Essa fanfic faz parte do desafio Tipos de Pai do grupo Inkspired Brasil
Pai adotivo
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No auge dos seus trinta e cinco anos, Kenshin se mantinha tranquilo, sem coisas complicadas ou preocupações em sua vida adulta comum. Sempre foi um homem simples, humilde, sem muitas ambições e bem conformado com o rumo que suas escolhas durante o colegial o levaram: acabou por se responsabilizar pela pequena loja da sua mãe e também precisava acordar de madrugada para trabalhar na colheita da fazendo de sua família.
Isso, claro, não foi o que fez durante toda sua vida. Ukai também acabou virando treinador do time de vôlei do seu antigo colégio, o Karasuno, sem ser realmente por meio de formação acadêmica e, por tanto, esse não era um serviço remunerado, mas estava tudo bem pois foi ali que ele realmente encontrou a felicidade e uma tremenda satisfação. É engraçado como bateu o pé e negou com todas as forças o pedido de Takeda, professor de literatura, de treinar aqueles corvos sem rumo para, no fim, cair de amor e orgulho pelos moleques cheios de sonhos e garra.
Claro, seus jogadores não foram os únicos que ganharam sua atenção, empenho e amor. Não. Keishin sofreu uma queda brusca e dolorosa pelo bendito professor insistente e irritante. Foi meio assim, do nada, que começaram a sair. Até os dias de hoje, Ukai não sabe explicar quando a relação deles deixou de ser profissional e se tornou pessoal o suficiente para que eles acabassem assumindo o namoro perante todos.
Depois do relacionamento ficar sério, Takeda criou coragem para contar o que tanto escondeu, impedindo que Keishin fosse em sua casa, e Ukai não poderia ficar mais surpreso: Ittetsu já era pai. Pelo o que o professor explicou, ele e uma antiga namorada tiveram um filho não planejado e a jovem mulher morreu no parto por causa de uma hemorragia interna. Keishin, que nunca gostou muito de crianças, ficou receoso de conhecer o “enteado”.
— Não precisa se preocupar, Ukai-kun. Keitetsu é um menino calmo e simpático, tenho certeza que vocês vão se dar bem.
Ittetsu o reconfortou com tanta propriedade e tranquilidade que Keishin instantaneamente relaxou, a ideia de conhecer uma criança pareceu ser muito certa e Ukai até se permitiu ficar animado; Takeda é calmo e possui uma personalidade deveras gentil, por tanto, o filho só podia ser assim também.
E ele era.
Keitetsu se apaixonou assim que o viu, deixando isso bem claro com o sorriso sem dentes, os braços rechonchudos esticados para ir no colo de Ukai, e as mãozinhas gordas que não saíram do rosto de Keishin até o momento em que acabou dormindo – estando deitado no peito do moreno, com o rosto apoiado o ombro largo. O treinador simplesmente caiu pela criança da mesma forma que caiu pelo pai dela, e agradeceu muito a Ittetsu pela oportunidade de conhecer um bebê tão encantador.
— Imagina, Ukai-kun, o prazer foi todo meu.
Keitetsu já estava no berço; sendo um bebê com seus dez meses de idade, ele tinha seu horário pra dormir, a personalidade dócil também ajudava, Keishin que quase não conseguiu se afastar, o corpinho gorducho cabia perfeitamente em seus braços, e sentiu falta da criança assim que o colou no berço.
— Eu sei que é um pouco cedo pra dizer isso, sensei, mas eu realmente quero fazer parte da sua e da vida dele, se assim você permitir.
A confissão foi vergonhosa e Ukai coçou a nuca em um gesto de nervosismo. Takeda o encarou com os olhos arregalados e de boca aberta, mas a surpresa durou por poucos segundos e logo ele sorriu como sempre fazia, suas bochechas coradas pela crescente alegria.
— É o que eu mais quero!
Takeda praticamente sussurrou, se aproximando. Ambos estavam sentados no sofá, frente a frente, e Keishin reivindicou os lábios do namorado com alegria e furor. Gostava demais dele e de tudo que os dois estavam vivendo. Nunca pensou muito em como seria sua vida amorosa e a ideia de casar sempre pareceu incerta demais para que tivesse expectativa disso mas, naquele instante, abraçando o corpo menor que o seu, Ukai soube que era Ittetsu quem lhe daria uma família completa.
Depois disso, a vida de Keishin mudou completamente. Parece que somente agora, tendo uma responsabilidade ainda maior sobre Keitetsu do que tinha com os meninos do Karasuno, Ukai realmente se via como um homem; na verdade, ele se via como um pai.
E isso era assustador, porque ele mal havia conhecido Keitetsu, mal convivera com o garotinho, e já se afogava em um amor tão intenso que não conseguia imaginar outra criança para chamar de sua – talvez nem mesmo uma que realmente viesse do seu sangue.
Mas Ittetsu não pareceu incomodado com isso, pelo contrário, os olhos negros brilhavam ainda mais ao notar todo o apego e carinho do Ukai por seu filho. É que, no fundo, o maior medo de Takeda era justamente que seu recente descoberto amor não gostasse ou aceitasse criar uma criança, e foi por isso que escondeu que já tinha um filho nos primeiros meses em que se envolveram, porém, ao ver o quão dedicado e amável ele é com Keitetsu, Ittetsu sentiu tanta alegria que ela mal coube em seu peito.
De pouquinho em pouquinho, o treinador aprendeu mais e mais sobre cuidar de uma criança; coisas como trocar fralda, verificar a temperatura da mamadeira e da água do banho, a amassar a comida até virar papinha, a brincar junto a ele com brinquedos, fazer cosquinhas na medida certa, o acalmar quando ele acorda de madrugada aos berros e até mesmo a contar historinhas na hora de dormir – isso inclui musiquinhas. Sem que Ukai ou Takeda percebessem, Keishin praticamente morava na pequena casa do professor. Dormiam juntos todas as noites, revezavam a vez de quem levantaria para cuidar de Keitetsu de madrugada, e até mesmo quem prepararia o jantar e quem lavaria a louça.
Acontece que tudo foi muito natural e a vida a dois fluiu como um rio que segue seu percurso sem mudanças bruscas. Os meses iam passando e com eles a vontade de morarem separados. O antigo levantador do Karasuno não conseguia mais reconhecer seu pequeno quartinho como seu lar; a casa de Takeda era seu lugar agora. Não pensou muito quando propôs que juntassem as escovas – até porque sua escova de dentes já estava no banheiro da casa do Ittetsu, assim como sua meias na gaveta dele e seu carro em sua garagem. Takeda sorriu muito feliz e aceitou a ideia com muito gosto, e muito beijos.
A decisão de morarem juntos não mudou quase nada na rotinas deles além da certeza que, primeiro, sempre teria alguém em casa esperando você chegar, e segundo, que Keishin não passaria uma noite sem ouvir aquelas gargalhadas e murmúrios sem sentido, além dos beijinhos de boa noite e bom dia. É, a vida era feliz.
Keitetsu também demostrou alegria com a vinda definitiva de Keishin para a casa dele, pois sempre que o treinador não vinha passar a noite, era quase impossível pro professor dormir; o menino sentia mesmo a falta do outro, chorando bastante e dormindo apenas por estar exausto, horas depois de muitos berros. Ukai também passava uma noite ruim quando ficava em sua antiga casa, sentindo falta do corpo magro e do pequeno corpinho que sempre desmaiava em seus braços.
De morarem juntos para o casamento foi um pulo. Foi apenas um assinar de papéis e um churrasco depois, com seus alunos e amigos. Keitetsu já tinha feito dois aninhos nesse meio tempo, e a primeira palavra que ele disse foi papai, o que gerou dúvida sobre qual dos dois ele estava chamando.
— Pode ser por mim, já que ele falou papai enquanto brincávamos de cavalinho pela sala. — Keishin concluiu, feliz.
Takeda não rebateu, ele nem ao menos conseguia dizer alguma coisa, estava abalado demais para isso, pensando no quão sortudo foi ao conquistar alguém tão precioso quanto Keishin. O moreno, por sua vez, só percebeu a avalanche de emoções que tomou Takeda quando ele passou a chorar como um bebê.
— Oe, sensei, o que houve? Você está doente?
O professor riu e abraçou o mais alto com vontade.
— Não, eu só estou muito feliz.
A expressão preocupada cedeu e Keishin sorriu fechado, seu semblante completamente calmo e tranquilo de um jeito que Ittetsu nunca viu antes.
— Não, Take-chan, eu que estou muito feliz. — Se afastou um pouco, apenas o suficiente para poder olhar intensamente para o marido. — Obrigado por ter me dado essa família maravilhosa.
Takeda voltou a chorar. E pensar que aquela noite e bebedeira e comemoração por terem ganhado as nacionais tomaria aquelas proporções… Keishin não fazia ideia, mas foi ele quem deu uma família de verdade para Ittetsu.
O tempo passou em uma rotina que, por mais doméstica que fosse, fazia ambos felizes. Keitetsu crescia a cada dia mais, se tornando um garoto muito sapeca, risonho, inteligente e desavergonhado, que sabia bem o quão babão Keishin era e aproveitava bem suas artimanhas para escapar de broncas e castigos; como na vez que ele teve a brilhante ideia de brincar com as tintas da escolinha – a qual ele foi matriculado assim que fez quatro aninhos.
Para melhorar a situação, ele ainda meteu Kentarou, seu inseparável amiguinho, na brincadeira, resultado: Ambos cobertos de tinta, da cabeça ao pés, e a sala suja em todo canto.
Takeda quase teve um ataque cardíaco.
— De quem foi a brilhante ideia? — Ittetsu perguntou, furioso.
Kentarou, sem falar nada, apontou para Keitetsu.
— Como você alcançou as tintas, Keitetsu?
Dessa vez quem falou foi Keishin. Já em seus quase quarenta anos, continuava bem mal-encarado com raiva. Keitetsu, por sua vez, sabia bem que era só pose.
— Eu fiz uma escada.
Takeda e Ukai trocaram um olhar chocado.
— Como você fez uma escada?
— Com os monta-monta.
“Maldito pestinha inteligente”, Keishin murmurou. Takeda, que nunca guardava raiva por muito tempo, se segurou para não rir.
— Vocês sabem que vocês estão encrencados, não é, Kentarou? Keitetsu?
Quem falou foi Yuri, pai do Kentarou.
— Sim, papai.
— Sim.
— Chegando em casa vamos ter uma conversa, rapazinho. — Takeda avisou com um olhar sério.
— Sim, papa.
— E você vai ficar de castigo sem suco antes de dormir. — Keishin decretou.
Keitetsu fez uma careta chorosa, era viciado em suco, mas balançou a cabeça.
— Sim, papai.
Ukai mordeu os lábios para não derreter ali mesmo. Criou aquele pestinha desde os dez meses de idade, e ele o chama de pai desde os dois, mas ainda não conseguia conter a sentimento de puro amor que queria transbordar por seus olhos sempre que o filho lhe chamava daquela forma. Mas era isso que eles eram: pai e filho; filho e pai, porque sangue era só um detalhe, e nada nunca mudaria aquilo, seriam sempre uma família.
Para todo o sempre.
Takeda, que sabia bem o quanto Keishin ficava abalado ao ser chamado de papai, entrelaçou seus dedos com os do marido e trocou um olhar carinho com ele. Ukai abraçou sua cintura e beijou sua têmpora. Em seguida fez um gesto para Keitetsu pegar sua mão. O garotinho foi saltitando, feliz, como se não tivesse causado a maior bagunça em sua sala de aula e não estivesse coberto de tinta. Virou-se para Kentarou, seu melhor amigo, e acenou em despedida, sorrindo. Kentarou ficou corado e devolveu o sorriso, tímido. Yuri, pai e mãe de Kentarou, negou com a cabeça, sorrindo para as trapalhadas e confusões que dois pequenos fizeram, e pegou seu filhinho no colo.
— Francamente, o que eu faço com você?
Kentarou, que não era besta, escondeu o rosto no pescoço do pai e sorriu:
— Me dá chocolate antes da janta?
Yuri gargalhou. Criou um monstrinho.
— Nem pensar, o senhor está de castigo. Nada de chocolate, entendido?
Kentarou choramingou.
— Nada de chocolate... — Respondeu triste.
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