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Yuri Plisetsky é um ômega que jamais se permitiu ser subjugado pelo estigma associado ao seu segundo gênero. Sua determinação e força de vontade o conduziram à formatura em Medicina, um curso tradicionalmente dominado por alphas. Após concluir seus estudos, Yuri é surpreendido com a notícia de que seu amigo e cunhado, Yuuri Katsuki, enfrenta uma gravidez de alto risco. Movido por uma profunda conexão familiar, Yuri decide empregar seus conhecimentos médicos para o benefício de sua família. Entretanto, o que ele não antevia era que essa escolha altruísta desencadearia uma reviravolta transformadora em sua própria vida.


Hayran Kurgu Anime/Manga Sadece 18 yaşından büyükler için.

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Capítulo 1: Don't Stop Believin'

Yuri encontrava-se imerso em uma exuberante floresta tropical, onde o clima ameno se misturava ao reconfortante som da brisa que acariciava sua pele. Seus olhos, de um loiro radiante, percorriam os diversos tons de verde nas folhagens das árvores, enquanto à sua esquerda um pássaro amarelo o encarava com intensidade, entoando um canto melodioso. Uma sensação de paz envolvia o ómega.


Quando o pássaro alçou voo, Yuri o seguiu com o olhar, fixando-se em uma discreta trilha de areia branca que se desenhava diante dele. Ao percorrê-la, chegou a uma praia onde a água translúcida permite observar os detalhes dos corais submersos.


Foi então que o ômega percebeu uma mudança sutil no ambiente, como se o ar estivesse eletrificado. Um novo aroma envolvente pairava no ar. Embora imaginasse estar sozinho, seus olhos captaram a presença de um homem um pouco distante, contemplando o pôr do sol. Para Yuri, não foi uma surpresa; de certa forma, já esperava a aparição desse homem. Ele o via nos seus sonhos desde tempos imemoriais, embora não pudesse precisar seu rosto com clareza. Decidido, Plisetsky seguiu em direção ao homem, que, como se percebesse sua chegada, virou-se com um sorriso luminoso. O omega se fixou nos olhos negros que sempre o fascinavam.


Um suspiro escapou dos lábios de Yuri, derrotado pela inundação de sentimentos que afloraram com a presença daquele homem. Aquele olhar o fazia sentir-se desejado, aprisionado e, de certa forma, consumido. Sempre conseguia distinguir aquele sorriso e aqueles olhos, elementos que persistem em sua memória ao acordar.


Era como se, finalmente, algo dentro de Yuri encontrasse seu devido lugar.


— Venha, Yuri - O homem sorriu, estendendo a mão em sua direção.


Yuri avançou em direção ao homem dos seus sonhos, mas antes que seus dedos se encontrassem, algo o puxou de volta, acompanhado pelo grito de alguém chamando seu nome. Subitamente, ele se viu de volta ao seu quarto, respiração entrecortada e coração disparado.


Mila Babicheva, observando o ômega deitado e perdido em pensamentos, exibiu uma expressão amarga e os braços cruzados.


— Quantas vezes preciso chamar por você, Yuri? - a ruiva, a contragosto, puxou a coberta, revelando o rosto do mais novo. Este, por sua vez, virou-se e cobriu o rosto com o travesseiro, enquanto Mila notava uma lágrima solitária no lençol.


A irritação e frustração tomaram conta de Yuri. Odiava ser despertado aos gritos e tão cedo, mas ele sabia que não era a verdadeira causa de suas emoções negativas naquele momento. Era o sonho, a proximidade de algo desejado e sensações puras, interrompidas abruptamente.


— Yuri, você precisa levantar dessa cama. - O ômega retirou o travesseiro, encarando Mila. — Não me obrigue a partir para ameaças, ou serei obrigada a dar descarga em algum livro seu.


Com um olhar indignado, Yuri se ergueu na cama, enquanto Mila mantinha um sorriso irônico e apontava na direção do seu exemplar de As Crônicas de Nárnia.


— Eu acabei de sair de um cio, e você quer me ver pulando de alegria pela casa? Beta maldita, não sabe como essa merda é ruim. - Yuri não poupava palavras, expressando sua frustração.


— Me processe por ter nascido Beta. Levante-se da cama ou nos atrasaremos.


O loiro se levantou, indo em direção ao armário e escolhendo um jeans e uma blusa animal print. Mila soltou um gemido frustrado e jogou as roupas na lixeira, buscando uma fuga.


— Qual é o seu problema, Mila? Eu estou de pé e tentando me arrumar! E você pode parar de gritar nessa merda?


— Você não vai chegar no Japão parecendo uma onça fugitiva da selva, eu me recuso a ver essa cena. - ela jogou as peças de roupa na lixeira. — Obviamente escolhi um look lindo, o que adiantaria eu ter feito aquele curso de moda no verão se você não segue minhas dicas?


— Talvez seja uma dica para você cuidar de sua vida.


— Talvez seja uma dica para você calar sua boca e ir se arrumar, a roupa está no banheiro. Me agradeça depois. - Mila saiu cantarolando, deixando um Yuri contrariado para trás.


Ao observar suas roupas no lixo, Yuri não pôde deixar de murchar um pouco.


— Eu não tenho um gosto tão ruim assim... duvidoso às vezes, mas não ruim. - Ele admitiu para si mesmo que, embora nem sempre estivesse nas últimas tendências da moda, suas escolhas eram confortáveis e práticas, especialmente considerando sua condição financeira de estudante de medicina.


Yuri, um estudante de medicina, mal conseguia arcar com os custos dos materiais necessários para seus estudos, quanto mais se dar ao luxo de seguir as últimas tendências da moda. Na realidade, muitos de seus colegas tinham o poder aquisitivo para isso. Sua turma era predominantemente composta por Alphas ricos e betas de classe média alta, tornando seu curso uma espécie de enclave acadêmico para a elite das castas. Contudo, mesmo sendo um ômega, Yuri havia conseguido ingressar no curso de medicina, especializando-se em Obstetrícia.


A maioria dos ômegas em sua situação era direcionada para áreas pedagógicas, sendo raro encontrar alguém de sua casta se especializando em algo destacado que não estivesse relacionado ao cuidado de crianças ou a profissões de suporte.


A norma estabelecida era que um ômega deveria atuar como diarista ou professor infantojuvenil, sendo esse o caminho esperado. No entanto, Yuri desafiava essa norma ao escolher Relações Internacionais e lutar por causas de minorias sociais. Era uma escolha incomum e desafiadora, e apenas um ômega estava constantemente em destaque na mídia por trilhar esse caminho: Yuuri Katsuki, cunhado de Yuri e Representante na ONU pela causa Omeganista.


Yuuri foi um ponto crucial na vida de Plisetsky. Mesmo sendo talentoso e obtendo as melhores notas em sua trajetória acadêmica, Yuri nunca teria tido a oportunidade de cursar Medicina sem a interferência e influência de seu cunhado.


Alphas eram considerados o topo da pirâmide social, moldando a história da humanidade e posicionando-se como os únicos merecedores de méritos. Os ômegas eram muitas vezes relegados a uma representação irrisória de cuidadores do lar, úteis apenas para gerar conforto aos Alphas e procriar. Yuri dedicou-se a provar que seu segundo gênero não era uma limitação para suas capacidades, alcançando o primeiro lugar no vestibular com estudo e dedicação.

Apesar de suas conquistas, Yuri ainda se sentia fraco e abatido durante o cio, um período desgastante e aterrorizante. As sensações negativas eram intensificadas quando passava por esse ciclo sem um companheiro. No entanto, convidar alguém para compartilhar esse momento exigia uma confiança profunda, algo que Yuri não possuía com ninguém, pois a mordida durante o nó representava algo extremamente importante e definitivo.


A sociedade, com sua visão distorcida, via os ômegas como simples vazios desejosos de serem preenchidos, seres fracos e subjugados. Apesar disso, havia ômegas que lutavam por seus direitos, o que levou à formação de movimentos, partidos e órgãos públicos que buscavam representatividade e direitos para essa casta. Graças ao ômeganismo, agora podiam votar, vestir-se como desejavam e estudar o que almejavam.


Yuri, resignado, vestiu as roupas escolhidas por Mila sem protestar, consciente de que não venceria aquela discussão com a Beta. Abraçou-se com firmeza, acomodando-se no casaco largo que ocultava com precisão as marcas causadas pelo cio. Mila se aproximou, segurando um par de coturnos negros e dois frascos de pílulas, e Yuri torceu o nariz ao perceber que eram suas vitaminas e o supressor de feromônio.


— Eu sei que seus feromônios estão controlados agora, após o cio, mas achei melhor trazer os supressores.- A Beta entregou-os, constrangida e preocupada. — Não quero que corra riscos, Yuri.


— Já coloquei alguns frascos na mala, e também uma coleira.


— Uma coleira, Yuri? Isso não é um pouco extremo?


— Sem riscos, Mila.


Com os avanços na indústria farmacêutica, foram desenvolvidos comprimidos supressores de feromônios e até mesmo de cios, embora estes últimos fossem pouco eficazes. Além disso, havia medidas mais drásticas, como coleiras para ômegas, evitando mordidas, e focinheiras para alphas, com a mesma finalidade.


Colares e coleiras eram sempre a última opção para qualquer ômega. Esses adereços eram de certa forma "manchados" pela associação com a prostituição. Quando alguém vende seu corpo diariamente ou até mesmo seus cios, a forma mais prática é uma coleira que impeça que um cliente descontrolado durante o ato deixe marcas. Muitos alphas se recusaram a usar focinheiras por se sentirem limitados e aprisionados.


— Animado para a viagem? - Mila perguntou enquanto empurrava as malas para a porta.


— Sim, não vejo Yuuri e Victor há muito tempo.


A viagem para o Japão estava planejada há algumas semanas. Yuuri havia decidido que ele e Victor estavam prontos para expandir sua família, e após tentativas e acompanhamento médico, Yuuri finalmente conseguira engravidar. No entanto, a gravidez era turbulenta e de risco, então Yuri optou por passar uma temporada ao lado do casal para oferecer todo o suporte possível. O loiro sentia que era o mínimo que podia fazer, comparado a tudo o que sua família havia feito por ele. E o Japão era um local ideal para estar no momento, destacando-se como um dos líderes em iniciativas e acolhimento da causa ômega, após anos de histórias e tradições arcaicas.


Yuri encontrava-se apoiado à parede no lobby do prédio, deixando seus dedos percorrerem o rosto cansado enquanto tentava afastar os pensamentos do sonho que o assombrava. No entanto, sua inquietação era evidente ao mexer nervosamente no pote de pílulas que repousava no bolso do casaco. Mila acreditava em uma antiga lenda que afirmava que todos sonhavam com seus parceiros predestinados, e o homem que frequentemente aparecia em seus sonhos seria o alpha destinado a Yuri. No entanto, desde jovem, o loiro havia prometido a si mesmo que jamais se envolveria com alphas ou qualquer pessoa que se considerasse superior devido ao seu gênero.


Yuri desviou o olhar para Mila, que ajudava o taxista a carregar as malas no bagageiro. A Beta parecia uma modelo, com seu sobretudo vinho que chegava à altura das coxas e suas botas até o joelho.


— Coitado do desavisado que essa megera puser os olhos. - Yuri disse em voz alta, sorrindo ao observar a amiga. Babicheva era uma Beta, o que tornava dividir um apartamento com ela algo seguro e reconfortante. Mila nunca seria dominada por feromônios ou por qualquer instinto selvagem que ainda persistisse na evolução humana. Apesar de ter estudado moda por muitos anos, Mila encontrou sua verdadeira paixão como professora de Ballet e Street Dance.


Yuri dirigiu-se na direção dela, enquanto a amiga entrava animada no carro, tagarelando sobre os lugares que gostaria de visitar. O ômega ouvia em silêncio, refletindo sobre sua última conversa com Yuuri. A voz do moreno estava extremamente fraca, e seu corpo parecia não estar suportando bem a gravidez.


Antes de entrar no carro, Yuri lançou um último olhar para o prédio onde morava havia três anos com Mila. Não sabia ao certo quanto tempo ficaria fora, mas tinha a certeza de que nada o prendia à Rússia naquele momento.


A viagem de avião tinha sido incrivelmente exaustiva. Mila resmungava durante o sono, uma criança agitada na poltrona à frente de Yuri não parava quieta, gritando incessantemente. Além disso, houve infortúnios com uma comissária de bordo arrogante. Yuri ansiava por um banho quente, envolver-se em um cobertor aconchegante e calcular quantas horas de sono seriam necessárias para se sentir verdadeiramente relaxado e descansado.


Ao chegarem ao aeroporto, pegaram um táxi e seguiram diretamente para o endereço indicado por Victor na ligação. O carro parou diante de um grande portão de madeira, muros cobertos por pergolados de dipladênias. Yuri franziu a testa, verificando se o endereço no papel correspondia à casa. Trocou olhares com Mila, que pagou o taxista, e ambos saíram do carro para pegar as malas.


Yuri ficou parado, atordoado, observando o portão, enquanto Mila atendia ao telefone. Sabia que seu irmão adotivo tinha dinheiro, sendo um advogado renomado, e suspirou resignado.


— Victor é sempre exagerado e gastador. Estou surpresa que Yuuri concorde com isso.


O ômega olhou para Mila, que resmungava no telefone. Decidiu esperar até que a amiga terminasse a ligação, mas ambos foram surpreendidos quando uma moto Morini Corsaro apareceu em alta velocidade. Yuri não era impressionado por motos, mas, como era uma das paixões de Mila, conseguia reconhecer alguns modelos, especialmente os mais caros.


— Caralho! Você é cego, seu idiota? - Yuri olhou surpreso na direção de Mila, que se aproximava do piloto gritando enfurecida como um marinheiro embriagado.


A Beta continuava a desabafar contra o piloto, mas quando este tirou o capacete, suas ameaças de agressão foram interrompidas. O piloto era uma jovem morena, e Yuri logo percebeu o aroma de um alpha vindo em sua direção, fazendo-o franzir o nariz.


A alpha penteados os longos cabelos negros com os dedos e segurou o capacete ao lado esquerdo do corpo, um sorriso sarcástico surgindo nos lábios carnudos em cor carmesim. Yuri notou como sua amiga Beta observava a outra de queixo caído, e ele sorriu com isso.


Nunca antes alguém havia silenciado Babicheva dessa maneira.


— Estão perdidos? - e mais uma vez a alpha sorria, um sorriso amplo e falso, com dentes brancos e extremamente alinhados que pareciam reluzir, algo que irritou Yuri.


Dentes de alphas eram extremamente perigosos e afiados.


— Não estamos perdidos. Viemos encontrar Yuuri e Victor Nikiforov.- Pela primeira vez, a alpha parecia sorrir autenticamente.


— Ah, estou aqui pelo mesmo motivo. Coincidência, não é? - a morena piscou, e Yuri podia afirmar com certeza que ouviu Mila suspirar. Doces coisas que podem ser usadas contra você, Mila. — Meu nome é Sara.


— Olá, Sara. Sou Yuri, e esta estátua de boca aberta é Mila.- Yuri acenou para a alpha enquanto desviava de um tapa da amiga.


— Não me provoque, garoto!


— Prazer conhecê-la, bela estátua.- Sara inclinou-se na direção da Beta, que ficou vermelha como o próprio cabelo.


— Será que podemos finalmente entrar? Não que eu queira atrapalhar o clima. - Yuri estalou os dedos entre as duas. — Mentira, eu quero atrapalhar o clima.- o Ômega sussurrou para apenas Mila poder lhe escutar.


Sara caminhou alegremente em direção ao interfone e se identificou. Quando o enorme portão começou a abrir, ela acenou para que os dois a acompanhassem. Yuri observou atentamente o design e a arquitetura da casa, um jardim exuberante se revelou; um majestoso pessegueiro carregava frutos maduros, enquanto flores em tons de rosa claro caíam graciosamente ao longo dos caules. O telhado, rústico e feito de tijolos de barro, estava coberto de madressilvas e orquídeas, alimentando-se de seus velames expostos. Uma escadaria de oito degraus trabalhada em pedra dava acesso à entrada principal da casa.


Enquanto Yuri se maravilhava com a beleza da casa em estilo provençal toscano, Mila e Sara seguiam adiante em uma conversa animada e descontraída sobre a superioridade das motos em relação aos carros. Ao entrarem pela porta principal, Sara os guiou até uma sala elegantemente decorada, com móveis clássicos e venezianas que se abriam para um jardim majestoso. Ele se concentrou quando um homem loiro de bigode entrou na sala e beijou a testa de Mila. Yuri não sentiu nenhum feromônio vindo dele, o que já era comum, pois a maioria das pessoas na atualidade usava pílulas supressoras.


— Amigos seu, Sara? - o homem semicerrou os olhos e observou Yuri com atenção, e o ômega percebeu quando foi reconhecido. — Pequeno Yuri! Você está tão crescido.


Yuri sentiu-se tenso quando o mais velho o abraçou com força. Reconhecia aquela atitude invasiva como sendo de Chris, o braço direito de Victor no escritório e amigo de longa data.


— Finalmente você veio ficar conosco! Todos sentiram sua falta depois de todos esses anos.


— Oito anos é um longo tempo, eu sei. - Yuri afastou-se constrangido.


— Vocês devem estar cansados. Enquanto eu e Sara levamos as malas até os quartos, Yuuri está esperando-o na biblioteca.- Chris apontou para uma porta dupla à sua direita.


— Yuri, quer que eu o acompanhe ou posso ir ver onde ficam os quartos?


Mila estava preocupada com Yuri, um instinto protetor que tinha com o amigo desde sempre. No entanto, o ômega sabia que precisava de privacidade naquele momento. Yuri negou com a cabeça.


— Pode ir até o quarto, preciso ver Yuuri. - Sara colocou a mão no ombro do menor e sorriu. Yuri os observou saírem da sala e caminhou em direção à porta da biblioteca.


Do umbral da porta, o ômega contemplou Yuuri, que estava sentado numa poltrona branca diante de uma grande veneziana com vista para o jardim. Um livro repousava em seu colo, e uma xícara de chá descansava na mesa ao lado; ele parecia absorto em seus pensamentos. Aquela imagem de vulnerabilidade já não combinava mais com Yuuri, não depois de tudo que ele enfrentou na vida.


Yuri adentrou a sala, e o moreno virou o rosto surpreso em sua direção. Ao reconhecer seu cunhado, Yuuri sorriu. Katsuki ainda mantinha a jovialidade no rosto, mas o loiro podia perceber as olheiras roxas sob seus olhos e o cansaço em seu semblante.


Yuuri era um dos principais representantes do movimento omeganista em seu país e no mundo. Trabalhava na ONU, era formado em relações internacionais e possuía doutorados de especialização. Mesmo sendo casado com seu irmão, um alpha, Yuuri continuava a controlar sua vida e suas decisões. Muitas das conquistas recentes em seu país derivavam de protestos e batalhas judiciais que ele liderava. No entanto, naquele momento, encontrava-se enfraquecido pela gravidez, correndo riscos e até mesmo tendo a opção de não levar a gestação até o fim. Mas, ele não desistira, e isso só fazia com que Yuri o admirasse ainda mais.


— Olá, Katsudon, você está gordo. - Yuri se aproximou do outro ômega sorrindo, e Yuuri lhe deu um beijo na testa. O loiro respirou fundo, lutando contra a vontade de chorar.


— Você cresceu tanto, Yuri! - o moreno acariciou os longos fios dourados do outro. — Agora você é um homem adulto.


Yuri acomodou-se na poltrona em frente ao moreno, segurando firmemente sua mão. Pela primeira vez em anos, Plisetsky sentia-se em casa, acolhido. As fotografias adornavam a sala de leitura, algumas retratavam Nikolai em sua juventude e na idade em que faleceu. Outras capturavam momentos de Yuuri e Victor em diversas fases de suas vidas, incluindo seu casamento e lua de mel. Contudo, as imagens mais comoventes eram as de Yuuri em suas palestras e missões humanitárias pelo mundo.


— Soube que você terminou a faculdade de Medicina com louvor. Estou tão orgulhoso de você.- Katsuki falou, chamando a atenção do loiro para si. — É tão bom ver que decidiu dedicar sua vida a ajudar outras pessoas.


— Eu... eu não quero falar sobre isso agora, Yuuri. Eu vim por você e pelos seus bebês. - Yuri olhou para seu cunhado, que ajeitou os óculos nervoso.


— Não é tão desesperador como Victor fez parecer no telefone. Preciso de mais nutrientes para os bebês, meu corpo está... um pouco fraco para manter uma gravidez múltipla, entende? - Yuuri voltou a observar o jardim.


Internamente, Yuuri travava uma batalha emocional intensa. Seus olhos, embora determinados, escondiam um turbilhão de sentimentos. A responsabilidade de cuidar dos bebês que carregava, somada às preocupações com sua própria saúde, pesavam como uma carga invisível sobre seus ombros. Ele tentava manter-se forte, não apenas por sua própria integridade emocional, mas também para acalmar Victor, cuja ansiedade transbordava em cada telefonema.



Yuri, atento, captava cada sinal dessa luta interna. Preocupação nítida marcava o rosto do ômega loiro ao observar seu cunhado. A familiaridade com os exageros de seu irmão Victor em relação à segurança do esposo não passava despercebida. Ele conhecia a intensidade do alpha, capaz de transformar qualquer desafio em uma ameaça monumental. Yuri estava ciente de que Victor tendia a dramatizar a situação para garantir que Yuuri fosse cuidado como se estivesse em uma redoma de vidro.


Diante desse quadro delicado, Yuri sentiu-se compelido a ser uma âncora para Yuuri. Não apenas como cunhado, mas como alguém disposto a oferecer apoio genuíno. Ao se levantar, ele transmitiu não apenas a vontade de ser um bom médico, mas também de ser uma presença constante durante essa fase crucial. A tensão no ar era palpável, e Plisetsky não podia ignorar o peso emocional que permeava aquele momento.


— Desde quando isso é bobo? Acredite, porco, eu vou ficar no seu pé o tempo todo para comer bem e não carregar peso. - Yuri levantou-se. Yuuri observou-o sorrindo e indicou com um gesto que deveria sentar-se novamente.


— Eu serei um bom paciente, Doutor Plisetsky. Quem sabe assim aproveitamos mais? - Yuri passou a mão no rosto, enxugando uma lágrima.

— Para com essa merda, parece uma despedida!


— Yuri, não chore. Eu estou aqui. Me conte tudo que aconteceu nesses anos que estive longe de você. Aliás, Victor está ansioso para vê-lo quando chegar da empresa.


— Aquele velho deveria estar aqui cuidando de você.


— Ele fica tanto por aqui que estou começando a julgar que deseja me matar sufocado. - Yuuri sorriu e tomou um gole de seu chá. — Sem enrolações, me conte sobre tudo.


Plisetsky expressou seu desagrado com um revirar de olhos, mergulhando então em um relato minucioso de todos os acontecimentos. Mesmo mantendo contato regular, as chamadas internacionais não eram frequentes. A faculdade se revelara um desafio árduo, e o malabarismo entre os estudos e o trabalho parcial como professor de balé quase esgotara sua sanidade mental. O ômega compartilhou os detalhes, desvelando as complexidades e as adversidades que enfrentou ao longo desse período, revelando uma jornada repleta de obstáculos e superações.


— Enquanto estiver aqui no Japão, gostaria que trabalhasse no hospital de um amigo meu. Ele ouviu falar de você e está interessado em integrá-lo à equipe médica.- Yuuri informou, observando-o atentamente sobre a borda da xícara de chá.


— Yuuri, eu não sei se sou qualificado o bastante... e eu preciso estar disponível para ajudar você.


O hospital ao qual Yuuri se referiu pertencia a Minami, um beta que se tornara um amigo íntimo de Katsuki. A instituição havia alcançado renome internacional, e qualquer profissional de saúde que integrasse sua equipe teria a oportunidade de se destacar em sua respectiva área.


— Você é mais do que qualificado, e sabe disso. Sei que não quer ficar parado durante sua estadia aqui, e nada me deixaria mais feliz do que vê-lo trabalhando lá.


— Yuuri, você precisa de suporte em tempo integral.


— E você precisa viver a sua vida, é jovem e brilhante.


— Eu vou viver, eu estou vivendo. Mas, antes precisamos cuidar de você.


Yuuri mergulhou o olhar nos olhos de Yuri, um gesto que transmitia gratidão pela preocupação sincera do cunhado. Entretanto, por trás da expressão de agradecimento, havia uma resistência interna palpável. Nos olhos do moreno, resplandecia uma determinação feroz, uma vontade inabalável de não ser percebido como um fardo para aqueles ao seu redor. Era como se, no fundo, Yuuri quisesse assegurar a todos que, apesar dos desafios e fragilidades momentâneas, ele ainda detinha o controle e não pretendia ser um peso para ninguém, especialmente para aqueles que lhe eram tão queridos. Essa mistura de gratidão e determinação criava uma aura complexa e emotiva, destacando a força silenciosa que residia no coração de Yuuri.


— Você irá conhecer o local, pelo menos?


— Claro, mas só quando você apresentar melhoras.


— Temos um acordo. E pare de me tratar como um inválido.


Nos olhos de Yuuri, refletia-se uma complexa mistura de emoções. Havia um lampejo de carinho, uma ternura que resistia às adversidades enfrentadas, como uma chama suave que se recusava a se apagar diante das dificuldades. Essa expressão afetuosa, embora sutil, era como um farol de calor humano, um resquício do Yuuri resiliente que sempre enfrentava desafios de cabeça erguida.


Ao mesmo tempo, a teimosia era evidente, delineando uma linha firme nos traços do rosto de Yuuri. Era a determinação de não se curvar diante da fragilidade imposta pela gravidez de risco, uma resistência feroz que emanava de seus olhos como um escudo contra a vulnerabilidade.


Enquanto isso, Yuri sentia uma urgência persistente pulsando em seu peito. Cada olhar, cada centelha nos olhos de Yuuri, aumentava a necessidade de garantir o bem-estar do cunhado. Era como se uma responsabilidade emocional se instalasse em seu âmago, impulsionando-o a agir, a oferecer apoio e a assegurar a Yuuri que não estava sozinho nessa jornada desafiadora. Essa urgência transformava-se em um impulso silencioso, um compromisso silencioso de estar presente, independentemente das circunstâncias adversas que a vida impunha.


Yuri suspirou, decidindo mudar de assunto para aliviar a tensão no ar.


— Quem é aquela Sara? Nunca ouvi sobre ela, e essa alpha parece tão... à vontade aqui.


Yuuri suspirou novamente, agora com um toque de melancolia.


— Nem todos os alphas são iguais, Yuri. Sara é filha adotiva de uma cliente próxima... na verdade, que era muito próxima. Infelizmente, Eliene não sobreviveu a um câncer de pulmão. Sara precisava de apoio.


— Alphas ainda são alphas. Eles não conseguem negar sua natureza, Yuuri;


Ao proferir essas palavras, Yuuri notou uma sombra sutil de preconceitos enraizados nos olhos de Yuri. Era como se o ômega, apesar de ter um irmão alpha amoroso e protetor, ainda carregasse consigo resquícios de estereótipos e receios em relação aos alphas em geral. Era uma contradição evidente entre a experiência pessoal de Yuri com Victor e a persistência de preconceitos moldados por uma sociedade que muitas vezes categorizava os alphas de maneira unidimensional.


Os olhos de Yuri, embora expressassem confiança e familiaridade, também denotavam uma cautela instintiva em relação aos alphas. Era como se as cicatrizes invisíveis do preconceito, incutidas por uma cultura que frequentemente subestimava os ômegas em face dos alphas, ainda deixassem uma marca em sua visão de mundo.


Yuuri, ao citar a frase sobre a educação libertadora, buscava desafiar essa mentalidade arraigada, convidando Yuri a transcender os estereótipos que poderiam limitar sua compreensão sobre os alphas. Havia uma mistura de compaixão e determinação em suas palavras, um esforço para desconstruir preconceitos e promover uma perspectiva mais inclusiva.


A dinâmica entre os dois refletia não apenas o diálogo naquele momento, mas também uma trajetória emocional mais ampla, onde o entendimento mútuo se entrelaçava com desafios culturais e pessoais, revelando a complexidade de superar preconceitos enraizados.


— "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Não se deixe levar por algo tão clichê, Yuri. Não se prenda a preconceitos.


Yuri ponderou sobre as palavras, percebendo a sabedoria nas entrelinhas.


— Yuuri...


— Ela só está passando uns dias por perto enquanto está fazendo uma exposição em uma galeria famosa no centro da cidade. Sara é uma pintora muito reconhecida.


— Ela vem aqui com frequência? Mila ficará eufórica.


Ambos se permitiram rir, dissipando um pouco da tensão no ar e deixando espaço para a leveza da conversa entre cunhados.


O ambiente do apartamento estava envolto em conversas animadas e numa atmosfera de cansaço sutil, oriundo da longa viagem. Yuuri compartilhava entusiasmadamente detalhes sobre os atuais "babás" temporários, Otabek e Sara, enquanto Yuri, apesar de querer continuar aproveitando um momento com o cunhado, não conseguia conter um bocejo, mostrando os sinais evidentes do esgotamento pós-viagem e da recuperação do cio.


— Otabek está trancado no escritório desde cedo, afundado em papeladas da empresa da família.- Yuuri descreveu com um gesto de desdém nas mãos, adicionando um toque de humor à narrativa. Yuri, demonstrando sua fadiga, revirou os olhos e pediu desculpas.


— Eu diria que você o conheceria na hora do almoço, mas você parece um zumbi depois dessa viagem. Alias, seu cheiro está começando a me atingir daqui, vá tomar seus supressores antes de dormir.- Yuuri, preocupado com o estado de Yuri, orientou-o com um tom leve, mas cuidadoso.


Yuri revirou os olhos novamente e respondeu de forma brincalhona, dando língua para o cunhado. Apesar da aparência exausta, Yuri tinha consciência de que seu cheiro ainda não era perceptível.


— Eu poderia debater com você, mas realmente preciso dormir. Ou a noite não conseguirei ver Pichit e Seung antes deles irem embora do país.- Yuri expressou sua determinação em priorizar amizades, revelando que, mesmo cansado, estava disposto a dedicar tempo aos amigos.


Pichit, descrito como um beta maravilhoso, tanto fisicamente quanto em personalidade, tinha sua história entrelaçada com a de Yuri por intermédio de Yuuri. A amizade entre Yuri e Pichit floresceu quando, no primeiro dia de aula de Yuri, ele observou como as pessoas buscavam a atenção do Beta, que estava ocupado demais desfrutando da vida para se envolver em romances.


A história sobre a mudança de Pichit e seu encontro com Seung na Coreia desdobrava-se como um delicado conto de beleza e ternura. Cada palavra transmitia a magia de um romance que florescia em um cenário distante, carregado de novas esperanças e possibilidades.


As cores vibrantes da narrativa pintavam a transformação da amizade entre Pichit e Seung, revelando um caminho onde a camaradagem genuína se metamorfoseava em um amor tão autêntico quanto inspirador. A descrição detalhada do primeiro encontro, mergulhado em uma atmosfera de timidez e encanto, adicionava uma pitada de romance à narrativa, como se cada palavra evocasse a magia e a vulnerabilidade daquele momento único.


O cenário descrito era mais do que um mero pano de fundo; era uma tela em que as emoções ganhavam vida. A amizade que se transformou organicamente em um amor profundo revelava-se como um vínculo especial e inspirador. A história de Pichit e Seung não era apenas uma sequência de eventos, mas um testemunho da capacidade humana de encontrar alegria e significado nos relacionamentos, mesmo em meio às complexidades da vida.

28 Ocak 2024 19:00 0 Rapor Yerleştir Hikayeyi takip edin
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