Apertava a letra W, a letra A, a letra S e a letra D, segurando o botão direito do mouse. Seus olhos estavam fissurados no monitor, vendo cada bala atingir o inimigo, o monstro deformado que gemia de dor. A partida estava frenética e o headset que utilizava isolava o som exterior, não conseguindo ouvir o que sua namorada estava dizendo.
Foi cutucado no ombro, quando olhou para o lado e viu a feição furiosa de sua namorada.
— Que foi, amor? — Ele ouviu de repente o gemido agonizante de seu personagem e voltou a olhar para o monitor, se sentindo triste ao ver "Você morreu!" na tela. — Bosta!
— Jardel, hoje é o aniversário de quem?
Quando Jardel se lembrou, não ousou em dizer nada, nem mesmo olhar para os olhos de mel dela, de Rosana.
— Adivinha de quem é o aniversário! — mandou, em um tom rude.
— Da sua mãe. — respondeu, em um tom retraído. — Eu...
— Não, não! — Ela apontou para o monitor. — Essa porcaria de jogo não é mais importante do que o nosso relacionamento! ... e você conseguiu esquecer o aniversário da minha mãe! Agora olha pra mim!
Jardel revirou os olhos, olhando para o rosto claro dela.
— Quando a gente começou a namorar?
Jardel meneou a cabeça, pendurando o headset no monitor, desligando o computador, se levantando da cadeira gamer e saindo do quarto, andando pelo corredor. Rosana foi atrás.
— Não adianta ficar bravo não, tá? Só eu me esforço nesse relacionamento!
Por escutar isso, Jardel parou de andar e se virou para ela.
— A sua mãe nem gosta de mim! Pra que eu vou querer me esforçar pra se lembrar do aniversário dela?
— Você acha que eu não sei!? Você acha que eu não sei que ela não gosta de você!? É por isso mesmo que era pra você ter lembrado do aniversário dela! Eu ainda disse: "mãe, o Jardel te considera, ele vai te dar um presente...", mas cadê o presente?
Jardel sacudiu a cabeça.
— É sério que tu falou isso pra ela!?
— Falei! E daí? Eu não suporto mais a birra de vocês dois! Pelo amor de Deus!
Rosana fungou o nariz, colocando as mãos no rosto e murmurando:
— Meu Deus! O que que eu faço? — Ela retirou as mãos do rosto, olhando para o seu namorado, sentindo as pálpebras quererem esconder sua tristeza. — Você ainda me ama?
Jardel acenou com a cabeça.
— Então é melhor se esforçar pra não me perder! Pode voltar a jogar! Você perdeu a partida, mas você pode começar de novo. Comigo não é a mesma coisa. — Suspirou, passando por ele. — Boa noite!
E ela se foi do corredor, da sala de estar, do quintal... Enfim, da casa.
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