whatapanda Políbio Manieri

Há poucos detalhes de minha infância os quais consigo me lembrar. Mesmo assim, certas coisas são difíceis de apagar. Certos momentos são impossíveis de esquecer. E, acima de tudo, havia um menino. O menino era você.


Короткий рассказ 13+.

#naruto #kakagai #kakashi #gai #hurt-confort #canon-compliant
Короткий рассказ
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Eu e você

Há poucos detalhes de minha infância os quais consigo me lembrar.

E isso não quer dizer nada, a verdade é que nunca tive uma memória das melhores e não me incomodo por isso. Uma das coisas que se aprende na vida, quando se tem a minha idade, é que é sempre melhor olhar para o presente que se tem e o futuro que há por vir do que ficar remoendo o que já foi.

Mesmo assim, certas coisas são difíceis de apagar. Certos momentos são impossíveis de esquecer.

O calor da mão de meu pai sobre a minha cabeça sempre que eu falhava, o mundo acabava, e ele precisava me convencer que tudo ficaria bem. O cheiro das flores que eu pisoteei ao comemorar a formatura e receber a minha tão almejada bandana. Ou mesmo o som do vento ao quebrar o silêncio dos cerimoniais no cemitério, após o fim de cada batalha.

Porque você, mais do que ninguém, sabe. A morte tem um som diferente a cada vez.

E, acima de tudo, havia um menino.

Um menino não muito alto, e um pouco magrelo demais. E, apesar de todos saberem que sua pouca idade não passava de nada além do que um simples um número, a questão era que talvez ele fosse atrevido demais para alguém do seu tamanho.

Isso eu me lembro bem porque sempre me incomodou, desde a primeira vez que o vi.

Por mais que fosse pequeno, ele sempre me pareceu tão gigante. Inalcançável. E me irritava notar o quanto me intimidava sua presença. Me irritava, principalmente, perceber que não importa o quanto eu brigasse e esperneasse, era tamanha a facilidade com a qual me ignorava.

O quanto eu não era nem um pouco digno de sua atenção.

Ele sempre pareceu ter problemas maiores ou urgentes para perder tempo com um perdedor como eu.

O menino era você.

“O filho do grande Canino Branco de Konoha”, eles diziam pelas ruas “Podemos esperar grandes feitos desse menino gênio”.

E era o que você era, um gênio. Mas ainda um menino.

Todos o achavam muito jovem para tanta panca, tão jovem para tanta responsabilidade.

Mas, sabe o que? Talvez ele fosse um menino pequeno demais.

Claro que se sentir mais alto do que os outros era bom, mas isso no início.

E qual seria a altura ideal para se chegar? Você tinha subido a certo ponto que as pessoas não mais escutavam a Kakashi. A pessoa esquecida que se escondia enquanto o “filho do Canino Branco” subia e aparecia cada vez mais.

Sempre exigiam mais de você do que você estava disposto a oferecer. E, mesmo assim você nunca reclamou. Nunca negou.

Tudo o que amava você perdeu para a guerra.

Mas nem mesmo a guerra nos prepara para o quanto o mundo pode ser cruel.

Quanto vale o preço de um ideal? Ainda hoje me pergunto se você acredita que valeu a pena viver o tanto que sacrificou.

E como podia pensar em amar? Tudo o que amava se transformava em cinzas. Jamais em minha vida conheci alguém com tão pouco a oferecer e ainda tão muito a perder.

E você nunca desistiu. Não havia glória em desistir. Não. O que você mais temia na vida era se tornar um homem desonrado como seu pai.

Por que você o amava tanto, não é mesmo? Por isso era tão doloroso deixar a memória dele partir... Então você a cultivou, a prendeu, e a manteve cativa pelo único sentimento que lhe restava em seu coração: mágoa.

Você não queria viver como um fracasso, você queria morrer como herói. Mas, a verdade, o que ninguém sabia, era que você não queria morrer.

Por isso, você sobrevivia.

Mas também não havia glória quando você insistia em sair na chuva da madrugada, porque o escorrer das gotas pelo rosto eram o disfarce perfeito para ninguém descobrir que você estava chorando.

E você chorava tanto, menino.

E eu também nunca fui perfeito, talvez por isso ainda me lembre daquela vez que nos encontramos ao pôr do sol e você me disse que não conhecia shinobi mais legal do que o meu pai.

Naquele momento eu me surpreendi mais do que tudo no mundo, pois eu havia esquecido disso. Você me lembrou.

Um dia a guerra levou meu pai também. Após uma vida inteira como a vergonha da vila, Maito Dai teve o enterro elegante destinado aos heróis de guerra, enquanto Hatake Sakumo havia sido um herói de guerra uma vida inteira e foi enterrado como a vergonha da vila.

Não era irônico, era injusto. Era a vida.

Juntou-se com mais duas pessoas. Outro menino e uma menina.

Até que a guerra levou os dois.

E não era apenas você, eu sei. Desde que nascemos somos criados como soldados, treinados como soldados a agir por um ideal que nem mesmo entendemos. Não há tempo para viver quando sequer há tempo para pensar.

E era fácil. Era tão mais fácil não pensar.

Era tão mais fácil simplesmente agir. Porque você treinou seu corpo exaustivamente para isso, treinou tanto que reagia a tudo por conta própria e essa foi a sua maior vantagem quanto ninja.

Você lutava como ninguém. Você matava como ninguém. E não havia tempo para pensar e nem havia meios de se arrepender.

E à noite, quando, exausto, você finalmente descansasse a cabeça em seu travesseiro, você teria uma noite vazia de sonhos.

Apenas poucas horas sem ser assombrado pelos rostos de todos que se foram, de todos que te deixaram sozinho. Ou do simples sangue que você não conseguia lavar das mãos, porque foi você quem os deixou partir.

E era por isso que tinha medo. E o medo te transformou em covardia.

Éramos crianças, eu e você, quando te perguntei se você gostaria de me acompanhar por toda a vida e você me odiou. Você se lembra disso?

Veja bem, há poucos detalhes de minha infância os quais consigo me lembrar.

Mas eu lembro de uma noite que poderia ser diferente, mas era apenas igual a qualquer outra daquela época. Lembro nitidamente da máscara ANBU jogada no chão da minha casa, refletindo a escuridão da noite nos buracos vazios da face enquanto suas mãos me empurravam contra a parede de forma agressiva.

Você não entende, Gai?! Todas as pessoas que eu amo, elas morrem!”

E isso me magoava mais do que se você me atingisse com um soco. Porque não adiantava o quanto eu corresse atrás de você, e que treinasse até meus músculos virassem pó… Você jamais deixaria de me ver como um fardo.

O fardo que morre. O fardo que precisa ser protegido. E que você não tinha mais a capacidade para lidar, porque todos os que você já chegou a conhecer agora se refletiam em mim.

Eu não sou fardo menino, não preciso de tu protegendo a mim. Não sou pior do que você em seus melhores dias de assassinato.

Porque era isso o que fazia. Matava para fugir da morte. E fazia bem.

E eu também.

Lembro que arranquei tuas mãos da minha veste e empurrei com violência em direção ao chão.

Mas você também já não era mais menino, era um homem como eu.

E como tal, eu lembro nitidamente do calor insipiente da boca de homem contra a minha. Um beijo com gosto de sangue, com a ferocidade de uma mordida e uma tez salgada de lágrima. Uma barba falhada que havia sido negligenciada por um longo tempo em missão arranhando forte a minha pele como se fosse lixa.

Eu apenas te segurei com força achando que você ia cair, mas você empurrou a língua contra a minha e foi a tua vez de se refletir em mim.

Quem além de mim aguentaria de igual pra igual a tua desolação? Quem além de mim apararia toda a tua selvageria, com a urgência e o desespero que tão facilmente fluía de ti?

Te beijar não era amor, era mais uma batalha. E eu queria provar que nunca mais perderia de você.

Mas eu parei. Eu detive tuas unhas quando ameaçou rasgar o meu pescoço, e teus dentes me tiraram pedaço quando impedi tuas mãos de chegar na barra das minhas calças. Eu perdi, Kakashi, mas porque escolhi perder.

Porque não cabia a mim te expor o que o vermelho do teu sharingan não conseguiu enxergar.

Eu já te vi morrer tantas vezes, Kakashi, e me lembro de cada uma delas.

Te vi morrer abraçado ao cadáver inerte do seu pai na antiga casa de família. Te vi morrer quando retornou de uma missão em que precisou escolher qual dos amigos você socorreria.

Quando você se escondeu na floresta tentando honrar a herança daqueles que você não conseguiu salvar, um raio te encontrou e te atingiu, eu também te encontrei e ali eu senti na palma da minha mão o teu coração vacilar.

A segunda vez que provei tua boca de sangue foi ao tentar recuperar a tua vida.

Porque, ao contrário da tua terrível sina, todas as pessoas que eu amo terão o luxo de escolher o momento de morrer.

Você entende, Kakashi? Você não vai me ver morrer, a não ser que eu queira morrer.

Não vai me ver perder, a não ser que eu queira perder.

E você não vai morrer, a não ser que eu permita que morra.

Mas você não queria morrer. Você nunca quis morrer. Então por isso a minha presença se tornou cada dia aceita. Inevitável. Desejável.

Soube que você morreu uma vez, uma única vez quando, na única vez em toda a minha vida, eu não estava por perto para impedir. Das quatro vezes que me atrasei te impedi em três, na última eu não cheguei, você morreu.

Mas o Deus da morte não te quis e te cuspiu de volta. E quando eu te vi novamente me pareceu que você nunca tinha morrido.

Te dei flores e você me disse pela primeira vez que queria que eu nunca mais desaparecesse da sua vida.

A morte faz coisas engraçadas com uma pessoa.

Você não queria morrer. Por isso o meu amor se tornou essencial.

Meu amor se tornou a tua garantia de vida.

A ferida que tu deixou no meu lábio durante teu ímpeto selvagem nas paredes do meu quarto me deixou uma cicatriz, Kakashi. Você sabia disso?

Somos cobertos de cicatrizes, eu e você.

Superficiais, mortais, cansados e marcados da história de uma vida de batalhas. E tal qual as batalhas que lutei e que venci, tua cicatriz era a promessa bruta que tu nunca mais sairia de mim.

Era o sinal perene de que eu nunca mais perderia pra você.

A terceira vez que te beijei, eu que arranquei pedaço de você. Para que você soubesse, e que sentisse, que por baixo da tua máscara agora também escondia uma fatia de mim.

Talvez fosse uma coisa nossa, porque o gosto de sangue sempre nos foi familiar. Devorar e ser devorado, consumir e ser consumido, destruir e ser destruído.

Vida e morte. Choro e riso. Guerra e gênesis. Você em mim, eu em você.

É para isso que fomos feitos. Foi para isso que fomos forjados. Vivemos, matamos, morremos e assim cumprimos o nosso papel.

Ainda assim, nos mantemos vivos a todo custo. A custo de tudo.

Como te prometi, as pessoas que amo tiveram o luxo de escolher o momento de morrer.

E quando eu quis, eu morri. Pra proteger a todos os que me eram mais importante, mas não para proteger a ti.

Não a ti porque nós lutamos lado a lado, de igual para igual. Kakashi, eu não sou melhor nem pior, sou tão bom quanto você.

Ninguém me deixou morrer. Ninguém falhou comigo. Eu escolhi, e morri.

Ou pensei que morri. Quando em meio da força do fogo selvagem transformando novamente meus músculos em pó, foi a minha vez de sentir meu coração vacilar na palma da tua mão.

Foi tudo o que senti, até não sentir mais nada. Morrer e renascer de novo.

E quando renasci, tudo havia terminado. Tudo havia destruído, mas terminado. Rápido assim, como se não tivessem sidos necessários tantos anos inteiros de morte e renascimento para terminar.

Eu não sei dizer o que aconteceu, muito menos porque, mas consigo dizer que quando acordei depois de tantos dias morto e a primeira coisa que vi foi os teus olhos, os dois olhos, pretos como eram desde que te conheci, como deveriam ter sido desde o dia que você veio ao mundo, eu sabia que havia terminado.

Tua vida não corre mais perigo. Quem dirá a minha. E mesmo assim você me pediu pra ficar, para nunca mais ir embora.

Eu sempre fui desmoderado, mas quero aqui te confidenciar que eu jamais pensei que veria as formas do meu rosto se tornarem cada dia mais fundas.

Jamais pensei que veria teu cabelo cinza ficar ainda mais despenteado, e tuas linhas de expressão mais acentuadas, que agora deixavam o teu sorriso tão parecido com o do teu pai.

São poucas as armas de guerra tem durabilidade de mais que uma geração.

Hoje, quando me lembro de tudo aquilo que não consigo esquecer, sei que o sangue não era nosso.

Penso nisso sempre que o beijo que você me beija tem gosto de chá de fim de tarde ou até de doces suaves nos dias mais intensos.

Éramos crianças, eu e você, quando te perguntei se você gostaria de me acompanhar por toda a vida e você me odiou por isso.

Mas também não me disse que não.

E eu também não sabia naquela época, talvez hoje eu saiba menos ainda.

Mas sei que tudo aquilo que é eterno não pode morrer. E sei que eternos somos nós, eu e você.

16 ноября 2022 г. 1:21 2 Отчет Добавить Подписаться
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Políbio Manieri Being alive...

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Blue Martell Blue Martell
É tão sensível e intenso. Parabéns pela escrita, Polímero. ✨✨💙

  • Políbio Manieri Políbio Manieri
    Obrigado bebeeee Essa tava encalhada a uns 2 anos, to feliz q consegui terminar November 16, 2022, 22:43
~