Sentiu as pedras frias abaixo de seus pés, o líquido viscoso escorria deixando um rastro escarlate pelo chão. Conhecia cada centímetro daquelas terras, e obrigava-se a percorrê-las dia após dia em uma eterna procissão.
Cruzava os doze salões que o tempo havia deixado suas marcas nas paredes descoradas. Os raios solares atravessam as janelas, mas nem todas elas, banhando sua face descarnada marcada de lágrimas.
As vozes das damas e cavaleiros ecoavam pelo ambiente. As gargalhadas das crianças e o choro do bebê que seu ventre fora incapaz de gerar. Aquelas vozes sempre a lembrá-la da sua desdita, de ter sido amaldiçoada com um ventre seco, enquanto suas escravas, seres sem alma, procriavam com a facilidade dos animais.
E pela senzala ela caminhava escutando o choro e lamuria das mães separada dos seus filhos, poderia Deus ser tão indiferente a sua dor? Tão condescendente com aquelas vis criaturas enquanto a punia com tamanho ardor.
E pela masmorra ela andava indiferente as vozes abafadas pela dor. O zunido do chicote a corta o ar, do facão a riscar os ossos e dos dentes a se estilhaçar. A única coisa que ela rogava aos céus era uma criança que pudesse amar.
E pelos cafezais ela procurava o homem que foi incapaz de amar. Os frutos apodrecidos cobriam o chão e a relva invadia a lavoura. As plantas cresciam em descaso servindo de alimentos as pragas, como seu ventre servia de alimentos aos vermes.
E na capela a baronesa se ajoelhava enfrente ao altar, com a profunda esperança de ouvir as vozes dos anjos a abençoar o seu ventre, para que pudesse gerar o herdeiro da família Fortes.
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