mschneider21 Margot Schneider

Texto extraído do livro: “Histórias que a Escola se Esquece de Contar” – Margot Schneider A estória explica de onde veio a idéia de fazer do bastão com uma serpente enrolada o símbolo da medicina.


Kısa Hikaye Tüm halka açık.

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A serpente perpetuada na medicina

“...descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar.”

Khaled Hosseini


Serpentes gostam de comer ratos e onde existe uma cidade, uma concentração de muita gente, existe certamente uma porção de ratos. Manter portanto algumas serpentes não venenosas nas casas e nos templos da antiga Grécia não era atitude incomum. Essa era a maneira natural que os gregos adotavam para acabar com os incômodos ratos. Naquela época, cerca de 3000 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, ainda não haviam inventado algum veneno contra ratos. Mas onde ficava a antiga Grécia? Resposta: no mesmo lugar onde fica hoje.

A Grécia fica no sudeste da Europa e na parte nordeste do Mar Mediterrâneo. E por que dizemos antiga Grécia e não simplesmente Grécia se o lugar ainda existe e ainda tem o mesmo nome? Simplesmente porque estamos falando de uma Grécia de antigamente, de uma cultura daquele lugar que não existe mais.

Um dia os empregados da casa de um grego de nome Melampo mataram duas serpentes que haviam feito ninho sob uma grande árvore do quintal. Melampo, com pena das serpentes, resolveu fazer um funeral para elas. Depois disso se dispôs a cuidar do ninho que deixaram e alimentou os filhotinhos de serpentes quando nasceram.

Uma tarde, Melampo adormeceu sob esta árvore ao lado do ninho de serpentes e de repente acordou com elas brincando e lambendo seus ouvidos. Melampo ouviu então as serpentes dizerem: "Você merece nossa gratidão", e ele surpreso, percebeu que podia ouvir e entender o que diziam. E foi graças a esse dom que recebeu das pequenas serpentes que Melampo desvendou o segredo das florestas, e consequentemente das plantas as quais usava para fazer chás e remédios para curar doenças que atingiam as pessoas.

Esta é uma das tantas estórias maravilhosas tiradas da mitologia grega. Não se sabe ao certo se Melampo realmente existiu, mas os antigos gregos da Ática(1), uma região da Grécia, falavam de um homem com este nome que tinha o poder de curar pessoas das mais complicadas doenças e loucuras.

Mitologia quer dizer, o estudo dos mitos. Um mito é aquilo em que se acredita, independente de ser ou não verdadeiro. E os gregos gostavam de acreditar em explicações fantásticas para o que viam e viviam. Os antigos gregos eram politeístas, ou seja, acreditavam na existência de vários deuses. Eles tinham deuses para tudo. Um deus que governava os céus, um deus que governava o mundo dos mares, um para o inferno, um para a sabedoria, outro para a beleza, outro para a medicina...sim, para a medicina também, e por aí afora.

Tanto para os gregos como para os romanos, o deus da Medicina e da cura não era contudo Melampo, mas sim, Asclépio ou Esculápio. Asclépio era como os gregos o chamavam e Esculápio era como os romanos chamavam o mesmo deus. Como os antigos romanos falavam o latim e nossa língua, o português, deriva do latim, nós também aqui nos referimos ao tal deus mais como Esculápio do que como Asclépio.

Diziam os gregos que Esculápio era filho de Apolo, deus do sol, da beleza, da razão e do equilíbrio. A mãe de Esculápio não era uma deusa, mas uma simples mortal chamada Corônis. Sua mãe morreu e Esculápio ainda bebê foi levado para um centauro(2) chamado Quíron que o criou. Foi o centauro que o ensinou tudo sobre o segredo das plantas para curar e como operar. Quíron era o mais sábio dos centauros e um excelente cirurgião. Daí vem o termo quirúrgico ou cirúrgico.

Esculápio possuía duas filhas que o ajudavam na tarefa de curar: Panacéia – conhecedora de todos os remédios da terra, capaz de curar qualquer doença humana (a palavra panacéia é utilizada hoje em dia para significar “o que cura tudo”) - e Hígia (ou Higéia) – responsável pelo bem-estar social, pela manutenção da saúde e prevenção das doenças, cuidava da higiene e da saúde pública (dela deriva o termo hígido = o que é sadio).

Esculápio estudou a fundo o que lhe foi ensinado e ficou tão bom na medicina que conseguia salvar todas as pessoas de quaisquer doenças e traumas.

Passado algum tempo Esculápio conseguia até mesmo ressussitar (trazê-los de volta à vida) os mortos com suas práticas medicinais e foi aí que ele arrumou problemas com Hades, o deus do inferno.

Uma vez que pouca gente morria, o inferno estava ficando desabitado e Hades, o deus que reinava o inferno, foi reclamar com Zeus, o deus de todos os deuses, e avô de Esculápio. Zeus ficou tão furioso em saber que Esculápio estava quebrando a ordem natural dos acontecimentos ao devolver a vida aos mortos, que resolveu o castigar; jogou um raio sobre sua cabeça e matou Esculápio!

Pois mesmo tendo infrigido as leis do deus supremo de todos os gregos, ele era sempre venerado. Numerosos templos e santuários que funcionavam como hospitais foram erguidos na idade antiga da história homenageando Esculápio. Também muitas esculturas o representando foram encontradas por arqueólogos.

Esculápio é representado normalmente como um homem forte, maduro, vestido com uma túnica que lhe descobre um dos ombros, e apoiado a um cajado onde se enrola uma serpente.

Conta a estória que um dia Esculápio foi chamado às pressas para socorrer Glauco, que havia sido morto por um raio. Esculápio viu uma serpente entrar no quarto onde estava, e a matou com seu bastão. Em seguida uma segunda serpente carregando ervas em sua boca entrou no quarto. Esta segunda serpente colocou as ervas sobre a boca da outra serpente morta, fazendo-a voltar à vida. Observando aquilo, Esculápio pegou as mesmas ervas e as colocou na boca de Glauco, que também ressuscitou.

Curiosamente, foi na mesma Grécia que por milhares de anos responsabilizou seus deuses por dar ou tirar a vida de alguém, onde formaram-se os primeiros conceitos de medicina lógica baseada em diagnósticos (ação de reconhecer uma doença ou problema) e experiências anteriores. Foi no primeiro milênio antes de Cristo que a medicina pela primeira vez deixou de ser um assunto ligado à prática de magias e cultos para virar uma ciência. Os sacerdotes (aqueles que se ocupam dos assuntos religiosos) que cuidavam dos doentes e feridos através de rituais passaram no decorrer dos anos a serem substituídos por pessoas comuns que obtinham mais sucessos ao cuidar dos enfermos (doentes) porque substituiam a mágica pela investigação. É preciso ser um bom observador dos sintomas (sinais) do paciente e também um profunto pesquisador para se ser um bom médico.

Por respeito à sabedoria da antiga civilização grega, que foi pioneira (a primeira) em reconhecer a medicina como uma ciência, o bastão com a serpente enrolada de Esculápio se tornou o símbolo da medicina na maior parte do mundo e também está presente na bandeira da Organização Mundial da Saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU) especializado em saúde. A OMS foi fundada em 1948 e sua sede é em Genebra, na Suíça. A OMS tem por objetivo desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos. A Organização Mundial de Saúde entende por saúde o “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade.”

A mitologia confunde-se (mistura-se) frenquentemente com a história, fazendo-nos questionar se Esculápio teria de fato existido ou não. Por mais duvidoso que seja acreditar em sua existência, seu nome aparece no entanto, em um antigo livro famoso de nome Ilíada, escrito por Homero entre 750 a.C. (a.C. quer dizer antes de Cristo) e 725 a.C.. No livro Ilíada, Esculápio aparece como um médico famoso que realmente existiu e era bem sucedido (tinha sucesso) ao tratar feridos na Guerra de Tróia. Verdade ou não, o nome e as estórias de Esculápio fizeram tanto sucesso que até os dias de hoje ele é lembrado nos cartões de apresentação de todos os médicos. O bastão e a serpente de Esculápio, que talvez tenha vivido por volta de 1200 a.C. (anos antes de Cristo), se tornou o símbolo da medicina e perdura até hoje, mais de 2000 anos depois de Cristo.


Notas:


1 - Ática: região da antiga Grécia onde ainda hoje no centro está localizada a capital daquele país, Atenas. A pequena península Ática é banhada ao sul e a leste pelo mar Egeu.

2 - Centauro: ser mitológico, metade homem e metade cavalo.

3 - Khaled Hosseini: é um médico e escritor afegão (que nasceu no Afeganistão) nascido em Cabul (capital daquele país) em 1965 e naturalizado nos Estados Unidos da América. É dele o famoso romance “O Caçador de Pipas" que também virou filme.


Teste seu conhecimento:


1 - O que um centauro na mitologia grega?

1. Um ser com corpo de cavalo e tronco e cabeça de gente;

2. Um ser metade cobra, metade gente;

3. Um ser metade touro, com asas e metade urso;


2 – Em que continente fica a Grécia?

1. Na Ásia;

2. Na Europa;

3. Na América Central;


3 – O que é Mitologia?

1. É o conjunto de estórias maravilhosas e fatásticas da Grécia;

2. É a ciência dos mitos;

3. É o estudo dos mitos;


4 – Como se chamava o Deus da Medicina para os gregos?

1. Esculápio;

2. Asclépio;

3. Melampo;


5 – Quem era o Deus do Inferno na mitologia grega?

1. Hades (em grego) ou Plutão (em latim);

2. Hermes (em grego) ou Mercúrio (em latim);

3. Zeus (em grego) ou Júpiter (em latim);


6 – Qual é o símbolo da medicina?

1. Um bastão com uma serpente enrolada, em alusão ao bastão de Esculápio;

2. Um bastão com duas serpentes enroladas, em alusão ao bastão de Melampo;

3. Um bastão com uma serpente enrolada, em lembrança às sabidas cobras que conhecem os segredos da natureza;


7 – O que é a OMS e onde fica?

1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU) especializado em saúde. A OMS fica em Genebra, na Suíça;

2. A Organização de Medicina e Saúde (OMS) é um órgão que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU) especializado em saúde. A OMS fica em Berlim, na Suíça;

3. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão que faz parte da Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura (UNESCO) especializado em saúde. A OMS fica em Paris, na França;


8 – Quem escreveu o famoso livro Ilíada?

1. O grego Esculápio entre 750 a.C. e 725 a.C.;

2. O grego Homero entre 750 a.C. e 725 a.C.;

3. O grego Péricles entre 495 a.C. e 429 a.C.;


9 – Qual é a capital do Afeganistão?

1. Kabul;

2. Teerã;

3. Astana;


10 – Quem escreveu o famoso livro “O Caçador de Pipas”?

1. Asne Seierstad;

2. Khaled Hosseini;

3. Salman Rushdie;

05 Ekim 2022 17:58 1 Rapor Yerleştir Hikayeyi takip edin
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Son

Yazarla tanışın

Margot Schneider Margot Schneider é o pseudônimo adotado pela escritora brasileira, nascida em Santos. Mudou-se para São Paulo, estudou Ciências da Computação o que lhe permitiu mais tarde trabalhar como desenvolvedora de sistemas de informação na Suíça, onde mora desde o ano 2000. A escritora adora tocar piano, violão, ler, viajar, conhecer gente, conversar, aprender outras culturas, novas línguas e atualmente só usa os computadores para trocar e-mails e escrever, mais uma paixão descoberta.

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SF Simone Ferreira
Interessante e bem escrito ☺
October 06, 2022, 01:14
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