sahsoonya sahsoonya

[KaiSoo] [Oneshot] Jongin está perdido. Não vê mais sentido na vida e se afoga cada vez mais em seus pecados. Mas, seu destino está prestes a mudar, pois seu anjo da guarda KyungSoo jamais permitirá que seu protegido sucumba á seus sofrimentos. Jongin terá a chance de enfim encontrar seu caminho e vivenciar o mais puro e verdadeiro amor, mas será que o anjo está disposto a abandonar a vida que conhece, para entregar seu coração a um humano?


Фанфикшн Группы / Singers 13+.

#AnjoXHumano #slash #+13 #ua #sahsoonya #kaisoo #yaoi #exo #os
Короткий рассказ
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The whispers in my ear



My guardian Angel



Jongin

Olhei em volta, apenas para ter certeza de que ninguém presenciara meu suspiro. Era sempre assim, todo maldito ano. Por que sempre tinham de me arrastar pra esse troço maçante? Não tinha mais sentido ir ali. Já fazia anos, tempo demais para que minha mãe ainda chorasse copiosamente daquele jeito.


Olhei rapidamente para os outros túmulos que estavam dispostos ao redor daquele em que minha mãe estava sentada. Os outros não passavam de túmulos sem graça que a família não tivera nem a decência de colocar alguns pisos ou míseros vasos de flores. Alguns não possuíam sequer nome, tão diferentes do túmulo de meu pai. Mesmo cheio de pequenos enfeites, lindas mensagens cromadas e flores o adornando, toda vez que eu fitava as fotos de meu pai naquele "monumento" que minha mãe havia criado para si, ele ainda parecia inevitavelmente triste. E eu não o culpava por parecer julgar-me com os castanhos e tristes olhos. Eu era um lixo, um esquecido tal como os túmulos ou quem sabe, ainda mais sem graça que eles.

No início, culpava meu pai por minha vida ser um fracasso, mas a verdade é que ele sempre foi um bom e honesto homem, que deu duro a vida toda para dar uma vida digna a mim e à minha pobre mãe. E como todo bom trabalhador, ele merecia um descanso, algo para relaxar, às vezes passando em um barzinho de um amigo após o trabalho para compartilhar algumas doses de soju e as lamúrias da vida, sempre com bom humor. Nada demais.


E eu... Era o filho prodígio. Sempre com notas no topo do quadro de honra da escola, parecia-me apenas natural ser elogiado pelos meus pais e professores, mas sem nunca perder a humildade, como meu próprio pai me dizia.

Às vezes eu gostaria de voltar à época em que eu era inocente sobre a vida. Tinha a mente pura e o coração cheio de sonhos: crescer, ser médico ou engenheiro, quem sabe, advogado? Me apaixonar, criar uma família... Proporcionar uma velhice confortável a meus pais... Sonhos de um adolescente livre de quaisquer preocupações. Mas, se a vida fosse assim tão fácil, todos seríamos capazes de realizar nossos sonhos, e eu estava fadado a ser um zero à esquerda.


Não que o destino tivesse me desgraçado, longe disso. Os méritos eram todos meus. Contudo, para alguém que acabara de perder o pai em um assalto ao bar que costumava frequentar, me pareceu refrescante culpar algo não terreno pela minha dor.


- Ei, filho. - minha mãe disse, vendo que eu retirava meu maço de cigarros do bolso e acendia um. - Não deveria fumar, não é bom pra você.


- Até onde sei... - rebati - Beber também não é e se meu pai houvesse ouvido, talvez estivesse vivo agora.


Seus olhos tornaram-se tristes, ao virar-se para a foto no túmulo, como para desculpar-se pelo meu comentário, antes de dizer:


- Não diga isso, não foi culpa dele. Seu pai era um grande homem, Jongin.

Olhei em volta, tragando o cigarro e soltando a fumaça, vendo-a misturar-se à fina poeira que levantava toda vez que alguém passava por entre o chão do cemitério que era coberto de pequenas pedras.


- Já posso ir? - questionei, jogando o peso do corpo de uma perna à outra.


- Kim Jongin. Como vão as coisas? - minha mãe arqueara as sobrancelhas, mudando de assunto.


- Por que quer saber? - perguntei, evasivo.


- Por que quando o obrigo a vir ver seu pai é o único momento em que conversa comigo. Estou preocupada com você.

Revirei os olhos. Eu sabia que minha mãe sentia minha falta, mas não tinha paciência para suas palavras doces de quem se importa muito. Seus votos de que tudo ia ficar bem me davam nos nervos. Afinal, eram apenas mentiras ao vento sendo que ela mesma destruíra a relação de mãe e filho que possuíamos.


- Não é meu pai, ahjumma. É só uma merda de túmulo. - murmurei, afastando-me irritado. Só tive tempo de ouvi-la dizer que me amava e que nos víamos em casa.



O anjo

Fazia tempo que o observava. Desde sua infância ele me chamara a atenção.


Não sei o por que. Só sei que havia algo. Quando soube que devia velar por ele, fiquei animado. Fazia décadas que não acompanhava ninguém.


Me senti orgulhoso ao ver aquele garotinho de cabeloscastanhos e um sorriso caloroso que fazia seus olhos astutos e negros se tornarem meias luas quando se semicerravam, se saindo tão bem desde cedo. Eu não costumava me importar muito com conquistas pessoais de meus protegidos. Minha função não era sentir, era proteger. Mas, em certo ponto, eu não pude apenas observar até porque a vida reservara ao pequeno Jongin um destino que nem mesmo eu poderia imaginar.

A primeira vez que me fiz necessário, foi logo após a morte de seu pai. Eu conseguia sentir que seu coração estava em pedaços, mas nunca havia visto um humano tão inconformado. O peso e a constatação da verdade veio muito cedo para você, Jongin. Sinto muito por isso, pois não pude livrá-lo.

A escola já não fazia mais sentido. Quem ele orgulharia, afinal? Estava só desde que a mãe caíra em sua depressão e parecia cada vez mais inerte nela. Seus olhos não mais buscavam os do filho durante o jantar, muito menos ia até a escola ser felicitada pelas notas do filho. E como o faria? O garoto simplesmente cabulava aula, com os novos amigos, de quem eu não gostava nada. Kris era o tal líder da ganguezinha do bairro. Lay e JongDae apenas o seguiam por onde quer que fosse, e logo, Jongin passou a fazer o mesmo.


Logo cabular aula não era suficiente. Beber e fumar tornaram-se hobbies, além das festas regadas a drogas e as garotas sem fim com quem ele começou a fazer sexo antes mesmo dos 16 anos. Jongin saía cedo e voltava de madrugada e sua mãe mal fazia ideia da situação em que o filho encontrava-se, tão perdida estava na própria dor.

Quando intervi pela primeira vez, ele estava numa festa, deitado e seminu em um dos quartos com uma garota que preparava para meu garotinho um coquetel com êctase. Naquela noite ele teria sofrido uma overdose, se eu não houvesse impedido que a droga agisse.


Pensei que após a experiência, meu doce garoto fosse rever seus conceitos. Acreditei piamente que o susto o mudaria. Eu estava errado.


Jongin simplesmente não me dava descanso, parecia querer provar algo a si mesmo, ou assim eu pensava até então. Na verdade, ele queria se matar, mas na época eu não quis ver, eu não queria permitir. Meu coração apertava toda vez que o via destratar a mãe, cada vez mais depressiva, ou se metia em alguma briga. Ele sempre saía ileso. E eu sempre me feria.


Mesmo que não pudesse me ver, tudo o que eu mais queria era vê-lo bem, mesmo que ele mesmo não quisesse.



Jongin

Arrumei o topete antes de sorrir para a figura imponente de 19 anos diante do espelho. Era mais uma noite de loucuras. Eu me afogaria novamente nos prazeres mundanos, como de costume, a fim de esquecer minhas dores. Ia beber, me drogar e transar, como sempre. Entrei no carro, acomodando-me ao lado de Lay, enquanto Kris e JongDae sorriam para mim.


- Essa noite vai ser irada! - gritou Lay.

Apenas assenti. Mesmo com toda a rebeldia e vagabundagem às vezes, só as vezes, eu me permitia me encolher em minha cama e refletir. Não chorava. Não mais. Só abraçava a solidão que me rodeava e sofria calado, inconformado enquanto culpava-me por ser uma desgraça para minha mãe e pai, mesmo que o último disso não soubesse, ou talvez ele soubesse, ele sabia? Provavelmente estaria decepcionado. Eu também estava. Mas, eu precisava preencher aquele vazio. Tudo que eu mais queria era me sentir completo de novo. Eu não sei se Deus teve pena de mim, se seus cálculos erraram ou o que, mas o ser superior pareceu ouvir minhas preces. A primeira vez que vi KyungSoo, foi no dia de minha morte.


O anjo

Era mais uma noite igual a todas as outras. Mas, algo me dizia que essa seria diferente. Aquela informação estava mesmo certa? Como assim Kim Jongin não precisava mais de mim? Estranho. Era eu quem permanecia ao seu lado durante as noites em que se permitia sofrer sozinho.


Jamais lhe sussurrara palavras de conforto. Ele as odiava. Odiava pessoas que lhe dissessem palavras doces e falsas. Ele não acreditava na mesma luz que eu.


Éramos diferentes.


Por que ele não conseguia ver escape daquela vida terrível, sendo que eu lhe dera tantas chances de deixar aquele poço de tristeza e decepção? Enquanto ele mantinha-se forte, eu chorei suas lágrimas... Eu fui aquele que visitou sua mãe e sussurrei a ela as palavras de conforto que Jongin jamais ouviria de mim. A trouxe de volta. Pus boas pessoas em seu caminho e a fiz ver o que ela precisava ver. Eu o alcançaria por intermédio dela e ele seria de novo o garotinho que eu amava venerar.


Porém, mesmo quando Kim SooYoung vira no que o filho se tornara e se dispôs a ajudá-lo já era muito tarde, pelo menos para seu filho. Segundo ele, ela não tinha o direito. Ele era um adulto. Se resolvera sozinho, sabia se cuidar. Jongin não precisava da pena dela, pois não estava sofrendo. Não se sentia sozinho nem perdido. Era sua vez de lançar mentiras ao vento.

Quando enfim me dei conta de que ele não mais precisaria de mim pois partiria naquela mesma noite, não pude me conter. Não quando eu sentia tanto. Não quando desesperadamente eu o queria seguro, feliz, vivo. Não quando tudo que eu queria era tê-lo comigo, nem que fosse necessário quebrar algumas regras.



Jongin

As coisas estavam confusas no início. Aquele aperto muito estranho no lado esquerdo do peito era apenas a adrenalina, certo? Não poderia ser algum tipo de aviso. Devia ser minha mãe me agourando. Desde que a mulher vira a luz no fim do túnel, cismou que me levaria ao pote de ouro no fim do arco-íris junto com ela. E eu não poderia estar mais incrédulo. Ela parecia mais satisfeita com a vida, e infinitamente mais presente em minha vida, mesmo que isso me incomodasse, após ter tido tanta liberdade e até mesmo tentava aconselhar-me. Ela não passava de uma traidora, que me largou na merda após encontrar a porra do Nirvana e agora queria bancar a mãezona pra cima de mim... Patético.

- Filho, por favor, não vá... Não gosto desses amigos. Eles são má influência. - ela segurava meu pulso, enquanto eu a fitava parado à porta.


- Deve ser difícil para as mães admitirem que seus filhos é que são as maçãs podres... - zombei, livrando-me de seu aperto. - Não me espere acordada, ahjumma.


Ela suspirou, antes de engolir o choro e sorrir com todas as forças que possuía:


- Vou rezar para que seu anjo da guarda te proteja.


Me virei para ela. O rosto sério, impassível.


- Vê se acorda, omma. Não existem essas coisas de anjos. Estamos sozinhos nessa droga, jogados à própria sorte.


- Nada acontece por acaso, meu querido.


As palavras dela ecoaram em minha mente, enquanto a música alta do rádio e as risadas de meus amigos preenchiam o carro que seguia estupidamente rápido pela estrada. Meu coração permanecia inquieto e tudo pareceu fazer sentido quando eu vi o carro desviar para a mão contrária. Kris se assustara com a luz do farol do outro carro e jogou o veículo em que estávamos para o lado oposto.


Um grito de pavor ficou preso em minha garganta, enquanto eu enfim constatara que morreria. Logo a barricada do acostamento fora destruída pelo carro e tive o vislumbre de minha morte.


Eu estava sem o cinto de segurança e estávamos rápido demais... Eu seria lançado para fora do automóvel. Seria uma morte feia.


Droga, isso destruiria minha mãe. Ao menos se eu tivesse mais tempo!

O que deveria ter sido uma rápida morte, passou diante dos meus olhos como se estivesse em slow motion. Naquele momento, mesmo um descrente como eu, fui capaz de vislumbrar a vida que eu sonhava para mim. Aquela que eu mesmo me impedira de viver e eu simplesmente desejei que tivesse uma chance, mesmo que desejar não fosse mudar nada.

Mas, ele me ouviu.

Num momento eu via a barricada se quebrando e no outro ele estava ali, diante dos meus olhos. Um garoto, diferente de tudo que eu já vira. Trazia um sorriso curioso nos lábios... Lábios em formato de coração. A pele era pálida, os cabelos pretos e lisos, cobrindo parcialmente os olhos enormes, tão profundos, mas tão profundos, que pareciam poder me transpassar, ver meu interior.


Num movimento ágil, ele passara o cinto de segurança em volta do meu corpo. Seus braços então me envolveram quando ele sentou-se sobre meus joelhos, abraçando meu corpo enquanto as coisas dentro do carro voavam de um lado para o outro. Por instinto, fechei meus olhos, não ciente do que estava acontecendo ali. A última coisa que processei, foi o sussurro no meu ouvido, tão nítido, como se não estivéssemos dentro de um carro que capotava sem parar.


"Pronto, pronto... Jongin-ah. Apenas durma, eu estou aqui".

Quando acordei, me sentia como se tivesse dormido por anos. Aquele quarto em tons de creme não era o meu. O cheiro inconfundível de remédio e produto de limpeza invadiu meus sentidos. Era um hospital. De onde eu me encontrava deitado na cama, podia ver minha mãe sentada no canto da sala.


- M-mãe? - minha voz saiu rouca devido à falta de uso e minha mãe notou que eu acordara. Correu afobada para perto de mim, com os olhos marejados.


- Jongin! Meu filho... Você acordou! Eu te amo tanto minha criança... Achei que te perderia...


Olhei para meu corpo, tentando mover as pernas, sentindo-as normalmente. Só um braço estava enfaixado e eu sentia uma faixa na minha cabeça.


- Graças a Deus você está bem... - disse, acariciando meu rosto dolorido.


Eu estava confuso. O que acontecera, realmente?


- Mãe... Onde ele está?


- Ele?


- O garoto que estava no carro comigo. - observei meus dedos da mão direita. Tinham arranhões.


- Ah, fala dos rapazes do carro? - ela abaixou o olhar, incerta do que dizer.


Lembrei-me de meus amigos, enfim.


- Oh! Como estão os caras?


A expressão que passou por seu rosto era indecifrável. Ela desviou o olhar, parecendo nervosa e inquieta, por um momento.


- Eu... Vou avisar o médico que você acordou. - e me deixou só, com aquele aperto no peito incomodando-me.


O médico voltou logo mais, explicando que nosso acidente havia sido muito grave, que eu sofrera uma concussão e que meus amigos tinham morrido no local do acidente. O espanto tomara minha face e vendo meu estado, o doutor se apressou em dizer:


- Teve sorte, garoto. Mesmo usando o cinto de segurança, é quase um milagre que tenha sobrevivido a um acidente dessa gravidade.

Eu não estava usando o maldito cinto! Tudo estava muito confuso na minha cabeça. Meus amigos estavam mortos e eu sentia que meu destino era ter ido com eles. Que merda era aquela?

- E... - engoli em seco, forçando-me a raciocinar. - Cadê o outro garoto?


- Não compreendi. Só havia você e seus três amigos no carro.


- Não. Tenho certeza de que havia outro alguém.


Minha mãe arqueara as sobrancelhas. O médico lançou-lhe um olhar.


- Bem, senhor Kim... Você teve uma semana difícil, deve estar confuso... Voltaremos a falar disso em outro momento.

Peraí. Eu não estava louco. Me lembro nitidamente do garoto pálido e singelo que se agarrou a mim na hora do impacto e... Me protegeu? Eu jamais teria sobrevivido se a situação fosse outra.


Quem era ele, ou melhor... O que era ele, afinal?

Eu sei o que devem estar pensando... Ele deve ter se conformado que nunca houve nenhum garoto naquele carro e seguido sua vida. Porém, isto não poderia estar mais longe da verdade. Aquele acontecimento traumatizante permaneceu em minha cabeça mesmo com todos, incluindo minha mãe, tentando convencer-me de que imaginara tudo.


Falando em minha progenitora, não existia na face da terra alguém mais satisfeita que ela por eu ter voltado com vida daquele acidente, mesmo que meus amigos não tenham tido a mesma sorte.


Sorte. Palavra engraçada. Não acredito nela... “Nada acontece por acaso”, palavras de minha mãe.


Depois de tudo que houve, eu me sentia mudado de várias formas. Não só tinha parado de beber e fumar, como também nunca mais usei outros tipos de drogas. Consegui um emprego em um café e voltei a fazer companhia à minha mãe, que agora a aceitava de bom grado. O tempo passava muito rápido e com o tempo conheci muitas pessoas que me ajudaram a curar meu coração partido e a derrubar as barreiras de incredulidade que eu erguera ao meu redor há tanto tempo.


Apesar de ter feito novos amigos, estar indo bem no trabalho e presenciando a alegria de minha mãe ao realizar o sonho de abrir sua própria floricultura, parecia que algo me faltava.


O anjo

Não posso expressar em palavras o que eu sentia toda vez que observava meu doce garoto saindo para outro dia de trabalho. Jongin já tinha 22 anos e parecia um novo homem. Ao observá-lo, era perceptível que ele enfim parecia ter encontrado um pouco de paz e conforto em meio aos amigos e a mãe. Meu coração enchia-se de um aconchego indescritível toda vez que eu o via sorrir timidamente para a mãe, os amigos ou os clientes. Eu estava orgulhoso, mas ao mesmo tempo temeroso de que algo acontecesse, não comigo, pois já vivera e vira o suficiente de passagem pelo mundo humano. Eu tive o bastante, com certeza. Meu único medo era que fosse cobrado algo de Jongin pela regra que quebrei para salvá-lo.

Era fim de tarde e Jongin fechava o café enquanto seu amigo SeHun apagava as luzes do estabelecimento. Eu os observava da calçada e pude jurar por um momento que Jongin me viu. Me sobressaltei, olhando fixamente seu rosto introspectivo, enquanto ele se abraçava, tentando espantar o frio. Eu me enganara. Ele não me viu. Isso era impossível.

- Me perguntava onde você estaria... Achei que tinha fugido para longe, por causa do que fez, mas devo admitir que você tem coragem, KyungSoo. - disse SuHo, aproximando-se com as sobrancelhas unidas e as reluzentes asas abertas, como para repreender-me. Uma luz bruxuleante envolvia desde os cabelos pretos até suas vestes que balançavam junto ao vento. O queixo estava trincado como se estivesse ali contra sua própria vontade.


- Veio me punir, SuHo? Está alguns anos atrasado. - disse tranquilo. Mesmo ele sendo infinitamente mais forte, eu não temia meu irmão em absoluto. A única coisa que eu temia andava ao lado do amigo envolvido em uma conversa animada.


- Minha função nunca foi essa, irmão, e você sabe. Só estou tentando entender o que o levou a desafiar todo o sistema. Um humano? - apontou Jongin com o queixo. - O que há de tão especial neste humano para fazê-lo desafiar as predefinições?

Minhas asas se encolheram. SuHo estava mais que coberto de razão. Eu sofreria as consequências quando meu trabalho na terra houvesse terminado. Eu seria julgado por isso e já aceitara. Já fui guardião de muitas vidas e despedi-me delas sem titubear quando a hora finalmente chegara. Mas, Jongin havia sido diferente e eu simplesmente não conseguia me explicar, pois nem eu sabia o porquê.

- Esse humano... - abaixei a cabeça, observando minhas mãos. - Ele é diferente. Eu nunca havia visto tanta dor em uma pessoa só. Eu precisei intervir.


SuHo me fitou seriamente antes de menear a cabeça.


- Tome cuidado, KyungSoo. Você não seria o primeiro de nós a se iludir com boas intenções. Essa preocupação que você possui em relação a esse homem quase te matou. Mas, ele não sabe disso e jamais saberá. Ele nunca lhe agradecerá e você é invisível a ele.


- Eu sei disso, irmão, e não me importo. Tudo o que quero é vê-lo seguro... Que seja feliz.


- Você é um tolo, meu irmão - disse, alçando vôo diante dos meus olhos.


- E não somos todos? - tornei, com um sorriso amargo.


- Só espero que não se machuque - e partiu, sem me olhar.


Mal sabia ele que meu coração já doía.



Jongin

- O que acha de anjos, SeHun? Acha que existem? - questionei a meu amigo, que tinha ambas as mãos enfiadas nos bolsos de seu moletom, devido ao frio. Seus cabelos castanhos se agitavam ao vento.


- Eu acredito, acho. Mesmo não tendo visto, acho que algo maior zela por nós. A prova são aqueles momentos de perigo em que saímos ilesos como por um milagre. Mas, por que a pergunta? Que aleatório.


- Situações perigosas, hum? Não tive muitas ultimamente. Faz sentido nunca mais ter visto.

SeHun me olhava desconcertado. Sorri, disfarçando.


- Você está estranho... O que há com você?


- Nada não... Chegamos. - aquela era a rua na qual costumávamos nos separar, cada um para um lado. - Não se preocupe, só estou cansado.


- Descanse então. Nos vemos no trabalho amanhã.


Acenei e segui pela rua. As luzes dos postes já se acendiam e a noite caía, fria e silenciosa.


O que SeHun dissera fazia sentido. Eu estava certo de que o garoto que me salvara noacidente anos atrás era um anjo. Havia tanta pureza em seus traços e tanta bondade naquele abraço. Seria impossível ser imaginação minha. E as palavras sussurradas em meu ouvido ainda ressoavam na minha mente. Elas continuavam se repetindo na minha mente em momentos de estresse e dor. Elas me confortavam. Será que eu estava louco?

Prossegui no caminho, lembrando-me daquela luz brilhante que eu vislumbrei enquanto saía do café mais cedo. Muito estranho.


Só parei quando o vi. Um homem parado em minha frente, me apontando uma faca.
- Não faça nenhum barulho, moleque. Eu só quero a grana e o celular.

Estanquei. Meu sangue gelou nas veias enquanto eu cerrava os dentes. Aquele cara, vestindo trapos e instável daquele jeito só podia estar drogado. Era perigoso, mas nada que eu não pudesse resolver. Era bom de briga, afinal. Ao primeiro passo que dei, a frase ecoou em minha mente "Não reaja! É perigoso". Eu conhecia aquela voz, mas pensando se tratar de meu subconsciente assustado, ignorei-a, pronto para me mexer.

O cara avançou em mim e desviei, preparando-me para revidar quando a faca passou a centímetros de meus olhos. E em um piscar de olhos ele estava ali.

O mesmo garoto. Dessa vez ele não sorria, só me olhava fixamente. Eu nunca vira nada tão lindo. Ele estava exatamente igual a antes, com a diferença de que desta vez eu podia ver as grandes asas alvas em suas costas. Sua expressão era preocupada e ele pousou as mãos nos ombros do ladrão.

Levantei uma mão, para alertá-lo de que o homem era perigoso, mas o mesmo não parecia vê-lo. Logo que suas mãos tocaram os ombros rígidos, eles relaxaram. Pude ver que o garoto sussurrava palavras serenamente no ouvido do assaltante e os olhos do homem começaram a marejar. Ele não mais olhava para mim. Estava desnorteado. Logo caiu em prantos, largando a faca e repetindo para si mesmo que aquilo era errado.

Observei a luz que envolvia o corpo pequeno do anjo, enquanto ele pousava a mão na cabeça do meliante. Era a mesma luz que eu vira no café. O homem levantou e saiu correndo, ainda chorando.


Eu só fazia observar a cena, completamente chocado. O anjo não parecia saber que eu o via, pois suspirou, virando-se para ir embora ao que eu disse:


- O-obrigado.

Ele parou onde estava, virando-se e me fitando com aqueles enormes olhos castanhos completamente arregalados. Em seguida levantou uma mão agitando-a no espaço que nos separava, testando se eu podia realmente vê-lo. Parecia apavorado, e eu sentia que não era por causa do ladrão.


- Eu posso vê-lo. - falei. O homem alado abriu a boca, mas nenhuma palavra a deixou. Ele parecia não saber o que dizer. Engoli em seco.

- Obrigado por me salvar novamente, pensei que jamais o veria de novo.


- De novo? - disse, concentrado no meu rosto.


- Eu já havia o visto no acidente de carro, mas não tive a chance de agradecer apropriadamente. Salvou minha vida.


Ele olhou em volta e disse:


- Você não deveria poder me ver...


- É um anjo, não? - ele assentiu em silêncio. Ele era tão lindo enquanto refletia. As sobrancelhas haviam se unido, devido à concentração. Enfim, puxou o ar e disse, assentindo para si mesmo:


- Bem, meu trabalho aqui acabou. Se cuide, Jongin... - se virou para partir, mas o impedi ao dizer:


- Se eu me cuidar não te verei mais?


Ele se virou. Sorrindo como na noite em que o vi pela primeira vez.


- Você é esperto. Está construindo uma boa vida... Continue assim.


- Você tem estado comigo minha vida toda, não é? Eu te sentia ao meu lado...


Ele assentiu.


- Digamos que você me deu muito trabalho, Kim Jongin. - abriu um sorriso nos lábios. Prendi a respiração. - Se cuide daqui em diante.


- Mas, assim não serei capaz de vê-lo - falei sem pensar. Seus olhos se estreitaram.


- Sempre estarei aqui...– tornou.


- Não podemos ser amigos? Digo, seria legal ter alguém com quem conversar...


- Sou um anjo, Jongin, e você é um humano. Não devíamos nem estar conversando. - mordeu o lábio inferior, contrariado. Ele parecia não gostar da regra.


- Mas, já estamos... Se você quisesse poderia me permitir vê-lo sempre?


Suas feiçõesdenotavam dor. Ele parecia querer lutar contra si mesmo sobre dizer-me a verdade.


- Se quisesse... - sussurrou, por fim.


- E não quer? - questionei. Após alguns segundos ele negou com a cabeça.


- Isso não vem ao caso. Agora preciso ir. - saiu andando.

Eu sei que aquilo não fazia o menor sentido, mas agora que tinha certeza de que aquele ser era um anjo e que me tornara o que eu era hoje, eu não queria perdê-lo novamente. Não queria que me deixasse. Queria recompensá-lo.


- Não pode ir... - ele continuou andando e abriu as asas.- Se sumir agora... Vou me meter em encrencas.


Ele parou onde estava. Será que eu peguei muito pesado?


- Como é que é?


- Vou tentar me matar ou sei lá, para que você volte.


Ele começou a andar até mim, com uma cara nada boa. Me afastei por pura precaução.


- Você não ousaria! Não sabe o que fiz para mantê-lo seguro... Isso não tem preço! - ele levantou a mão, como se fosse me bater, mas se deteve, abaixando-a até que o braço estivesse rente ao corpo. O olhar desceu junto até que se perdeu no chão. Estávamos a uns dez centímetros de distância.


- Se eu não sei... - disse hesitante. - Por que não me diz?


- Eu... É complicado... Não podemos conversar...

Olhei para sua postura encolhida. Estava fascinado pelo anjo à minha frente.


- São regras? - questionei. Seu olhar subiu para o meu rosto e ele confirmou. Parecia cansado e triste.


- Precisa segui-las? Eu não conto pra ninguém, prometo ... Apenas... Me conte o que achar que deve. Por favor, não me abandone novamente.


O anjo se sobressaltou com minhas palavras.


- Você não entende quantas regras já quebrei. - ele disse, sereno.


- Por favor, só mais uma... senhor. - O anjo segurou o riso.


- O senhor está no céu, Jongin. Meu nome é KyungSoo.


Sorri envergonhado, completamente encantado com a criatura diante de meus olhos.


- Sei que vou me arrepender disto... - disse, olhando para o céu estrelado.


- E eu sei que não vou, KyungSoo. - sorri com toda a alegria que emanava em mim.



O anjo

Eu estava encrencado. Eu sabia que estava perdido quando aquele sorriso fora direcionado a mim. Uma parte de mim tentou enganar-se e dizer a mim mesmo que nada de ruim poderia vir de uma inocente amizade entre um anjo e um humano. A parte racional (a que estava certa) me dizia que era apenas uma questão de tempo até que meu mundo ruísse devido à minha falta de escrúpulos.


Eu havia prometido a Jongin que seríamos amigos desde que ele cumprisse as regras, estas das quais reclamou, mas já aceitava bem. Desde a conversa no meio da rua, cerca de um ano e meio se passara sem que nossa amizade fosse abalada.


No início, só Jongin falava enquanto eu ouvia suas lamúrias e divertidas teorias sobre a vida calado. Com o tempo, passei a discorrer sobre tudo que o cercava, sempre ocultando meus deveres, detalhes da hierarquia que eu seguia ou meus sentimentos e pensamentos mais profundos sobre ele. Não lhe contei muito, essa era uma das regras, afinal.

- As pessoas são fracas demais, sensíveis demais... - dizia Jongin, deitado na grama verde, com os braços cruzados embaixo da cabeça. Ele olhava para o céu cheio de nuvens com uma curiosidade palpável.


- Acho essa uma das características mais bonitas dos seres humanos. - falei, sentado ao seu lado. Aquele campo isolado aos arredores da cidade era um dos poucos lugares em que Jongin podia conversar comigo livremente, sem parecer algum lunático que fala sozinho, afinal, ele era o único capaz de me ver.


- O que é lindo? Parecer fraco na frente dos outros? Se declarar e ser rejeitado? Chorar em locais públicos?


Soltei uma risadinha. Jongin era adorável quando queria.


- Se permitir sentir é lindo... É bonito ver os humanos expressando o que sentem. Queria sentir isso. - segredei.


- É um saco - Jongin sentou-se direito. - Cuidado com o que deseja anjinho...

Anjinho... Era um apelido que ele costumava me chamar às vezes. Eu achava inapropriado, mas era tão bom sentir que alguém se importava com essas pequenas coisas, que eu acabava permitindo.


- Só você acha isso... - tornei.


- Então, por que não tenta? - seu sorriso arteiro apareceu.


- Tentar o que? - murmurei confuso.


- Se permitir sentir. Não me olha assim... Você apenas observa, por que não faz as coisas? - ele sorriu para minha expressão facial incrédula.


- Jongin, já falamos sobre isso... São as-


- Malditas regras, eu sei disso. Mas, não fica curioso?- falei, interrompendo-o.


- É claro que fico. Porém, se existem regras, elas servem para serem seguidas.


Jongin revirou os olhos. Levantou rapidamente e se aproximou.

- O que está fazendo? - desviei de seu toque - Tocar é contra as regras!

Jongin tentou de novo, ignorando meus gritos histéricos de que aquilo era contra as regras.


- Só fica quieto, anjinho... - e agarrou minha mão. Era a primeira vez que ele me tocava e fiquei estático no lugar, incapaz de qualquer reação.


O contato de sua mão grande e a minha pequena foi estranho. Era quente e aconchegante. Eu, é claro, sentia um desconforto que provinha do estranhamento, mas não era um toque ruim, longe disso. Foi bom, muito bom.

Jongin sorriu pra mim, enquanto acariciava minha pálida mão com seus dedos.


- Está sentindo? - assenti atordoado, enquanto ele largava minha mão lentamente.


- Isso foi um carinho... E aí, matou?


Neguei com a cabeça.


- Foi bom?

Enrubesci. Eu não podia mentir, era da minha natureza... Mas, naquele momento, dizer a verdade a meu amigo me deixava receoso.


- S-sim... - gaguejei e Jongin sorriu amplamente. - Mas, você quebrou uma regra...


- Kyung, aprenda com o Mestre. Regras foram feitas para serem quebradas, além disso, faz tempo que quero fazer isso.

Ele disse com toda a naturalidade enquanto eu o fitava espantado. O que era aquele aperto no meu peito? O desejo de fugir me consumiu... Jamais me senti acuado perto de Jongin até aquele momento. Que sensação de perigo iminente era aquela? Meu amigo nunca desrespeitara as regras até então, e sinceramente eu nem tinha forças para repreendê-lo. Era como se no fundo eu quisesse ser corrompido por este mundo, ser corrompido pelas doces palavras de Jongin. Eu sentia que estava em perigo.

- Desde quando você é tão ousado, Jongin? - brinquei.


Ele deu de ombros seriamente e soltou:


- Não posso esperar para sempre...

Naquele momento eu soube que estava derrotado. As pistas estavam todas ali e só eu não queria ver. Mas, se havia algo em que eu era bom, era ser um covarde.


- Você... Devia ir agora. Seus amigos vão se preocupar se o convidado de gala se atrasar. - desconversei.


- Prefiro ficar contigo a ir à festa.


- Bem... Eu, mocinho, tenho mais coisas a fazer, ou acha que sou um anjo desocupado?


- Você é anjo da guarda de mais alguém? - o bico em seus lábios foi fofo, devo admitir. Havia se tornado um hábito meu ser impulsivo como Jongin, ao longo do tempo, e quando dei por mim, já tinha dito:


- Nada disso... Sou só seu.


Eu nunca havia visto aquele olhar antes. Era completamente novo. Seus olhos brilhavam... Um estranho brilho que me fez arrepiar.


- Sim, é... - disse, antes de se levantar e sair andando, com um triste sorriso. - Vamos indo, anjinho.


Apenas o segui em silêncio, incerto do que Jongin queria dizer com aquilo.



Jongin

Eu andava pela rua apressado e arrependido. Eu jamais devia ter feito aquilo. Quando me dei conta de que talvez o perdesse para sempre, instintivamente comecei a correr. Após um tempo, eu já sentia as pernas queimarem e o fôlego acabando, mas eu não podia parar, não podia perdê-lo.


Quase gritei de emoção quando constatei que estava ali, com a mão esquerda apoiada no tronco da árvore onde costumávamos deitar embaixo, para apreciar a sombra que fazia durante os dias mais amenos. Estava de costas para mim. A luz da lua iluminava sua fronte. Seus ombros estavam encolhidos. Estava chateado.

- Me desculpa, por favor... - ele não se virou. Agora eu podia ver seus ombros mexerem de leve. Aquilo eram soluços? Meu anjo estava chorando?


- Como pôde fazer aquilo comigo? - cuspiu as palavras, se virando na minha direção. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. KyungSoo parecia uma criança indefesa.


- Me perdoe. Eu não sei o que deu em mim... Eu... - dei um passo em sua direção, mas ele meneou a cabeça, em um pedido mudo que eu me afastasse.


- Eu pensei que éramos amigos...


- E somos... - tornei desesperado.

Eu ainda lembrava nitidamente de seus lábios... Macios e inexperientes ardendo contra os meus quando os tomei para mim sem permissão. Do choque que ele enfrentara e como ficou sem reação. Se fechasse meus olhos ainda seria capaz de vislumbrar a sensação de minhas mãos tocando seu alvo pescoço, os pelos de sua nuca eriçados, o cheiro que desprendia de sua pele.


Eu cometi um pecado. O mais delicioso de todos, e por mais que estivesse desesperado para que meu anjo não me abandonasse, não conseguia arrepender-me do que fiz.


- Será que somos? Jongin, não havia necessidade de fazer aquilo. Se for por causa do que eu vi... Aquela é sua vida particular. Eu não ficaria com ciúmes se estivesse se relacionando com aquela garota. Eu... estou mortificado com suas atitudes.

O fitei, enfim entendendo. KyungSoo achava que o beijei, por que ele me vira beijando Mi Young na saída da festa. Provavelmente achara que fiz isso para que não sentisse ciúmes.


- Você acha mesmo que sou tão mesquinho e fútil assim, KyungSoo?


- Eu não me importo com o que faz com sua vida amorosa, mas não é porque sou seu anjo da guarda que pode fazer o que bem entender comigo! Eu também tenho sen-


- Sentimentos? - o cortei. - Então por que não é capaz de entender de uma vez por todas por que fiz aquilo?


Ele desviou o olhar.


- Capricho, mais puro capricho. Seja sincero, estava louco pra saber como era macular um anjo, não é mesmo? Espero que tenha sanado sua curiosidade...

Meu sangue ferveu.


- Como pôde dizer isso?! - gritei enfurecido. - Eu jamais faria isso com essa intenção. Se você não consegue ser sincero consigo mesmo eu serei... Eu te beijei por que eu sou completamente apaixonado por você... Um anjo, uma droga de anjo, KyungSoo! - pus a mão no peito, tentando controlar meus batimentos acelerados. - Um anjo que eu não deveria amar e não sei mais o que fazer com meus sentimentos, pois ele jamais vai retribuir meus malditos sentimentos! Eu estou desesperado, KyungSoo. Eu não posso nem tocá-lo, como fiquei tão ganancioso? Me diga!

Ele congelou onde estava. A boca estava aberta, mas nenhum som saíra dela.


- Eu te amo... Desculpe, não pude evitar. Me perdi cada vez mais em você, na sua beleza, na pureza do seu ser e na sua bondade e já não posso mais viver sem você. Eu a beijei sim, mas eu só estava tentando fugir dos meus sentimentos, sendo um covarde. Porém, quando o vi nos observando, eu soube que não posso fugir do que sinto, não quando você está perto, falando com essa voz suave, se tornando a razão do meu viver.

Ele negava com a cabeça, em prantos.


- Eu quero você... Quero que me ame. Eu não quero alguém que não seja você. - nesse ponto, as lágrimas já lavavam meu rosto. Meu corpo tremia e eu tentava controlar o pulsar frenético do meu coração que parecia querer saltar do peito a qualquer momento.


KyungSoo chorava e andava de um lado para o outro aturdido. Se eu pudesse controlar meus impulsos nada disso estaria acontecendo, mas eu era um tolo, sempre fui. Eu sabia onde tudo ia dar.

- Negue. Diga isso na minha cara! Diga-me que jamais sentiu nada por mim. Não minta pra si mesmo, Soo, eu imploro.

Ele parecia fitar o nada. O desespero só crescia cada vez mais em meu peito ao vê-lo imóvel daquele jeito. Se ele me abandonasse, eu morreria.


- Eu não posso Jongin... Você sabe... Por que foi fazer isso?


- Esqueça as regras... Eu preciso de você Soo, por favor, não me deixe!


Ele abriu as asas.


- Eu sinto muito Jongin... Eu tenho um dever, mas não posso permanecer ao seu lado nessas condições.


- Não faça isso... - implorei, caindo de joelhos em frente a si.


- Você acha que eu queria isso, Jongin? Você é meu melhor amigo... O único que e-


- Por favor, não! - o interrompi, agarrando seu sobretudo branco com meus dedos. Sua expressão havia mudado. Ele estava determinado.


- Me perdoe Jongin. - segurou minha mão e uma lágrima deixou seus olhos, antes que ele desaparecesse à luz do luar.


Enquanto meu anjo sumia, me permiti mergulhar na escuridão da noite e do meu coração, ciente de que acabara de perder meu único e verdadeiro amor para sempre. Pensamentos obscuros rondaram minha mente enquanto aos poucos eu perdia a força de viver, mas lutei contra eles, pois jamais tiraria a vida que e meu anjo arriscara sua própria para salvar. Ele jamais me perdoaria se eu o fizesse.


Ali naquela clareira, de joelhos olhando para a lua com o coração partido, eu implorava aos céus que KyungSoo voltasse pra mim.



O anjo

Vaguei pela terra sem dar-me conta de onde ia. Não sabia que dia nem que hora eram. Eu jamais imaginei que um ser como eu seria capaz de sentir tamanha dor. Na minha cabeça, flashes do beijo de Jongin com a garota e o nosso próprio pareciam querer me enlouquecer. Eu jamais poderia vê-lo novamente. O motivo da minha existência seria afastado de mim... E por mim mesmo.


Eu fui muito ingênuo de pensar que algo que vinha de uma desobediência acabaria bem. Parecia uma vingança dos céus, que eu estivesse tão apaixonado por um humano. Parecia que todas as cores do mundo haviam desaparecido.


Eu jamais veria o sorriso de Jongin novamente. Jamais conversaríamos sobre a vida e a humanidade, que fora objeto de minha admiração por tanto tempo. Mas, como eu poderia culpar Jongin se o único culpado fui eu? Se eu não fosse tão egoísta ele não estaria sofrendo agora... E ele não era o único.

- Sabia que acabaria assim... - SuHo sentou-se no terraço do prédio onde eu estava. Seu rosto trazia uma expressão curiosa.


- Por que não me deteve, irmão? - funguei baixinho. SuHo me fitou com suas orbes profundas, em seguida disse:


- O amor é a maior força que existe, irmãozinho. Nosso amor pelo dever é o que nos impulsiona, sempre foi assim. Mas, você encontrou algo que ama mais que seu dever e não há força na terra páreo para isso. Eu jamais conseguiria detê-lo, uma vez que o sentimento começou.

Olhei para meu irmão amargamente. Ele trazia um meio sorriso nos lábios.


- Você é bom e sincero, mas se tornou ganancioso demais...


- Nunca pensei que seria tão difícil dizer adeus... Essa tal de frustração me assusta. - confessei. Eu adquiri muitos sentimentos humanos graças à Jongin.


- Amar é sofrer... É arriscar. Você passou tanto tempo se esforçando para fazer seus protegidos felizes e acabou de descobrir que almeja o mesmo para si mesmo. É compreensível, KyungSoo.


- Não, não é... Eu sou um egoísta, um traidor... - me repreendi - Perdi meu propósito.


Ele sorriu.


- Nada disso, só achou um novo. Você quer protegê-lo, e pela primeira vez, alguém também deseja te proteger.

Suspirei. Eu não tinha o direito de alimentar esperanças... Não podia me dar ao luxo. Não era digno.

- Não haja como se o destino estivesse lhe roubando sua felicidade, Kyung. Isso é uma decisão sua, você sabe. Você seria capaz de trocar sua vida por uma efêmera e comum? Desistir de suas asas e sua força em nome do amor?


- Eu não posso irmão, eu perderia minha família, tudo que conheço e minhas habilidades que me foram dadas para ajudar o próximo... É responsabilidade demais para ignorar por causa do meu egoísmo. - murmurei, bagunçando meus cabelos.


- Eu jamais me decepcionarei contigo, não importa o que faça. Você passou séculos protegendo, fazendo o bem. Já sacrificou coisas demais. Pode ficar se lamentando em como o mundo é injusto ou pode tomar uma decisão que mudará o resto de seus dias.


Uma lágrima rolou por meus olhos.


- Eu jamais te veria de novo... - disse, amargurado.


- Mas, saberia que estarei lá para você sempre...

Olhei para o sol que se punha em tons alaranjados e amarelos, sentindo a majestosidade das alturas quando mergulhei entre as nuvens, fazendo piruetas com meu irmão ao meu lado. Minhas asas se agitavam, enquanto eu sorria para a imensidão do céu, vendo o sorriso de SuHo encorajando-me. Eu sentiria falta daquela sensação de libertação, ali entre as nuvens, mas não podia mais lutar contra meu coração, que se afastava cada vez mais daquele pôr-do-sol com cheiro de mudança.





Jongin


Já fazia semanas, e não voltei a ver KyungSoo. Eu sabia que havia despejado uma bomba em suas mãos e não o culpava por me abandonar. Ele tinha um dever, e eu o pedira pra abandonar tudo que ele prezava, para que? Viver ao lado de um humano que não tinha absolutamente nada para lhe oferecer... Eu era um iludido mesmo. KyungSoo era tão puro, tão perfeito e eu... Era só uma junção de muitos pedaços que ele recolhera depois que eu mesmo destruí minha vida. Ele me salvou, então eu viveria bem, para que ao menos ele sentisse orgulho de quem me tornei, mesmo que meu coração estivesse destroçado em meu peito.


Eu o amava. Então o mínimo que eu poderia fazer era deixá-lo livre para cumprir seu dever. Eu não me arrependia de o ter conhecido, afinal sem ele, eu não sei o que teria sido de mim.

Eu limpava o balcão, depois que SeHun derrubou um suco ali e pensava em como viveria dali em diante, quando meu amigo desastrado chamou minha atenção.


- Ei, Jongin... Tem alguém te chamando.


Nem me dei o trabalho de me virar.


- Não vê que estou ocupado? Atenda você mesmo...


Ele bufou, como fazia quando era contrariado.


- Não dá! O cliente falou que só vai ser atendido por você. Anda logo...


Revirei os olhos e saí de trás do balcão questionando a mim mesmo quem era o ser petulante que me atrapalhou em minha solidão. Fui em direção às mesas, limpando as mãos no avental preto que usava, quando enfim o vi.


Estava sentado em uma das mesas e sorria para mim. Aquele mesmo sorriso puro, que me dirigiu na noite do acidente.

Meu anjo estava diferente. Desde os cabelos, agora mais curtos e raspados nas laterais, até as roupas, mais despojadas. Usava uma jaqueta de couro por cima de uma camiseta estampada e uma calça jeans. Em seus pés um tênis e não tinha asas... Espera! Onde estavam suas asas? E a aura amarela brilhante que o envolvia? O que aconteceu a ele?

Meus pés moveram-se instintivamente, me aproximando cada vez mais da figura diante mim, incerto do que fazer, já que o homem diante de mim claramente não era mais um anjo, e sim um humano. O que aquilo queria dizer? Meu anjo voltou por mim?


- Fecha a boca, Jongin... - KyungSoo falou, cobrindo a boca com a mão, já que ria da minha expressão bovina.


Eu estava com a boca escancarada, completamente chocado, e quando ele se pronunciou, fechei-a e passei as mãos pelos cabelos, tentando acalmar meus batimentos cardíacos, enquanto tudo que eu queria, era sufocar KyungSoo num abração bem apertado.

- Não vai dizer nada?


O fitei espantado, incapaz de articular uma sílaba.


- Tudo bem então... Eu falo. - ele começou. - Eu tomei uma decisão, e vi que não posso viver sem você e nunca seria feliz se continuasse mentindo para mim mesmo. Eu te amo, Jongin, e desisti de ser seu anjo da guarda para ficar ao seu lado... É claro, só se quiser.


- E-eu... - Não conseguia falar, pois estava muito emocionado, então apenas concordei com a cabeça, acenando vezes sem fim que aceitava. Ele voltou a rir de mim.


- Me desculpe por tê-lo feito sofrer...

Decidi que era hora de tomar uma atitude, e meio sem pensar puxei os braços de KyungSoo de modo a levantá-lo e o tomei em um abraço apertado, assustando o mesmo, que se manteve parado, com os braços entre nossos corpos enquanto eu o esmagava em meus braços.


- J-Jongin... estou sufocando... E-eu sou frágil agora... - ele falava entrecortado, contra meu peito. Nossa diferença de altura era bem perceptível.


- Não se preocupe! - olhei para baixo, encontrando seus lindos olhos castanhos. - É minha vez de te proteger, anjinho... - aspirei o perfume de seus cabelos, completamente satisfeito com o presente que a vida me deu.

Senti KyungSoo se remexer em meus braços e tentar me afastar.


- Jongin... As p-pessoas estão olhando. - olhei em volta, vendo os clientes me olhando torto por estar abraçando um cara no meio do café e pelos meus olhos marejados, já que eu não conseguia conter as lágrimas de felicidade que ameaçavam escorrer pelo meu rosto. Eu não me importava mais com nada. Eu tinha tudo de que precisava nosmeus braços e queria mantê-lo ali pelo resto de meus dias.


- Obrigado por aceitar meu coração, Soo... - lhe disse, puxando-o para a entrada do café.


Ele me sorriu e eu soube que tudo ficaria bem. Quem melhor para cuidar de mim do que ele? E quem melhor para cuidar dele do que eu?


- Obrigado por não me rejeitar depois de tanto tempo. Desculpe a demora. - ele disse, sorrindo para algum ponto no céu. - Alguém me ajudou a ver a verdade...

Enquanto o admirava sorrindo para o céu, trouxe seu rosto para mais perto, acariciando-o.


- Eu te amo tanto... - falei.

Ele sorria, com os olhos marejados e não resisti à vontade de trazer seu rosto mais pra perto, na intenção de beijá-lo. Quando meus lábios tocaram os seus, num terno beijo, eu soube que KyungSoo era a pessoa perfeita... Minha alma gêmea. Seus lábios macios moveram-se junto aos meus e entreabriram-se, dando passagem a minha língua, que encontrou-se com a sua, acariciando sua semelhante com todo o desejo que eu sentia de amá-lo por quanto tempo de vida eu tivesse. Toquei seu rosto com meus dedos, me perguntando mentalmente se aquele sonho era real, quando meu KyungSoo se afastou para me olhar, com as bochechas adoravelmente coradas.


- Eu também te amo, Jongin.

Naquele momento, eu soube que todo o sofrimento que eu vivi, a dor e a solidão, só serviram para me ajudar a aproveitar melhor toda a felicidade que eu viveria dali em diante com aquele anjo que desistira de tudo para me fazer feliz e eu estava certo de que moveria céus e terra para retribuí-lo tudo o que fez por mim, por meio de meu amor e carinho. Eu o protegeria e o faria feliz para sempre, já que era isso que ele fazia por mim.



********** My guardian Angel ***

3 мая 2019 г. 18:07 0 Отчет Добавить Подписаться
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