Missão alien Hikayeyi takip edin

Dias nublados e frios, paisagens cinzentas e melancólicas. Era assim sempre na grande São Paulo após a catastrófica colisão do asteróide Apophis.

A Terra sofria reveses intensos no clima, epidemias de vírus, fome e uma misteriosa droga que transformava as pessoas em mortos-vivos, condenando boa parte da população do planeta ao extermínio. Cidades litorâneas simplesmente sumiram do mapa. Dias curtos e noites intermináveis, era nesse cenário funesto que a jovem Mariah vivia, a linda garota que em nada deixava-se contaminar pelo cotidiano aflitivo daqueles tempos. Era alegre e sorridente.
Mariah sentia seu coração pulsar mais forte de ansiedade toda vez que imaginava que breve não estaria mais sozinha. Depois de meses naquela pequena casa na periferia de São Paulo, um lugar bem afastado, quase rural, finalmente ia ter com quem conversar, pessoas para chamar de família.

A ordem chegou, para seu alívio, iria para uma nova casa e um novo trabalho.
Trabalhar em um hospital era muito empolgante, era especialista em anatomia humana e a ordem era estudar e meticulosamente aprofundar-se na fisiologia dos humanos.

No entanto, o que deixava-a mais alegre era saber que teria com quem conviver, ela ansiava por carinho, sentia falta de pessoas, de amizade. Naqueles meses reclusa, a única companhia que teve foi de um grande e peludo gato amarelo que uma certa noite saiu e nunca mais voltou.
Conferiu as roupas na bolsa, estava tudo lá inclusive o inseparável caderno de anotações que as vezes funcionava como um diário.

Tinha pouca coisa, Mariah não usava perfumes, nem jóias, nem qualquer adorno. Somente usava um delineado negro marcante nos olhos, artifício que aprendeu com as paulistanas quando chegou. Achou bonito e adotou para sua aparência.
Lembrou das palavras do Nirhons:
"São pessoas boas, dois irmãos idosos e 2 soldados."
Soldados era modo de dizer, Nirhons queria dizer que eram 2 policiais. Estrategicamente para protege-la se fosse necessário.
Tinha o formato de uma família e ela estava ansiosa por conhece-los!
Quando viu-se pronta, olhou demoradamente para o quarto e relembrou todas as emoções vividas alí. Veio-lhe na mente a imagem do amigo Paulo, que passou com ela alguns dias, exatamente nos dias de escuridão total, 3 dias e 3 noites.
Ela sabia que o Paulo era apaixonado por ela, porém, foi de um delicado respeito ou talvez um pouco de assombro! Notava que ele arregalava os olhos toda vez que ela se aproximava.
Paulo pensou, naqueles dias, que era o fim do mundo, que estava próxima a vinda de Jesus, porém Mariah sabia que Sananda ainda não viria, que era apenas as colossais naves extraterrestres se locomovendo e posicionando-se na órbita da Terra. Era a "Nova Jerusalém".
Lágrimas brotaram dos seus oblíquos olhos amarelos quando relembrou o dia em que ele partiu e foi de encontro a morte num confronto com criminosos. Ela chorou, entretanto, sabia que o Paulo estava bem.

Visitou os cômodos um a um e sentiu que sua passagem por alí estava encerrada.
Na saída, olhou-se no espelho e viu o reflexo de uma bela mulher, talhe perfeito, dentro de um pesado casaco. Olhou mais uma vez a fachada da casa, ficou nostálgica mas decididamente pegou a bolsa e se foi.
No caminho até a nova casa ela não conseguia esconder a satisfação. Nas ruas desertas, era um pequeno sol que movimentava-se como raios de luz iluminando tudo ao redor. Com as mãos escondidas nos bolsos do casaco, ela caminhava a passos apressados, com os ombros contraídos pelo frio.
Os olhos e os cabelos dourados dançantes ao sabor do vento, conferiam um belo contraste a paisagem cinzenta e fria da cidade de São Paulo.

***

A casa era um antiga construção dos anos 1930, adaptada para abrigar pessoas que haviam perdido suas famílias na tragédia do Apophis. Mariah apressou-se já que a hora de escurecer aproximava- se, não era prudente andar nas ruas à noite e o frio estava intenso naquele fim de tarde.
Ao deparar-se com a porta fitou por instantes o vidro embaçado e pensou:
"Acho que aqui vou encontrar meu destino."
Bateu, e pelas luzes e vultos, percebeu que havia algumas pessoas lá dentro. Talvez sete ou oito.
Esperou e logo veio um homem atender.

— Oláaa!!!

— Olá, procuro pelo delegado Oliveira, ele está?

— Tá sim. Entra aqui, sai desse frio. Vou avisar ele, espera só um instantinho.

Havia sete homens sentados à mesa jogando cartas, todos eles pararam para observar a súbita e deslumbrante presença. Cumprimentou a todos com um tímido "boa noite", que foi respondido com um alto e uníssono bem mais acalorado! Ela abaixou a cabeça envergonhada...
Ficaram em silêncio, causando ainda mais embaraço, apenas contemplando a beleza daquela jovem mulher desconhecida. E muitíssimo curiosos.
Eram todos policiais e somente dois deles eram seus supostos companheiros, moradores da casa.
O primeiro homem não demorou e veio todo sorridente, pegou a bolsa e conduziu-a até a sala do delegado.

— Vamos lá que ele já tá te esperando. — disse ele, não escondendo a satisfação em acompanhar a moça, sob os olhares entusiasmados e atentos dos outros.

Um deles, o italo-brasileiro Alexandre Giordanno, procurou ver o rosto dela sem conseguir, contorceu-se todo para acompanhar a entrada na sala, até que ela sumiu atrás da porta.

Ele que há tempos tinha os olhos azuis obscurecidos por tantas decepções da vida, de repente ficou animado, agora estavam cintilando como estrelas! A jovem mulher havia despertado-lhe uma mistura de fascínio e curiosidade.