Tenho uma velha lembrança, talvez não tão velha assim, de uma vez em que o diretor da escola onde estudava entrou em minha sala e começou a falar sobre o amor e a paixão. O engraçado é que naquela época lembro de não dar a mínima atenção para as palavras dele, no entanto, mesmo que seja apenas uma vaga memória, hoje sinto aquelas palavras.
Afinal, a paixão, por exemplo, é aquilo que sentimos por aquela pessoa super bonita; é avassaladora e encanta a mente e o coração até transbordar, mas que logo se esvazia. Seu tempo costuma ser tão curto que não é de maneira alguma errôneo dizer que colecionamos paixões, e lembraremos delas com saudade, uma nostalgia da época em que tudo era tão doce e fácil.
E o amor? Ah, esse é aquele que se diz incondicional, duradouro e verdadeiro. A rosa vermelha é o seu mais fiel símbolo, seu cheiro encanta a muitos e suas pétalas de veludo acariciam a pele de quem toca; seus espinhos, no entanto, é o que apavora e mantêm longe os enxeridos, espetando e machucando os descuidados. O amor é paz e calmaria, mas também terremotos e tempestades; ele tem força para enfrentar feras, mas se regozija na felicidade do outro. São também desde os pequenos até os maiores gestos. É aquele beijo na testa, o abraço que conforta, as palavras de carinho e atenção, e o sorriso que contagia a alma, esse é o amor.
O amor também pode ser um jogo e como qualquer jogo justo, trapacear está fora dos limites estabelecidos para vencer, afinal não é o amor aquele que transborda sinceridade mesmo frente à adversidade? Então, porque contar mentiras, tantas desconfianças e trapaças? Se for assim, você já perdeu, e continuar a agir de tal maneira é estupido, desonesto e não chega a cumprir nem os requisitos básicos do amor de verdade, quem dirá então toda sua força, coragem e ‘’magia’’.
Fazer alguém gostar de outro através de mentiras, jogos sujos, falsidade e ilusões é o mesmo que brincar de boneca; a pessoa controla e brinca com o modo de agir e falar de outra através de suas próprias ações. Não é mesmo algo hilário? Quando crianças, isso era totalmente irrelevante, afinal eram apenas brinquedos, e não quero falar muito sobre isso, afinal para alguns, e gostaria de me incluir nisso, os bonecos e bonecas tinham tanto sentimento quanto um humano. No entanto, agora crescemos apenas para perceber que as pessoas ainda fingem, na verdade, fingem demais, e continuam a controlar outros para fazerem o que querem, tratando-os como meros brinquedos.
E é claro que o mundo ajuda, não é? Aliás, não apenas ajuda, mas compõe uma enorme influência na maneira como vemos o próximo e no modo que agimos com ele. Já até mesmo ouvi histórias absurdas sobre “pílulas do amor”, fiquei sem palavras. É como se gradualmente a humanidade estivesse esquecendo que possuímos sentimentos de forma natural e singela; carinho, preocupação, cuidado, alegria, amizade, paixão e o amor, todos eles e muitos mais, estão todos em nós, em nosso ‘software’ como humanos reais e naturais. E ainda que existissem coisas como “pílulas do amor”, sua veracidade seria igual aos sínicos e falsos de plantão, que gostam de brincar com os sentimentos de outros, enganando-os, fazendo-os acreditar em ilusões criadas apenas pelo prazer de atormentar a quem eles acreditam ser fracos e frágeis só por serem verdadeiros.
Refletindo sobre tudo isso chegamos a uma conclusão. Seja verdadeiro, tanto no amor ou na paixão, sinta, viva e se alegre por estar vivo e por ser real. Pois, a verdade é que apenas aqueles que são verdadeiros com outros e consigo mesmo encontram plenitude em viver; esses são os corajosos e destemidos, aqueles que acreditam que em algum lugar, ser verdadeiro sobre os nossos sentimentos e ações é o maior ato de confiança que podemos ter uns com os outros. Ninguém é perfeito, e isso não é surpresa alguma, porém essa condição não deveria ser motivo para sermos menos reais, pois sabemos que no fim o que prevalece é a verdade.
Então agora é o momento de dizer chega, basta! Chega de ilusões e mentiras, deixe o brincar de boneca para as crianças e cresçamos para entender que somos todos humanos com sentimentos reais. Deixe o amor vencer você, porque, na verdade, isso nem é uma luta, é apenas o reflexo do que deveria ser desde o início. O amor até pode escolher seus próprios caminhos, mas se guiado corretamente veremos que ele é sim, incondicional, duradouro e mais do que nunca, verdadeiro.
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