hyogie Hyogie Han

[Jaeyong] Já dizia a Lei de Murphy: "Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível". Entretanto, talvez Murphy não tenha pensado que o conceito de "Qualquer coisa" poderia ser facilmente substituído por "Tudo" quando o assunto era Lee Taeyong, um adolescente cuja sorte foi comprar cigarros no dia de seu nascimento e nunca mais voltou, deixando-o nas mãos das inúmeras possibilidades de passar vergonha em público, principalmente na hora de tentar chegar em seu crush, Jung Jaehyun. [ORIGINALMENTE POSTADA NO PROJETO NEOTYPE DO SOCIAL SPIRIT]


Фанфикшн Группы / Singers 13+.

#nct #Neo-Culture-Technology #jaeyong #Neotype #Hyogie
Короткий рассказ
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Murphy deveria ter estudado Doyoung antes de criar suas leis

azar
substantivo masculino
1. sorte contrária; revés, infelicidade, infortúnio.
"teve muito azar na escolha de parceiro"
2. aquilo que Kim Doyoung possui aos montes.


Doyoung respirou fundo, apressando seu passo. Naquela manhã fria, esforçava-se para conseguir andar um pouco mais rápido. Seus coturnos pesados faziam um som abafado ao bater no asfalto da calçada, junto com o tilintar das correntes presas em seu cinto, deixando-o preocupado com o fato do rapaz que tentava discretamente alcançar pensar que estava sendo perseguido ou stalkeado. Em toda a sua vida, nunca pensou que fosse querer correr no meio da calçada à caminho para escola em plena manhã de quarta-feira. Logo ele, Kim Doyoung, que ia pra escola parecendo a própria morte com o combo olheiras + lápis de olho preto mal esfumado ao redor dos olhos.

Ao que o palpitar de seu coração indicava, aquele era o seu dia de sorte. Há alguns minutos, quando estava saindo do metrô, colocou um objetivo em sua cabeça: se ficasse de novo no mesmo vagão que o garoto fofo que estudava na sala do final do corredor, iria finalmente falar com ele.

Veja bem, Doyoung não era exatamente o tipo de cara sociável ou bom em puxar papo com desconhecidos-mas-nem-tão-desconhecidos-assim. Na verdade, estava mais para um adolescente desajeitado e ansioso, como qualquer outro adolescente funcional, o que fazia o objetivo em questão uma loucura que só cometeria se estivesse em estado profundo de insanidade. Então, estava há algumas semanas ensaiando com seus amigos para encontrar uma forma de se aproximar do menino sem que vomitasse seus órgãos internos.

Por fim, justo naquela manhã pitoresca de quarta-feira, seus horários bateram com o do garoto fofo do final do corredor, e os dois pegaram o mesmo trem.

Durante todo o trajeto, sua mente não pôde parar de maquinar formas e possibilidades daquele encontro acontecer, tanto que ao chegarem na estação próxima à escola, quase o perdeu de vista e por isso teve que sair correndo “discretamente”.

Com discretamente, lê-se “correndo igual uma lagartixa com cãibra”.

Já tinha tudo em mente: quando o garoto parasse na faixa de pedestres para esperar o sinal abrir, iria ficar ao seu lado, olhar para o chaveiro do Uta, de Tokyo Ghoul, pendurado na sua mochila e dizer “Seu chaveiro é muito legal”. E aí, entraria em uma conversa amigável, porém ambígua, e ao fim pediria seu número usando todas as suas habilidades de sedução adquiridas por anos lendo artigos online com o título “10 dicas para seduzir um homem”.

Quando ele parou no sinal fechado, Doyoung sentiu seu coração dizer que aquele era o seu grande momento.

Tudo começaria com apenas um chaveiro; essa história seria contada para seus netos como um conto épico, cheio de planejamentos e esquemas bem-executados. Afinal, o que poderia dar errado? Tudo foi perfeitamente ensaiado, desde os diálogos até às perguntas que deveria fazer para chegar no caminho certo. Não havia chance alguma de resultados inesperados, Doyoung tinha controle total daquela situação.

Certo?

Ao alcançá-lo, parou discretamente ao seu lado, sentindo como se pudesse explodir a qualquer momento, além de que suas pernas pareciam ter se transformado em gelatina.

Por causa de seu melhor amigo Johnny, Doyoung conheceu o garoto que fazia seus hormônios de adolescente irem a loucura.

Deixou um longo suspiro escapar por seus lábios, reunindo toda a sua coragem para colocar o seu plano em ação. Tinha tudo para dar certo, era praticamente impossível que algo desse errado àquela altura do campeonato.

Fingiu olhar para a sua mochila, apenas para repetir o que fazia diariamente: olhar para o chaveiro e depois contemplar a obra de arte que seu príncipe encantado, Jaehyun, tinha no lugar do rosto e deixava a química de seu corpo adolescente em um estado perigoso de selvageria. Todas as manhãs em que se encontravam, Doyoung rezava mentalmente para que ele retribuísse seus olhares.

O problema começou quando, ao realmente olhar para a mochila à procura do chaveiro, o objeto não estava mais lá.

Puta merda.

Mil vezes puta merda.

Internamente, seu cérebro entrou em estado total de pânico, caos e desespero. Externamente, encarava-o fixamente com os olhos arregalados, pouco ciente do fato de não estar respirando.

Seu transe terminou quando o sinal finalmente abriu e as pessoas ao seu redor começaram a andar. A realidade atingiu-o ao que viu seu príncipe encantando de cabelos loiros ir embora, levando consigo o sorriso divino que abria um par de covinhas adoráveis em suas bochechas, uma risada igualmente adorável e um popozão maravilhoso.

Okay, talvez Doyoung estivesse exagerando um pouco, mas o que ele podia fazer? Bundas pequenas também são bundas incríveis.

De qualquer forma, nada mudava a inerente situação a qual encontrava-se. Independente de seus esforços, a vida atingiu-lhe novamente com um socão no cu.

— JOHHNY SEO, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NO QUE ACONTECEU! — gritou Doyoung, entrando na sala como um míssil. Jogou sua mochila em cima de uma das mesas e agarrou Johnny pelos ombros, chacoalhando-o freneticamente, este que até dado momento estava, como de usual costume, desenhando o Selo de Lúcifer com canetinha hidrocor em sua mão esquerda — EU O VI! ELE FICOU BEM DO MEU LADINHO! EXATAMENTE DO MEU LADO!

Falava de maneira tão histérica que Johnny não conseguia entender uma única palavra do que lhe era dito.

— Bom dia pra você também. — afastou-o com delicadeza — Como você sabe, eu ainda não falo latim, então será que você poderia me explicar de um jeito menos… “Minhas calças estão em chamas”?

— O Jaehyun! — respirou fundo —Quando eu ‘tava vindo, eu jurei que se o encontrasse no caminho pra cá, falaria com ele. E aí eu encontrei! Eu fiquei do lado dele bro!

— E você falou com ele?

— Não. — sentiu vontade de bater a cabeça na parede — Eu fiquei o caminho inteiro ensaiando pra falar com ele, me preparando pra falar daquele maldito chaveiro e aí quando eu consegui ficar do lado dele, eu percebi que aquela merda simplesmente não ‘tava mais lá!

Apesar do esforço, Johnny não conseguiu conter o riso. A constante falta de sorte de seu amigo era, no mínimo, tragicômica. E a forma como ele contava seus episódios de puro desgosto tornava tudo ainda melhor.

Não era como se Doyoung realmente se sentisse mal por tudo aquilo acontecer consigo; na verdade, ele estava tão acostumado que a única coisa que restava fazer era apenas rir da situação.

Rir para não chorar.

Johnny até poderia tentar ajudá-lo com a situação; no início do ano, começou a fazer parte do time de basquete da escola, e Doyoung normalmente o acompanhava nos treinos para dar um pouco de apoio moral. Graças a tal acontecimento, Doyoung acabou por conhecer (ainda que só de nome) os colegas de time de Johnny, sendo um deles Jaehyun, o garoto que não se importava em tirar a camisa no meio da quadra ao final dos treinos, e se importava menos ainda de protagonizar cenas duvidosas com seus colegas de equipe com direito a muitos toques não muito heterossexuais e tapas na bunda.

Entretando, Johnny era tão tímido quanto Doyoung para poder chegar puxando assunto sem ter ensaiado horas antes; era tão propenso a ataques de pânico por ter que falar com alguém que pouco conhecia quanto Doyoung.

De certa forma, era engraçado. Johnny era bem alto e usava preto vinte e quatro horas por dia, o que intimidava muitas pessoas ao seu redor. Porém, quem estava por perto sabia muito bem que ele era tão ameaçador quanto uma florzinha.

No começo, Doyoung tinha receio de falar sobre a própria sexualidade com ele. Sabia que ele era hétero, e tinha muito medo de parecer “predatório” aos olhos dele.

Foi em uma aula de educação física que finalmente entendeu que não havia nada a temer naquela relação.

A sala foi dividida em quatro times; enquanto dois jogavam, os outros dois esperavam. Doyoung e Johnny estavam sentados na arquibancada, esperando a sua vez de jogar. Era uma das primeiras semanas de aula do nono ano e ainda não se conheciam muito bem, porém já conseguiam conversar sem entrarem em pânico para continuar o assunto.

Ao observar os alunos jogando, Doyoung percebeu que um de seus colegas de classe (que posteriormente também faria parte de seu círculo de amizade), Ten Chittaphon, tinha um belo par de nádegas. Queria compartilhar aquela informação com Johnny sem parecer um tarado que ficava reparando o tempo todo nos outros, então escolheu cuidadosamente as palavras:

Nossa, os quadris do Ten são largos, né?

SIM MANO ELE TEM UM PUTA POPOZÃO!

E foi ali que Doyoung percebeu que Johnny nasceu para ser o seu melhor amigo.

— Olha pelo lado bom: pelo menos você conferiu. Imagina se você tivesse chegado nele do nada e falado “Nossa que chaveiro legal”. — tentou lhe consolar. Era muito a cara de Doyoung cometer uma gafe daquelas.

— Cara, imagina se na verdade ele tem um irmão gêmeo que é idêntico a ele, e a única diferença é que ele não gosta de anime. — Doyoung fez uma pausa, momentaneamente pensando naquela possibilidade. A negação era um dos primeiros estágos do luto — MEU DEUS SE FOR ASSIM EU AINDA TENHO UMA CHANCE DE SER NOTADO!

— Doyoung, eu não acho que-

— Cala a boca! — ele tapou a boca de Johnny com a mão — Eu acho que já sei o que aconteceu! Ele morreu e foi substituído que nem a Avril Lavigne, só que o sósia dele esqueceu o chaveiro. É óbvio!

— Faz todo o sentido do mundo! — Johnny deu-se por vencido.

— Quem foi que falou da Avril Lavigne aqui? — falou Yuta ao entrar na sala, seguido por Ten.

Yuta era o maior otaku fedido da escola, ainda que ele tivesse cheiro de lavanda. Soava até clichê (e meio ofensivo) falar que o fã de anime da rodinha era o estudante intercambista do Japão, que estava sempre ouvindo vocaloid ou lendo algum mangá. E se não era mangá que ele estava lendo, então provavelmente era algum guia da leva de animes da temporada.

Ten era tailandês e colega de intercâmbio de Yuta. Os dois eram quase como irmãos separados ao nascer, por mais que às vezes não conseguissem entender abobrinhas do que o outro falava. Ele era tão gay, senão mais, quanto Doyoung, e exatamente por causa disso os dois se deram bem logo de primeira. Já trocaram alguns selinhos, porém nunca passaram daquilo por preferirem ter um ao outro como amigos do que como peguetes. Não era como se toda a personalidade dele se resumisse em ser gay, era só uma questão de primeiras impressões.

Na verdade, Ten era o apelido pelo qual todos o chamavam, já que Leechaiyapornkul era um pouco complicado de se pronunciar várias vezes ao longo do dia.

— Caralho, você tem um ouvido biônico ou o que? — Johnny perguntou, cumprimentando-os.

— Esse é o tipo de poder que você desenvolve quando passa a noite inteira batendo punheta pra anime. — Ten comentou, recebendo um soco no ombro vindo de Yuta — Ai! Me bater com o seu braço direito é covardia!

Doyoung riu alto, enquanto Yuta tentava acertar Ten com a sua mochila da Sailor Moon.

— Vocês dois não prestam! — Doyoung começou a bater palmas, divertindo-se com a rinha de poc, já que nenhum deles era realmente alto ou forte o suficiente para machucar um ao outro — Pelo menos parem um minuto para me ouvir falar sobre como eu tomei no cu com o Jaehyun hoje.

— Espera, você interagiu com o Jaehyun hoje? — Yuta parou de bater em Ten para olhar para Doyoung.

— Não, mas eu fiquei muito perto disso.

E então, passou os quinze minutos seguintes explicando o ocorrido do chaveiro e lamentando-se por ter perdido a oportunidade dos seus sonhos molhados.

— Esse cara é cego ou o que? É impossível ficar ao lado de um pitelzinho desses e não dar nem uma olhadinha! — exclamou Ten, recebendo uma risadinha fofa de Doyoung como resposta.

— Ele não é cego, só é alto mesmo. — Johnny não pôde deixar passar, ao que Ten de prontidão respondeu ameaçando jogar a mochila da Sailor Moon de Yuta em seu rosto.

— DEIXA A USAGI FORA DISSO! — exclamou Yuta, puxando a mochila de volta e abraçando-a contra o seu peito. Então, sussurrou para o objeto como se estivesse proferindo um segredo — Tudo bem minha bebezinha, esses bárbaros não vão mais te fazer mal.

— Às vezes você me assusta. — comentou Ten.

— Eu te assusto mais do que baratas?

— AAH QUAL É! — ele se exaltou ao ter aquele assunto trazido à tona — Era uma barata enorme! Não dava pra olhar aquilo sem sentir vontade de arrancar os próprios olhos!

O que era para ser uma simples noite de filmes na casa de Doyoung se transformou em uma longa noite tentando desentupir um vaso sanitário.

Basicamente, Doyoung estava arrumando o banheiro enquanto comia uma esfiha e a tampa da privada estava aberta. Paralelamente, Ten viu uma barata e assustou-se. Por causa de sua fobia nem um pouco convencional no momento em questão, ele gritou como uma sirene de ambulância, assustando Doyoung e o fazendo derrubar a esfiha na privada. Para fechar com chave de cu, ao tentar dar descarga, a esfiha entupiu a privada, levando-o a ter que arrumar uma forma de explicar para os seus pais como diabos ele conseguiu entupir a privada daquele jeito. Não poderia simplesmente mentir, pois correria o risco de fazê-los pensar que havia cagado um tijolo.

E foi assim que ele sentou no chão do banheiro e passou a próxima meia hora chorando de desgosto enquanto Johnny tentava melhorar a situação.

Na verdade, Doyoung acreditava que aquilo foi um presságio para o que viria a acontecer na semana seguinte, que consistiu em um dos piores encontros da sua vida.

Começou a semana eufórico por ter tomado coragem para chamar um de seus inúmeros crushes para ir ao cinema, e terminou consigo chorando dentro do táxi para voltar para casa com um pagode tocando muito alto ao fundo. Quando chegou em casa, sua mãe ainda fez questão de relembrar que ele tinha pago o ingresso do lazarento, para no fim os dois assistirem o filme em um cinema cheio de senhorinhas, sem nenhuma ação acontecendo, ainda que tivesse deixado claras as suas intenções.

É como os sábios diziam: azar no amor e no resto da vida também.

— Dodo, você não acha que seria bom ao menos tentar tomar um banho de sal grosso e arruda? — Ten desconversou, sabendo que o assunto da barata voadora também causava ressentimento em Doyoung. Não por causa da barata, mas sim por ele ser pé frio o suficiente ao ponto de conseguir entupir a privada com uma esfiha.

— Eu já pensei em fazer isso, mas do jeito que eu sou é bem capaz de dar o efeito reverso e só piorar as coisas.

— Eu acho que dá pra resolver pelo menos uma parte do seu problema se a gente tentar te exorcizar. — Johnny comentou casualmente — Só iríamos precisar de uma virgem pra sacrificar, sal grosso, um livro demoníaco e sangue fresco de bode pra cobrir os nossos corpos nus enquanto um de nós grita “SAAAAAI ENCOSTO”.

— “Só” isso. — Doyoung repetiu, pouco impressionado.

— Ah, a virgem a gente já tem. — Ten falou, olhando sugestivamente para Yuta.

— Vou cortar teu pinto fora. — Yuta ameaçou — Como ontem eu ‘tava sem nada pra fazer, eu acabei escrevendo uma listinha do que você pode fazer pra conseguir chamar a atenção dele.

Yuta retirou um papel de sua mochila da Sailor Moon e entregou-o para Doyoung.

“1. Arranjar um mangá do Tokyo Ghoul, escrever uma carta explicando todos os seus interesses, colocá-la dentro do mangá e depois deixar o mangá discretamente dentro da mochila do @. Quando ele abrir o mangá e encontrar a carta, ele decide se rola ou não.”

— Cara, isso tem tudo pra dar errado. — Doyoung murmurou, já sentindo vergonha alheia de si ao imaginar-se fazendo aquilo — Não subestima a minha capacidade de foder com tudo. Lembra aquela vez que o cabelo do Ten quase pegou fogo?

— Eu me lembro disso, foi como se eu estivesse vendo toda a minha vida passar diante dos meus olhos só de te ver chegar perto de mim com aquela frigideira de ovo mexido.

O próximo item da lista era:

“2. Esbarrar nele de propósito e fingir cair na frente dele.”

— NEEEEM FODENDO! — gritou, tendo flashbacks vergonhosos.

Quando estava na oitava série e era tímido demais para tomar iniciativa, estabeleceu uma política para de “Em caso de pânico, finja um desmaio” sempre que fosse tentar falar com algum menino que tinha interesse. Em uma dessas ocasiões, se jogou no chão de um jeito tão realista que acabou batendo a cabeça e desmaiando de verdade. Sem falar que o local em que estavam não era exatamente propício para esse tipo de coisa. Ele rolou uma escadaria inteira e quebrou o braço. Desde então a prática do falso desmaio/esbarrão foi abolida.

As duas outras opções possuíam parênteses escritos “Apenas em caso de emergência” e consistiam em “Sequestrar a família dele” e “Ameaçar capar o pinto dele”.

— Yuta, você não acha que isso é meio… ilegal? — perguntou retoricamente.

— Bobagem, só é crime quando alguém descobre. — ele deu de ombros — E afinal, qual é o problema em ser preso? Pelo menos você vai ter alguma coisa em comum com o Gandhi.

— Eu não gosto de concordar com o Yuta, mas ele tem um ponto. — Ten alegou, para o desespero de Doyoung.

E mais uma vez, estava sentado na arquibancada assistindo ao treino de basquete de Johnny e Jaehyun, tentando pensar em alguma forma de chegar em seu crush sem ter uma parada cardíaca. Naquele momento não podia perder-se por inteiro em seu mundo das ideias, já que a cada certo período de tempo precisava desviar de alguma bola de basquete voando em sua direção. Fingia anotar algo em seu caderno enquanto na verdade estava acompanhando os movimentos hipnotizantes das coxas de Jaehyun naquele uniforme de basquete.

Okay, talvez estivesse idealizando demais aquela situação, visto que não estava considerando o fato de que Jaehyun estava todo suado e provavelmente cheirando a cebola podre.

O tesão cega as pessoas.

Entretanto, (ainda) não estava cego o suficiente para não ter visto uma das bolas vindo em sua direção. Oh vida, por que tão cruel? Mais um roxo em seu rosto (ou um nariz sangrando) para sua longa lista de machucados.

Mas pela primeira vez na vida, seus reflexos cooperaram consigo, e assim conseguiu agarrar a bola.

Certo, viver não parecia mais tão cruel assim, já que agora Jaehyun estava olhando para si com um pouco de curiosidade.

— Hey, joga a bola! — ele pediu, sorrindo amigavelmente.

PUTA MERDA PUTA MERDA PUTA MERDA MIL VEZES PUTA MERDA EU TÔ- — seu cérebro estava a mil por hora, visto que Jaehyun finalmente notou a sua existência. Era bom demais pra ser verdade. Sem falar que ele estava sorrindo. Sorrindo!

Até Johnny ao fundo parecia estar explodindo por dentro ao ver aquela cena tão inesperada. Teria a sorte de Doyoung finalmente voltado após ter passado anos fora comprando cigarros e vivendo uma vida imoral com uma outra família?

A resposta era definitivamente não.

Por causa da distância considerável entre os dois e a falta de experiência em esportes que Doyoung tinha, jogou a bola com um pouco mais de força do que deveria, e exatamente por causa disso Jaehyun não conseguiu pegá-la, o que procedeu no objeto acertando o seu nariz com precisão o suficiente para fazê-lo sangrar.

Doyoung paralisou, sem saber o que fazer. Mais uma vez, prevaleceu o sentimento de querer se transformar em um avestruz e enterrar a cabeça em um buraco.

— Ah minha nossa! Desculpa! — exclamou, oitavas acima do normal, enquanto Jaehyun estancava o sangramento com as costas da mão.

— Doyoung, leva ele pra enfermaria, ele pode desmaiar ou, sei lá, ter um derrame. — Johnny falou improvisado, de alguma forma tentando abafar o mico, ou melhor, King Kong, do seu amigo. Ao descer da arquibancada e ir até os dois, Doyoung estava muito perto de beijar os pés de Johnny por ser o seu grande anjo guardião de lápis de olho escorrendo pelo rosto devido ao suor.

— O que? Não precisa, eu ‘tô bem, foi só um machucadinho. — Jaehyun desconversou, para o desespero de Johnny.

— MEU CONSAGRADO VOCÊ ‘TÁ VAZANDO SEUS INTESTINOS PELO NARIZ! — exclamou, dramático. Para falar a verdade, o fluxo de sangue estava bem fraco e não precisava ser nenhum gênio da medicina para perceber — VOCÊ VAI MORRER DE HEMORRAGIA INTERNA CARA! OLHA SÓ ISSO MANO É O SANGRAMENTO MAIS HORRÍVEL QUE EU JÁ VI NA MINHA VIDA!

Ele é fodido da cabeça mas é meu amigo. — Doyoung pensou.

Jaehyun bufou, vendo que não podia vencer a gritaria de Johnny. Mesmo que não conversasse muito com ele, tinha consciência de que ele era uma pessoa um pouco… peculiar, e por isso era melhor não discutir. Com um simples gesto, pediu para que Doyoung o seguisse, este que sentiu suas pernas transformando-se em gelatina. Mal conseguia acreditar que aquilo estava dando certo, mesmo que de uma maneira caótica.

— Hã… v-você quer se apoiar nos m-meus ombros? — tremeu só com a possibilidade de encostar nele. Porém, Jaehyun balançou a cabeça, dispensando a ajuda. Okay, talvez fosse um pouco cedo para contato físico. Certo. Os dois começaram a andar em silêncio, um ao lado do outro — É… me desculpa mesmo pelo seu nariz, eu juro que não foi a intenção.

— Relaxa, eu ‘tô suave. Eu já tive uns acidentes piores, porque eu tenho refluxo e tudo mais. — Jaehyun o tranquilizou — O seu amigo que deu uma exagerada mesmo, mas geralmente é normal esse tipo de coisa acontecer comigo.

Podia considerar aquilo como um começo?

— Ah, isso também acontece muito comigo, mas geralmente eu que sou a pessoa a quase morrer de hemorragia. — riu, desconfortável e falando bem mais rápido do que deveria. Jaehyun esboçou um sorriso de quem quer rir mas o riso é fraco demais para tornar-se uma risada, e logo pôs-se em silêncio.

— A propósito, bela camisa.

Doyoung olhou para a própria camiseta, momentaneamente esquecendo o que vestia; era uma camiseta preta estampada com uma foto em preto e branco do Marilyn Manson (que na verdade era de Johnny). Na maioria das vezes, as pessoas ficavam um pouco assustadas ao vê-lo com aquela camiseta, porém Jaehyun apenas parecia genuinamente interessado.

— Hã... obrigado. — respondeu enquanto abria a porta da enfermaria — Você é fã?

— Uhum. — ao entrarem. a enfermeira olhou desconfiada para os dois — Eu já fui no show do ex-guitarrista dele, o John 5.

— Legal.

A enfermeira entregou uma ficha para Jaehyun preencher, paralelamente separando os materiais para higienizar o machucado. Doyoung já era muito conhecido por ela desde que era criança; se não fosse por ela, provavelmente já teria morrido por algum motivo pouco convencional.

— Meus dois pacientes mais frequentes finalmente apareceram juntos! — ela exclamou com um certo quê de sarcasmo — Ao que devo esse encontro? Vocês por acaso explodiram a casa de alguém? A presença dos dois no mesmo lugar foi tão caótica que o tecido da realidade cedeu às trevas e à escuridão?

— Não foi dessa vez. — Doyoung respondeu — Eu… acertei por acidente uma bola de basquete no rosto dele e acho que deve ter estourado algum vaso.

A enfermeira não estava nem um pouco surpresa. Afinal, não esperava mais nada vindo daqueles adolescentes destrambelhados e cheios de hormônios.

— Vocês dois deveriam andar enrolados em plástico bolha.

— Eu já tentei fazer isso. Não deu certo. — Jaehyun falou, fazendo Doyoung rir. Então quer dizer que o bonitão do time de basquete também era uma máquina de destruição? Adorável!! — Ah, qual é o seu nome?

Sentiu seu coração parar ao ouvir a pergunta. Ainda bem que estava na enfermaria, porque era bem provável que precisasse de um transplante de coração naquele exato momento.

— … — Qual é o meu nome mesmo? — Doyoung. Você se chama Jaehyun, né?

Torceu internamente para não ter soado como um psicopata.

— É que eu olhei na ficha. — completou. Em resposta, Jaehyun franziu o cenho, confuso.

— Mas eu ainda não preenchi a ficha.

Porra.

— Bom, pelo menos você tem um ponto com ele, já que ele também curte Cake and Sodomy. — Johnny falou, secando os cabelos com uma toalha.

— É, mas eu enfiei esse ponto no meu cu quando chamei ele pelo nome. — Doyoung falou baixo, já que estavam no vestiário e o citado poderia acabar escutando.

Sentado no banco, esperava Johnny terminar de se vestir para que pudessem ir embora. Já estava acostumado com aquele ambiente, e provavelmente as pessoas também já tinham se acostumado com a sua presença nada convencional ali. Vez ou outra via alguém protegendo o próprio sabonete com um cordão ao redor do pescoço, o que o fazia pensar nas coisas que já aconteceram naquele vestiário.

De repente, Doyoung ouviu uma voz fatidicamente familiar se aproximando. Em pânico, olhou para Johnny, que entendeu quase que no mesmo instante o que estava acontecendo.

A pessoa que aproximava-se era Taeyong, o garoto cujo nosso protagonista passou duas semanas inteiras flertando descaradamente e sendo o mais óbvio possível em relação a suas intenções para no fim descobrir que o felizardo estava interpretando aquilo tudo como uma grande brotheragem.

E como isso aconteceu?

Doyoung criou coragem para chamá-lo para ir ao cinema, só os dois. No meio do filme, tentou beijá-lo e ele se afastou. Mas não foi um afastamento do tipo “Credo, sai gay”. Foi algo como “Nossa você ‘tá perto né? Deixa eu te dar um espacinho aqui pera aí”. Teria sido bem menos constrangedor se a primeira opção tivesse acontecido, já que nesse caso teria motivos plausíveis para sair do cinema e nunca mais falar com ele. Porém, o que realmente aconteceu praticamente o obrigou a ficar ali do lado dele pelo resto do filme.

Quando o filme acabou, Taeyong começou a falar consigo como se toda aquela papagaiada fosse algo como “amigos sendo amigos” e por isso o acompanhou até o ponto de táxi, e ainda por cima pediu para que mandasse mensagem quando chegasse em casa.

Desde então, Doyoung estava evitando-o. Não por raiva ou birra, mas por vergonha mesmo. Mal conseguia ficar no mesmo lugar que ele sem lembrar do papel de trouxa que fez no cinema.

— Eu só vou pegar minha mochila aqui e já venho. — ouviram-no falar. No exato momento em que Taeyong entrou no corredor, Doyoung escondeu-se atrás de Johnny, procurando uma saída. O único lugar que parecia dar para o lado de fora era a janelinha entreaberta para o vestiário não ficar tão abafado, que ficava no final do corredor. Ninguém era tão idiota a ponto de tentar sair por aquela janela — Ah, oi Johnny! Que estranho te ver sem o Doyoung...

Como se fosse um nadador olímpico pulando em uma piscina, Doyoung jogou seu corpo através da janela, torcendo mentalmente para não ser notado. O que não foi o caso, já que seus quadris ficaram presos, deixando seu corpo metade fora do vestiário e metade dentro.

Isso não ‘tá acontecendo comigo. — pensou, ouvindo um Johnny nervoso tentar distrair a atenção de Taeyong daquela bunda pendurada na janela.

— Você de novo?

Ah, vai tomar no cu. — fez uma nota mental: nunca duvidar do quão ruim sua situação poderia ficar.

Jaehyun estava ali, bem na sua frente, encarando-o com uma expressão ligeiramente confusa, o que despertava dentro de si a inerente vontade de se mudar para o Alasca, arranjar um bigode falso e passar o resto da vida ordenhando cabras sob o pseudônimo de “Robert Pé Frio”. O vermelho tomou conta de seu rosto, fazendo-o evitar os olhos de Jaehyun, consciente de que uma única troca de olhares seria o suficiente para que morresse de desgosto.

— Não faça perguntas, porque eu provavelmente vou chorar se tiver que te explicar como eu vim parar aqui.

— Okay, hã… você quer que eu chame os bombeiros?

— Pelo amor de Deus, não faz isso. — seu rosto queimou só com a ideia — Como você vai explicar isso pra eles? “Ah, o cara que tentou fazer uma rinoplastia em mim prendeu a bunda na janela e não ‘tá conseguindo sair porque a pessoa que projetou essas janelas não pensou que talvez um dia alguém com um pouco mais de massa nos quadris tentasse sair por ela.”

Jaehyun riu fofamente, fazendo Doyoung ter um pequeno mental breakdown por estar conversando com ele naquele estado.

— Certo, então como que eu vou te tirar daí?

— Eu não sei! — exclamou — Tenta me puxar pra fora enquanto eu prendo a respiração.

De fato, estava apenas pensando em sair dali. Não processou que aquilo resultaria em Jaehyun passando os braços fortes ao redor de suas costelas, praticamente lhe dando um abraço de urso. Estavam tão perto que dava para sentir o cheiro de sabonete de bebê que ele usou para tomar banho. Sem falar que Jaehyun era quentinho. E gostoso.

Resumindo: Jaehyun não conseguiu tirá-lo dali e foi preciso chamar os bombeiros.

Grande dia.

Na manhã seguinte, Doyoung foi recebido na sala de aula com confetes e purpurina. Ten e Yuta gritavam e batiam palmas ao seu redor, como dois demônios da paralisia do sono. Johnny lhe entregou um cupcake, daqueles que ele fazia em casa enquanto ouvia seus álbuns favoritos de metal, todo decorado com confeitos coloridos e glitter.

— O que vocês estão fazendo? — perguntou, sacudindo a cabeça como um cachorro para tentar tirar o glitter do cabelo.

— O Johnny contou pra gente que você conseguiu falar com o Jaehyun ontem. — Yuta puxou-o para um abraço cheio de glitter, e Ten não tardou a juntar-se.

— A gente tá tão orgulhoso! — ele limpou uma lágrima falsa — Parece que foi semana passada que a gente ficou até tarde na escola ensaiando um possível encontro entre os dois.

— Ten, isso foi semana passada. — os dois beijaram-lhe as bochechas — E eu agradeço pelo apoio, mas… eu não tenho certeza se avancei com ele.

— Para de choramingar, seu bebezinho de merda! — Johnny puxou-o pela gola da camisa — Você falou com ele, encostou nele e ainda fez ele sorrir. Aceita que tudo isso é um questão de progresso lento, você tem o seu próprio tempo e tá tudo bem em avançar devagar, porra.

Era realmente difícil de discordar do discurso motivacional de Johnny quando ele o chacoalhava pelos ombros daquele jeito.

— Hey, por que você não pede o número dele? — Ten sugeriu — Assim as coisas já ficam um pouco mais claras entre os dois.

— Você diz isso como se fosse algum tipo de coach de relacionamentos. — retrucou Yuta.

— E eu não sou?

— Você “namorou” tipo, três caras por, no máximo, cinco dias. Body count não conta como experiência.

— Conta sim.

— Não conta não.

— Conta sim.

— Não conta não.

— Conta sim.

Enquanto os dois discutiam, Doyoung estava hiperventilando só pela ideia de pedir o número de Jaehyun. Johnny o entregou um saco de papel, que sempre guardava na mochila no caso de Doyoung ter outra crise, para ajudá-lo a normalizar a respiração, porém isto foi pouco efetivo; o saco estourou no momento em que ele levou-o à boca.

— Cara, relaxa, é só uma possibilidade.

— Não, bro, você não entende! Eu não posso fazer isso, eu simplesmente não consigo! — seu peito subia e descia rapidamente — Só de pensar nisso, eu já fico todo… ah!

Yuta percebeu o que acontecia entre os dois, e por um momento deixou o seu ego de lado, parou de discutir com Ten e virou-se para Johnny e Doyoung.

— Espera aí… você não precisa ir pedir diretamente o número dele. Como o Johnny também conhece os meninos do basquete, ele pode fazer isso por você.

Johnny olhou-o com uma expressão sombria.

— Eu não posso fazer isso.

— Por que?

Ele respirou fundo.

— Porque eu tenho vergonha!

E foi a vez de Johnny começar a hiperventilar.

Com Doyoung surtando em posição fetal e Johnny apoiado na parede citando suas falas favoritas de “O Exorcista”, Yuta percebeu que Ten não estava mais na sala. Ele desapareceu no ar, como um ninja, ou um gato doméstico.

Alguns minutos depois, quando Yuta estava com Doyoung no colo, balançando-o como um bebê, e Johnny estava agarrado na barra de sua camiseta do Hamtaro, Ten voltou trazendo consigo um post-it amarelo com alguma coisa escrita. Ele fez questão de grudá-lo na testa de Doyoung, que por um momento saiu de sua zona de caos e pânico.

— O que é isto? — ele descolou o post-it da testa.

— Veja por si e me agradeça depois.

Os olhos de Doyoung depararam-se com uma caligrafia delicada, escrita em caneta vermelha.

Jaehyun ♡

(XX)9XX24-24XX

Silêncio.

E então Doyoung gritou como uma soprano no auge da carreira.

— Puta merda como que você- — ele olhou para Ten, que sorria vitorioso com as mãos na cintura — Caralho eu não tô acreditando…

— Pois é. Eu só cheguei na sala dele e falei tipo “Ah, meu amigo, aquele que ficou preso na janela- — Doyoung deu-lhe um soco no ombro — gostou de você e queria saber se você pode passar o seu número pra ele.”

— E o que ele falou?

— “Tudo bem!”. — se fosse possível, o queixo de Doyoung estaria no chão — Agora cabe a você mandar mensagem pra ele.

— O que? Por que eu? Será que já deu não pra sacar que eu não sou bom nisso?

— Porque é você que tem o número dele, imbecil. — Ten deu um tapa atrás de sua cabeça — Não tem como ele adivinhar o seu número por simples força do pensamento, sabe?

— Ok, você tem um ponto. Mas o que eu mando pra ele? — Doyoung desbloqueou o celular e começou a digitar o número.

— Que tal uma figurinha? — Yuta sugeriu, encostando a cabeça em seu ombro para ver a tela. Ele apontou para uma das figurinhas de Bom Dia, que Doyoung pegou do grupo da família — Que tal essa?

— Tá zoando? Ele vai achar que eu sou um bosta. — Yuta bufou, continuando a sugerir outras figurinhas, quase encostando na tela, para o nervosismo de Doyoung. Em dado momento, ele não aguentou mais e deu um tapa na mão entrusa, temendo a possibilidade de mandar algo errado. Entretanto, a vida não é assim tão simples quanto parece.

Por um movimento brusco e mal caculado, Doyoung acidentalmente, ao afastar a mão de Yuta, encostou na tela do celular e uma figurinha foi enviada sem o seu consentimento.

A do Mário abrindo o cu.

E antes que ele pudesse apagar, a mensagem foi visualizada.

Doyoung estava estático. Seu olhar, vazio.

Yuta estalava os dedos na sua frente, tentando acordá-lo, porém Doyoung se transformou um uma pedra de amargura e sentimentos complexos de adolescente complexo. Johnny e Ten se juntaram para chacoalhá-lo de um lado para o outro, e ainda assim ele continuava e descer em sua própria espiral de ansiedade.

— Olha, ele tá digitando. — Yuta observou, o que finalmente pareceu atrair a atenção de Doyoung.

A espera por uma resposta pareceu muito mais longa do que realmente foi. A única coisa que se ouvia era o coração de Doyoung batendo acelerado, prestes a explodir.

Por fim, a resposta veio.

A figurinha do Luigi abrindo o cu.

Os dias se passaram, e Doyoung descobriu que na verdade não era assim tão díficil conversar com Jaehyun. Difícil mesmo era acalmar o seu coração quando ele acenava para si ao se esbarrarem nos corredores, ou quando ele vinha conversar consigo na arquibancada durante os intervalos do treino de basquete. Se algumas pessoas tinham borboletas no estômago, Doyoung tinha três helicópteros de combate. Ele sabia que no fundo, era só vontade de cagar, mas nada conseguia parar o vermelho que se alastrava por seu rosto toda vez que Jaehyun ficava perto demais.

Entretanto, era difícil conseguir uma oportunidade para arriscar um passo a mais.

Certa vez Johnny foi convidado para uma reuniãozinha na casa de Mark, um de seus colegas de time. Como Johnny preferia morrer ao ir sozinho, acabou arrastando Doyoung junto, este que convenientemente já era conhecido pelo pessoal do time como “O gostoso da bola de basquete”. Jungwoo disse que foi Jaehyun que chamou-o assim, porém assim que Jaehyun o ouviu, deu-lhe logo uma cotovelada no estômago, fazendo-o mudar a narrativa para “Não foi o Jaehyun! Definitivamente não foi ele!”.

Quando chegaram na casa de Mark, esperavam encontrar no mínimo alguns adolescentes se drogando enquanto cultuavam deuses antigos e ouviam black metal, e não Jungwoo e Taeil tentando imitar uma posição de yoga no celular de Mark, que estava quase se dobrando no chão de tanto rir, enquanto Yukhei, Sicheng e Jaehyun tentavam abrir um pote de maionese.

Assim que Jaehyun veio cumprimentar Doyoung, este quase desmaiou ao ser abraçado e logo em seguida agraciado com a frase “Que bom que você veio!”.

Para não perder o costume, Johnny trouxe seu tabuleiro Ouija, que foi útil no momento da noite em que todos ali, menos Jaehyun e Doyoung, estavam chapados depois de fumar maconha no quintal de Mark e cheirar condimetos.

— A sua mãe não vai tipo… te matar se sentir cheiro de maconha pela casa toda? — Taeil perguntou.

— Não, relaxa. A minha mãe é a maior maconheira que eu respeito. — Mark respondeu, tirando dois potes etiquetados de dentro do armário da cozinha. Em um estava escrito “Erva do Mark” e no outro “Erva da Hyerin”.

— Que família. — Jaehyun murmurou, sentado no tapete da sala junto com Doyoung. Estavam fazendo pulseiras de miçanga. Entretanto, uma movimentação estranha em cima do sofá da sala chamou a atenção dos dois.

Johnny e Yukhei estavam deitados juntos, com a língua enfiada na garganta um do outro.

— Johnny, mas que merda você tá fazendo? — Doyoung perguntou, confuso.

— Eu tô chapado, então isso nem conta como experiência gay. — ele logo voltou aos beijos com Yukhei.

Jaehyun e Doyoung trocaram um olhar cúmplice de incredulidade, que deu espaço para Jaehyun roçar o seu dedo mindinho na mão de Doyoung. Quase teria passado despercido, se Doyoung não estivesse reparando no vermelho de suas orelhas.

Mais tarde, se reuniram para sentar ao redor da mesinha de centro da sala e usar o tabuleiro Ouija, com as mãos no rolo de durex que tiveram que usar para marcar as letras, já que aparentemente Johnny derrubou o objeto original no aquário de Mark. O único que não estava com as mãos ali era Taeil, que ficou de anotar as letras que eram indicadas.

— AI MEU DEUS ‘TÁ SE MEXENDO! — Yukhei gritou agudo assim que o rolo de durex começou a se mover, indicando a letra C — É C de sapo galera, isso vai dar muito errado. Eu li na internet que sapos podem causar cân-

— Cala a boca porra. — Sicheng, que era o menos chapado entre os chapados, retrucou — Sapos não podem causar câncer, porque eles são parentes dos crocodilos. E eu nunca vi um crocodilo com câncer.

Enquanto isso, Doyoung olhou para Jaehyun com sua melhor cara de “Eu estou cercado de idiotas”.

— O Mark ‘tá mexendo o rolo, né? — sussurrou.

— Uhum. — Jaehyun foi para mais perto de Doyoung para falar em seu ouvido — Mas acho que ele só ‘tá fazendo isso porque ele tem medo daquele cara...

— Quem?

— Você sabe, o Eustácio da Padoka. — Doyoung arqueou as sobrancelhas, ainda sem entender — O Macaco Voadouro, Fila da Lotérica, Tio do Churrasco, o Tranca Ruas, sabe?

Doyoung acabou rindo um pouco mais alto do que deveria. Jaehyun era uma gracinha falando todos os sinônimos que conhecia para o Ameaça Comunista.

— Viram só?! — Yukhei voltou a ter seu surto psicótico — O CARTÃO DO SANTANDER JÁ SE APOSSOU DO CORPO DELE!

— Yukhei, eu juro que eu vou enfiar esse rolo de durex no seu furico se você não calar a boca. — Sicheng reclamou — Esse fantasma deve ‘tá agradecendo por estar morto E NÃO TER QUE FICAR AGUENTANDO AS SUAS MERDAS!

— DÁ PRA CALAR A BOCA VOCÊS DOIS?! — foi a vez de Jungwoo de gritar — EU ‘TÔ TODO CAGADO DE MEDO DESSA MERDA E VOCÊS NÃO ‘TÃO AJUDANDO, PORRA!

— POR QUE A GENTE ‘TÁ GRITANDO? — Johnny estava chapado demais para sequer compreender o que estava acontecendo.

— EU NÃO SEI MAS ACHO QUE ‘TÁ FUNCIONANDO! — respondeu Yukhei, enquanto o rolo de durex movia-se.

Após uma meia hora, Taeil finalmente parou para ler a frase que se formou.

— “C o m i o c u d e q u e m t á l e n d”- MARK PUTA MERDA DE NOVO NÃO!

— AAH VAI SE FODER MANO!

Alguém tacou o rolo de durex em Mark, mas Doyoung não pôde ver ao certo quem foi, já que estava explodindo internamente ao ver Jaehyun rindo, mostrando suas covinhas e dando tapinhas nas suas costas. Só podia ser o ser humano mais adorável que já vira. Quando ele tocou em seu braço, sentiu vontade de ir até o lado de fora e gritar “É PRA GLORIFICAR DE PÉ”.

— Vamos lá pra fora? — Jaehyun perguntou, quase matando-lhe do coração — Aqui ‘tá ficando um pouco caótico demais pro meu gosto.

— C-Claro! — exclamou, nervoso.

Esse é o meu momento puta que pariu. — pensou ao dirigirem-se ao jardim com Jaehyun, que tirou o celular e os fones de ouvido do bolso.

— Música? — ele perguntou, oferecendo um dos fones.

— Ah, sim. — respondeu, deixando o metal industrial soar em seus ouvidos. Okay, talvez (s)AINT não fosse a música mais romântica de se ouvir, principalmente quando o trecho que cantaram juntos era basicamente “I've got an F and a C and I got a K too, and the only thing that's missing is a bitch like U”, mas era aquele velho ditado “Foda-se todo mundo e que meu pau diminua até o joelho”. O intenso headbanging tornava tudo ainda mais bizarramente conectante entre os dois.

Para completar, na parte mais “calma” da música, Jaehyun passou os braços ao redor de sua cintura e o trouxe para bem perto, arrepiando-o por inteiro. Olharam um nos olhos do outro, respirando com dificuldade e os batimentos cardíacos à mil. Só estavam os dois ali, sem ninguém para interromper o momento. O olhar de Jaehyun desceu para os lábios de Doyoung, que estava quase derretendo de tão quente que sua face estava. Não precisava ser um gênio da dedução para saber que iria beijá-lo, porém de tanto balançar a cabeça, Jaehyun acabou precisando se abaixar para vomitar justamente em cima dos sapatos de Doyoung.

A porra do refluxo.

— Puta merda! — deixou escapar, um pouco enojado pelo que acabou de acontecer. Então, segurou Jaehyun pelos ombros, tentando mantê-lo em pé e fortemente ignorando o cheiro de vômito. Ele ainda estava tonto por causa do enjôo, e até um pouco pálido — Você ‘tá bem?

— Uhum. — ele tossiu — Foi mal.

— Nah, no fundo eu já esperava por algo assim acontecer. — a sorte de Doyoung era como o clitóris: até hoje não encontrou.

Uma ideia muito boa de flerte passou por sua cabeça, porém não sabia se deveria dizer aquilo. Seria uma boa hora? E se Jaehyun não curtisse? Era como uma partida de Truco, só que Doyoung não fazia a menor ideia de como jogar Truco. Claro, se tudo desse errado, fingir um desmaio não parecia mais um plano tão idiota assim. Poderia dizer que na verdade fumava e estava chapado, e por isso deu soltou uma dessas, assim como também poderia sair correndo dali e mudar de planeta para evitar a vergonha que viria a lhe acometer.

Após uma luta mental que no interno durou horas, mas externamente levou poucos segundos, chutou o balde e falou:

— Mas é uma pena que agora eu não vou poder te beijar..

Jaehyun arqueou as sobrancelhas e suas orelhas tornaram-se vermelhas. Doyoung estava esperando o momento de sentir vontade de se enterrar, entretanto o outro apenas riu daquele jeitinho adorável e abraçou-o.

— Seu bobo. — Jaehyun sussurrou, logo em seguida dando um beijinho em sua bochecha — Uma hora vai dar certo. Tira os sapatos pra gente ver se ainda dá pra salvá-los.

Passaram o resto da noite tentando limpar e secar os sapatos de Doyoung. Afinal, não havia nada mais romântico do que isso.

Em dado momento, a mãe de Mark chegou em casa, e foi aí que uma reviravolta aconteceu.

Mark ficou com peso na consciência e acabou contando pra ela que fumou a maconha do pote errado, ao que ela riu e respondeu:

— Meu filho, você acha mesmo que eu ia deixar um monte de menor idade sozinho na minha casa com self-service de maconha? — Mark arqueou as sobrancelhas, confuso — Quando sou só eu e você, tudo bem, porque você é o meu filho e eu te crio do jeito que eu bem entender, mas quando se trata do filho dos outros… eu prefiro não arriscar mais problemas com a polícia.

— O que você quer dizer com isso?

— Quer dizer que antes de sair de casa eu escondi a maconha dos potes e substituí por brocólis picado.

Todos se entreolharam, extremamente confusos. Doyoung fez questão de rir de Johnny, que já estava apoiado na parede, citando suas falas favoritas de “O Exorcista”.

De tanto assistir os treinos de basquete, Doyoung começou a perceber que Jaehyun era o jogador que mais rasgava o uniforme por acidente, ou rasgava o uniforme de alguém, o que era ainda pior, e era por causa disso que ele tinha que tirar a camisa no meio da partida; porque ficar com ela daria na mesma coisa do que ficar sem ela. Sem falar das boladas que ele levava durante o treino e os escorregões no vestiário. Certo dia, enquanto Doyoung e Johnny assinavam o gesso ao redor de uma de suas pernas, Johnny até chegou a falar que se algum dia os dois morassem juntos, a chance do apartamento explodir em menos de meia hora era grande.

Assim, o primeiro encontro dos dois foi no shopping, para comprar mais camisetas de treino. O maior medo de Doyoung naquele momento era encontrar alguém da sua família ali, pois muitos de seus primeiros trabalhavam naquele shopping, e eles não perderiam a oportunidade de zoá-lo até a morte se percebessem que Jaehyun era o seu date.

De fato, tudo estava muito normal. Os dois já estavam no caixa, e nada de bizarro tinha acontecido ainda.

Ainda.

A atendente deu uma piscadinha para Doyoung que não passou despercebida por Jaehyun. Sem problemas, os dois eram jovens muito atraentes e era normal que outras pessoas reparassem. Entretanto, algo na cabeça de Jaehyun o disse para fazer alguma coisa a respeito. Por que? Porque sim.

Ele passou o braço ao redor dos ombros de Doyoung e o trouxe bem para perto, como jeans apertados.

Amor, você tem certeza que não esqueceu de nada? — falou, exageradamente afetado. O rosto de Doyoung queimou com a ação — Você fica avoado depois que a gente, bem…

Doyoung arregalou os olhos. A atendente também.

— Jaehyun, do que você tá falando? — estava prestes a entrar em pânico gay — Toma cuidado pra não falar nenhuma besteira!

— Besteira é o que a gente vai fazer quando chegar em casa. — ele riu enfim pegou as sacolas e arrastou Doyoung pela mão para fora da loja. Seu rosto lentamente tornava-se vermelho ao processar tudo o que tinha falado.

— Jaehyun, o que foi aquilo? O que deu em você?

— A moça do caixa tava claramente dando em cima de você E eu… — suas orelhas ficaram da mesma cor que o rosto — Eu meio que… fiquei com ciúmes.

Doyoung riu, tornando a abraçá-lo como um ursinho de pelúcia.

— Aquela era minha prima, seu bobo.

Os riram juntos, e por fim olharam-se nos olhos um do outro. Selaram a cena com um beijo, o que rendeu um grito de aprovação bem alto da atendente da loja, algo como “MANDOU BEM HEIN PRIMO???”.

17 марта 2019 г. 21:36 1 Отчет Добавить Подписаться
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Об авторе

Hyogie Han Fã incubada de boybands e aspirante a escritora, de alguma forma tento me encontrar na escrita através de pequenos desabafos vindos de crises existenciais

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Alice Fernandes Alice Fernandes
taeyong só fode, tadinho
~