— Meninos, está na hora de acordar. — Minha mãe, Carla, gritou do andar de cima, a voz ecoando em alto e bom som pelos corredores de nosso apartamento.
Sentei-me com a postura ereta enquanto coçava aos olhos. O sono me atingiu opressor na noite anterior, deixando pequenas amostras de preguiça antes de se mandar para longe. Olhei para o relógio na cômoda, ainda era oito e quinze da matina, o sol brilhava majestoso no céu — trazendo uma luminosidade quase doentia para dentro do quarto — era acompanhado por nuvens acinzentadas de chuva que logo chegaria a cair. O que eu espero que não aconteça, afinal, isto estragaram aos meus planos.
— Ryan, mamãe mandou levantar. — Falei baixo, cutucando ao ombro do garoto que dormia no colchão no chão ao lado da minha cama.
Ele gemeu cansado, virando-se em direção a mim. O lençol branco cobria-lhe todo o corpo, com exceção da cabeça, que deixava a mostra a bela face sonolenta que tinha, os cabelos verdes caindo-lhe sobre as pálpebras que permaneciam fechadas mesmo que falasse comigo. Puxou o lençol para baixo, amostrando ao peito desnudo, não sei como em noites tão frias como a anterior ele conseguiu dormir sem camisa, eu dormi de casaco e moletom.
Ele ficava lindo dormindo, calado.
— Não agora. — Sussurrou confuso, espiando-me pela brecha do olho, um sorriso maroto surgindo em seu lábio. Ha, ele era uma terrível pessoa para acordar, preguiçoso e despreocupado.. — Tá muito cedo, não temos nada para fazer, vamos voltar a dormir... Deita aqui comigo.
— É uma proposta tentadora, mas não... E levanta logo, vamos nos atrasar.
— Tô cansado, Al. — Murmurou tremendo levemente quando toquei a sua cabeça. — Nos atrasar para quê?
— Como assim? Você sabe para quê, esqueceu que dia é hoje por acaso? — Indaguei preocupado, apoiando meus pés no chão ao encara-lo com a testa franzida. A embriaguez pelo sono parecia abandona-lo aos poucos, o agito em crescendo dentro de mim com a mesma velocidade.
Ryan sentou-se também, cruzou as pernas e apoiou as mãos no colo, parecendo mais perturbado do que nunca por causa da pergunta. Suas orbes verdes fixaram-se nas minhas, espalhando calafrios pelos nossos corpos devido a conexão que temos, quase era possível sentir o frio contornando-nos protetor e sombrio.
— Não temos. — calou-se por segundos. — Talvez?
Eu lembrei a ele ante ontem, como já pode ter esquecido?
— Eu... Você sabe que dia é hoje ao menos? — Perguntei respirando fundo, tentei manter minha voz a mais calma possível.
— Ah? Domingo, não?
— Nossa, você é o pior. — Falei com raiva, levantando-me sem calçar o sapato antes de sair correndo escada acima, deixando meu melhor amigo sem entender nada.
As vezes me pergunto como somos amigos depois de tantos anos, somos tão diferentes e ele é tão esquecido.
Acho que eu sou uma criança mimada, só pode.
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