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Grécia, o lar da civilização, e das mais belas paisagens intocadas pelo homem. O lar dos deuses e dos apaixonados... #ViajaInk


Драма Всех возростов.

#viajaink #grécia #original
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Capítulo Único


“I was calling

For the last time

We'd been here before”



A jovialidade daquela pequena criatura fazia-o sorrir conforme ele corria por toda aquela superfície de relva macia. Não deveria perder parte de seu tempo apreciando uma criança correr, tampouco porque quando ia até lá, apenas era para apreciar as montanhas que compunham Meteora¹. Mas era impossível ignorar aquele serzinho de pouco mais de um metro correndo como se o mundo lhe pertencesse.

— Lucca, vem querido. Vamos nos atrasar. — Ele supôs que àquela que o chamava, era sua mãe. Os traços eram de fato parecidos.

“Lucca…” O nome se propagou na mente, como um eco faria nas montanhas de Meteora. Seu lugar preferido na Grécia, no mundo! De fato o menino era luz, iluminado não apenas porque o sol lhe banhava a pele conforme corria pelo verde das partes planas daquele conjunto de montanhas. Lucca, aquele nome ficaria gravado em mente, e sempre relacionado à ninguém além daquela criança tão feliz.

Passaram-se alguns anos, para ele… o tempo era sempre um derradeiro fim, mas que de fato nunca findava. Sentia-se sempre vagando por aqui e acolá, sem prender-se a nada, a não ser aquele lugar. Meteora seria sempre o seu lugar mais precioso, onde parecia que deuses esculpiram a mais bela formação rochosa, e onde, claro, humano cismaram em construir um convento, um monastério outrora. Ele recordava a primeira vez que havia visto aquele lugar de tirar o fôlego de qualquer criatura, incluindo a dele. O sol já estava para se pôr, revelando os fracos raios alaranjados com sua timidez, escondendo-se nos relevos das montanhas, como se brincasse de se esconder para que quem o observasse, buscasse-o por um pouco mais de tempo.

Recordava-se como se sequer tivesse passado o tempo, da mão firme em seu ombro, dizendo-lhe que tal vista não lhe era por direito. Irmãos mais velhos sempre buscando formas de importunar, claro. A princípio, rebelou-se, e ao contrário do que muitos falavam, não por poder, mas por não querer perder aquela vista. Para onde iria, não teria tal beleza diante dos olhos.

Mas assim como havia passado anos desde que vira aquela criança, também passaram os anos que lhes fora privada tal bela visão.

— Lucca!

Fechou os olhos, nem ao menos sentindo o sorriso tomar conta de sua face. Olhou em busca daquela criança, achando por vez um adolescente em seu lugar. Um que por sinal o encarava, e lhe sorria. Assim como fez quando criança, acenando na hora de partir.

O rapaz agora tinha seus 16 anos, e parecia animado com um grupo de amigos. Claro, sua família estava ali, um pouco mais atrás, deixando os jovens desbravarem o belíssimo local. Mas Lucca já o conhecia. Como se cada contorno, cada pedra houvesse ficado gravada em memória, na memória de um criança que agora voltava para passar os dedos por entre as folhagens verdes.

— Esse lugar é tão… normal. Seria melhor termos ido ver Acrópole — um dos jovens ditou, fazendo o homem que observava o jovem revirar os olhos. Patético.

— Podemos ver amanhã, hoje esse sol está perfeito para estarmos exatamente aqui. Repare… — comentou apontando para onde agora o sol se escondia, iluminando o céu com seu tom laranja, fazendo a relva brilhar como se milhares de lantejoulas fossem jogadas ali. — Isso é a perfeição — o comentário veio com um sorriso, enquanto o jovem tateava o tórax buscando a máquina fotográfica para registrar aquele momento.

O homem sorriu, Lucca tinha a mesma paixão que ele: Meteora.

— O Partenon deve ficar tão bonito quanto esse monte de mato, ou arrisco dizer: muito mais bonito. — Novamente aquele jovem falando asneiras. Tsc, a juventude estava perdendo o amor pelo puro, pelo realmente belo. Pelo intocado pelo homem, construído apenas pelos deuses.

— Não fala besteiras, Jackson. Nenhum lugar é mais belo que esse.

Por fim, quando o sol escondeu-se de vez nas colinas, aquele homem viu mais uma vez o jovem Lucca sorrir para si, e acenar brevemente, fazendo seus pais olharem na direção na qual o filho acenava…

E assim como o garoto se foi, novamente, os anos também se foram. Claro, ele sempre regressava aquela preciosidade de local. Era óbvio também que contava com a sorte de mais cedo ou mais tarde, reencontrar aquela criatura tão singular.

Chovia, os céus pareciam em completa ira. Os visitantes corriam com seus sobretudos e guarda-chuvas, alguns dizendo que Zeus havia se irritado com algo, era de certo modo verdade, aquele que sempre os observava sabia disso.

Mas enquanto uns fugiam, ele notou aquele que uma vez havia chegado ali ainda criança. Ele era um telespectador daquela vida tão repleta de luz. Mas naquele dia parecia triste, o rosto estava molhado, e não de chuva, já que abrigava-se debaixo de uma das grandes e belas árvores. Segurava uma urna em mãos, notou que estava muito bem apertada ao peito do rapaz, que agora aparentava seus 20 anos.

Notou-o abrir o recipiente, espalhando no ar revolto, as cinzas que bailaram logo chocando-se com a água da chuva, desaparecendo no ar. Não teria naquele dia o sol para resplandecer a relva. Havia apenas a chuva para lavar a alma. Ele queria se aproximar e lhe estender a mão, mas… como? Sequer se conheciam.

Ao contrário do que sempre acontecia, o rapaz não caminhou pelo local, mas sentou-se aos pés daquela enorme árvore, abrigando-se de chuva, mantendo a urna com ainda um pouco das cinzas ao seu lado, pegando a câmera para uma foto dos relevos de Meteora no dia de chuva. Ele quase podia sentir a tristeza do rapaz, como se a pressão atmosférica mudasse e fizesse palpável a dor que Lucca sentia. Estava ali sozinho, como nunca antes esteve. Tinha os olhos vermelhos e nem mesmo a câmera frente ao rosto podia esconder isso. Olhava para os lados, como quem espera por um chamado para ir embora, mas esse não veio. Não tinha pais ou amigos para chamá-lo daquela vez.

Então ele se aproximou, sem a convicção de que fosse aceito, mas foi mesmo assim. Caminhou pela relva molhada, apoiou o corpo na árvore, e olhou o rapaz, estendendo à ele um lenço. Fora aceito de prontidão, e logo passado aos olhos para secar as lágrimas.

— Obrigado — a voz era tão suave, rouca como se guardasse um grito na garganta, mas ainda suave. Não ergueu os olhos para ver quem o havia consolado, apenas aceitou o gesto de carinho alheio.

— Não por isso.

Ah sim, Lucca ergueu o olhar no momento que a voz se fez presente. Embora baixa, tinha a força que sua aparência não demonstrava. Enquanto ele notava as particularidades que tornavam Lucca único, o rapaz pôs-se a notar os traços já conhecidos daquele homem. Os fios castanhos um pouco compridos, acima do trapézio, mas para os padrões; compridos. Notou também as íris avermelhadas, como se fizesse uso de lentes. A barba por fazer e o sobretudo que cobria quase todo o corpo, deixando apenas as botas pretas e parte da calça aparentes. Discreto nas vestimentas, assim como todas as outras vezes, e curiosamente… com a mesmíssima aparência.

— Lucca — apresentou-se, muitos anos depois, mas ainda assim era agora que se conheciam.

— Ha… — ponderou quase tomando a mão estendida junto a sua. — Haurélio.

— Diferente. O que significa?

— Invisível.

Sua vida toda resumia-se à isso, afinal. Parecia invisível à qualquer olhar curioso, que não o de Lucca, que notou sua presença quieta desde quando ainda era uma criança em busca de mais espaço para correr.

— Sempre vem aqui, não é? Todas as vezes que vim, eu vi você.

— É meu lugar preferido.

— Era o dos meus pais e tornou-se o meu assim que me trouxeram aqui. — Havia tanta verdade em suas palavras, que os olhos transbordaram o sentimento. “Era o lugar preferido”, aquilo doía. — Cheguei a esboçar esse lugar várias vezes, mas nenhuma ficou bom o bastante. Por isso fotografo — apontou para a câmera pendurada em seu pescoço, vendo logo o homem sentar-se à seu lado. — Para chegar em casa e poder desenhar.

— Tenta sem olhar para a foto. Foque apenas no relevo e no que esse lugar te faz sentir.

— Eu fiz isso uma vez… — o comentário saiu baixo demais, como se o rapaz sentisse vergonha de algo. Ele esperou, ao menos por tempo suficiente para que o jovem tateasse o bolso do sobretudo que trajava, pegando uma folha dobrada e entregando à ele.

Os traços eram amadores ainda, mas ainda assim muito belos. Os relevos de Meteora sendo capturados com a pureza dos olhos de um apaixonado pelo lugar, o esboço em grafite não trazia toda a cor que o lugar detinha, como a relva verde e o pôr do sol nas colinas. Não tinha todas as cores que o mosteiro também tinha ao vivo, Grécia sempre cheia de cor e seus tons de azul. Mas tinha ele. Para seu total espanto, tinha ele no meio da relva, debaixo de uma das árvores, onde sempre ficava a observar a paisagem. Os traços de seu rosto eram de longe os mais bem detalhados que já haviam feito ao longo dos anos, porque ao contrário de qualquer outro, aquele rapaz o enxergava de fato.

— Fiz esse aos 16 anos. Sempre carrego comigo para tentar chegar à esse nível, porque de lá pra cá foram tantos acontecimentos. — Tocou a urna, um dos mais trágicos fora a perde de seus pais, obviamente. — Consigo desenhar Acrópole, a ilha de Santorini… mas sempre me perco quando tento passar para o papel tudo o que esse lugar aqui me faz sentir.

—Tenta de novo. Não hoje, espera amanhã… Amanhã o sol vai fazer com que cada gota de chuva brilhe ainda mais, assim você não fotografa… registra o momento em mente, para então desenhar.

— Acha que vai funcionar?

— Há muito uma pessoa me falou que o que é feito com a pureza do sentir, é sempre bem feito. — Àquelas palavras… ele jamais esqueceria delas. Fora o que havia feito aceitar seu destino enfadonho e abraçar o que lhe era imposto. Fora também o que o havia feito lutar por aquilo que ele julgava ser seu, por direito.

—Sábias palavras.

— Talvez palavras da própria deusa da sabedoria — riu em tom de uma tentativa de piada para distrair aquele rapaz. Funcionando ao ver aquele sorriso jovial de novo. O mesmo que ele tinha desde criança, com um furinho no queixo unilateral, fechando os olhos parcialmente.

— Nos vemos amanhã Haurélio? — pôs-se de pé, passando as mãos pelo sobretudo, agradecido por ser impermeável, caso contrário estaria agora uma poça de água ambulante.

— Com toda a certeza do mundo… — e do sub, e dos céus que levam ao Olimpo. Concluiu ele em pensamento, colocando-se de pé também, sorrindo como há tempos não tinha a vontade de fazer. Aquele rapaz despertava sua vontade de estar vivo. Assim como a Grécia outrora havia feito.

Lutou com unhas e dentes para permanecer ali, naquele solo sagrado e puro de Meteora, e conhecer Lucca havia feito cada um dos dias de luta valer a pena. Conhecer um ser tão apaixonado pelas colinas daquele lugar… um igual, muito embora quase seu extremo oposto.

Viu-o se afastar, e fechou os olhos sentindo as gotas de chuva tocar sua face. Parecia muito mais que a mão de Zeus lhe tocava do que de fato a chuva. Nem ao menos notou que o sorriso ainda estava estampado ali. Torcia pelo amanhã como quem esperava um ente querido regressar…

E regressou. Na manhã seguinte, trazendo consigo uma tela em branco e grafites para esboçar o amanhecer naquela terra de beleza inenarrável. As palavras sequer foram trocadas em demasia, ele buscando que o rapaz se ajeitasse o quanto antes, não querendo que ele perdesse o grande espetáculo.

Estava frio e a névoa ainda cobria parte da relva, escondendo as gotas de orvalho que por ali jaziam suaves e belas. Estendeu à ele uma manta, não a levou para si no fim das contas, levou-a para o rapaz que olhava encantado para os relevos das formações rochosas de uma das mais belas paisagens da Grécia. Notava não mais o nascer do sol por entre as montanhas, notava sim o brilho que trazia ao rosto do rapaz, a forma como mordia a ponta do lápis olhando perdidamente encantado para a relva que parecia brilhar como se esmeraldas estivesse espalhadas ao chão. Olhou com atenção a forma cuidadosa com a qual ele apoiava o dorso da mão ao papel, para só então apertar a ponta do grafite ao espaço em branco que aos poucos, preenchia-se de vida nos seus tons de cinza.

— Definitivamente é a coisa mais bela que já vi na vida. — A empolgação era quase palpável. O olhar apaixonado que ele dirigia à paisagem, chegando a ficar boquiaberto com como o sol parecia brilhar muito mais ali do que em qualquer outro lugar. — Muitos comentam sobre o som do vento em Acrópole… e de fato, é melodioso. A mais perfeita das sinfonias não criada pelo homem. Mas isso… — apontou para frente com o lápis. Aos olhos dele aquele jovem mais parecia um maestro prestes a iniciar sua apresentação com a orquestra. Mas ali os sons eram modificados às suaves arrastadas da ponta do grafite ao papel. — Isso é a perfeição em sua mais forma mais pura. Singela. É o verdadeiro panteão dos deuses.

Ah se ele soubesse… e ele soubesse o quanto estava certo.

— Não mudaria nenhuma das suas palavras. Esse aqui é o paraíso na terra — fechou os olhos, respirando fundo aquele ar matinal ainda gélido, conforme o sol esquentava aos poucos, mandando de vez para longe a ideia de que a chuva havia chegado até ali.

— Meus pais se conheceram aqui. — “Eu sei”, ele queria dizer. — Desde de então eles vinham para cá, como comemoração. Me trouxeram a primeira vez e eu me apaixonei pela Grécia. O berço da civilização.

— Ah!, não fomos civilizados desde o início — o seu olhar não poderia ser mais caricato, como se fizesse chacota, e fazia.

— O início ao qual se refere é o tempo dos deuses?

— A grande guerra em busca de destronar Cronos... sim. Mas fora isso, sim, o berço da civilização. — Lucca não conseguia compreender logo de cara o humor atípico daquele homem, mas gostava. Era engraçado e um tanto sarcástico, mas isso não atrapalhava naquela convivência completamente recente.

— Haurélio, eu gosto de você, sabe. É um homem um pouco complexo e de palavras que ficam vagando no ar, mas um homem interessante. “Invisível”, huh. Tinha que ter o significado de caótico. Suas respostas às vezes tem o dom de confundir.

A reverência fora sua forma de agradecer e entrar na onda daquela brincadeira enquanto o rapaz fazia os ajustes no esboço de seu desenho. Ele notava por vezes o olhar incisivo de Lucca sobre si, e nada fazia além de engolir em seco, contendo a vontade de virar-se para ele e indagar o porquê de tanta curiosidade.

Passaram a manhã toda juntos ali, sobre uma parte de planície de Meteora, apreciando as elevações, o mosteiro e cada arquitetura feita pelo homem que se fundia ao divino em probabilidades surreais!

Quando por fim chegou a hora de se despedirem, Lucca olhou atentamente para cada detalhe do rosto daquele homem, aproximando-se para tocar-lhe o rosto, fazendo-o fechar os olhos em resposta automática, como se temesse ser tocado. Mas fora o susto, não moveu um músculo sequer para se afastar do rapaz, ou impedi-lo.

— Quando nos vermos de novo, terei um desenho melhor daqui para te mostrar… e um de você.

— Aguardarei ansioso então, Lucca.

Os olhares se encontraram, assim como os sorrisos que davam um ao outro.

E mais uma vez ele assistiu o rapaz partir, sorrindo e acenando, como quando havia feito ainda criança, e aos 16, e agora aos 20. Participava da vida dele em pequenos pedaços, sem sequer imaginar que era tão importante para o garoto, quanto o jovem era para si.

Era de certo modo cruel e engraçado o passar do tempo. Para muitos passava voando, para outros parecia se arrastar. Foram muitas as vezes que ele reencontrou aquele rapaz, o viu crescer, vislumbrou o seu dom para desenhar, viu-o se apaixonar por Meteora, tal como ele era apaixonado. Achou nele um igual, mesmo com as muitas diferenças. Viu-o crescer e tornar-se homem, viu-o perder os pilares que eram seus pais. Viu-o rir e chorar. Viu o brilho daqueles olhos como se fossem as mais belas joias.

Viu o seu desenho, com riqueza absurda de detalhes, sua cicatriz na sobrancelha direita, que ele não diria ao rapaz, mas fora causada por seu irmão mais velho, aquele que se julgava o melhor. Cicatrizes que jamais o tempo borraria, tal como as lembranças daquele rapaz. Isso ele jamais esqueceria, mesmo que vivesse muitos mais anos que Lucca. Era sua maldição, afinal. Não poderia também segui-lo, estava atado à Grécia, mais especificamente à Meteora. Era o acordo, ficar ali era sua recompensa.

Quando tornou a vê-lo, o rapaz tinha a barba por fazer, marcas do tempo em sua bela face, mostrando que agora tinha pouco mais de 40. Ele indagou, claro, muitas vezes como ele não envelhecera nem ao menos um dia sequer. Enquanto o próprio Lucca via o tempo passar por seus espelhos, vendo a juventude esvair-se aos poucos.

Indagou novamente, e obteve dessa vez um olhar diferente.

— Se eu te contar, você vai achar que estou mentindo.

— Oras, Haurélio. Não tem como não acreditar no que me diz, veja só… conheci você quando era um garotinho, e hoje sou um homem formado, e você não mudou nada. Nem todas as cirurgias plásticas deixariam você com essa mesma aparência por mais de 30 anos. — O comentário fora feito enquanto Lucca tocava a face alheia, sentindo a maciez da pele alva, que de fato não havia mudado em nada ao longo dos anos. Estavam novamente debaixo da árvore, aquela na qual haviam se falado pela primeira vez.

— Eu sou imortal. — Ele esperou por um rompante de gargalhadas e um olhar incrédulo por parte do outro, mas nada disso aconteceu. Lucca permaneceu a tocá-lo e olhá-lo como quem olha à algo precioso.

— Hm, não me diga. Seu nome também não é Haurélio, não é mesmo?

— Como…?

— No dia que se apresentou formalmente à mim, travou na hora de me dizer seu nome. Sabia que estava mentindo, mas por algum motivo que nunca saberei explicar, não achei que fosse importante assim saber seu nome verdadeiro. — Umedeceu os lábios, finalmente afastando a mão do rosto alheio, descendo-a pelo ombro e braço, por fim segurando na mão alheia, entrelaçando os dedos. — Mas se quiser me dizer agora, ficarei contente em saber.

Ao longo dos anos, haviam conversado, Lucca sempre regressando à Grécia com o intento de rever o lugar pelo o qual era apaixonado e para manter vivas as recordações de seus pais, e também, para rever um amigo. Um que ele tinha em grande estima. Havia conseguido uma ou outra informação importante, que o fazia suspeitar que o seu amigo “Haurélio” era muito mais do que aparentava ser.

— Hades.

Havia falado tão baixo que quase não fora possível ouvir, se a brisa não ficasse mais suave, o ruído do vento teria abafado a voz rouca e baixa.

— E não serei tolo a ponto de perguntar se te deram um nome de um deus, porque com todas as peças desse quebra-cabeças que ainda faltam, isso já ficou claro que não, não é mesmo? Você não envelheceu um dia sequer, enquanto eu estou aqui, cada vez mais velho.

Lucca não estava chateado, um pouco surpreso talvez, mas era a explicação mais plausível ao seu ver. Sentiu a mão firme apertando a sua, e a apertou de volta, mostrando que em nada aquela informação mudava seu jeito de ver e conviver com ele.

Hades finalmente havia encontrado aquele que seu irmão havia mencionado ser capaz de libertá-lo, não de uma maldição, mas de si. Preso e atado ao medo de não ser aceito pela fama que o seguia. Lucca via-o por inteiro, sem ater-se ao que diziam sobre si.

E assim se foram os anos. Lucca mudou-se para a Grécia, buscando dar aulas de desenho aos iniciantes, fazendo uma carreira bela. Ficando também mais perto de seu ‘amigo’ querido. Apaixonando-se mais a cada dia, tal como Hades também fazia. Mesmo que se encontrassem apenas ali, aos pés de um precipício em Meteora.

Fora ali também que trocaram um abraço tão repleto de carinho que fez brotar lágrimas dos olhos de quem nunca havia chorado. Tornava-se mais humano a cada instante com aquele, agora, um homem de 50 anos.

Sabiam que o tempo era o inimigo atroz que os separaria um dia… um dia. Para Lucca fora uma vida muito bem aproveitada, nunca casou-se ou teve filhos para quem contar as histórias de amor de seus pais, ou sua grande aventura na Grécia, mas teve uma pessoa em sua vida, alguém que amava com todas as forças, mesmo que nunca tenham ficado juntos, apenas um beijo fora trocado em toda a história, e esse sequer fora dado enquanto vivo. Os anos para Hades, ah, esses passaram como um avançar de foguete. E ali, no alto de Meteora, ele agora fazia o mesmo que Lucca outrora… jogava as cinzas aproveitando-se do pôr do sol e da brisa que logo levaria-o para longe.

Enquanto as cinzas bailavam ao ar, indo de encontro as muitas colinas de Meteora, Hades tocava os lábios novamente, recordando-se do toque frio que fora ao selar seus lábios aos de Lucca, ali mesmo, ambos sentados sob a copa da árvore, onde o eterno rapaz dera seu último suspiro, para então adormecer eternamente.

Foram anos bem vividos, felicidades e coisas que Hades não seria capaz de esquecer, nem se tentasse. Era a dor da despedida que fazia seus olhos verterem em lágrimas silenciosas. Era a dor de saber que nunca mais na vida encontraria alguém tão apaixonado pela Grécia, por aquele lugar, quanto ele. E chorou, sentindo a chuva vir de encontro ao rosto, sabendo que o mar também estava revolto. O que ele sentia, os outros dois grandes sentiam também. E ali, Hades sentia que toda a sua existência, só tivera valor ao lado de Lucca. E naquele adeus doloroso, restou apenas permanecer em Meteora, para que jamais perdesse a memória daquele garotinho correndo entre a relva macia.

17 ноября 2020 г. 14:19 5 Отчет Добавить Подписаться
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Inkspired Brasil Inkspired Brasil
Olá! Primeiro de tudo, pedimos desculpa pela demora para postarmos o comentário e faremos o possível para que esse atraso não se repita. A escolha da Grécia foi encantadora! Ter usado um espaço fixo para toda a história e a visão de Hades deu todo um charme a mais, com certeza. Todo esse amor um tanto platônico que Hades teve por Lucca até seu último suspiro é o tipo que deixa os corações esperançosos e quentinhos! Você seguiu bem o que foi pedido pelo desafio com todo o significa que Meteora tinha para Lucca e é claro, com Hades estando preso lá por Zeus. Também com a menção dos deuses, que no começo até pareceu ser a própria Morte, mas não kkkkkk A história foi linda! Ficamos felizes por ter participado! Esperamos que participe também dos próximos ;) Até logo!
Erin C Erin C
Eu amei tanto sua representação de Hades, sempre o imaginei como algo pacífico e calmo. Algo profundo. Tá tudo tão bem descrito que quando eu vi, já tinha devorado o conto. O final já é algo esperado pois um humano e um imortal sempre tem pouco tempo junto, pouco para Hades, no caso. E ainda assim ficará como a melhor lembrança dele do mundo. 💛
Nathy Maki Nathy Maki
Ok, me chame de louca dos angst, mas eu amei o final. Muito muito. Primeiro eu buguei e pensei que fosse um espírito já morto que estivesse preso na colina e ficasse lá para contar as histórias do que via. Quando eles se encontraram e ele se apresentou eu imaginei que fosse um deus (cof cof cof Hades cof cof cof) ou um mortal amaldiçoado a viver para sempre. E olha só! Eu acertei u.u E minha nossa! Foi uma construção belíssima! Os cenários, a localização na Grécia, o tempo todo muito bem descritos e me fizeram imaginar realmente as cores, o cheiro, o soprar da brisa - atingiu direto minha alma de artista que ama cenários coloridos e em destaque - e o Hades lá como espectador em todos os momentos. E o Lucca ao longo do tempo sempre o vendo lá, vendo ele de verdade. Foi um final bonito, deu realmente para sentir o peso que é ser imortal e o quão preciosa é a vida e o tempo e que devemos aproveita-la em todas as oportunidades. Sua escrita é linda e merece um teatro de aplausos. Parabéns! Beijinhos <3
Ahhhh, que amor ♡ tão linda e tristinha, cheia de beleza nas pequenas coisas. Fiquei com um pouquinho de dúvidas sobre o relacionamento deles, esse tal beijo deu uma clareada de que afinal, era romântico, mas sem dúvidas, não foi nada comum. Tem uns errinhos que reparei mais pro começo e meio do conto, nada gritante, mas perceptível. Parabéns pela história, amei a narrativa e o enredo, toda a construção do relacionamento deles durante os anos, sua escrita é bem fluida e gostosa de acompanhar, e esse casal, ah, eles já ganharam meu coração ♡
HunterPri Rosen HunterPri Rosen
Hello! Tudo bem? Quero ler as histórias do #viajaink e comecei pela sua. E Jesus amadinho! Que história linda e delicada, tô muito no chão kzkskskksksks Quando Haurélio se revelou como Hades, o forninho caiu aqui, menina do céu! Soltei um palavrão até hihihihihi Adorei o enredo e como você o desenvolveu. Amei como Hades acompanhou o Lucca ao longo da vida, desde quando era menino até o fim da vida, como eles se conheceram, se aproximaram e se apaixonaram <3 Até a morte no final me deixou feliz apesar de triste. Oi? Kkkkkkk Não sei explicar, mas ficou muito agridoce, foi um final impactante e previsível ao mesmo tempo, já que Hades é imortal e o Lucca não. Gostei muito, ficou poético <3 A Grécia como cenário da história ficou muito legal também, as descrições, tudinho. Parabéns e continue escrevendo, seu jeito de narrar é muito lindinho :3 Bjs
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