I know you,
I walked with you once upon a dream
I know you, the look in your eyes is so familiar a gleam
And I know it's true that visions are seldom all they seem
(Once Upon a Dream - Sleeping Beauty)
— Você é muito talentoso para sua idade.
Surpreso, Itachi voltou-se para o visitante. Não esperava vê-lo na floresta aquele dia. Até pensou em perguntar sobre a missão, mas sequer tinha certeza se ele voltava de uma ou não.
— Eu não sou páreo para você, Shisui-san.
Ele sorriu divertido, depois de observar as kunais presas aos alvos.
— Ah, poxa. — Havia parado em frente de Itachi. — O que houve? — A mão direita estava apoiada na cintura. — A Academia é tão chata que você está matando aula?
— Não estou matando algo... — murmurou antes de se virar para so alvos e lançar uma kunai.
— Que foi?
Estava prestes a sair quando Shisui o chamou. O kage bushin que deixou na Academia havia desaparecido e precisava voltar para não arrumar maiores problemas.
— Tenho que voltar.
— Ah, sim…
Ao ouvir o barulho da kunai acertando o alvo, virou-se para Shisui. Ele era um dos garotos mais inteligentes que conhecia. Passaram uma tarde toda juntos treinando e aprendera tanta coisa nesse meio tempo. De alguma forma, sentiu que podia confiar nele. Talvez porque ele sempre estivesse por perto. Talvez porque fosse inteligente o suficiente para já ser chuunin.
— Shisui-san — chamou, recebendo um olhar calmo em resposta.
O clone desapareceu após um golpe de algum colega. Mais uma vez, aqueles garotos o colocaram em uma luta sem sentido. Não entendia. Qual era o ponto de lutar? Não estavam em uma batalha, ninguém corria perigo, mas, ainda assim, eles atacavam. Sentia-se obrigado a entrar em disputas com as quais sequer se importava. Tudo o que queria era entender, não os enfrentar.
— Por que há lutas na vida? — questionou-o.
— Quem sabe? — Shisui desviou os olhos por segundos. — Mas… — Voltou-se para Itachi. — Se for possível acabar com as guerras, queria fazer isso.
E talvez fosse a coisa mais sensata que Itachi ouviu na vida. Lutar era tão desnecessário. Se a paz soasse minimamente possível, então teria uma boa razão para continuar.
— Eu também! — Apressou-se em dizer.
— Vai ser um grande ninja, sabia? Se continuar pensando assim.
Ergueu os olhos para ele. Não conseguiu conter o sorriso. Não tinha certeza, no entanto, se merecia o título. Sequer sabia o que era ser um Shinobi! Ainda assim, ficava inevitavelmente feliz com os elogios. Talvez por isso a presença de Shisui agradasse tanto. Ou seria por ele sempre estar sorrindo?
— Mas se continuar pensando demais assim, vai queimar a cabeça! — Ele riu. Encarou-o confuso. — Você pensa demais, ‘Tachi! Não que seja ruim, só é cansativo, não acha?
Não respondeu. Tampouco precisava. Ás vezes, chegava a acreditar que Shisui poderia ler mentes. Um dom além dos chakras. Como alguma espécie de genkei kekkai que nasceu apenas nele e não seria passada para as próximas gerações.
— Vem! Vamos treinar um pouco. Se ganhar de mim, te pago dangos!
Sentiu os próprios olhos brilharem, antes de se aproximar para a batalha. Costumava a perder, mas nunca desistia. Era uma meta, um dia ultrapassá-lo. Não por querer ser mais forte, nem por acreditar que o treino valia a pena, apenas queria orgulhá-lo. Parecia importante.
— Como aprendeu a fazer o kage bushin?
— Eu vi meu pai fazendo. — Deu de ombros, antes de mover os dedos para fazer o jutsu. Dois clones surgiram, um de cada lado do corpo. No fundo, apenas queria impressioná-lo.
— Você é mesmo excepcional! — Aquele sorriso empolgado o enchia de felicidade. Uma que apenas sentia com Shisui. — Sabe o que seria ainda mais legal?
Negou em resposta.
— Fazer o katon com todos!
Os olhos brilharam em expectativa. Esperou que ele fizesse os selos com as mãos, também formando dois clones. Os seis voltaram-se para o rio à frente e, praticamente sincronizados, fizeram os movimentos com os dedos. Foi uma das maiores bolas de fogo que já viu! Era tão lindo. Tão grandioso! Tão poderoso! Parecia inacreditável ter tamanha força dentro do corpo.
— Incrível, não?
Voltou-se para o grande sorriso dele multiplicado por três. Shisui parecia ser o ninja mais poderoso que conhecia! Mais do que o próprio pai! E, quando o encontrava sorrindo daquela maneira, tão leve e simples, chegava a ter certeza.
— Gennin já, hein!
— Amanhã vai ser o primeiro dia, Shisui-san — murmurou antes de lançar a pedrinha no rio. Ela quicou várias vezes antes de afundar.
— Você vai gostar! — Sorriu. — Vai ser mais interessante que a Academia.
Ele também lançou uma pedrinha, no entanto, após os saltos na água, ela caiu na outra margem seca.
— Espero que sim! — Suspirou, um tanto frustrado pelas habilidades sempre superiores de Shisui. Com outra pedra em mãos, tentou alcançar o feito.
— Não jogue com raiva. Ou não vai conseguir!
Sentiu-o se aproximar após não conseguir fazer a pedra quicar mais de duas vezes. Não precisou se virar, pois ele se colocou exatamente atrás do corpo, segurando seu braço direito. Com a mão esquerda, Shisui o entregou outra pedrinha.
— Ela tem que ser lisa, ou a parte pontiaguda perfura a água e ela vai afundar. — A voz de Shisui estava tão próxima ao próprio ouvido que conseguia senti-la na pele. — E você tem que mover o braço assim. — Ele guiou o braço de ambos no movimento. — Mas não é a força do lançamento que importa, é sua habilidade em jogar. Como fazer um jutsu.
— Tem algo que você não saiba fazer?
— Tem sim! — Riu. — Agora tente, ‘Tachi-kun!
Assim que ele se afastou, lançou a pedrinha. Ela quicou várias vezes e, perfeitamente, pousou na outra margem seca do rio. Não conteve o próprio sorriso de felicidade, voltando-se para um Shisui orgulhoso. Sempre se sentia cheio de algo muito bom quando ele sorria.
— Você é quem logo vai conseguir fazer tudo.
— Como foi?
— Salvamos um gato bêbado... — Deu de ombros, antes de se sentar ao lado dele. A Lua estava cheia àquela noite, iluminando bem o reflexo de ambos no calmo rio. O estranho, porém, era o quão deformado ficavam as sombras das árvores.
Ele riu divertido, antes de oferecer os dangos embrulhados.
— As primeiras missões são sempre as mais divertidas, ‘Tachi!
— Obrigado — murmurou, antes de começar a comer. Eram os preferidos! Bem docinhos e coloridos.
— Se divertiu com seu time?
— Não acho que deveria.
— Muitos dizem que devemos levar a sério todas as missões. Eu não acho. — Deu de ombros. — Tem tanta coisa cansativa e pesada por aqui… se você tiver a chance de fazer algo divertido, deve fazer! Você merece essa felicidade.
Desviou os olhos do doce para encará-lo. Ás vezes, Shisui era tão profundo nas palavras. Parecia muito mais velho do que realmente era. Deixando no ar aquela sensação de que suas palavras iam além do significado aparente.
— Não se preocupe com o que eu falo. — Ele sorriu diante a surpresa que Itachi demonstrou. Ainda se assustava com o quanto Shisui conseguia ler mentes. — Eu só quero que você fique bem. Só isso.
— Como sempre sabe o que eu penso?
— Você sempre me diz, ‘Tachi, com suas expressões. Você é como um livro aberto, apenas não sabe.
— Eu sou?
— Pra mim, sim.
— O livro dizia que fogueiras são proibidas — disse sério enquanto observava Shisui acender o fogo. Ás vezes, não entendia o que ele estava realmente fazendo. — Quer dizer que há outro motivo para estarmos fazendo isso. — Não era uma pergunta.
— Só coma! — Shisui estava calmo, entregando o peixe no espeto para Itachi. — Você é excepcional, Itachi!
— Eu ainda não sou experiente. — Desviou os olhos. — Se eu tivesse mais habilidades… — Era inevitável lembrar-se de Tenma. Se houvesse treinado mais ele estaria vivo. Começava a entender porque deveria lutar.
— É verdade. — Shisui chamou sua atenção ao rir.
— Não ria! — Bufou.
— Desculpe, é que isso me deixa feliz — disse tirando o próprio espeto de peixe do fogo.
— Feliz? — Mal conseguia acreditar nele!
— Bom, escute, eu pensei que não tinha mais nada pra te ensinar. Mas…
— Você me ensinou muito hoje. — Apressou-se em dizer.
— Sim. E isso me deixou feliz! — Mordeu o peixe.
— E essa fogueira? — Ele ainda não respondera à pergunta!
— Ah… é bom comer com alguém que te deixa tranquilo. Comer comida quente ajuda as pessoas a se alegrarem. — Enquanto ele falava, Itachi sentiu-se animar, sorrindo ao ver o peixe em mãos. — Vai, coma enquanto está quente!
Itachi não esperou para morder e carne e saboreá-la. Era realmente relaxador comer com alguém que gostasse. Uma presença que o acalmasse. Ao lado de Shisui, sentia-se protegido como não deveria. O ar ficava mais leve e quase poderia se esquecer do quão falho era.
— Sim... está quentinho e gostoso!
— Não disse! — Shisui não escondeu a animação.
Por breves minutos, comeram em silêncio. A animação de Shisui enchia o lugar de algo bom o suficiente para Itachi conseguir parar de pensar. E poderia esquecer-se do pai, das obrigações, de que era um chuunin e, quase, até mesmo de Tenma. No entanto, aos poucos a lembrança se repetia na cabeça, como uma memória de algo que nunca aconteceu. A imagem da morte de Tenma ainda ecoava incessantemente em seus pensamentos. Via o desconhecido mascarado aparecer. O amigo se posicionando na frente. A gentileza. A coragem. A dor de ver o sangue espirrar tão longe e o quão alto poderia ser o grito da morte. Ainda sentia os olhos arderem, não pelas lágrimas que sempre tentava segurar, mas por aquela maldição que sempre ansiou, mas agora era um peso! De que adiantava o Sharingan? Ele estava morto! Precisava de habilidades naquele dia. Precisava ter sido excepcional por ele. Precisava ter sido um Shinobi!
Lutar perdia o sentido novamente. Não havia algo pelo qual valesse à pena todo aquele treino.
Até encarar um Shisui silencioso de olhar preocupado. E se o perdesse também? Era o único amigo que ainda tinha. O único em quem poderia confiar, até mesmo, a vida de Sasuke. Se não ficasse forte, teria que o ver sangrar também?
Deveria lutar por ele?
— O que houve? — Shisui perguntou gentil.
— Eu… consegui o Sharingan…
— Entendi. — Os olhos se voltaram para a chama acesa. — Foi por isso que você mentiu?
— Menti? — Ergueu o olhar. — Você também falou isso no começo do treino.
— Você é bom em se enganar. Por isso não consegue entender seus verdadeiros sentimentos. — Falava sem encará-lo. — Você não queria ficar em casa, né? Vi isso em seu rosto.
Não escondeu a surpresa diante as palavras. No fundo, nunca se acostumava com esse dom de ler a mente que Shisui carregava. Principalmente, quando ele estava certo. Lembrar das palavras do próprio pai sobre o Sharingan o irritava de uma maneira que não queria que Sasuke visse. Aqueles olhos não eram um orgulho! Se soubesse desde o início a maldição que carregaria. E agora parte de seu poder era pela morte de um amigo! Era tão injusto! A vida dele era tão mais importante que aqueles olhos!
E Shisui simplesmente sabia…
E ele tinha o Sharingan.
— Pode ser que você esteja certo — murmurou por não saber o que dizer. E, talvez, nada precisasse ser dito. Ele entendia. Ele também perdera alguém.
— Vou ficar em feliz em te ouvir sempre que quiser — Shisui disse, apesar de gentil. Itachi o encarou. — Você é a única coisa real aqui…
— Não tem graça! — disse emburrado. Não queria ser uma piada por ter torcido o pé.
— Desculpe, desculpe! — Ele sorriu. — Você é a única coisa boa que eu tenho aqui… ter você sob minha proteção me deixa feliz. Torna isso tudo um pouco mais suportável. — Suspirou. — Quero que sempre pense em mim como alguém em que você possa confiar. Como alguém que você tem ao lado, entende?
Itachi não respondeu, até porque não sabia o que dizer. Confiava nele com a própria vida, por mais que não entendesse algumas coisas que eram ditas. Teria se preocupado mais, se não lembrasse da ANBU, há poucos minutos, atacando a ambos. Poderiam ter morrido! Poderia ter perdido Shisui!
— Shisui… — chamou baixo, ainda nas costas dele.
— Hum?
— Sobre a Anbu…?
— Ah! Se eu tomei a decisão certa? Não digo que sim. Eu não sei se há justiça no mundo Shinobi.
— Mas…
— Nós lutamos acreditando na nossa própria justiça. Mas se o inimigo ‘tá fazendo o mesmo, quem está certo? Você percebeu isso durante o treino de hoje, né? Há mais do que um lado para um problema. Você deve considerar as coisas de vários pontos de vista.
— Vários pontos de vista? — perguntou sonolento.
— Você deve estar cansado por ter usado o Sharingan. Pode dormir. Mas há algo que é certo, — falou baixo e calmo, quase distante — uu nunca, nunca vou te trair! Não importa o que aconteça!
— Eu só queria que isso parasse, às vezes…
Itachi desviou os olhos das nuvens para encará-lo deitado ao lado. Abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido pela chegada barulhenta do pequeno Sasuke.
— Nii-chan! Nii-chan! Me ajuda a treinar Shuriken! — Jogou-se sobre Itachi no chão.
— Sasuke… — Suspirou, abraçando o irmão enquanto se levantava. As palavras de Shisui ainda ecoavam na cabeça. — Por que não treina com a mamãe? Ela é excelente! — Ajeitou-o no colo para encará-lo.
— Mas ela não é forte igual o nii-chan! — Bufou.
— Que tal treinar comigo? — Shisui se manifestou, também já sentado.
— Mas você também não é forte igual o nii-chan!
Shisui acabou rindo divertido enquanto Itachi negava com a cabeça. Sasuke o tinha como um herói forte que não era. Talvez por isso o afastasse tanto. Ele acabaria machucado se continuasse tão perto. Ás vezes, queria poder tirar aquele amor dele. Aquela dependência, sabia, traria problemas no futuro.
— Pare de pensar tanto e vamos treinar seu irmão! — Shisui se colocou de pé.
Apesar de todos os desejos de se afastar, apenas concordou com a cabeça, ficando em pé junto com o caçula. A empolgação de Sasuke era tão meiga que, por minutos, esqueceu-se de tudo.
— Kai!
— O que está fazendo? — Itachi questionou ao se aproximar e vê-lo com as mãos em forma de selo. Arqueou as sobrancelhas.
— Treinando! — Ele riu dando de ombros.
— Não era o selo de liberação de genjutsu?
— Às vezes precisamos treinar isso também! Não se preocupe tanto! — Rolou os olhos. — Eu só estava treinando. Mesmo.
— Não minta para mim… — murmurou se aproximando.
— ‘Tachi! — Suspirou. — Tem tanta coisa que você não sabe.
Itachi sentiu o toque carinhoso nos cabelos presos no baixo rabo de cavalo. Sorriu contido, ficando ao lado dele, de frente para a cachoeira do Nakano.
— Então me conte.
— Não quero que saiba. Você é a única razão pela qual eu não tento de verdade.
— Então, tente! — Sério, virou-se para Shisui. — Não importa se não quer me contar, mas não se prenda a algo ruim por minha causa.
— Você também me conhece tão bem… — Sorriu.
Na luz do pôr do Sol, Itachi mal podia acreditar no quão lindo eram aqueles olhos.
— Me prometa que não vai deixar algo de ruim acontecer apenas por mim. — Voltou-se para o rio. Não queria perdê-lo. Nada valia perder Shisui ou Sasuke. A dor seria insuportável demais.
— ‘Tachi-
— Prometa, Shisui! — interrompeu-o.
— Não posso prometer algo que não vou cumprir.
— Então, — disse, virando-se para ele — me diga por que estava fazendo selo de liberação de genjutsu.
Shisui suspirou e por longos minutos Itachi acreditou que aquele silêncio não seria mais quebrado. Não gostava quando ele guardava segredos. Nunca conseguiu enganá-lo e esperava, ao menos, uma reciprocidade. Se preocupava com Shisui. Mais do que gostaria. Menos do que deveria.
— Às vezes eu tenho essa sensação… não, na verdade- — Suspirou. — Eu acho que estou preso num genjutsu a maior parte do tempo. E você é a única coisa real aqui. E toda vez que tento fazer a liberação, algo acontece. É estranho, eu sei. — Bufou frustrado. — Eu me sinto preso dentro de uma armadilha que eu mesmo criei, mas da qual não consigo sair.
— Tente agora. — Virou-se para ele. — Não vou deixar que alguém te atrapalhe.
Shisui sorriu antes de concordar. De frente para Itachi, fez os selos com as mãos e murmurou baixo com os olhos fechados. Por segundos, Itachi realmente temeu que ele sumisse. Era tão inacreditável tê-lo na vida que, muitas vezes, se questionava se era real.
Não era.
No entanto, ainda assim, prendia-se ali, com ele. Shisui não estava errado, afinal. Estavam ambos presos naquele genjutsu, mas, diferente dele, não teria coragem de sair. O mundo do outro lado era um pesadelo apenas suportável porque, de uma forma ou de outra, sempre o encontraria. Talvez por isso tenha ativado o Sharingan naquele instante. Queria guardar aquele rosto perfeito na memória pelo resto da vida.
Por sorte, ele não desapareceu. Enquanto ele abria os olhos, desativou o Sharingan. Teria certeza de que, a partir de agora, jamais o esqueceria.
— A sensação passou?
— Não... — Suspirou, voltando-se para a cachoeira. — Estou ficando louco?
— Eu jamais pensaria isso. — Sorriu gentil, tocando o ombro de Shisui. — Apenas fico feliz de achar que estaria num genjutsu comigo.
— Eu não escolheria estar com ninguém mais. — Voltou-se para Itachi, porém extremamente sério. Uma seriedade que poucas vezes Itachi recebia dele.
— Eu também não… — murmurou baixo, culpado.
— Nos veremos do outro lado?
Não respondeu. Desviou os olhos para a cachoeira já na penumbra do anoitecer. Do outro lado, não havia realmente alguma coisa.
— ANBU? — Shisui estava sério como nunca.
— Tenho quase certeza de que Danzō apenas quer me usar.
— O que vai fazer, Itachi?
— Vou estar em dois lugares ao mesmo tempo. Assim posso te ajudar. — Avançou um passo, tocando uma das mãos de Shisui. — Não quero que acabe morto!
— Não percebe? — Riu nervoso, mas não afastou o toque. — Isso tudo é muito estranho! Por que logo agora? Primeiro o ataque e então você… justo agora!
— Está falando do genjutsu novamente?
Shisui suspirou e entrelaçou os dedos. Era a confirmação para Itachi.
— Você descobriu alguma coisa?
— Todos os sonhos têm falhas, Itachi... — Suspirou, passando a mão livre nos cabelos. — Você é a única coisa sem falhas aqui.
— O que está insinuando?
— Eu não sei… — Abaixou os olhos, cansado. — Só… preciso pensar.
— Você acha que tudo tem relação com a ANBU, não é? — Não se surpreendeu ao receber o olhar confessado de Shisui. — Eu vou descobrir, então. Você não está sozinho! — Apertou, com certa força, a mão entrelaçada.
— Obrigado, ‘Tachi-kun — Shisui sorriu.
— Eu achei que podia fazer isso sozinho… que eu podia aguentar…, mas não é real, ‘Tachi!
— Do que está falando? O que aconteceu com seu olho? — Não escondeu a preocupação na voz. Nunca tinha visto Shisui daquela maneira: tão desesperado.
— Alguém pegou. — Suspirou. — Eu queria tanto ficar mais. Ficar com você. — O sorriso era triste. — Mas não posso viver para sempre nessa mentira. Eu só tenho você de razão e você não existe!
— É claro que eu existo! — Deu um passo em direção a Shisui.
Existia?
— É meio triste pensar que a melhor coisa da minha vida não aconteceu. — Suspirou. — Mas eu nunca vou te esquecer, ‘Tachi! Nunca. Eu sempre vou lembrar de seu nome. Eu prometo…
— Shisui, o que aconteceu? — Avançou mais um passo, porém, desta vez, ele recuou, ficando ainda mais perto da cachoeira. — É por causa do genjutsu? O que você descobriu? — Estava exasperado.
— Itachi! — Bufou. — Não percebe? Nada aqui tem sentido! Eu sempre achei que estava ficando louco, mas eu não estou! O tempo corre devagar, mas eu vejo as falhas. A atadura de Danzō troca de lado e, quando lutamos, ele era muito mais forte! A forma como o Susanoo se formou… e a dor dos olhos… foi a única dor real que eu tive! Uma dor de verdade!
— Você lutou com Danzō?
— Você é o único que parece ter sentido! Merda, Itachi! — Respirou fundo. — Eu acho que algo muito ruim vai acontecer. Se pegaram meu olho. Eu não posso mais ficar aqui se fazer nada!
— Shisui…
— Eu não posso mais adiar. Não posso mais ficar aqui esperando que do outro lado tudo fique bem. Eu até queria ficar… por você…, mas você me pediu que eu não fizesse isso. Itachi, me perdoe
— Eu sempre vou te perdoar. — Engoliu seco, preocupado.
— Só… se tiver algo de real em você, por favor, não me esqueça.
— Eu- eu nunca me esqueceria de você. — Temia pensar que aquilo era uma despedida. — O- o que vai fazer? — Cerrou os pulsos, temendo a resposta. Não podia perder Shisui também! E simplesmente não sabia o que fazer. Estava paralisado.
Como naquele dia.
— Sabe o que dizem, não é? — Sorriu triste. — Quando você morre, você acorda do sonho.
— Shisui, não...
— Não tente me impedir! — Mais um passo para trás e estava exatamente na beira da cachoeira. — Eu preciso ir. Eu preciso fazer tudo ficar certo. E se você existir no meu mundo… no mundo real… eu juro que vou te achar, ‘Tachi. Eu juro! Eu nunca vou esquecer seu nome…
— Shisui… — Ofegou.
— Eu te amo, ‘Tachi-kun…
No mesmo segundo, ele caía pelo precipício. Aproximou-se correndo, mas era tarde demais para alcançar as mãos estendidas. Gritou em pura dor, pensando seriamente em pular atrás e resgatá-lo de alguma maneira. Não podia simplesmente perde-lo! Não ele! Os olhos arderam pelas lágrimas.
Viu-o atingir a água fria para, em seguida, abrir os olhos. Ofego e suado, encontrou-se na escuridão do próprio quarto. Contudo, a porta logo fora aberta e, pela luz do corredor, reconheceu a presença da mãe preocupada.
— Itachi...?
Queria dizer a ela que tudo estava bem e que era apenas um pesadelo, no entanto, quando abriu a boca, soluçou. Não se lembrava exatamente do que aconteceu, mas os olhos ardiam como se deles saíssem sangue. Em qualquer outra ocasião, teria conseguido enganar a mulher, contudo, sentia uma dor tão dilacerante no peito que sequer tentou. Tudo o que conseguia fazer era gritar, sentindo que o ar saía dos pulmões para não voltar mais, afogando-o ainda mais na dor do descompensado bater de coração. O corpo ficou mais pesado e nem o abraçar forte da mulher conseguiu tirá-lo daquele desespero. Tremia ao ser apertado com força, sem conseguir formar qualquer pensamento concreto que explicasse aquela dor. Um único nome ecoava na cabeça, importante demais para deixá-lo ir.
— Shisui… — Conseguia repetir entre cada soluço de agonia.
Mikoto manteve-se ali, tentando acalmar o filho, ainda que sentisse o próprio peito afundar em tristeza. Nos olhos aguados do menino, brilhavam em vermelho e preto o nascer do Mangekyou Sharingan.
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