morangochan Saah AG

Depois de tomar mais um pé na bunda, Bakugou resolve sequestrar Lúcifer, o gato de Ochako, a fim de ter a namorada de volta.


Фанфикшн Аниме/Манга Всех возростов.

#bnha #buraraka #kacchako #amizade #comedia #gato #ochako #katsuki
Короткий рассказ
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Lúcifer e a gaiola da Hello Kitty

Obrigada, @Nathymaki, por fazer a capa <3

Essa história foi publicada no Wattpad por Morango-chan (eu mesma).


❅❅❅


Por que ela achou que namorar o Biribinha seria uma boa ideia?

Certo, Uraraka já estava grandinha e sabia bem no que estava se metendo quando iniciou um envolvimento romântico com Bakugou, mas não calculou que precisaria de tanta paciência para lidar com aquele dragão. Quer dizer, ela imaginou que Katsuki acabaria sendo mais brando com ela, visto que até criminoso de alto grau se derrete quando vê a sua tão amada pintanguinha.

— Vai tomar no cu.

— Você que deveria ir tomar no cu. — esbravejou a garota. — Ou melhor ainda: enfia um rojão na bunda e sai voando. Esse seu fogo no rabo com certeza queima pólvora.

Ele tinha de admitir: ela aprendia rápido. Não só aprendeu a xingar, como também elaborava formas bem mais criativas de ofender alguém. Se não estivessem rompendo o namoro mais uma vez, Bakugou se sentiria orgulhoso por ter sido um tutor tão competente.

Uraraka era uma garota incrível. Forte, decidida e teimosa quando queria cumprir um objetivo. Infelizmente, tais qualidades também vinham a ser defeitos. Qualquer discussão acabava em guerra, visto que nenhum dava o braço a torcer quando o sangue fervia.

Quem sabe ela te muda e você deixa de ser um vagabundo, a mãe de Katsuki disse outro dia. Era isso que as mulheres faziam, então? Seduziam um cara e passavam noites em claro pensando em como mudá-lo?

— Eu não sou bom o suficiente pra você, cacete? — ele disparou. — Se for isso, me manda ir a merda e para de desperdiçar a porra do meu tempo.

— Ah, meu Deus! Eu já disse cinquenta milhões de vezes, mas parece que você não escuta! — bradou a morena. — Eu mando você parar de ser surtado comigo há tempos, mas você caga e anda! Eu digo: Katsuki, para de fazer tempestade em copo d'água. Mas você não tá nem aí! Você é muito chato, puta merda!

— E você quer tudo do seu jeito! — disparou o loiro. — Ao invés de treinar comigo, fica lutando com unhas e dentes pra gente ir ao cinema como dois idiotas pra assistir filme de gente retardada. Você não quer crescer comigo, quer ter um namoradinho de comédia romântica. Eu não sou a porra do Ken e você não é a porra Barbie! Acorda pra vida!

— Não acredito que você tá jogando a culpa em mim de novo! — disparou ela, descrente. — Não dá pra ser super herói o tempo inteiro, caralho. Todo mundo tem uma vida quando não tá salvando as pessoas. Nós dois somos pessoas também, temos uma vida particular. Além disso, o que vai sobrar quando você se foder e não puder mais ser herói? Porra nenhuma! Você acha que eu quero resumir a minha vida inteira a uma profissão? Não dá pra viver desse jeito!

— É sempre assim — disse Bakugou com os braços cruzados, a voz rouca já não permitia gritar no volume desejado. — você vem com essa história, mas chora no meu ombro quando fracassa.

O silêncio congelou o cômodo, Uraraka estava cabisbaixa, mas irada. Os dentes rangeram, os punhos cerraram e lágrimas brotaram nos olhos. Ela negou com a cabeça, magoada demais para proferir qualquer palavra naquele dito segundo. O que custava parar um pouco e olhar ao redor para perceber que os dois eram apenas adolescentes que tinham a vida inteira pela frente? Fazer atividades de casal e dar amassos no sofá não impediria ninguém de ser herói profissional.

Katsuki engoliu a seco, segurando o coração para que este não opinasse demais e o fizesse fraquejar de novo. Ele não queria fazê-la chorar, mas também não queria perder seus objetivos de vista. O que tinha de errado querer vê-la forte e bem sucedida junto a ele, afinal? Uraraka havia se mostrado tão durona e com objetivos tão nobres para com a família que não suportava vê-la se desviar do caminho por simplesmente ter um namorado.

No fim, os dois não eram diferentes: ela queria uma pessoa para florescer consigo, ele queria uma heroína que ganhasse forças a seu lado. Mesmo depois de tantos meses de namoro, ainda não conseguiam conciliar os dois pontos, por isso o relacionamento de Ochako e Bakugou era conhecido como Luz Estroboscópica: acendia e apagava milhares de vezes. Sendo toda essa bola de neve fruto dela falta de diálogo entre o casal, que acabava em guerra quando havia a tentativa de resolver diferenças.

Além disso, apesar de terem consciência de quantas vezes os dois já haviam reatado, qualquer término sempre parecia ser o temido ponto final.

— Bom, não precisa mais se preocupar comigo e com os meus fracassos. — ela proferiu enquanto enxugava a bochecha com as costas da mão. — Acabou, Bakugou. Vai pra casa.

Por mais que aquele tipo de situação não fosse novidade, Bakugou reagia como se estivesse vivendo um momento inédito. Primeiro, todo o interior do rapaz se desfazia e o chão se abria sob seus pés. Depois, para conter choro ou qualquer outra resposta patética, ele engolia a seco e sussurrava:

— "Acabou"? Como assim?

— Você entendeu. — respondeu ela, abraçando o corpo com os próprios braços, desolada. — Eu já chamei um Uber pra você.

Porém sempre havia um toque novo para temperar a história velha.

— Você chamou um Uber antes da gente terminar? — Bakugou berrou. — Significa, então, que você já tava planejando terminar comigo?

— Lógico! — exclamou Uraraka. — Eu sabia que você ia ser um babaca quando a gente tentasse resolver as coisas.

— E por que quê você me tirou de casa se ia me chamar só pra terminar comigo? — ele cruzou os braços.

— Ué! — a morena contestou. — Queria que eu terminasse por mensagem?

— Se eu soubesse que ia sair lá da puta que pariu pra levar um chute na bunda, sim!

— Ah, mas puta merda, hein? — bufou a garota. Ao silenciar por alguns instantes e coçar a cabeça para tentar organizar os pensamentos, Uraraka pontuou. — Olha, você pode ir caladinho de Uber ou ficar aqui tempo o suficiente pro meu pai chegar, pegar a gente brigando e chamar tua mãe pra vir te buscar. Prefere o que?

Mesmo que fosse fácil de decidir, não era fácil de executar. Os pés de Bakugou pesavam uma tonelada quando era o momento de virar as costas e ir embora. Ele se perguntou, inclusive, se era mais fácil para Uraraka, que tinha o dom de fazer as coisas flutuarem por aí.

— Quando sair, feche a porta.

Então isso era tudo, não é? Nem um "até logo" ou "cuide-se". Sequer um encerramento amigável desejando-o felicidade dali em diante. O rapaz cerrou os punhos, girando os calcanhares bruscamente para ir até a saída. Mas quando avistou o carro parado na frente da casa, apertou os dentes. Por um segundo, engoliu o orgulho e olhou por cima do ombro. Que merda, ele deveria dar um soco na própria cara por ser tão idiota a ponto de achar que ela se arrependeria no mesmo instante e o abraçaria pelas costas. Caralho, os filmes de comédia romântica estavam mesmo acabando com ele.

Com Bakugou as coisas sempre eram muito intensas. Depois de tantos anos tendo a capacidade de explodir tudo que não o agradava, tinha de admitir que estava mal acostumado. Ele não poderia explodir os sentimentos que o faziam se sentir tão impotente, e isso o irritava mais do que qualquer coisa. Sentindo a impulsividade típica latejar nas veias e tomar conta de todo o corpo, Katsuki não pensou muito antes de tomar para si a gaiola de transporte do gato da ex-namorada.

— Lúcifer! — ele cantarolou, mas não tão alto para chamar a atenção de Uraraka que estava nos cômodos mais internos da casa. — Vem, Lúcifer, vem!

O gato rajado pôs a cabeça para fora da cozinha com as orelhas em pé. Quando viu Bakugou agachado e o convidando com um movimento que mais lembrava um estalar de dedos, o bicho deu passos rápidos e esfregou o focinho no joelho do rapaz. Satisfeito, o loiro ergueu o tronco, com a gaiola numa mão e o gato abraçado contra o peito. Fechou a porta, conforme foi solicitado pela moça e entrou no carro.

— Uraraka? — perguntou o motorista, estranhando o fato do passageiro ser um rapaz.

— Ela pediu pra mim. — Bakugou explicou, e ao ver que o motorista ainda o encarava, aumentou o tom da fala por pura impaciência. — Tá esperando o que? Bota essa banheira pra funcionar!

Sem querer discutir, o motorista iniciou o trajeto em silêncio. Bakugou respirou fundo, o felino no colo deu breves miados com o sacolejar do carro proveniente da rua esburacada e fodida a qual Uraraka morava, mas o rapaz acalmou o bicho com um longo cafuné na cabeça. Apenas fechou os olhos e esperou, as mãos grandes abraçaram todo o corpo de Lúcifer, que estava imóvel com as patas sobre as coxas fortes de Katsuki.

Então o celular vibrou.

Bakugou sabia exatamente do que se tratava. Sacou o celular, desbloqueando a tela com a senha. E, ao ler a mensagem da ex, nunca sentiu tanta felicidade por saber ler.

Katsuki, eu não acredito!

MEU GATO!

Quando o carro parou no semáforo, Bakugou ergueu Lúcifer até o rosto desse estar a altura do seu. Não deu risinhos ou fez caretas, apenas neutralizou as expressões faciais e tirou a foto, fazendo questão de enviá-la logo em seguida. Quando notou uma agitação maior do bichinho, abriu a gaiola de transporte e o colocou lá para sossegar, mantendo-a perto de si para protegê-lo.

Te fode.

E bloqueou o contato.

❅❅❅

O curioso sobre os términos de Ochako e Katsuki era ver como a cozinha dos Uraraka se transformava em uma UTC — Unidade de Terapia Comestível. Ochako simplesmente se transformava em uma espécie de aspirador soturno que comia qualquer coisa que viesse pela frente. E por ter notícias de mais um término, Mina foi a casa da amiga portando dois hambúrgueres vegetarianos com cream cheese com geleia de pimenta, prepara para assistir a amiga comer, chorar e contar o que tinha acontecido há três dias, quando Bakugou e ela romperam e o gato pagou o pato.

— Meu gato. — ela choramingou. — Ele sequestrou o meu gato!

— Calma, amiga, eu sei que o Satanás tá bem.

— Lúcifer. — corrigiu Ochako. — Katsuki que colocou esse nome, porque o gato era da mãe dele antes de ser meu.

— Que rude esse negócio de tomar de volta os presentes dados durante o namoro. — Mina fez careta, reprovando a atitude do colega de classe com um balançar de cabeça. — Mas eu tenho quase certeza que ele não fez isso com a intenção de te irritar.

— Ah, não! — exclamou Ochako com a boca cheia, o que acabou por exibir todo o material mastigado até então. Mina arregalou os olhos ao ver a quantidade de hambúrguer que cabia na boca de uma pessoa tão pequena e contraiu o lábio superior com uma acentuada nota de nojinho. — Você vai defender ele mesmo? Na minha cara?!

— Deixa disso. Eu tô do seu lado, miga. — a garota cor-de-rosa sorriu, balançando a mão no ar como se espantasse tal ideia. — Tô só querendo te dar o alerta: o Bakugou sequestrou seu gato por outro motivo.

— Qual motivo?

— Não faz a sonsiane, menina. Vocês já passaram por essa situação umas mil vezes. — e com o revirar de olhos de quem já havia trazido hambúrgueres vegetarianos com cream cheese com geleia de pimenta umas mil vezes para as sessões de UTC da amiga, Mina constatou o óbvio. — É evidente que ele catou o gato porque queria ter uma desculpa pra falar contigo depois.

— Você acha?

— Meu Deus, amiga! — Mina não pode deixar de bater com a mão na própria testa. Ou Uraraka era muito bobinha ou achava que tal característica a favorecia, porque não era possível. — Espera, eu tenho uns prints que quero te mostrar.

O olhar de Ochako afiou ao ouvir a palavra com "p". Será que Mina havia se cansado de tantos términos e reconciliações que tinha resolvido bancar a detetive em busca de algum podre de Katsuki? Se fossem prints relacionados a um chifre ou coisa parecida, Ochako não teria escrúpulos em ir a casa dos Bakugou para delatar o ex-namorado para a ex-sogra dela. Se fosse corna, pelo menos teria o consolo de ter em mãos uma vingança maligna, pois tinha certeza que a mulher faria picadinho do filho.

— Ele me chifrou? — indagou Ochako de antemão, os olhos marejados mais pareciam dois reservatórios de água capazes de abastecer quatro cidades. — Se for isso, diz logo pra eu me preparar psicologicamente.

— Chifre? Não! — negou Mina com a cabeça, até se permitiu rir um pouco da preocupação desnecessária da amiga. Dito isso, entregou o próprio celular para Ochako. — Só lê aí e me diz o que você acha.

Antes de iniciar a leitura, Ochako respirou fundo a fim de tentar reunir uma mísera estabilidade para não largar tudo e voltar a chorar no quarto. Com o primeiro print já se podia concluir que tratava-se de uma conversa entre Katsuki e Eijiro.

De novo?

Não posso fazer nada. Foi ela que me deu um chute no cu.

Mas vocês também só vivem de arranca-rabo, hein?

Como se você e a Mina fossem perfeitos, seu lixo.

Opa, Bro, eu não disse isso! Mas eu e a Mina somos perfeitos, sim.

Vai tomar no cu!

Que merda, cara. Você tem que sintonizar com a sua pintanguinha, entende?

Tá dizendo que a culpa é minha, então?

Não, eu tô dizendo que falta diálogo entre vocês. Por isso que não se entendem, só ficam transando.

E você com isso?

Hahaha! Você é tão másculo! Mas pensa um pouco, Bro. Nem deve ser difícil de achar coisas em comum com ela. Lembra quando você me disse que foi obrigado a assistir Meninas Malvadas, mas que gostou da Regina George?

Ah, caralho. Nunca mais falo com você quando tiver bêbado.

Diz aí: é difícil achar coisas em comum com ela?

Não.

E por que vocês não conseguem conversar pacificamente como dois seres humanos racionais?

Olha, eu sei que sou rude, tá? Não sou bom em conversar, porque, mesmo quando eu não quero, acabo soando como um merda. Além disso, tem vezes que a situação caminha pro caos. Eu tento não explodir, mas tem vezes que simplesmente não dá pra aguentar.

Explique melhor. Não tô entendendo direito.

É o seguinte: desde que a gente começou a namorar, a Ochako reduziu muito as horas de treino dela. Ao invés de treinar, fica indo pra salão de beleza se emperiquitar e o caralho a quatro.

Tadinha, cara. Ela só quer ficar bonita pra você.

Eu sei disso! Mas ela é a garota mais bonita que eu já vi. Não precisa dessas merdas. Fora que eu fico me sentindo um lixo sabendo que ela faz isso pra mim. Quer dizer, a Ochako é tão forte, tem tanto potencial pra ser uma heroína do caralho, o objetivo dela de ajudar a família é muito bonito e ela fica desperdiçando o tempo dela hidratando cabelo pra sair comigo. Cara, a gente tá no terceiro ano. Daqui a pouco a gente termina o curso na U.A. e ela provavelmente ainda vai tá moscando.

Bom, vocês são mesmo bem diferentes. Tu é um ogro, e pelo que a Mina fala a Ochako é bem romântica. Mas se até o Shrek levou a dele, então não tem nada impossível. Vocês têm que conversar, cara. Diálogo resolve tudo. Experimenta expôr esse seu ponto de vista aí. Aposto como ela vai entender e vocês vão ficar de bem.

Na verdade, eu disse isso tudo pra ela.

E aí?

Ela me deu um chute no cu.

Ah, mas duvido muito que você tenha dito essas coisas pra ela com as mesmas palavras que disse pra mim.

Não vou negar, eu fiquei sem paciência e explodi. Ela também já tava puta, então as coisas só foram de mal a pior.

Mas você ama ela?

Amo, caralho. Por isso tô aqui desabafando toda essa merda contigo.

Gado demais.

Seu lixo! Eu vou jogar bosta na porta da tua casa de novo. Espera só!

Quando Ochako permitiu o movimento da pálpebra, teve a impressão de que milhares de metros cúbicos de lágrimas escorriam pelo rosto. Não só os olhos reagiam, pois todo o corpo tremia no embalo do pranto, que se tornou cada vez mais escandaloso. Mina, um tanto quanto incomodada com a reação da amiga, afagou o ombro desta. Ela deveria estar feliz por ter visto um momento inédito de doçura vindo de Bakugou, e não chorando como se ele tivesse mandado as orelhas do gato dela dentro de um envelope de carta.

— Eu não sei o que fazer. — revelou Ochako com um quê de desespero na voz.

— Calma, miga. Você pensa uns dias e vê se quer reatar ou deixar terminado de vez.

— Quero reatar.

Que rápida, Mina pensou.

— Mas não quero parecer desesperada.

— Ué — estranhou a rosada. —, mas você tá desesperada.

Por um momento, o pranto de Uraraka deu lugar a uma carranca ofendida. Vendo que mais drama poderia vir dali se não cortasse o mal pela raíz, Mina se adiantou.

— Ok, eu tenho uma ideia.

— Qual?

— Liga pra mãe dele e pergunta do gato. — ela deu de ombros. — Já que ele sequestrou o Satanás pra ter uma desculpa de falar contigo, se aproveita disso e usa esse artifício pra tentar falar com ele.

❅❅❅

No dia seguinte a conversa com a sogra, a campainha tocou quando a noite caiu. Ochako foi quem atendeu a porta, uma vez que os pais estavam arrumando a cozinha depois do jantar. O visitante, porém, não era uma surpresa; a senhora Bakugou havia avisado que passaria no fim do expediente para devolver Lúcifer a casa dos Uraraka, como tinha que ser.

— Boa noite, senhora. — cumprimentou Ochako com certo polimento. — Quer entrar?

— Hum, depende. — respondeu a mulher após depositar o gato no chão, para que entrasse na casa e se acomodasse. — Sua mãe tá em casa?

— Sim.

— Então eu não quero entrar. — ela foi direto ao ponto. — Ela só sabe falar das reuniões da Hinode e hoje eu não tomei meu Rivotril.

— Então, tá. — a moça respondeu com um sorriso amarelo. — Por acaso o Katsuki explicou o que aconteceu?

— Tá falando do término de número quinhentos? — a mulher ergueu as sobrancelhas, mas seu rosto não demonstrava surpresa. — Ele disse. Mas não consigo mais levar vocês dois à sério.

— Bom — iniciou Ochako, tentando ignorar a aspereza da senhora Bakugou, que certamente havia sido transmitida ao filho através dos genes. —, pode pedir a gaiola do Lúcifer de volta?

— Hum. — a mulher estreitou os olhos como um felino, sendo Ochako incapaz de decifrar se a senhora Bakugou estava ponderando algo ou a julgando. — Você sabe que ele levou aquela merda por que queria voltar e se jogar nos seus pés, né?

— Não tô sabendo disso, não, senhora.

— Tsc! Claro que tá, sua palhaça. — ela ralhou, exatamente como o filho. — Dá próxima vez que quiser se livrar dele, não chama um Uber. Enfia um foguete na bunda dele e manda pro espaço. Porque olha aí: você pagou o carro e ele ainda roubou seu gato. Isso não compensa, compensa?

— Não, senhora. — murmurou a morena.

— Não compensa. — confirmou a mulher, as palavras saltando dos lábios vermelhos. Então ela parou. Fechou os olhos com força e suspirou, cansada e rendida. Antes de girar os calcanhares para ir embora, completou. — O idiota tá vindo falar com você.

A senhora Bakugou andou até o carro, berrando algo para o filho, que trovejou uma resposta. Ochako suspirou pesado, agarrando-se a porta a fim de obter equilíbrio, uma vez que os joelhos trêmulos ameaçavam ceder a qualquer instante. Que patética, ela desdenhou da reação do próprio corpo. Ainda assim, em seu âmago, tinha ciência de que o coração é um carro sem volante. Ele atropelava quem tinha de atropelar e fim; o atropelado, nesse caso, era Katsuki, que saía do veículo da mãe parecendo um pouco menos puto que o costume.

Ela respirou fundo, como um viajante espacial em filmes de ficção científica que se prepara para o impacto. O asteróide Bakugou se aproximou com a postura ameaçadora de sempre, mesmo que fosse difícil levá-lo a sério enquanto portador de uma gaiola de transporte da Hello Kitty.

Dizem que a vida é feita de escolhas, mas esquecem de mencionar que nem tudo é optativo. Ochako não escolheu gostar de um garoto tão temperamental quanto Katsuki, e este não escolheu colocar em seu caminho uma garota tão cheia de cor-de-rosa. Mas lá estavam os dois: um de frente para o outro, tensos como se a situação fosse inédita na história do casal.

— Minha gaiola. — foi o que a garota conseguiu falar, e estendeu a mão.

Os ombros de Bakugou se enrijeceram com o quão a ex estava indo direto ao ponto. Puta que pariu. Ele era gado, gado demais. E choraria na porta dela se fosse necessário. Só não poderia voltar para casa sem tentar nada. Mesmo com incompatibilidades, Bakugou sabia que a cara-redonda de Ochako tinha sido a melhor visão de toda sua vida. Não poderia deixar tudo ir pelo ralo.

— Oi, Cara-redonda. Eu tô bem, obrigado, e você? — disse o garoto em tom de deboche, o que acabou por arrancar uma meia risada da ex.

Então, o silêncio. Um clima tão tenso quanto de peido em elevador se instalou na porta da casa dos Uraraka. A moça coçou a nuca, sem jeito. Não sabia como dizer que queria reatar sem parecer uma idiota apaixonada e desesperada. Ela era tudo isso, mas ele não precisava saber.

— Eu… — começou a garota, mas o nó na garganta era tão forte que a fez pender para o lado errado. — A Mina me trouxe hambúrguer.

Quando a testa de Bakugou enrugou em resposta a um comentário tão estranho, Ochako pediu aos céus para entrar dentro do chão. Que porra foi aquela?!

— Se soubesse onde ela compra, teria trazido alguns.

Ochako fechou os olhos e umedeceu os lábios. Estava a um passo de fechar a porta e se esconder debaixo do sofá de tão envergonhada. No mínimo, Katsuki começaria a achar que estava sendo usado por uma garota que só queria dele hambúrgueres vegetarianos com cream cheese e geleia de pimenta.

Os dedos do rapaz apertaram a alça da gaiola de transporte rosa-bebê. Como um cara grande e forte como ele se sentia minúsculo perto de uma garota tão pequena e redonda quanto um mini-hambúrguer? Os cantos da boca teimaram em se erguer com tal comparação, e foi aí que o rapaz se pegou, mais uma vez, perdendo o foco. Não queria estragar tudo de novo, mas a falta de jeito para escolher as palavras o fez optar por não dizer nada, o que foi tão ruim quanto falar alguma coisa.

Kirishima poderia ser bobo e um pouco lento em algumas ocasiões, mas foi assertivo quando atestou que o diálogo era a única saída para resolver aquela situação. Bakugou estava tenso justamente por ter de seguir esse conselho. Além de ser péssimo na escolha de palavras, sabia que poderia acabar explodindo mais uma vez. Mas no instante em que pôs os pés no asfalto fodido da rua dos Uraraka, uma determinação cresceu dentro de si. Ter de duelar consigo mesmo parecia árduo demais, mas Katsuki nunca foi de aceitar derrotas sem lutar.

Mesmo com alguns segundos corridos, o formigamento causado pela pagação de mico ainda não havia se esvaído. Ochako montou na cabeça uma simples trajetória que fariam até a sala ― só assim estaria mais segura para abrir a boca sem passar vergonha. Certo, ela pegaria a gaiola e o chamaria para sentar no sofá. Os dois teriam uma conversa decente e ela pediria para reatar sem parecer tão afoita. Só não sabia como conduzir a conversa até chegar no objetivo almejado, mas ninguém nasce sabendo de tudo.

Ochako se inclinou na direção do ex, tomando a alça da gaiola de transporte. Estava prestes a convidá-lo para entrar, mas teve o pulso agarrado como uma interrupção. Ela o encarou, e o viu tão assustado que acabou por absorver a emoção para si. Nunca o tinha visto com tal expressão.

Ela vai me deixar, Bakugou pensou quando viu a ex-namorada agarrar a alça da porra da Hello Kitty após segundos de silêncio covarde. No auge do desespero, pensou em beijá-la, mas temeu tomar uma bofetada no meio da cara. Engoliu o orgulho, abriu a boca e tudo desabou de uma vez:

— Eu te amo. — disse em alto e bom tom, quase num grito, mas vendo o exagero, reparou com um sussurro. — Não me deixa, por favor.

Ochako estava devastada, em completo choque; Katsuki nunca havia dito que a amava, a não ser naquela conversa que Mina havia mostrado. Em momento algum a possibilidade deixá-lo foi considerada. Não sabia o porquê do rapaz ter pensado tal coisa, mas puta merda. Parecia a porra de uma cena de um romance. Ela sentiu-se tentada a beijá-lo, inclusive, mas imaginou que seria brega largar a gaiola e se jogar nos braços dele como fazem as mocinhas bobas dos filmes.

Sem ar, apenas gesticulou para que entrasse. E quando Katsuki se agachou para tirar os sapatos, o som de pneu cantando tomou conta da rua. Velha idiota, pensou o rapaz sem nem ao menos se indignar a voltar o olhar para o carro em fuga da mãe. Ele não sabia como as pessoas ao redor conseguiam ver uma reconciliação entre ele e Ochako como algo tão óbvio, uma vez que o loiro se cagava de medo só com a possibilidade de tomar um pé na bunda definitivo.

Uraraka depositou a gaiola da Hello Kitty no chão. O maxilar tenso se esforçava na tentativa de manter a boca fechada. Então Katsuki ergueu o tronco, e a visão do par de olhos cor-de-rubi impactou o peito da moça tão lascivamente que seus divertidamentes acharam uma boa ideia produzir algumas lágrimas no momento. Ela conteve todas, e apesar do nó insistente na garganta, conseguiu dizer:

― Eu também te amo.

2 мая 2020 г. 22:59 2 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Saah AG Nasci em Fortaleza, sou aquariana e adoro inovar. Entrei em contato com o universo fanfiction há onze anos e passei a ser leitora e autora desse meio. Adoro tramas bem construídas, reviravoltas são incríveis, mas alguns clichês também chegam a me emocionar.

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Inial Lekim Inial Lekim
MEU DEUS EU TO MORRENDO AAAAAAAAAAAAAAAAAAA ochako e bakugou dois gados na vida não surpreende ninguém hueheueheue

  • Saah AG Saah AG
    HAHAHAHAHA fico feliz que tenha gostado 🙆🏻‍♀️ May 02, 2020, 23:25
~