E mais uma vez estavam presos naquele ciclo que parecia sem fim. Mais uma noite estavam entregues ao vicio secreto que condenava suas almas a um abismo de culpa e escuridão do qual já sabiam não poder escapar.
Naruto avançou pela cama, posicionando-se sobre o corpo de Kiba, sem desviar da mirada intensa em momento algum. Repetia a cena comum na casa em que moravam juntos, noite após noite, numa busca por afeto. Mas buscavam o amor onde sabiam, nunca iriam encontrar.
O desejo que via refletido naqueles olhos de iris selvagens só era menor do que o desejo que seus próprios olhos explicitavam.
Não falaram nada.
Então veio o beijo. Afoito. Bruto. Violento.
As presas afiadas de Kiba machucando os lábios de Naruto, o gosto de sangue se tornando um elemento familiar no ato de luxúria.
Beijo interrompido por alguns instantes, para que Naruto ajudasse Kiba a livrar-se das roupas, peça por peça, até que seu corpo se revelasse sem pudores. Era um corpo de constituição firme, agradável ao toque, não completamente desenvolvido pela adolescência, embora já apontasse o tipo físico quando se tornasse adulto.
— Sua vez… — Kiba provocou querendo que Naruto se despisse também. Mas o rapaz segurou-lhe os pulsos com cuidado e firmeza e os empurrou de volta para a cama, um em cada lado da cabeça.
— Quietinho… — pediu e ganhou um rolar de olhos em troca, apesar de ser obedecido.
Naruto e sua maldita consciência pesada.
— Então me faça calar.
O outro balançou a cabeça, aceitando o desafio.
Voltou a beijar os lábios que adorava. Ao mesmo tempo, passou as mãos por baixo dos joelhos de Kiba e o fez flexionar as pernas, para que pudesse se encaixar melhor sobre seu corpo.
Um gemido entrecortou o beijo quando o dedo de Naruto deslizou devagar pelo períneo, até alcançar-lhe o ânus. Por um segundo encantador, Kiba teve a sensação de que teriam preliminares e momentos de carinho antes do sexo, para variar.
Esperança que logo se desfez.
Naruto usou uma das mãos para desabotoar a calça e baixá-la um pouco, junto com a boxer, o suficiente apenas para expor o membro que saltou ereto, já gotejando o pré-gozo.
Enquanto Kiba, secretamente, desejava que a intimidade fosse além do ato em si, Naruto era o contrário. Para ele, o contato de peles era aterrador. O mínimo sinal de afeto, imperdoável. Ali, na sua casa, cometiam o pior crime. A maior das traições. Enquanto tudo fosse instintivo e quase irracional, poderia lidar com o dia seguinte. Se olhar no espelho sem que a culpa em seus ombros se tornasse insustentável.
Muitos consideravam Naruto um herói. Ele sabia que a verdade estava bem, bem longe disso.
— O lubrificante… — Kiba se conformou sem sequer pôr em palavras que desejava algo mais que apenas sexo. Não serviria para nada além de causar uma briga.
— Eu sei — a voz de Naruto quase falhou. Arrastando-se um pouco, alcançou a gaveta do criado-mudo, onde guardavam o tubo de lubrificante. O folego oscilava, em antecipação. Sentia pressa, urgência. Demorar na consumação era o mesmo que abrir uma brecha para o arrependimento. Não podia pensar, sequer um ínfimo instante.
Retomou o lugar sobre o corpo de Kiba, se encaixando com a experiência de quem já esteve ali muitas e muitas vezes.
Apertou o gel em abundância, lambuzando o próprio membro.
Foi a única providência que tomou no sentido de preparar o amante. Menos do que amor, mais do que castigo. O preço por estarem ali, consumando algo proibido.
(Naruto e Kiba consumam o sexo)
— Amo você — Naruto se viu sussurrando entre os movimentos de quadril, segundo antes de morder a base do pescoço de seu amante. A declaração foi uma punhalada certeira no peito de Kiba. dessa vez as lágrimas vieram em abundância, sem que fizesse qualquer gesto no sentindo de conte-las ou escondê-las.
— Ama…? — Kiba gemeu e jogou a cabeça para trás, afundando-a contra o travesseiro. A dor ainda presente, grande demais para que sentisse qualquer prazer. Menor apenas do que a tristeza que as palavras do outro lhe trouxeram — Mas o Shino me come melhor.
Naruto paralisou-se. Os movimentos de vai-e-vem cessaram-se por completo. Por um segundo os dois garotos se encararam. Uma gama indescritível de sentimentos era visível naquela troca de olhares. Dor, rancor, arrependimento, tristeza.
Em silêncio, Naruto deslizou para o lado, finalizando o sexo. As palavras acusatórias dando voltas em sua cabeça, subitamente o lembrando da pior traição que estava a realizar.
— Oe — Kiba reclamou, amargurado por ser incapaz de ter se calado. Se não fosse tão idiota e maldoso, poderia ter chegado até o fim, conseguido um pouco de prazer, migalhas — Onde vai?! Volte aqui! Naruto!!
Ao ouvir o próprio nome, Naruto virou-se para a cama, observando seu companheiro, sem parar de ajeitar as roupas que não tirou. E então não era mais Inuzuka Kiba deitado ali, despido, com o rosto banhado em lágrimas. Era Sasuke, após ele encerrar o jutsu de transformação. A ilusão estava desfeita. Tudo o que restou foi um intenso vazio, que logo seria preenchido por remorso inexorável.
Naruto engoliu em seco, os olhos arderam. Mas nada naquela imagem conseguiu tocar-lhe o coração. Parecia imune ao sofrimento de Uchiha Sasuke.
Como os amigos agiriam se descobrissem o que fazia com Sasuke, secretamente? Como o verdadeiro Kiba reagiria, se soubesse que sua imagem era usada para satisfazer o desejo proibido de um falso herói?
Sufocando com a culpa, Naruto voltou a dar as costas e rumou para fora do quarto. Precisava sair daquela casa, do lar que dividia com Sasuke após o final da guerra.
— Não pode fugir! — Sasuke riu. Ou talvez tenha chorado — Você quis tanto isso, não foi? Me quis tanto!! E agora não pode tê-lo. Nunca poderá tê-lo! Eu sou tudo o que te restou.
Jogou as verdades no ar, na certeza que Naruto as escutou, pois a porta só bateu segundos depois que o silêncio imperou.
E Sasuke afundou-se no colchão, cobrindo os olhos com as mãos. Chorava, porque sua vida era um resumo de escolhas erradas e resultados desastrosos. O passado cheio de rancor o guiou por caminhos incertos, quando se deu conta do que sentia era tarde para ambos. Perdeu o amor de Naruto, que seguiu com a busca para trazer um amigo para casa, já sem alimentar intenções românticas em relação a Sasuke.
No fim, nenhum deles teria os sentimentos correspondidos.
Tudo o que lhes restou… eram as migalhas.
Doentias migalhas.
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