lhe ouvir, por mais que tentasse se matando de trabalhar. Sabia exatamente cada passo que a si mesmo tinha dado — nesse caso, que ia dar — e tudo o que aconteceria.

Era como um filme que tivesse visto milhares e milhares de vezes.

Era o seu filme.

ZiTao chamou com a mão para que Minseok o seguisse, no entanto não deu-lhe tempo de sequer pensar nisso, pois logo o puxou pela mão e colocou-se a seguir a versão mais jovem do homem, que agora estava em frente a porta de entrada colocando os coturnos que trouxe nas mãos do quarto.

— Hyung… — Ao ouvir aquela voz, o coração de Minseok se apertou, mandando uma onda de tristeza maior ainda que a que já estava sentindo, o fazendo fechar os olhos para controlar as lágrimas que começaram a se formar em sua linha d’água — Aonde você está indo? — Minseok virou o rosto para o lado no mesmo instante que a sua versão mais nova virou para trás, os dois se deparando com Jongdae parado próximo a escada.

Aquele era um Jongdae diferente do que tinha visto em seu sonho, era o irmão caçula que preenchia todas suas lembranças: o de rosto magro e a cabeça sem nenhum cabelo, consequências do tratamento de quimioterapia que o mais novo vinha fazendo há um bom tempo.

— Fica quieto, moleque — O Minseok mais jovem mandou ao se levantar quase em um pulo e andar depressa até o mais novo, cobrindo-lhe a boca com a palma da mão enquanto que com a mão livre fazia sinal de silêncio — Se a mãe me pegar, eu estou morto! — Exclamou em um sussurro, a voz tão baixa que era quase difícil do Minseok do presente ouvir.

— Você não disse que estava muito cansado de estudar e por isso iria ficar em casa para dormir? — Jongdae puxou o pulso do mais velho para baixo e retrucou com uma expressão sapeca, cruzando os braços rente ao peito — Aonde você vai?

— Na casa do Han, mas nada de falar isso para a mãe. — Já foi logo avisando, o dedo indicador apontando de forma autoritária para o mais novo, que desviou o olhar e fez um som de “hum” para fingir que estava pensando.

— Eu não sei não, hein…

Vendo a forma como eles interagiam, as brincadeiras ou até mesmo as briguinhas de um com o outro, mas no fundo se darem bem até demais, trouxe uma nostalgia para o Minseok que arrancou-lhe um sorriso triste.

Realmente se lembrava de tudo aquilo. Contudo ver a cena de uma forma diferente da que estava gravada em sua cabeça era, de certa forma, interessante, já que não tinha sua maldita imaginação para misturar coisas só para deixá-lo mal.

— Olha aqui, pirralho, sem joguinhos, ok? — O Minseok do passado disse com o cenho franzido em falsa irritação, entrando na brincadeira do mais novo por saber aonde isso os levaria — A mãe acha que eu estou dormindo no meu quarto… Aliás eu tranquei a porta só para o caso dela querer aparecer lá — Comentou, dando uma pequena pausa para escutar se a mãe deles se aproximava — Já que agora você sabe de tudo, me faz o favor de não deixar que ela me chame. Apresse ela para irem para o hospital.

— E quanto você vai me dar por isso? — Indagou com a cara de interesseiro, a sobrancelha direita erguida e um sorriso de canto se mostrando bem aparente.

O Minseok do presente não conseguiu deixar de dar uma pequena risada com isso e até mesmo olhar para ZiTao rapidamente, vendo que esse não estava dividindo a mesma sensação que si, logo que parecia mais interessado em ver a decoração de natal do hall de entrada.

— Sério mesmo que você vai me extorquir dinheiro? — Em falsa indignação, o Minseok do passado fez todo uma cena de colocar a mão bem devagar no peito e ficar com a cara de surpreso, fazendo Jongdae revirar os olhos.

— Sério mesmo que você vai deixar eu e a mãe para passar o natal com o Lu Han? — Retribuiu, porém de forma séria, enganando o mais velho que logo desfez a cara de brincadeira e ficou chateado — É brincadeira! — Riu alto, recebendo uma mão a tapar-lhe a boca para que ficasse quieto e outro pedido mudo que falasse mais baixo — Bem, a parte de eu querer algo não é brincadeira — Jongdae deixou claro ao parar de rir e retirar a mão do irmão de sua boca.

Totalmente imerso na cena de sua vida, Minseok do presente acabou por esquecer-se daquilo que lhe trazia a tristeza ao coração e só se divertiu revendo em 3D o momento prazeroso de suas lembranças.

Realmente costumava a se lembrar bastante daquele natal, mas dificilmente se lembrava desses pequenos momentos. O que geralmente passava em sua cabeça era apenas as cenas ruins de tudo, e chegou a um ponto que esqueceu um pouco que nem tudo havia sido horrível naquela noite. Os momentos antes de sair de casa era uma dessas coisas boas que havia sido cortada de sua cabeça para dar lugar a outras.

— O que você quer? — Minseok ficou em postura ereta e cruzou os braços rente ao peito.

— Que tal você finalmente parar de ver pornô naquele seu computador e finalmente fazer o jogo de videogame que eu mandei há seis meses? — Sorriu de canto, vitorioso de que finalmente ganharia o que queria.

— Beleza! — Concordou em fim após pensar por alguns segundos. Minseok do presente riu mais uma vez, escondendo isso com as costas da mão como se alguém estivesse lhe vendo, o que de fato não deixava de ser verdade já que ZiTao ainda estava ali — Mas é bom você ficar de boca fechada mesmo, hein? Se a mãe descobrir, nada de joguinho para você!

— Beleza! — Esticou a mão para o mais velho, que fez o mesmo e apertou forte a mão do mais novo a sorrir contente — Divirta-se, Hyung — Desejou por fim, indo para a sala de estar e depois para a cozinha, certamente para ir distrair a mãe ao tempo que o irmão mais velho saía de casa.

O Minseok do presente ficou tão distraído olhando para o espaço vazio que seu irmão havia passado, sua cabeça em completo vazio de não pensar em nada e apenas olhando fixamente, que não deu atenção quando sua versão do passado colocou os coturnos e saiu da forma mais quieta possível.

— Vocês realmente se davam bem — Comentou ZiTao, recebendo de Minseok apenas um aceno automático e contínuo — OK! Vamos atrás de você! — Exclamou, a animação voltando para todo o seu ser. E antes que pudesse dizer algo, Minseok foi pego pelo pulso e com um estalar de dedos da entidade, ambos já não estavam mais na casa de antes.

— Que porra foi essa?! — Perguntou assustado, seu coração batendo tão forte no peito que seu corpo começou a ofegar. O fato de do nada estar em outro lugar não foi o que o assustou, mas o choque estranho que o perfurou o corpo sim — O que você fez?!

— Calma, eu só nos teletransportei. É normal isso que você sentiu — Respondeu com uma expressão de tédio, arrumando os cabelos negros que se bagunçaram um pouco — Logo-logo você vai entrar por aquela porta de qualquer forma — Ao ouvir isso, Minseok tratou de dar uma olhada melhor onde estava, reconhecendo o apartamento que não colocava seus pés há dois anos.

Lu Han ainda morava com os pais, contudo Minseok com o tempo passou a ir cada vez menos naquele lugar, o fato de não se sentir muito bem de ficar ali o fazendo evitar. O que era toda semana, passou a ser duas vezes ao mês, depois uma vez entre alguns meses e em seguida uma vez ao ano até que parasse de vez. Tinha certeza que o chinês havia percebido isso, entretanto esse nunca questionou ou mostrou qualquer sinal de estar incomodado com isso. Para compensar o fato de Minseok nunca mais colocar os pés em seu apartamento, Lu Han passou a ir mais vezes na casa do suposto amante e, depois que a mãe desse veio a óbito, começou a dormir alguns dias da semana com ele — o que o coreano agradecia mentalmente, não querendo de forma alguma ficar sozinho lá, ainda que agora o chinês não fizesse mais isso com tanta frequência.

Apesar do Lu Han gostar muito do natal, ele e sua família não necessariamente eram os maiores fãs de decorarem a casa. A única coisa natalina que aquela casa possuía eram as guirlandas na parte interna e externa da porta de entrada e uma pequena árvore de natal — a metade da metade de uma árvore comum — sobre uma mesa na sala de estar. Se comparado a casa do coreano, o apartamento do chinês era o que menos carregava o espírito natalino, e esse pequeno detalhe fez Minseok rir com a ironia de que agora o apartamento de Lu Han com certeza se encontrava bem mais no espírito de natal que a sua casa.

Enquanto Minseok andava pelo lugar como se quisesse relembrar do local, subitamente o interfone tocou e em poucos segundos foi-se ouvidos passos apressados em direção à onde estavam. Uma versão mais jovem e ainda de cabelos castanhos de Lu Han apareceu eufórico e correu até o interfone, atravessando o corpo de ZiTao no ato. Era totalmente visível o entusiasmo no rosto do chinês, que praticamente sorria feito um bobo para o nada.

— Quem é? — Apertou o botão do interfone e falou, limpando a garganta um segundo antes. A voz do Minseok do passado soou pelo aparelho e logo em seguida Lu Han liberou-lhe a passagem.

— Own, que fofo ele é — Debochou ZiTao, aproximando-se do rapaz que havia se colocado de frente para a porta em aguardo do outro, que possivelmente estava dentro do elevador naquele momento — Parece um cachorrinho esperando pelo dono.

Sem perceber, Minseok acabou por sorrir bobamente com a cena do chinês, a nostalgia o tomando pouco a pouco. Não podia discordar sobre ser fofo a forma animada que Lu Han o esperava na porta, as mãos nervosas esfregando uma na outra, o jeito inquieto que se balançava inconscientemente e mordia o lábio inferior. E estava a sorrir mais porque naquela época ficava da mesma forma que ele quando iam se encontrar. Ambos ficavam animados e nervosos ao se encontrarem, porém nenhum dos dois soube isso sobre o outro — pelo menos Minseok não soube.

Algum tempo depois, as três batidas que Lu Han aguardava impacientemente finalmente vieram. No entanto ele esperou exatamente dez segundos contados em silêncio, somente seus lábios se movendo, para abrir a porta; o que arrancou uma risadinha do Minseok do presente, notando que ele fizera isso para não se mostrar ansioso demais para o seu eu do passado.

Assim que sua versão jovem apareceu, os dois rapazes se cumprimetam ao tempo que o coreano entrava sem cerimônia no apartamento e já se fazia à vontade, retirando os coturnos e o sobretudo grosso, que deixou no cabideiro ao lado da porta.

— Teve alguma complicação para vir para cá? — Perguntou Lu Han, chamando com a mão para o coreano ir se sentar consigo no sofá.

— Bem, meu irmão viu… — Respondeu com um suspiro ao deixar-se cair no sofá, seu corpo ao lado do de Lu Han, embora ainda mantivesse uma certa distância. O chinês não pareceu se preocupar com a situação, logo que se o outro estava ali significava que ele deu um jeito; então só esperou que esse contasse como — Mas comprei o silêncio dele da forma mais fácil possível! — Contou com um sorriso vitorioso — Fiz de presente de natal pra ele um jogo que ele não parava de me encher o saco para eu fazer, e por coincidência foi isso o que ele pediu — Os dois rapazes riram, os olhos de Minseok quase se fechando enquanto o sorriso dele se tornava gengival — Nem vai me dar trabalho.

A rápida risada deles acabou morrendo e eles entraram em um silêncio, ambos um pouco tímidos de estarem sozinhos na casa do chinês, algo muito incomum logo que sempre tinha a mãe ou o pai desse — mesmo que eles chegassem mais tarde e eles ficassem duas horas sozinhos. Agora ficariam horas sozinhos.

No passado, Minseok não tinha notado, sua própria timidez o deixando muito sem jeito e sendo quase impossível que notasse que Lu Han estava praticamente igual a si. Ver as coisas por outro ângulo fez com que um sorriso fechado pairasse por seus lábios, admirando a forma como o chinês às vezes abria a boca para tentar puxar assunto, porém acaba por fechá-la, as bochechas levemente coradas.

— Está com fome? — Lu Han finalmente indagou após algum tempo, chamando a atenção do Minseok do passado, que se virou imediatamente para o outro e concordou com um aceno de cabeça — Eu sei que pode não parecer muito atrativo… — Deu seu famoso “haha” de nervoso — Mas eu pedi pizza ontem para hoje, já que não terá nenhuma pizzaria aberta devido ao feriado.

— De frango?

— Óbvio! É a melhor.

Ao ouvir isso, Minseok do presente arregalou os olhos em surpresa e as bochechas coraram de forma instantânea.

— Eu não me lembrava disso… — Comentou mais para si mesmo que para a entidade ao seu lado, esse focado em ver a interação dos dois rapazes no sofá e se limitando a apenas soltar um “hã?” por não prestar atenção no que o outro dizia. — Lu Han não gosta de pizza de frango, e eu sei disso agora, pois ele me disse uma vez — Explicou, olhando para ZiTao. Estava maravilhado com a situação, só queria poder dizer isso para Lu Han e dar-lhe um beijo de agradecimento — Eu não me lembrava que nesse dia ele pediu a minha favorita, ele pediu mesmo não gostando — Encarou o chão pensativo, o rosto ainda corado por ter se dado conta disso.

— Amor juvenil é tão bonitinho — Caçoou ZiTao enquanto os garotos seguiam para a cozinha e começavam a preparar tudo para comer.

— Cala boca — Minseok disse sem jeito, virando o rosto para o outro lado.

— Vocês realmente faziam um casal bem bonitinho — Afirmou, sua voz saindo do tom de tirar sarro e passando a ser bem mais amigável — E você fugiu de sua família especialmente para ficar com ele — Observou, encaminhando-se para a cozinha, sendo seguido por Minseok.

Os dois rapazes aguardavam o microondas terminar o serviço e, conforme isso, pegavam os copos, a pimenta — a pizza do coreano não podia faltar pimenta — e o refrigerante. Quando o aparelho tocou para avisar que estava pronto, Lu Han abriu a porta e o delicioso cheiro tomou conta da cozinha, fazendo o Minseok do presente se lembrar de sua boca salivando por isso.

— Nos seis anos que estavam aqui, a família dele sempre viajava para a China para o natal e ano-novo. Aquele era o primeiro natal dele na Coreia… — Comentou por fim, querendo de alguma forma contar isso, o rosto embargado em serenidade pelas coisas que o relembram de pequenas partes do passado que os levaram àquele momento — Ele tinha convencido a mãe a deixá-lo para que passasse o natal comigo porque eu comentei que gostaria disso — Explicou, segurando-se para não voltar a sorrir feito um idiota para o nada — Eu sabia que se eu pedisse à minha mãe, ela não permitiria. Ela sempre achava que iríamos comprar bebida alcoólica e nos embebedar como no meu aniversário — Riu, a voz da sua mãe a lhe dar uma bronca totalmente irritada durante sua ressaca soando em sua cabeça — Essa foi a única forma que eu achei para isso.

— Então você mentiu para sua mãe só para passar o natal com seu namorado? — ZiTao perguntou em tom de interesse, virando-se para Minseok e ficando de costas para os garotos a devorar a pizza em completa satisfação. Seus pequenos olhos completamente brancos eram direcionados ao homem, o penetrando com o olhar como se lessem sua alma.

— Também… — Respondeu depois de alguns segundos em silêncio, o sorriso já desvanecido de seus lábios e o semblante agora cabisbaixo, como se há pouco tempo não estivesse rido com suas lembranças.

O primeiro motivo era passar o primeiro natal de Lu Han na Coreia com ele, ser aquele que marcaria essa ocasião na vida do chinês e também criar algo só dos dois, apenas os dois. A ideia principal era puramente romântica de sua parte; contudo mentiria se dissesse que era apenas isso.

O segundo porquê não era algo bonito, agora Minseok percebia isso. Era algo egoísta e que se arrependia muito de tê-lo feito. No entanto o passado não tinha como ser mudado, as páginas estavam escritas e o máximo que poderia fazer é queimá-las para fingir que nada existiu.

O único problema é que as folhas de seu livro apenas se tornavam pretas e nunca eram destruídas.

Minseok não disse mais nada e ZiTao não pareceu se importar, logo que ficou quieto também. Perdido em seus pensamentos, o coreano esqueceu-se até de dar atenção para a cena ocorrendo a sua frente. Mais uma vez a culpa o corroía e acabava com qualquer boa lembrança que ele tinha do dia, transformando tudo em algo desagradável para que ele não se sentisse bem por ter dito qualquer coisa boa naquele natal horrível.

Depois de um bom tempo, Lu Han e Minseok do passado terminaram de comer e foram colocar a louça dentro da pia para lavar, o que o coreano se ofereceu prontamente para fazer. O chinês entregou alguma coisa para o outro e colocou o mesmo em sua boca, e assim que tudo estava perfeitamente limpo e até mesmo guardado, seguiram para o corredor que levaria aos quartos.

— E então? — ZiTao disse de repente, encarando Minseok com seus assustadores olhos sem íris, os braços cruzados de encontro ao peito.

— O quê?

— Vai ficar parado aí ou vamos ver o que vocês dois estão aprontando? — Questionou, sendo possível ouvir em sua voz o tom de curiosidade que ele parecia tentar disfarçar com seu rosto de indiferença que logo foi quebrado.

Dando de ombros, Minseok foi junto de ZiTao para o mesmo corredor que os rapazes tinha entrado antes e ao parar em frente a uma porta, agiu mais rápido do que o seu rosto corou quando a lembrança o abateu.

— Espera! Para! — Exclamou Minseok, os olhos arregalados em agitação — Você não pode entrar aí — Afirmou, colocando-se na frente da porta, os braços abertos para montar uma barreira.

— Por que não? — ZiTao sorriu de forma travessa, movendo o corpo de um lado para o outro como se tentasse achar um espaço para passar.

— Porque eu disse não! — Contrapôs, fazendo a entidade revirar os olhos sem íris com tamanha argumentação.

Rindo em malícia, ZiTao se afastou e foi ficar de frente para a parede, Minseok ainda tomando posto para evitar que ele passasse a perna em si e entrasse no quarto se desse bobeira.

— Quero te mostrar algo bem legal — Comentou, a forma que usou para falar soando como se falasse com uma criança — Saca só — E então ele simplesmente enfiou um braço dentro da parede, esse atravessando a construção sólida e grossa. Em seguida colocou metade de seu corpo, deixando apenas da cintura para baixo dentro do corredor — Vocês não perderam tempo mesmo, não é?! — Riu alto, uma risada fina que ecoou do quarto até o corredor.

Minseok escorreu as mãos pelas laterais da cabeça e escondeu o rosto no braço direito, a face ficando muito vermelha com o que a entidade estava a ver dentro do cômodo. Se recuperando um pouco da vergonha que tomou conta de si, o coreano puxou ZiTao e o tirou de lá.

— Pervertido! — Disse com irritação, o dedo indicador quase na cara da entidade, que lhe deu um tabefe na mão, embora tivesse a sorrir de canto — E você parece ter gostado, não é? Ficou a ver sem problemas!

— Bem, ficou interessante quando você trocou de lugar e começou a cavalgá-lo com tanto vigor — Ao escutar isso, Minseok voltou a esconder o rosto em vergonha, dessa vez em suas mãos. ZiTao gargalhou, toda a zombaria presente naquela gargalhada alta — O que eu não entendo o que pode ter acontecido de tão ruim nesta noite — Suspirou ao parar de rir e disse, divagando sozinho.

O coreano tirou as mãos do rosto, a vergonha já não mais presente por ser substituída por uma amargura, e encarou a entidade, buscando ver se esse realmente estava sendo sincero sobre dizer que não sabia, encontrado a verdade no rosto limpo de ZiTao.

— Depois disso… — Abaixou a cabeça e começou, a voz saindo quase como um sussurro, o rosto embargado em culpa e tristeza — Eu tinha colado o celular no silencioso ao sair de casa, não queria que ninguém interrompesse meu momento com Lu Han… — Gaguejou um pouco, dando pequenas pausas para respirar fundo, tentando ao máximo evitar que as lágrimas se formando em sua linha d’água escorressem e o deixassem em um estado patético de chorar para um estranho que nem existia — Minha mãe… Me ligou mais de vinte vezes nesta noite.

— O que aconteceu? — Perguntou, o rosto sério e a voz mostrando um pouco de preocupação. Por Minseok estar de cabeça baixa, ZiTao inclinou um pouco a sua para baixo e tentou ver melhor o rosto desse, o que apenas o fez virar de costas para ele para não ser visto.

— Quando eu vi a luzinha do meu celular piscando, o peguei em curiosidade e vi as chamadas da minha mãe — Continuou, a mão indo parar na nuca e passando a massageá-la com força, as unhas raspando em sua pele e deixando um rastro vermelho que foi apagado em questão de segundos — Eu fiquei muito preocupado e liguei para ela, e eu acabei descobrindo que ela me ligou porque ao caminho do hospital, o meu irmão subitamente começou a passar mal e…

As lágrimas já não podiam mais serem seguradas e escorreram por seu rosto vermelho pela tentativa de guardá-las prendendo a respiração. O nariz entupiu-se rapidamente, o obrigando a respirar pela boca, o que denunciou seu chorou para ZiTao.

A entidade não disse mais nada no entanto, deixou que o outro levasse seu tempo. E quando isso aconteceu, Minseok do passado saiu correndo do quarto com Lu Han ao seu lado, os dois se vestindo as pressas e o coreano quase tropeçando ao vestir a calça, os olhos embaçados de lágrimas assim como os do Minseok do presente.

A mesma dor sentida pela mesma pessoa…

Porém a mesma pessoa de épocas diferentes, confirmando que a ferida estava exposta ao tempo e nunca sequer tentou ser cicatrizada.

— Enquanto eu fodia, meu irmão estava morrendo… — ZiTao ouviu Minseok dizer, a voz rouca e quase falha. Em seguida o coreano deu uma risada totalmente sem graça e inundada de tristeza, rindo do quão maldito e desgraçado era. — Por favor, me leve de volta para a minha casa — Minseok respirou profundamente, o som das narinas obstruídas se tornando presente até que ele tivesse enchido todo o pulmão, e só então fez o pedido a entidade, não recebendo nenhuma resposta da boca de ZiTao, mas sentiu seu corpo subitamente começar a flutuar e então um forte choque atravessar seu corpo.

Em um piscar de olhos, o cenário pulou para outro. Estavam de volta a sua sala de estar no presente, tudo exatamente como havia deixado.

— Eu sinto muito pelo que houve… — ZiTao disse assim que Minseok terminou de limpar a face com a manga da camisa de moletom, secando bem as lágrimas antes de se virar para a entidade e revelar seu rosto, os olhos vermelhos pelo choro e a boca por ele ter mordido os lábios a fim de parar de chorar.

— Não sinta, não preciso disso — Retrucou Minseok, irritado.

Seu peito doía por reviver a mesma coisa que antes. Se já não bastasse pensar nisso todos os anos, ainda foi obrigado a voltar no passado e sentir uma vez mais a angústia.

Sempre teve ódio de si por escolher abandonar seu irmão e não estar ao lado dele naquele momento, porém agora isso se juntou ao estresse que vinha tendo e a raiva que adquiriu por ZiTao.

Sua cabeça voltara a doer.

— Com o passar do tempo minha mãe foi mostrando sinais de ter depressão — Minseok comentou sem nenhum propósito, apenas falando as coisas que começou a recordar — Várias e várias vezes eu tentei falar com ela, mas ela parecia fingir que eu não existia. — Foi se sentar no sofá e deixou seu corpo cair de forma exausta. — Éramos só nós dois, então eu comecei a cuidar mais da casa já que ela não conseguia… Até que ela foi demitida e eu tratei de arrumar um emprego como atendente de caixa de mercado e mais tarde consegui estágio remunerado.

Sua visão periférica capturou a imagem do pedaço de gesso que antes foi uma pequena árvore sobre a mesa de centro, deixado ali por ZiTao antes que eles entrassem no portal. Se esticou para pegar o objetivo e começou a observá-lo atentamente, apenas a encará-lo sem nenhum propósito aparente.

— No meu terceiro ano de faculdade, cheguei em casa depois de um longo dia e encontrei o cadáver da minha mãe — Revelou depois de um tempo, apertando o pedaço de gesso em sua mão — Eu nunca me atrevi a ler a carta de suicídio dela, sabe? Sou covarde demais para encarar ela dizendo o que eu não quero ouvir, não mais do que já ouço a minha cabeça dizer — Riu abafado e sem humor, achando graça de si mesmo e do quanto era imprestável.

Contudo rapidamente o riso morreu e logo a raiva tomou conta novamente, movendo Minseok a tacar o objeto de gesso na direção de ZiTao, vendo a entidade sumir diante de seus olhos, a expressão séria sendo a última coisa que avistou no rosto dele.

— Ridículo… — Murmurou, rindo novamente de si.

06 Haziran 2018 19:16 0 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
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Sonraki bölümü okuyun Parte II

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