Depois de mudar pra cidade grande passou por diversos processos, primeiro aprender viver sozinha, cozinhar, escolher frutas na feira e ir ao supermercado pelo menos a cada 15 dias, não deixar faltar produtos de limpeza, trocar o miolo de todas as fechaduras pra que não houvesse chance de arrombamento. É, morar naquele apartamento pequeno era até aconchegante, as vezes.
A varanda de vidro tinha uma vista espetacular no fim da tarde, aquele ângulo banhava a sala de uma luz dourada completamente deslumbrante, era nessa hora que costumava fazer suas fotos, vivendo muitos anos sob o jugo da religião, do machismo familiar e das mulheres que não buscavam um jeito de se libertar disso, em tempos difíceis encontrou um site para vender fotos, começou com coisas casuais, uma parede, uma flor, a cesta de frutas, adorava luzes, cores e contornos e começou a tirar uma grana daquilo ainda jovem, aos 20 decidiu que ia embora, queria estudar, queria acima de tudo viver.
Foi um inferno em casa, convencer a mãe, o pai que seria melhor assim custou pelo menos 3 surras, muitos xingamentos de ingratidão e palavras nem um pouco amorosas da parte de quem deveria lhe proteger e amar.
Os primeiros móveis, enfeites, roupa de cama sempre lhe traziam uma emoção diferente até que a grana começou rarear, muitas meninas estavam migrando para sites adultos, mas ela não queria aquilo, seu corpo era o templo do eu, dividir ele com tantas outras pessoas não estava em seus planos. É claro que não, porém, no final do mês os boletos chegam, a geladeira esvazia e ainda faltavam 4 períodos pra terminar a faculdade e procurar trabalho em sua área. Se olhar no espelho e decidir que de alguma forma venderia meu corpo para sobreviver foi outro dos processos escolha e aprendizados. Não ia mostrar o rosto, nunca, jamais, seria consumida, avaliada e distribuída mas isso não iriam tirar dela. Podiam reconhecer suas tatuagens, podiam vazar parte por parte do seu ganha pão mas não o rosto. Muito menos a alma. Com uma cortina branca, um tapete e algumas almofadas montou o pseudo set, era aquilo, era agora ou nunca. Tomou um banho, fez uma depilação, caprichou na esfoliação, se hidratou, lavou os longos cabelos e não vestiu uma roupa, com o celular e um pedestal simples fez poses, caras, closes abusados, mas era isso, sentia ali que não pertencia mais a si mesma mas a vida exigia respostas rápidas, era aquilo ou passar fome. Quando se sentiu pesada e sem esperança terminou a sessão. Agora teria que escolher as fotos, um novo nome, um perfil esquivo, tratar as imagens, colocar alguns efeitos e postar.
Resolveu que ia ver aquilo de uma forma completamente profissional, se distanciar emocionalmente de quem era e ganhar sua grana, era isso.Cada cicatriz, manchinha, estria, sinais eram seus, lhe compunham como o eu, mas para ter coragem de se mostrar colocou barreiras tão fortes que em 2 meses não sentia mais o desconforto inicial, o cuidado com o rosto e as tatuagens era rígido mas uma ou outra escapavam as vezes, quando isso acontecia recebia mais grana, aprovações e elogios, não fazia tantos nudes apesar de provocativas as fotos eram de muito bom gosto, começou ser reconhecida na plataforma, subiu o preço dos ensaios e mudava os temas, figurinos, o mistério alimentava a curiosidade e sua conta no banco saia de um vermelho preocupante para gordos e temporários verdes, nas redes sociais tinha se tornado mais esquiva e reservada que antes mas assim garantia o mínimo da privacidade moderna que pensamos ter.
Celinne tinha conseguido, era uma mulher bem sucedida antes dos 23 anos,apartamento próprio, notas altas em um promissor curso, independente, senhora de si e sentindo - se viva; como nunca antes.
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