À noite, os retratos dormem um sono leve. Enquanto isso, planejo-me para sair pé ante pé, para que ninguém escute um barulho sequer.
Consigo sair. A noite está fria. Meus ossos congelam, porém meu peito continua a doer.
Entro no carro; acendo um cigarro. O odor e a quentura da morte adentram no espaço. Fumo até onde posso, ouvindo o barulho do silêncio ensurdecedor.
Os retratos continuam lá dentro da minha morada. Mas que se dane: eles não mandam mais em mim.
Ligo o carro; dirijo rápido. Ligo o rádio; ouço meu indie favorito. Aquela música que costumávamos ouvir e cantar. Hoje? Hoje eu não sei, não tenho destino.
Estou indo à praia. O mar nunca esteve tão lindo. À luz da lua, acendo outro cigarro. O cheiro da vida adentra na tranquilidade. Maconha me deixa um pouco animado.
Enquanto isso, os retratos acordam; seus olhos piscam enquanto eles envelhecem mais um pouco. Começou um novo dia; eu, sem sono, confiro as estrelas. Nunca o céu esteve tão estrelado. Olho para uma delas; ela pisca para mim. E eu pisco de volta; ela pisca também. Nunca foi assim, tão recíproco. De repente, apago. Como eu sei que eu apago? Sinto-me preso novamente nas ruínas de uma casa abandonada. Os retratos olham para mim. Eu grito, grito e grito, mas o grito nunca grita. A ajuda nunca vem.
No dia seguinte, acordo em casa. Não sei como cheguei de volta aqui. Acordo, vou à sala. Os retratos continuam ali, olhando para mim. Voltaram a dormir, mas acordarão novamente quando sentirem que é hora de me perturbar.
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