wesleydeniel Wesley Deniel

Se você procurasse pelos verbetes "ganância" e "sordidez" em algum dicionário atualizado, provavelmente encontraria a imagem de Vieira Coutinho bem ao lado de algum deles. Sempre de olho em alguma oportunidade que o tirasse da ordinária existência que levava, não poderia deixar escapar um peixe (ou porca, como gostava de pensar nela) como Bianca de Buonaventura. Levá-la na bicaria foi moleza. Amá-la? Detalhe insignificante. O único problema seria lidar com seus sogros. Ambos o detestavam; Vieira os odiava ainda mais. A questão era: até onde o velhaco estaria disposto a ir para vencer essa contenda?


#1 içinde Suç 13 yaşın altındaki çocuklar için değil.

#família #comédia #angst #autoestima #mentiras #humor #crime #abuso #morte #golpe #dinheiro #marginal #sentimentos #maldade #realismo #drama
Kısa Hikaye
70
11.1k GÖRÜNTÜLEME
Tamamlandı
okuma zamanı
AA Paylaş

AQUELE JANTAR

Nestor e Salete de Buonaventura odiavam o genro. Ponto. Mas não havia problema: Vieira também os detestava. Seus santos não bateram desde o primeiro dia em que puseram os olhos no rapaz. Não tinha o brio necessário para namorar sua bambina dourada; era bem simples de entender, até. Mas Viera tinha que se fazer de rogado!

O velho não se conformava que o cretino magricela e de cabelo lambido (Ah, se não tivera vontade de esbofetear aquela carinha latina de gigolô diversas vezes!) tivesse tomado sua Bianca daquela maneira, fazendo-a inclusive abandonar a faculdade e o futuro que sonhava para ela em sua firma de advocacia; tudo para seguir ao marido – marido! No final o desgraçado conseguira tornar-se seu marido! – numa loucura sem pé nem cabeça de abrir uma cantina italiana! Conseguem ver o disparate?!

Vieira Coutinho sequer saberia apontar no mapa mundi onde ficava a Itália, e a única coisa com que se identificava com os paisanos era gostar de beber vinho. O Sr. Nestor, num ataque de pirraça, tornara-se abstêmio. Nunca mais pusera uma gota de seu amado Brunello di Montalcino na boca. Ora! Não compartilharia tal prazer com o malandro. Se quisesse, que fosse beber na zona, com a mãe.

Mas Vieira não precisava do velho carcamano para desfrutar de tais prazeres: sua Bianca logo fora convertida numa apreciadora e companheira de pileques. Salete, que vivia mais a serviço do bom Deus na paróquia de Fátima que em sua própria casa, quase teve um derrame ao ver Bianca e o canastra de seu consorte chegando ao jantar que dera para alguns membros da igreja – inclusive o vigário e seu amigo, o bispo de São José do Rio Preto, sem dúvida o convidado de honra – trançando as pernas, rindo feito macacos, cada um com uma taça na mão.

— É isso que escolheu para a sua vida, Bianca?! — gritava Nestor. Toda a maldita cidade saberia daquele papelão antes que o galo cantasse. Ah, sim. As visitas, entre olhares e cochichos, foram deixando o casarão não muito depois que Vieira e Bianca, trôpegos e cheios de forçosa simpatia, sentaram-se para comer (desta feita, uma verdadeira pasta italiana da melhor qualidade), ele com uma crise de soluços que fazia tremer seu bigodinho ordinário e ela balbuciando coisa com coisa aos presentes, com aquela mancha acusatória violácea na gola da blusa de dois mil reais que a avó lhe dera antes de ascender à grande Villa Toscana lá no céu.

— E se for, papa? Não irá me apoiar?

— Não vê o que está fazendo com il nostro nome?

— É isso que vocês são? Apenas um 'nome'?

— É sobre toda nossa gente! Você não pode nos transformar em...

—Espere, papa — disse Bianca, tentando manter a voz firme, mas sem muito sucesso. — Vocês não serão uma espécie de... clichê só porque o Vizito e eu queremos abrir uma cantina. É uma homenagem às nossas raízes!

Questo buffone não tem nada com nossas raízes! E acha que não sei que você só está reproduzindo o que ele te instruiu a falar? Ah, per favore!

O senhor pensa que pode mandar em mim, como faz com ela. Mas eu sou livre, papa!

— Veja o estado de sua mama! — implorou Nestor, apontando a mulher com as duas mãos, como um pizzaiolo ofendido numa ópera bufa.

Salete estava estirada no sofá em uma pose dramática, desvencilhando-se das tentativas atabalhoadas do genro de lhe esfriar a testa com uma bolsa térmica cheia de gelo. Era provável que ela preferisse que Nestor a tocasse (coisa que não fazia desde 2005, quando Bianca ainda tinha cinco anos) que aquele arremedo de Fredo Corleone. Agitava a mão, empurrando-o e se lamentando num italiano choroso.

— Mama, me deixe cuidar da senhora...

— Não sou sua mama, miserabile ubriacone! Preferia parir um leitão, que Dio mi perdoni. E de atravessado!

— Não sei do que ela me chamou — disse Vieira, olhando para Bianca —, mas coisa boa não foi.

— Eu bem que falei para não bebermos hoje!

— O que são três garrafas de Sangue de Boi, Bianca? Eles é que não entendem nada sobre se divertir.

Nestor estava vermelho como o diabo.

— Esta é a sua ideia de diversão, barbone senza valore?

Pelo olhar do sogro, e aquele .38 enfiado bem à mostra na cintura, Vieira sabia que não era apenas a cor do homem que fazia lembrar o Senhor das Moscas. Apostava que suas intenções provavelmente rivalizassem com as do maioral dos infernos.

Também não lhe agradava nem um pouco que o ficassem ofendendo naquela língua chula de mafiosos. Quem eles pensavam que eram?!

São os pais dela, e os donos da herança dela.

Aquilo o fez forçar um sorriso conciliatório, talvez fingir que não sabia estarem o excomungando. Não era tão difícil, afinal; tudo o que precisava era aguentar mais o que, uns três anos? Não era possível que aqueles dois dinossauros fossem enrolar por aqui por muito mais tempo!

Vieira, de fato, pensou que a velha teria grandes chances de ir ao encontro de nona Ermelina naquela noite quando os vissem entrando pelo jardim, ébrios. A velha soltaria a travessa de lasanha ou berinjelas gratinadas sobre a sotaina do padre Gino, levaria as mãos às têmporas ou ao peito que carregava duas melancias e tombaria em seguida, fulminada. Porém a matrona – desgraçada fosse! – era forte.

Mas um dia... Um dia.


...


Voltaram para Rio Preto com Bianca dirigindo (a espinafração que levara do pai tinha lhe devolvido a sobriedade antes da dele) e Vieira pensando em como seria complicado levar em frente seus planos com aqueles dois jogando areia em tudo o tempo todo.

Bianca lhe sorriu, cansada. Tinha uma cara tão redonda quanto à da velha e o pobre golpista já não conseguia mais aguentá-la tão bem como no início. Ele fez uma piada qualquer sobre o fiasco da noite e ela começou a chorar. Era só o que faltava.

— Eles estão certos, Vizito — disse a garota com o que restava da maquiagem carregada escorrendo e a transformando num boneco de ventríloquo gótico. — Eu não deveria ficar dando ouvidos a tudo que você me fala. Era uma noite importante para mama e papa.

— Ora, mas era pra você?

— Bem... Não — disse Bianca e assoou o nariz na gola manchada de vinho da blusa de nona Ermelina. A avó devia estar se revirando na sepultura, na Toscana. Se ainda tinha alguma dignidade, aquela cena nauseante a extinguira de vez. — Mama sabe que não ligo com esse negócio de igreja e... Prrrrrrrr! — Fez de novo a coisa com o nariz. Santo Deus. — Sei lá. Acho que você não é bom pra mim.

Não sou nem para mim, sua coisinha remelenta. Se fosse, ainda estaria lá em São Paulo, ganhando minha grana como michê.

Logicamente, Bianca nem sonhava que o marido um dia fora prostituto – e nem dos mais refinados. Era um segredo que ele conseguia trazer oculto; mesmo Nestor que fuçara a vida dele com a ajuda de um detetive particular (sim, ele sabia daquela pequena vilania do sogro) fora capaz de cavar o bastante para trazer seu passado de puto barato à tona.

Achava que, se tivesse se destacado mais na cena paulistana, feito amigos de maior influência à época, o aeroporto de mosquito que o investigara teria achado algo o que dar ao velho. Afinal, descobrira sua origem rio-pretense e até que sua mãe havia sido uma mulher da vida. Bom para ele ter permanecido invisível. Agora poderia papar um bolo bem mais confeitado.

Vivia modestamente e com um teto sobre a cabeça como garoto (e de vez em quando, garota) de programa e pensava que, se não levasse uma vida tão desregrada, teria conseguido juntar uma grana para poder parar com o duvidoso ofício; contudo, a veia de beberrão e apostador pulsava mais forte. Deixara sua querida e odiada capital com pouco mais que três mil reais e uma mala de roupas puídas para começar de novo na não tão lucrativa São José do Rio Preto, onde jurara nunca mais pisar.

Mas não era toda a verdade, não é mesmo? São Paulo podia ser uma metrópole onde o que não faltava era corpos nos finais de madrugada – muitos esquecidos para se tornarem pó em caixões de caxeta em covas sem nome –, porém, quando padrões começavam a surgir, quando algum dos mortos era alguém digno de um obituário no jornal mais mequetrefe, investigações precisavam ser feitas.

Quando Vieira partia para esse lado, nunca transava, não entrava nos carrões dos veados ou das velhas para não deixar pelos ou digitais; convencia suas vítimas a foderem pelos becos, onde a polícia teria de peneirar mil vestígios sem chegar à parte alguma, e lá dava um jeito de acertar suas cabeças com qualquer coisa e roubar-lhes os pertences.

Só que um dia, acabou apanhando o celular de uma senhora cuja filha vinha se preocupando com seu novo estilo ‘pós-viuvez’ e instalado nele, secretamente, uma dessas merdas que prometem localizar pessoas, gatos ou veículos, o que quase custou sua liberdade. Os investigadores haviam chegado bem perto. Fizeram uma batida nos prédios da vizinhança onde morava e não o pegaram apenas porque, bêbado, deixara o aparelho sobre um latão de lixo ao parar para urinar numa viela três edifícios antes do seu e estivera usando luvas de frio naquela noite.

Mancada. Grande mancada, Vieira. Era hora de desaparecer.

Por isso, adeus terra da garoa, e olá de novo, Rio Preto!

Quando sopesou beber todo o dinheiro e partir para alguma esquina do Distrito Industrial num vestidinho apertado e enchimento de espuma nos peitos – quem sabe começar uma nova temporada de latrocínios – ou usá-lo para se aproximar dos peixes grandes da cidade, escolheu a segunda opção. Tinha um espelho de corpo inteiro no banheiro da espelunca de frente para a antiga rodoviária onde se hospedara ao chegar e entendeu que, mesmo para um puto meio medíocre, seus dias de fazer grana com o corpo já iam ficando para trás.

Quanto ao seu lado ainda mais obscuro... Rio Preto não era um playground tão propício para se brincar quanto a grande São Paulo com seus 12 milhões de habitantes, quase todos invisíveis uns para os outros.

Tudo bem. Golpes inofensivos, então. Mas onde?

Uma noite, andando sem rumo, passou diante uma faculdade pelos lados do Jardim Alto Rio Preto. Era a hora do intervalo das aulas e o boteco da esquina estava lotado de todo tipo de figuras exóticas se embebedando. E, claro, havia um monte de gatinhas também. Vieira não ligava muito se o cofrinho a cuidar seria um homem ou uma mulher, mas sempre pendera um pouco mais para o lado das señoritas, então se pudesse escolher...

Escorou-se em um sedan preto que devia valer mais que do ele e a mãe, juntos fizeram em todos seus anos de prostituição, e que ganhariam pelas próximas duas ou três encarnações. Ficou medindo cada um que passava, imaginando as vidas que seus papais e mamães ricaços deviam lhes proporcionar.

— Oi! Desculpe, mas tem como desencostar do meu carro, por favor?

O rapaz seguiu a voz sem ver a quem pertencia. Estava pronto para mandar a pessoa tomar no rabo, fosse quem fosse, mas engoliu o palavrão quando viu a jovem e roliça universitária, tão cheia de colares, pulseiras e anéis de ouro que lembrava uma daquelas modelos de programas de venda de joias das madrugadas.

— Eu que peço desculpas. Será... Puxa, será que arranhei a...

— Não! Imagine. Não esquenta com isso — disse a garota, sorrindo-lhe com a timidez que ele às vezes até conseguia gostar. — Só pedi licença porque vou sair.

— Ah, sim. Fique à vontade.

Naquela noite Vieira não fez mais que vê-la indo embora com uma amiga que o ignorou como a um cocô de cachorro, mas na seguinte, ele estaria lá novamente. Ora, podem apostar que sim!

Na noite seguinte, no mesmo horário, a jovem apareceu, bamboleando naquele andar característico, meio de um lado para o outro, descendo a escadaria da faculdade e cumprimentando timidamente um ou outro tipo esquisito. Dessa vez ela não parecia um manequim de joalheria como na anterior, mas estava muito bem vestida. Pelo bem da verdade, Bianca fazia compensar sua aparência que pendia para o abandono no modo requintado como se produzia. Carregava às costas, como um marinheiro saindo de um navio, uma bolsa que Vieira achou que poderia comportar uma criança dentro.

— Olá! — disse Viera, aproximando-se como quem não quer nada.

Ela não o reconheceu de imediato, mas quando ele se pôs diante dela, o sorriso de... de uns dez reais no rosto e disse “Sou o cara de ontem à noite, estava encostado em seu carro, lembra?”, ela logo se iluminou. Deus meu, como essas coitadas deixadas de lado caem fácil num rosto amigável, pensou Vieira e, desta vez, não perdeu tempo em se apresentar.

Três beijinhos trocados, ele soube que o cofrinho da vez chamava-se Bianca de Buonaventura. Como um verdadeiro cavalheiro rusticana das antigas, Vieira ofereceu o lombo meio raquítico para carregar aquela bolsa monstruosa. Ela havia estacionado um tanto longe naquela noite, então aceitou.

Abracadabra! Estava aberto o caminho.

No trajeto, ela o agradeceu; apesar de ainda ser praticamente um estranho, um homem só meio conhecido era melhor que nada para atravessar os quatro quarteirões tomados de escuridão que separavam a faculdade de onde tinha parado seu Civic.

Além do mais, Vieira tratou logo de falar de si o bastante para conseguir sair com ela dali e não apenas deixá-la ir embora de novo. Formulara uma história durante à tarde para o caso de encontrá-la; nada muito elaborado, só a trama básica do garoto aspirante a uma alguma carreira modesta – de cozinheiro, talvez – que pretendia se matricular na semana seguinte, assim que os pais lhe encontrassem uma casinha não tão longe dali e a um preço acessível.

— Nossa; sério? Eu AMO gastronomia! Sou filha de italianos. O que não falta lá em casa é massa.

Percebe-se.

Mas claro que ele não disse isso. Apenas sorriu e lhe confiou que massas eram uma de suas paixões também. Outra mentira deslavada, já que comera tanto miojo em seu tempo de amante de viúvas e enrustidos que havia tomado nojo pela coisa.

— E quais são as outras? — Nisso, já estavam diante do carro.

— Ser um romântico.

Bianca corou feito um rabanete, mesmo na penumbra.

— Esse tipo está em falta hoje em dia — disse.

— Acho que a maioria dos homens não consegue ver uma mulher de verdade quando encontram uma. Eu, sim. — E com isso deu um passo para mais perto dela.

Ceeerto. Se Bianca tivesse um pouquinho (não precisava muito, só um tiquinho mesmo!) de autoestima que lhe proporcionasse algum equilíbrio emocional, e padrões mais elevados, jamais teria caído naquela cantada fuleira de galã de novela mexicana – ou italiana. Mas Deus sabia quanto já haviam zombado dela, como a adolescência no colégio tinha sido recheada de apelidos ou apenas de pura solidão, para que quando ouvisse um homem até bonitinho dizer algo como aquilo, deveria ser grata aos céus e aceitar feliz o que viesse em seguida.

Triste. Lastimável. Mas, infelizmente, o mundo estava cheio de garotas de vidas amargas como Bianca e, para seu azar, de cretinos como Vieira Coutinho. Então, em dois quarteirões e com meia dúzia de galanteios risíveis, o ex-michê tinha conseguido marcado seu gol.

O passeio tornara-se uma carona, depois um jantar num lugarzinho simpático e então uma noite de sexo no apartamento da garota, no centro da cidade. Vieira deu o melhor de si – o que nem era muito – na transa, que fora o bastante para deixá-la gamada. Se haviam existido outras para Bianca, deviam ter sido fodas desajeitadas, sem convicção de rapazes excluídos iguais a ela, então o trabalho desempenhado pelo gigolô a levara às nuvens.

Os dias e a presença constante de Vieira se incumbiram de enredá-la ao rapaz que, aos poucos, como é costume dos dominadores, cuidou para que a jovem fosse se afastando de todos que antes pudessem ter alguma influência sobre ela. E a primeira foi aquela sua amiga arrogante que desfizera dele no dia em que se conheceram. Délia logo estava completamente esquecida.

Em poucos meses, o rapaz já vivia feito um nababo. Mudara-se de mala e cuia para o agradável loft que sua namorada ganhara do pai ao aceitar cursar direito em vez de nutricionismo (uma profissão de mentirinha, para o velho antiquado) e gastava seu cérebro apenas imaginando um meio de adiar sua tal inscrição na faculdade.

A desculpa que coubera melhor fora “Quero adquirir alguma experiência prévia cozinhando em casa. Quero estar preparado quando me testarem para uma vaga lá no curso; entende? Um estágio. Ou até, quem sabe, direto num emprego.” Bianca, nunca fazia objeções, estivesse ela apaixonada ou apenas aproveitando também do sexo e da culinária que Vieira realmente começava a aprender. Às vezes ele achava tratar-se da comida, mas que se danasse.

O próximo passo? Casar-se com a riquinha, é claro. E conquistar não somente sua prenda, mas também a fonte do cascalho por trás dela: seus pais. Com os velhos no papo, seria só esperar os louros da vitória.

Vieira não poderia estar mais enganado.


...


Salete, nem tanto, mas Nestor de Buonaventura conhecia um enrolador a quilômetros; é o que os advogados fazem, e foi só dar uma boa olhada no rapaz oleoso e de olhinhos cobiçosos que a filha trouxera para sua casa, seu sanctum sanctorum, e apertar aquela mãozinha macia e de dedos leves que nunca vira trabalho pesado, para entender que a coisa não custaria a degringolar.

Vieira levou os mesmos quinze segundos para compreender que eles seriam um paralelepípedo em seu sapato. Recepção calorosa? Esqueça. Trataram-no um degrau acima do que fariam com um cigano que lhes batesse à porta tentando vender um cão, e, tão logo tiveram chance, batucaram a cabeça da filha como uma zabumba para que tratasse de ver o tipo que vinha permitindo deslizar por sua vida.

Mas ela os ouviu? Ora, se tivesse ouvido não se teria casado com o embusteiro; não o deixaria levá-la pela estrada dos tijolos de ouro dos tolos em cada ideia absurda dele e, com certeza não permitiria que a situação chegasse ao ponto sem volta de dar-lhe tanto poder sobre sua vida.

O casamento foi simples e algo cinzento, realizado em um cartório civil, numa saleta meio bolorenta e por um escrivão entediado; além de três ou quatro conhecidos de Bianca, ninguém mais esteve presente, nem mesmo os pais da jovem.

Agora era tarde: já fora transformada num fantoche. E, se por acaso, um dia a infeliz tentasse se rebelar...

— O que diabos quer dizer com “Não sou bom para você”, hein? — As árvores e muretas da rodovia passavam como borrões sob o luar. A cabeça de Vieira doía, nem tanto pelas garrafas de vinho, mas pela arrogância dos pais de Bianca – e então aquele choro irritante. — A culpa de ter um velho sovina e uma carola afetada te enchendo agora é minha?

— Não é isso, mas...

— Ah, Bianca, faça o favor de só dirigir calada. Se não enrolar muito, pode ser que eu ainda pegue o final do futebol.

— Você nunca me deixa falar!

— Tem uso muito melhor para essa sua boca.

— Você é um estúpido! — retrucou a jovem. — Meus pais estão certos! Não sei por que ainda continuo aguentando tudo isso.

Vieira preparou um soco e Bianca chegou a resvalar para a pista contrária com o susto, mas ele, possivelmente por autopreservação, afrouxou de novo a mão.

— Acho que não me ama mais — disse Bianca. — Nunca me amou.

Vieira apenas mentiu: — Besteira sua.

— Ah, qual é?! Se eu fosse uma fodida, acha que estaria comigo?

— Não sou exigente.

— Só me chama por apelidos... Gorda, Tambor, Triturador de comida...

E a dor de Vieira só piorava. Agora tinha um festival de rock acontecendo bem no fundo do cérebro.

— É só zoeira — tentou, para ver se ela se calava.

— Não... Acho que cada coisinha que fala é a sério.

— PORRA! CALA A BOCA, SUA MONGA!

Com aquilo ela se emudeceu. Só voltariam a conversar no outro dia, no almoço de domingo, que faziam no bar em que ele gostava de assistir ao campeonato depois de comer e se entupir de vinho feito Lorde Byron. Geralmente, ela passava a navegar no celular enquanto ele se esquecia de sua existência, gritando com o juiz do jogo e só voltando a pensar nela na hora da infeliz se levantar e ir pagar a conta.

Mas não hoje. Naquela tarde Bianca parecia ter outros planos.

— Conversei de manhã com papa, te contei?

— O que fala com aquele xarope não me interessa.

— Bom, mas tem a ver com a gente, Vizito.

O rapaz congelou no ar o ato de levar a colherada de farofa à boca. Ergueu os olhos para mirar a garota.

— O sacana não vai te arranjar a grana pra cantina, é isso?

Bianca se encolheu. Ele já havia lhe apresentado os punhos algumas vezes e o olhar que vinha antes deles voarem até seu estômago (nunca no rosto ou em partes do corpo que ficassem à mostra) era exatamente o de agora. No entanto ele não poderia fazer nada ali, certo? Em casa, talvez, mas não no meio de toda aquela gente.

— Pelo contrário — respondeu Bianca, um quê de desafio surgindo em sua face arredondada. — Vai me dar cinco vezes o que pedi.

O semblante de “Veja lá o que vai dizer ou te faço devolver o almoço” sumiu. Ele até conseguiu lhe sorrir.

— Puxa! Então vamos lá, pode me contar.

— Vai me dar três milhões, e um apartamento no país que eu decidir ir viver... Se concordar em voltar a estudar direito.

Maravilha! Ter um restaurante nalgum bairro nobre da cidade seria muito bom, mas um vinhedo na França estava além de seus sonhos mais luxuriantes!

— Cacete! É uma ótima notícia!

— Contanto que eu vá sozinha.

O sorrisinho de Vieira trincou. Se ele não fechasse a boca, os dentes teriam se soltado e caído em seu prato fundo de glutão.

— O CARALHO QUE VOCÊ VAI!

Todos ao redor pararam de comer. A coisa saíra bem mais alto que ele queria. Então Vieira se recompôs e disse:

— Vamos pensar com calma nisso, certo? E não aqui. Lá em casa.

Cercada por outras pessoas, Bianca ficava mais confiante.

— Acho melhor conversarmos aqui mesmo. — Chegou mais perto do marido, o busto quase afundando na travessa de salpicão. — Cansei de viver com medo.

— Medo do quê? Dos russos?!

— De você me... Sabe...

— Fala baixo, porra — sibilou ele, entredentes.

— Vai me bater quando chegarmos ao apartamento.

Vieira deu-lhe um sorriso de “Mas que tolice!”.

— Não, querida... Se eu faço isso de vez em quando, é para seu...

— Se disser novamente que é para o meu bem, grito aqui mesmo.

Maldição; aquilo estava saindo de controle. Vieira enxergava não só sua porra de cantina descendo pelo ralo, mas agora o vinhedo que começara a imaginar também. Pior: via-se novamente nalguma rua deserta, pelas madrugadas, trepando com velhos e machões cheirando a suor, chupando e sendo chupado, dando e...

Não.

Foi um pensamento simples e direto: Não.

Nunca mais vestiria um par de meias de rendinha, nem que tivesse de matar a família toda daquela porca na sua frente para isso!

Antes de pô-lo de volta para foder e ser fodido, daria um jeito neles.

O que viria depois de se convencer disso... Santa Mãe...


...


Após aquela cena, da audácia de Bianca, na contramão do que temia a garota, Vieira não tocara num só fio de cabelo dela. Negativo. Ao invés disso, ele se levantou, pegou a comanda e pagou ele próprio a conta. Voltou do interior do estabelecimento com um sorvete para a esposa, aquele com cobertura crocante de chocolate que ela adorava.

— Aqui. Achei que iria gostar.

Bianca o encarou, estudou-o por um bom tempo, como se pensasse que Vieira fosse um daqueles artistas exóticos, de múltiplas personalidades. Mas, se por não ser lá muito inteligente ou ingênua em excesso, logo a garota apenas desfez aquele olhar de cachorrinho desconfiado e agarrou o sorvete.

— Obrigada.

— De nada, Bia. Eu não quero que nosso domingo seja estragado por bobeira. Espero conversar de verdade com você, e até com seus pais; tentar mudar.

— Ah, Vizito, acho que nós não...

Como, em nome de todos os demônios do inferno, ele odiava aquele ‘Vizito’. Sua vontade foi de tomar o sorvete das mãos da miserável e enfiá-lo em seu olho até que o palito varasse na nuca.

— Ora, deixe disso... — disse, controlando-se. — Nada se resolve sem uma boa conversa, Bianquinha. Venha. — Ofereceu-lhe a mão. — Esta noite, vou cozinhar. Vou preparar tudo que você gosta. Então discutimos o assunto de boa. Se os seus planos continuarem iguais... — Ergueu os ombros.

— Irá aceitar sem mágoas?

— É claro que vou — disse ele, beatífico. — Vamos embora, quero que comece a pensar no jantar.

O resto da tarde foi agradável. Tanto quanto Bianca poderia desejar.


...


Vieira, para início de conversa, não tocou mais no assunto do almoço. Levou-a para o prédio ouvindo as músicas que ela mais curtia (e ele detestava), e nem fez questão de subir. Queria que ela tivesse um tempo para pensar neles dois com calma, com todo o carinho que sabia ainda existir naquele coraçãozinho.

Iria dar uma volta, arejar os próprios pensamentos; seria melhor assim. Então voltaria, tomaria um banho e prepararia o jantar.

Quando voltou para o Civic – mais dele que dela, agora – pegou o celular e pôs-se a monitorar as conversas da esposa. Era fácil, o mesmo tipo de merda que quase o levou para a cadeia, mas essa não rastreava, apenas interceptava as ligações de quem tivesse seu celular pareado.

Bianca falava com a mãe; embora nervosa (e um pouco desconfiada ainda), lhe contava da conversa do comecinho da tarde e de como surtira efeito. Vieira tinha sido convertido naquilo que ela sempre esperara: um marido mais atencioso. A velha bruxa má e com peitões de melancia quis saber se, ainda assim, a filha seguiria firme com a decisão tomada pela manhã.

— Acho que sim, mama.

Então quer dizer que já se decidiu, hein?

Vieira engatou a marcha D e foi arejar os pensamentos, como dissera.


...


Ele ficou fora por umas quatro horas. Sua primeira parada fora na academia. Não havia muita gente disposta a malhar num domingo, então ele teve vários equipamentos apenas para si. Tomou uma ducha, foi até seu armário e vestiu uma muda de roupas reserva que deixava lá para quando desse alguma escapadinha; depois colocou a que viera por cima e saiu. Caminhar na represa municipal seria um ótimo complemento para seus exercícios.

Estacionou num lugar mais afastado, comprou uma água de coco num quiosque e passou diante de tantas câmeras quanto conseguiu encontrar. Até brincou e tirou fotos com algumas capivaras ao fundo. Depois voltou para o carro por uma trilha remota e imaginou que uma ida até Fronteira talvez fosse mais producente.

Entender-se com os velhos de sua mulher seria importante para tentar salvar seu futuro. Sim... Faria uma visita a eles. Como dizia: conversar era preciso.

Tomou o caminho mais longo, passando pelas estradas mais tranquilas – e sem postos de pedágio (ele odiava a exploração daqueles chacais) – e foi ver os sogros.

Mais ou menos oito da noite, chegou ao apartamento. Bianca esquecera-se do marido; ouvia Anitta e tirava as cutículas, preparando-se para estar bonita para ele.

— Oieee! — disse Vieira ao cruzar com ela na sala. Sorria como um garoto propaganda de creme dental e trazia consigo uma sacola cheia de ingredientes para o jantar.

— Oi Vizito! Teve uma boa tarde?

— Sim. Foi bom ter tirado um tempo só. Estou me sentindo outra pessoa!

E seguiu para a cozinha. Pediu que ela não viesse espiar: queria surpreendê-la.

Às dez da noite (não tinham horário para comer), a refeição estava servida.

— O cheiro está incrível!

— É a vitela — disse à Bianca. — Tem um sabor sem igual também.

Vieira fizera tudo: a refeição; aprontara a mesa... Queria mesmo impressionar.

Serviu-a de um bom Chianti gelado. Depois começou a trazer os pratos: ravióli com molho à bolonhesa e, claro, o belo assado fumegante.

— Está com uma aparência ótima! Você se superou. Será um ótimo Chef.

— Acho que sim, um dia.

Os dois jantaram ao som de Poderosa das Quebradas, que em nada combinava com o clima que ele tentava criar, mas Vieira não se incomodou. Queria que fosse um evento para ela, para deixá-la satisfeita.

Bianca comeu com vontade, repetindo duas vezes a massa e devorando mais da metade da vitela. Também exagerou um pouco no vinho. Vieira degustou sua criação com mais calma, absorvendo cada sabor único, experimentando a textura, sentindo o aroma encher sua alma.

Conversaram animadamente, como se o acontecido da tarde jamais houvesse se dado. Se havia algo que Vieira sabia era que sua mulher não guardava mágoas por muito tempo. As coisas poderiam mudar, podiam fazer com que dessem certo e...

O celular de Bianca tocou.

— Vá em frente, disse ele, servindo-se de mais Chianti e mais um naco de seu assado que ficara de fato divino. — Atenda.

Era Lindomar, o vigia dos Buonaventura.

Bianca o ouviu, seu semblante indo de descontraído a preocupado.

— Não... Aqui conosco, não. Eles não foram à igreja?

Mais silêncio.

— Eu sei que a missa já acabou. Mas podem ter ficado para papear com padre Gino; eles fazem isso de vez em quando. Talvez precisassem conversar sobre... — Mas se calou. Não precisava explicar ao empregado nada sobre a gafe do último jantar. — Certo. Entendi. Olha, se eles não voltarem até, sei lá, meia-noite, ligue-me de volta, tá bem? Pode fazer isso? Ótimo! Obrigada. Fique com Deus também.

— O que foi? — quis saber Vieira, terminando de enxugar o molho de seu prato com um pedaço de pane toscano.

— Papa e mama... Eles não estavam em casa quando Lindomar chegou.

— Estranho. Aqueles dois só saem de lá para a missa.

— Sim... — Bianca estava longe.

— Ei. Seu jantar está esfriando. — Vieira servia-a com mais vitela, despejando generosamente o molho vermelho com ervas sobre a carne.

Encucada ou não, Bianca acabou de comer.

Pouco depois, já no sofá, a garota não largava o celular. Tentava se distrair, só que a coisa com os pais ainda a incomodava. Quase derrubou o smartphone quando ele tornou a tocar, meia hora mais tarde.

Em um minuto, seu rosto redondo ficou cinza, suas mãos, trêmulas. Vieira não demorou a ampará-la.

— O que está havendo? Bia, fale comigo!

Mas a garota apenas começou a gritar. Lançou o celular na parede e passou a puxar os cabelos como uma carpideira desvairada.

— Estão mortos! ELES ESTÃO MORTOS!

— Quem?!

— Meu papa, minha mama! Lindomar os encontrou. Oh, Deus!

— Como assim, Bianca?!

— Ele decidiu... fazer uma ronda pela casa e... e os achou na adega.

— Deus Todo-Poderoso!

— Papa matou mama com um cutelo! Lindomar não quis contar mais. Depois... papa se matou com um tiro! QUE DIABOS FOI ISSO?!

Vieira aproximou-se para confortá-la, porém Bianca deu-lhe um safanão para afastá-lo. Estava completamente histérica. Ele insistiu, abraçou-a com força, ergueu-a e a levou até a sacada.

— Você precisa respirar! Venha, venha.

A garota se deixou arrastar como um boneco de trapos.

— Não quero porra nenhuma de ar! Meus pais...

— Vai te fazer bem. Sinta essa brisa. Respire fundo. O Lindomar pode ter visto qualquer outra coisa; seu pai não era nenhum louco, Bia. Ele não faria isso!

— Aquela merda de jantar... O Padre... O Bispo! Tem noção da vergonha que passaram? Sua imagem era tudo para eles com aquela gente!

— Calma...

— A puta que te pariu! — deu um empurrão em Vieira. — Aquela merda foi... Foi tudo culpa sua. Você quis estragar a noite deles!

O rapaz a olhava com uma expressão assustada.

— Eu nunca quis...

— Você é um desgraçado, Vizito! — disse Bianca rilhando os dentes. Chegava a babar; se começasse a falar coisas assim, poderia encrencá-lo. — É culpa sua!

— Minha?! Mas eu estou tentando, amor. Olha só a noite que preparei para...

— Enfia sua noite no cu! Enfia seu ravióli e a vitela no cu!

— Mama e papa — murmurou ele.

Bianca estacou.

— O que você disse?

— Quer que eu enfie seus pais no meu traseiro?

Quando ela só o encarou com aquela cara irritante de cãozinho confuso, Vieira explicou:

— Mama rendeu uma boa vitela, não? E o carcamano de seu papa; quem diria, até que seu cérebro atrofiado deu um molho à bolonhesa de primeira.

A garota esbugalhou os olhos, vomitou por toda a sacada e berrou.


...


No comecinho da noite, Nestor o havia recebido com as honras que faria a um dos bêbados que viviam vagando pela cidade atrás de comida quando se cansavam de encher a cara nalguma praça. Ou o desprezo que o tratava longe do olhar da filha.

Se o deixara entrar, fora apenas para não correr o risco de mais falatório de quem os visse na calçada. Vieira, Nestor sempre deixara claro, era persona non grata para ele e Salete. Aturavam-no por respeito à filha desmiolada.

— Não pretendo me demorar, papa — dissera Viera, sabendo o quanto o italiano velho detestava aquilo vindo do imprestável. — Só quero deixar pra trás as coisas ruins que temos feito e dito uns para os outros.

È vero? Então o melhor modo de fazer isso, seria sumindo de nossas vidas — cuspiu Nestor. — Já pensou a respeito?

— Já, sim — respondeu o genro. Por um instante pensou em matar o velho ali mesmo, na varanda da frente do casarão; afinal, toscos como eram, nunca haviam se preocupado com câmeras ou sistemas de segurança. Achavam que ali era sua cidade, e em seu pedaço, eram quem estariam por cima da carne seca. Mas conteve-se: nunca se sabe quando um tolo conversador poderia passar e vê-lo apertando a garganta do sogro.

Mas uma vez lá dentro, conduziu Nestor pela casa como se ele próprio fosse o proprietário. Seguiu para a cozinha, onde Dona Salete esquentava as sobras do último (fiasco) jantar.

Quando o viu, estremeceu. O que, in nome di Dio, estaria aquele atrevido fazendo ali? Já não fora o bastante envergonhá-los diante de meia congregação?!

Vieira lhe sorrira e dissera: Mama!

Uma de suas mãos leves tateava o aparador de utensílios de cozinha enquanto com o canto de um dos olhos, mirava a fronte de Nestor para nocauteá-lo com um soco. O que pretendia depois para o carcamano não seria atrapalhado pela marca do murro de direita.

Era mesmo uma mansão à moda antiga; bons comodos de paredes grossas e laje. O que acontecesse ali não seria ouvido na rua. Então a velha poderia gritar à vontade.

Vieira escolheu bem a ferramenta. Sempre havia pensado naquele cutelo enfiado no crânio da matrona, e hoje seria o dia de realizar sua visão. Apanhou-a quando tentava correr. Como teria agilidade uma coisa desengonçada como Dona Salete?

Da cozinha, arrastou-os para a adega, bem ao lado. Foi até o escritório do Sr. Nestor, pegou o revólver que sabia onde o homem o guardava (o velho vivia mostrando a coisa para ele, como um lembrete) e retornou à adega no porão.

Em meia hora sua conversa com os sogros estava terminada. Um tiro a encerrara.

Tirou a roupa suja de sangue, limpou digitais, montou a cena que desejava ser encontrada por quem viesse a sentir falta dos dois e depois foi embora; saiu tranquilo, a rua estava vazia. Andou dois quarteirões até onde deixara o Civic e voltou pelas mesmas estradas por onde viera. carregava consigo duas sacolas: uma com as roupas sujas e a outra com os ingredientes do jantar de Bianca.


...


— MAMAAAAA! PAPAAAA! — Bianca ainda esgoelava.

Vieira não precisou de muito esforço para contê-la. Gritou também, para quem pudesse ouvi-los: “Calma, querida! Afaste-se daí, por favor!”

— MAMAAA! PAPAAAAAAAAAAA!

Que bom que ela havia facilitado a coisa com aquele escândalo. Haveria menos perguntas. Ele só a escorou contra a amurada e a gravidade fez o resto. Vinte andares. Uma longa queda. Bianca poderia ser o ensopadinho do almoço do outro dia se ele se dispusesse a ir até a rua juntar os pedaços. Riu baixinho, estrangulando a gargalhada que queria soltar.

Que tragédia, pensou. Enlouqueceu ao saber dos pais. Não consegui evitar que saltasse. Que Deus a tenha.

Rio Preto, de repente, perdera toda a graça outra vez. Assim que o enfadonho processo de herança (os velhos não tinham mais ninguém além de sua filhinha) fosse finalizado, com o pobre viúvo sendo o único beneficiado, seria a hora de experimentar novos ares. Aquele vinhedo no interior da França voltou-lhe à mente.

Au revoir Brasil, bienvenue vida nova.

None 34 Rapor Yerleştirmek Hikayeyi takip edin
58
Son

Yazarla tanışın

Wesley Deniel Meu nome é Wesley Deniel, e tenho uma mente cheia de fantasmas. Pelos últimos 20 anos eu tenho vagado pelos recônditos mais escuros deste e de infinitos outros mundos e trazido desses lugares de insondáveis terrores os pesadelos que compõe minhas obras. Embora escreva todos os gêneros e esteja aberto a qualquer desafio, é no horror e no terror que permito que alguns desses fantasmas ganhem força o bastante para atravessar para o nosso mundo.

Yorum yap

İleti!
Elza Valentina Souza Elza Valentina Souza
Menino!!! 😱😱😱 Esse Coltinho é o capeta. E quantas mulheres passam por isso. 😭 Mas vale o aviso da história. Mulheres amem-se mais. E fujam de Coltinhos!
March 25, 2024, 00:59
Felipe Nogueira Felipe Nogueira
Sinistrão!! O cara era um Aníbal de quinta categoria kkkkkkkk Mas sério agora, cara sacana. Raiva de pensar que tem gurias que entram na desses malandros. Bem escrito até, parabéns!
March 18, 2024, 05:41
Breno Pinhais Breno Pinhais
Sadicamente engraçado. Mas agora tem que dar um fim no fdp do Vieira! 😄
March 17, 2024, 08:10
Tyler Moore Tyler Moore
Companheiro, li de novo esse seu conto e tive a mesma sensação da primeira vez. Ódio! Eu tenho vontade de esganar esse Vieira! Você ainda está nos devendo o fim desse safado, Wesley rsrsrsrs Em fim, quis reler e foi muito bom outra vez. Ótima história e ótima para passar raiva rsrsrs Acabe com o Vieira, por favor!!! 😄
February 26, 2024, 08:06
Martins Pacheco Martins Pacheco
Coutinho é o suco do lixo. Me entristece saber quantas pessoas com baixa estima se deixam destruir por Coutinhos. Muito bem escrita cara. Você equilibra bem algo que poderia ser apenas revoltante contando uma história interessante e com humor pra não deixar tudo muito carregado.
February 16, 2024, 07:50
Allan Morgue Allan Morgue
Macabro, diabólico. O nojo que Coutinho causa é o bastante para querer enforcar o cara, mas ainda assim a leitura é divertida. Eu adoro essa forma de você misturar sentimentos nas nossas mentes colega! Sai tem uns dias do seu NPC e então essa aqui nem foi tão pesada hahaha só triste mesmo, porque sinto pena das pessoas que se põe na situação da coitada da moça, caindo na conversa de um boçal feito Coutinho. Todo dia tem uma em algum noticiário. Li em algum comentário que você pretende nos dar mais dessa história e eu espero que o puto do Coutinho receba o que merece! Parabéns por mais uma história foda!
January 24, 2024, 08:59
Tomás Turco Tomás Turco
Sinistro Wesley. Principalmente porque vejo na tv esse tipo de safado quase todo dia. Mas mesmo assim, uma história muito bem contada. Parabéns.
January 15, 2024, 07:22
Lucia Maria Dean Lucia Maria Dean
Você emociona, assusta e horroriza com a mesma facilidade. Que dom você tem, amigo. É uma história crua e triste, que se não fosse bem contada, seria apenas sádica. Mas você a apresenta tão bem que o horror e o desprezo por Coltinho se torna não agradável, isso de jeito nenhum! Mas reflexivo. E vi em outros comentários que você tem algo para esse salafrário o esperado..... Vou adorar ler Wesley. Puna ele para nós! Rsrsrsrs Parabéns! Mais uma história de nos deixar de cara no chão. ❤️❤️
October 06, 2023, 11:38
Liam Westlake Liam Westlake
Ácido, cruel, engraçado e tão real que dá medo. Coltinho é o pior monstro, e não há como se esquivar dele pois provavelmente há um em cada mil pessoas [sendo otimista] Parabéns!! Ótima leitura. 👏🏻👏🏻
September 19, 2023, 08:24
Fábio Everton Fábio Everton
Nossa cara, como disseram num outro comentário, Rubens Fonseca estaria batendo palmas agora, de tanto orgulho!! Sujeitinho doente. O pior é que deve ter um Viera pra cada o que? dez mil pessoas? É de tirar o sono!! Essa história merecia ser maior. E eu queria ver o Viera se ferrar. Mas mesmo assim, parabéns, você manda muito bem em todos os gêneros, seloko!!
August 22, 2023, 06:43
Humberto Fratelli Humberto Fratelli
Porra velho! Que fita treze! O cara é o Anibal brasileiro. Kkkkkkk É um desgraçado doente, falando sério agora. Mas esses tipos também tem que ser retratados e você o fez muito bem, a ponto de incomodar, causar nojo do maldito! Parabéns!!!!!
July 29, 2023, 07:43
Aparecida de Fátima Aparecida de Fátima
Rubem Fonseca estaria orgulhoso! Que conto! É terrível e revoltante mas também é muito bem escrito e narrado. Parabéns!
June 07, 2023, 08:12
Cássio Luterano Cássio Luterano
Meu camarada, que coisa sinistra! Nem quero pensar que tem gente assim realmente por aí. Deus nos livre. Uma ótima história! É a segunda sua que leio e já quero ler mais! Muito bem contada, escrita e também com bastante humor. Só com humor mesmo para suportar ler algo terrível assim. E quando divo terrível, é um elogio! Eu amei! Muito sucesso!
May 28, 2023, 09:59
Alceu Reis Alceu Reis
Boa noite ! Sou um grande entusiasta de histórias policiais e de suspense. De uns tempos pra cá descobrir muita coisa boa no terror também. Ouvi seus contos lá no Conto um Conto, onde você diz ter mais histórias aqui. Dai quis conferir. Vi temas extremamente interessantes, até duas que quero ler sem falta, pois são de filmes e da novela de Lovecraft que adoro (a outra é sua história de lobisomem). Mas comecei por uma menor e de crime. E eu simplesmente fiquei bobo de ver que nós temos escritores fenomenais e que ainda não são conhecidos. Aqui, vejo que você alcançou um reconhecimento enorme, está muito bem em várias categorias, o que me deu ainda mais vontade de ler! Mas sinto que gente com seu talento deveria já estar entre os grandes da nossa literatura atual. Vejo gente por aí babando ovo para autores famosos que não escrevem como você! Vi que este conto ganhou um prêmio aqui. E é muito merecedor! Você nos entregou algo muito bem elaborado, escrito e com um estilo gostoso de ler, despretensioso. Seu humor faz com que as ações horríveis do monstro Vieira Coltinho sejam repudiadas, mas não exagera no drama, deixando a leitura um pouco mais leve, mais agradável de engolir. Imagine essa história se contada num tom severo? Seria mais perturbadora que já é! Te dou os parabéns. Ganhou um leitor que irá acompanhá-lo de perto! E já irei recomendar a amigos! Muito sucesso, Wesley!!!
February 22, 2023, 02:46
Weslley Bach Weslley Bach
Fala Xará!!! Meu amigo, que coisa mais sádica foi essa??!! Que nojo desse Coltinho! É o tipo de cara que tem tinha que ferver num taxo!!! Vi nuns comentários a galera sugerindo uma história onde ele seja punido e adorei a ideia, leria com gosto!!! Que história, xará, que história foda. É bem marginal, dá raiva, dó da coitada da moça e ao mesmo tempo a gente se diverte com teu humor ácido. Te do os parabéns!!
February 14, 2023, 08:03
Miguxinha Dark Miguxinha Dark
Nossa colega...... Que horror. Amei!!! 😄 Tô brincando, não gostei nem um pouquinho do verme do Coltinho, ele é abominável. Mais quanta gente por aí não é assim, né?? Que história! Parabéns, parabéns por ela ter vencido o desafio de escrita. Merece muito!!!
January 30, 2023, 23:45
Sam Astin Sam Astin
Estou pronto pra encerrar minha noite (ou seria manhã??? kkkkk) Li seu Aokigahara e amei e li o vencedor do desafio de escrita, finalmente! Agora sei por que venceu! É espetacular!!!! Não pelo Coltinho, aquele lá é um monstro e eu espero que você um dia o faça pagar!, mais pela qualidade que você põe em tuas histórias, man. É muito bom ler e se apavorar, sentir raiva, medo, rir de ter de cobrir a boca com o travesseiro e depois ficar pensando na história. Você faz tudo isso muito bem! É de bater palmas!!!! Sucesso Wesley!!!
January 24, 2023, 08:58
Tyler Moore Tyler Moore
Não é politicamente correto dizer'adorei' porque o Vieira é um desgraçado. Mas falando em história, estilo, qualidade literária, humor e carisma, eu amei, não tenho como negar!!! Que delícia de trama, crua, viceral, realista e sombria ainda que com bastante humor pra que a gente possa suportar o choque. Parabéns Wesley! Mil vezes! 👏🏻👏🏻👏🏻
January 22, 2023, 07:59
Anderson Ferreira Anderson Ferreira
Esse é daqueles que te deixa pensando depois que acaba. Deixa um gosto ruim na boca - trocadilho não intencional rsrsrsrs. Mais vejo a história como algo necessário pra pensarmos nos dias de hoje e nas relações com pessoas nocivas. A história é cruel e forte mais por dar voz ao que pode acontecer se dexarmos nos levar por más influencias considero totalmente essencial. Quanto a escrita e o estilo, é nada menos que impecável. Parabéns!
December 30, 2022, 19:46
Natanael Peixoto Natanael Peixoto
Diabólico! Bem Rubem Fonseca, nu e cru. Parabéns! 👏🏻 Agora falta escrever uma história onde o Vieira Coltinho morre espremido numa prensa hidráulica. 😄
December 08, 2022, 12:22
Load more comments
~