EU TAMBÉM VOU RECLAMAR
João Bolsofundo acordou cedo, vestiu a camisa do Ypiranga, seu time de coração, pegou a bandeira do Brasil e saiu para a manifestação afinal, era preciso protestar. Conferiu a bateria do celular para não ficar sem as selfies que, posteriormente, postaria em todas as suas redes sociais.
O filho o olhou cheio de orgulho e perguntou:
- Papai, você vai protestar contra o que?
Pego de surpresa, João Bolsofundo pensou um pouco e, finalmente respondeu em tom sério e ar solene:
- Vou protestar para melhorar o país!
O filho pareceu não entender mas, sorriu.
Criança é assim mesmo: não entende nada de coisas de adulto.
Do outro lado da cidade, Pedro Molusco acordou no mesmo horário.
Pegou a velha camisa vermelha, o boné da central sindical, olhou a barba no espelho e, com a bandeira do partido no ombro saiu para protestar.
A esposa, contrariada perguntou:
- Já vai para essas porcarias de manifestações de novo? Vai protestar contra o que agora?
Pedro Molusco, pego de surpresa, pensou um pouco e respondeu:
- Vou protestar contra esse governo incompetente!
A mulher não pareceu se interessar muito mas, nada disse.
A esposa é assim mesmo: não entende nada das coisas políticas.
José Povão também acordou cedo.
Pegou uma camisa qualquer e se dirigiu até a porta.
Como morava sozinho, ninguém lhe perguntou onde ia ou contra o que iria protestar. Ninguém se interessava.
João Bolsofundo chegou até o centro da cidade e se aproximou de um grupo vestido de verde e amarelo.
Logicamente ali era onde ele deveria estar: entre patriotas decididos a mudar o país e impedir o avanço comunista trazido pela maldita esquerda, que só pensava em destruir o país.
João Bolsofundo não sabia direito o que era um comunista mas, sabia que era uma coisa ruim que se vestia de vermelho e queria acabar com a moral e os bons costumes. Esquerda? Era todo mundo que apoiava aquele partido do barbudo, é claro!
João Bolsofundo até passou a torcer pelo Grêmio porque, tinha certeza, o Internacional com aquela camisa vermelha, só podia ser um time de comunistas.
Pedro Molusco chegou ao centro quase no mesmo horário.
Evitou aquele grupo cheio de gente vestido com a camisa da seleção de futebol. Aquele não era seu meio.
Procurou o grupo que estava vestido de vermelho e que trazia faixas e bandeiras falando mal do presidente.
Pedro Molusco era tão de esquerda que agradecia a Deus ter nascido e canhoto somente para que não precisasse usar muito a mão direita.
O que era um direitista conservador? Ora, bolas! É um cidadão que veste a camisa da seleção, não gosta de gays e só vive na igreja!
Quem não sabe disso?
Pedro Molusco nem assiste mais Copa do Mundo porque, passou a ter certeza que, com aquela camisa, o time estava cheio de jogador da direita.
José Povão chegou ao centro um pouco depois.
Teve que ir andando e, com fome, a caminhada foi difícil.
Passou por uma multidão de pessoas vestidas com a camisa da seleção canarinho. Estranhou porque, não sabia que ia ter jogo naquele dia.
Mas, como sua televisão tinha pifado a um mês, ele não iria saber mesmo.
Fez o que tinha que fazer por ali e continuou andando.
Mais a frente, tinha um outro grupo repleto de pessoas vestidas com camisas vermelhas. Pensou ser um Brasil e Chile mas, ficou confuso porque não sabia que usar barba grande era moda entre os chilenos.
Em um determinado momento, os dois grupos começaram a marchar um em direção ao outro com gritos, palavras de ordem e xingamentos.
João Bolsofundo estava exaltado. Não entendia como as pessoas podiam ser tão comunistas e antipatrióticas. Absurdo...
Pedro Molusco estava revoltado. Não entendia como as pessoas podiam ser tão conservadoras e antipatrióticas. Absurdo...
José Povão ficou bem no meio dos dois grupos.
De camisa amarela e boné vermelho, passou a ser hostilizado pelos dois lados. Não entendia porque estavam tão revoltados com ele. Absurdo...
João Bolsofundo exigia que aquele homem tomasse uma posição! Boné vermelho manchando a camisa da pátria era inadmissível!
Pedro Molusco exigia que aquele homem tomasse uma posição! Camisa amarela manchando o boné com a cor do partidão era inadmissível!
- Comunista safado – gritavam João Bolsofundo e a multidão de patriotas vestidos de amarelo.
- Conservador sem- vergonha – berravam Pedro Molusco e a multidão de barbudos vestidos de vermelho.
José Povão, indignado, colocou as mãos na cintura e respondeu:
- Eu só peguei as latas vazias porque estavam jogadas no chão! Se vocês ainda as queriam, deveriam ter trazido seus sacos e guardado elas dentro. Agora nem adianta me xingar que eu não vou devolver!
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