sunsetsong Andressa Figueiredo

Para mim o escuro era algo rotineiro. Fazia quatro anos que eu acordava e ia dormir com ele. Se eu sentia falta da luz? Sim, sentia muita falta, tanto que mesmo convivendo com o escuro por tantos anos meus sonhos ainda eram tão coloridos quanto um arco-íris. Além de que, tinham sim algumas coisas que me irritavam no escuro. A primeira delas é que eu não conseguia mais ver minhas séries preferidas; a segunda é que eu nunca sabia se a pessoa que está conversando comigo fazia caretas engraçadas quando ria; A terceira é que, por causa do escuro, eu não o conhecia como queria. Eu não sabia quais eram suas formas e cores, não poderia descrevê-lo ou lembrar dele, eu apenas sabia que ele estava ali comigo, apenas sabia que Park Jimin sempre estava por perto.


Фанфикшн Группы / Singers 13+.

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Короткий рассказ
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My Star

O cheiro do café era quase que inebriante pela manhã.

Eu gostava daquilo, a forma como aquele cheiro forte se espalhava rapidamente por todos os cantos da casa. Depois de tantos anos convivendo com Yoongi hyung — o que foi a minha vida inteira visto que nossos pais se conheciam desde a faculdade — esse cheiro havia se tornado algo tão familiar que eu me sentia em casa apenas por sentí-lo seja lá onde eu estivesse.

O café era preto e quando estava muito quente era possível ver o vapor que deixava a xícara com certa calma, eu lembrava bem disso, mas às vezes parecia que essa lembrança — assim como várias outras — estava sumindo aos poucos. No dia anterior me peguei confuso quanto a uma cor, o azul, eu me perguntava silenciosamente sobre ele quando me lembrei do céu e isso foi um tanto assustador.

Será que todo o resto poderia sumir também?

Os rostos de meus melhores amigos, as formas dos objetos, a cor de meus próprios olhos... Eu sabia que todos esses pensamentos eram apenas sintomas de meu nervosismo, afinal aquele era um dia importante e eu havia prometido a mim mesmo que tentaria apenas uma vez, se desse certo eu faria a próxima cirurgia também, mas, se não funcionasse, eu desistiria de vez daquilo. Seria difícil para mim aguentar um resultado negativo uma vez, se acontecesse duas vezes eu certamente não me sentiria nada bem, então era normal que minha neste estivesse apenas projetando o pior dentre tantas possibilidades do que poderia acontecer, pois, se as coisas não desse certo naquele dia, talvez eu realmente perdesse todas aquelas lembranças para sempre.

Estava sentado em frente a mesa de jantar que ficava em um canto afastado da sala de estar de casa, logo ao lado do vão que dava entrada à cozinha de onde se ouvia o tilintar de talheres, porcelana e panelas enquanto Minnie terminava de preparar nosso café da manhã. Meus dedos batucavam a madeira da mesa em um ritmo calmo demonstrando meu estado de preguiça matinal que prevalecia mesmo após um longo e terrível banho frio com o qual eu havia começado o dia.

A manhã estava bem calma, eu conseguia ouvir o canto dos pássaros do lado de fora da casa e eram poucos os carros que passavam pela rua. O vento gelado me atingia com suavidade, provavelmente entrado por uma janela ali perto que devia estar aberta. Aquele era possivelmente um dia muito bonito, afinal estávamos saindo do inverno em direção a primavera, então o tempo frio ainda era presente, mas agora o sol passaria a aparecer muito mais do que as nuvens.

Os sons dos passos de Soonshim se tornaram presentes tirando-me de meus devaneios, sua respiração rápida e pesada também era clara enquanto ele se aproximava. O shiba inu de pelo branco sentou-se ao meu lado e tocou em minha perna com seu focinho gelado. Ele podia sentir a minha ansiedade.

— Hey, garoto, como vai? — Toquei sua cabeça e acariciei ali, bem perto de sua orelha direita, onde eu sabia que ele gostava. Ouvi um grunhido de sua parte como se ele estivesse respondendo a minha pergunta e isso me faz sorrir. Balancei a cabeça como se o entendesse. — É, eu também estou me sentindo um tanto feliz hoje.

Mas uma vez meus ouvidos captaram o som de passos, mas estes eram mais calmos e cautelosos do que os de Soonshim, por isso constatei que dessa vez era Jimin-ah quem estava se aproximando e eu sabia que toda sua cautela indicava que ele já estava trazendo nossa comida para a mesa.

— Olha, eu acho melhor você não entrar naquela cozinha por hoje. — Avisou ele baixinho.

— O que foi que aconteceu dessa vez? — Perguntei com um sorriso no rosto enquanto tirava o braço que ainda estava apoiado na mesa de lá para que o menor pudesse organizar a comida com mais facilidade. Soonshim se afastou de minha mão e eu pude ouvir seus passos enquanto ele caminhava para longe, provavelmente indo até suas tigelas de ração e água que ficavam em algum lugar mais escondido da casa para que eu não acabasse por bater nelas sem querer e sujasse a casa inteira de comida de cachorro como já havia acontecido algumas vezes.

Park Jimin sofria muito em minhas mãos por causa de desastres como esse.

— Era uma vez a manteiga e o pano de prato, como o nobre cavaleiro que eu sou fui tentar resgatá-los de um grande perigo e de fato consegui ajudar o pano, mas a manteiga se foi antes que eu pudesse salvá-la das garras do poderoso chão. — Jimin-ssi soltou uma risada sem graça fazendo-me gargalhar. Ele andava tão desastrado naquela semana que parecia que ele e Namjoon hyung haviam trocado de corpos, mas eu sabia que, assim como eu, ele estava apenas um pouco nervoso. — Omo! Não ria! Não será você o encarregado por limpar toda a melequeira que está o chão.

Eu sorri abertamente sabendo que, da mesma forma que acontecia todas as vezes que Park Jimin ficava envergonhado, um pequeno bico havia se formado em seus lábios. Ao menos era isso o que todos eles diziam que acontecer.

Jimin terminou de arrumar a mesa e se sentou ao meu lado para que pudéssemos comer juntos ao mesmo tempo em que ele me auxiliava nos movimentos para que eu não acabasse por derrubar nada ou me queimasse com qualquer uma das coisas quentes que estavam dispostas à mesa.

— Vamos sair em 30 minutos, tudo bem? — Perguntou Jiminie e eu me limitei a concordar com a cabeça sem ter certeza de que ele estava mesmo vendo. — Quando chegar a hora, tem algo em especial que queira fazer, ou então algum lugar que queira ir?

— Quando chegar a hora de que? — Perguntei confuso com a boca cheia de bolo.

— Quando for tirar o curativo hoje a noite. — Sua voz era suave enquanto ele falava. — Qual a primeira coisa que quer ver, TaeTae?

Deixei minhas costas se chocarem contra o encosto da cadeira quando relaxei a postura, então minha cabeça pendeu para o lado e eu passei a tamborilar meus dedos em minhas pernas a medida que minha mente trabalhava pensando rapidamente em todas as coisas que eu gostaria de ver e rever quando finalmente pudesse tirar aquele bendito curativo que mantinha meu olho direito fechado, mas logo percebi que apenas uma dessas tais coisas era realmente importante para mim naquele momento.

— Eu quero ver você, hyung! — Falei de forma sincera. — Não me importa onde estejamos quando eu tirar isso... Eu só quero conhecer seu rosto, quero poder olhar em seus olhos, eu quero saber exatamente como te descrever da próxima vez que um de meus amigos me perguntarem sobre o meu namorado... — Sorri pequeno e balancei levemente a cabeça antes de prosseguir. — Eu apenas quero ver você hyung, pelo menos uma vez nessa vida, eu realmente desejo poder te ver.

— E se você não gostar? — Murmurou Jimin-ah em um tom baixo. Pelo silêncio que dominava o cômodo, era claro que ele também havia parado de comer.

— Não gostar de que? — Perguntei novamente confuso.

— De mim... Da minha aparência, talvez. — Ele suspirou e eu estendi a mão no que dizia ser a sua direção, sentindo que ele logo a segurou com a sua.

— Hyung, por favor, pare com isso. — Pedi apertando levemente sua mão e dessa vez o suspiro saiu de meus próprios lábios. — Já fazem quase 4 anos desde que eu me apaixonei por você, Jimin-ssi, e isso aconteceu quando a minha vida já não me pertencia mais. Quando nós nos conhecemos eu era apenas um garoto idiota que havia acabado de perder tudo em um incêndio e mesmo assim você me acolheu, cuidou de mim e me amou. — Virei meu rosto em sua direção e percebi a mudança de luz ao meu redor, ele com certeza estava do lado ou no mínimo bem perto de uma janela. — Você mudou a minha vida, Jimin-ah, me fez ver que aquele acidente não foi o fim para mim como foi para meus pais e meus irmãos... Você me salvou da tristeza quando a situação era realmente desesperadora e eu te amo por isso Park Jimin, te amo por causa da pessoa linda que você me demonstrou ser nesses últimos 3 anos e meio. Acredite, não será sua aparência que me fará deixar de sentir esse amor por você, isso eu te garanto.

Jimin ficou quieto por um tempo antes de eu senti-lo se aproximar mais de mim e, segundos depois, seus lábios tocaram os meus com suavidade em um pequeno selinho.

— Eu também te amo. — Ele falou em voz baixa, ainda próximo ao meu rosto. Eu ouvia o sorriso em sua voz e foi impossível não sorrir de volta.

Jimin logo se afastou e colocou em minha mão mais um pedaço de bolo para que eu voltasse a comer.

∞•∞•∞•∞•∞•∞•∞

— Hoje nós teremos uma pequena presença especial. — Disse Lee Hamjoon, a psicóloga responsável pelo grupo de apoio que eu frequentava. — Grande parte de vocês chegou a conhecê-lo, ele frequentou o grupo até o ano passado, então devem se lembrar dele. Taehyung-ssi, por favor, se apresente.

Segurei melhor a bengala retrátil que eu costumava carregar comigo para todo lugar — ela me ajudava a andar por aí sem me preocupar em acabar tropeçando e caindo o tempo todo quando Jimin-ah não estava por perto e eu não tinha Soonshim para me guiar — e me levantei calmamente.

— Olá, meu nome é Kim Taehyung, eu tenho 22 anos e sou cego a 4 anos. — Falei em voz alta. Não sabia ao certo quantas pessoas estavam ali, então queria garantir que todos escutaram a minha voz.

— Annyeonghaseyo, Taehyung-ssi! — Eles responderam em conjunto e eu me curvei levemente.

— Você pode nos contar o que aconteceu com você Taehyung-ssi? — Pediu Hamjoon e eu concordei com a cabeça.

— Foi um incêndio que ocorreu em minha casa no final de 2013, era literalmente o último dia do ano e o fogo engoliu tudo o que eu tinha. — As palavras saiam calmamente de minha boca para que todos pudessem compreende-las com facilidade. — Minha família morreu no incêndio e eu sai quase ileso do acidente, apenas algumas queimaduras que, pelo que me falam, hoje se quer são perceptíveis se você não prestar bastante atenção, mas quanto meus olhos... — Neguei levemente com a cabeça trocando o peso de um pé para o outro. — Os médicos falaram que foi culpa da fuligem, ela entrou em contato com minhas retinas e por isso minha visão ficou completamente deturpada. Desde então o máximo que posso ver é a mudança de luz entre lugares claros e escuros, mas até isso é quase inexistente para mim.

Era incrível como as coisas aconteciam. Como eu já disse antes, tinha certas coisas que estavam ficando confusas para mim, mas daquele dia eu lembrava muito bem, mesmo a cor das chamas ainda eram vivas em minhas lembranças apesar de tudo ter acontecido pouco mais de quatro anos antes.

Nós estávamos reunidos na frente da TV vendo um dos vários shows de final de ano que aconteciam naquele mesmo momento por toda a Coréia do Sul. Meus pais estavam sentados no único sofá que tínhamos na sala de estar de casa enquanto eu e minha irmã de seis anos, Kim Eunjin, estávamos no tapete da sala bem em frente a eles. Kim Junggyun, meu irmão, havia acabado de sair da sala para usar o banheiro quando aconteceu, ele tinha apenas sete anos. Estávamos nos divertindo, cantando junto dos idols que se apresentavam e às vezes Eunjin até mesmo imitava suas danças preferidas enquanto nós nos contentávamos em elogiar o modo como ela se movimentava bem e em dizer que ela com certeza seria a melhor dançarina que a Coréia já teve o prazer de conhecer futuramente. Até perto das onze e meia da noite estava tudo bem e tranquilo, mas aí nós ouvimos um barulho muito alto e o incêndio começou.

Não sei exatamente onde o fogo apareceu primeiro, mas de repente minha omma gritou e meu appa estava em chamas, se debatendo contra o sofá que logo começou a pegar fogo também. Quando minha omma tentou ajudá-lo acabou por ser tomada pelas labaredas ardentes e logo ambos estavam gritando de dor em cima do sofá em chamas. Assustado com a cena traumatizante de meus dois progenitores agonizando sobre o sofá e sem saber como ajudá-los, acordei de meu pequeno transe apenas quando ouvi o choro alto de Eunjin-ah. Então me levantei do tapete e me afastei do sofá com o coração na mão por saber que não conseguiria fazer nada por meus pais. Droga, eu sabia que não poderia salvá-los.

Corri em direção ao banheiro de onde vinha o som do choro e quando entrei lá vi algo que nunca esperaria ver. Eunjin estava caída em um canto da parede um pouco mais longe do fogo que se espalhava pelo cômodo e seus olhos estavam grudados no corpo queimado de Junggyun.

Ele já estava morto.

Ela provavelmente havia ido procurá-lo para se esconder junto á ele enquanto eu estava ocupado presenciando as chamas se espalharem pelos corpos de meus próprios pais. Sem ter tempo para o luto, reprimi as lágrimas que se formavam em meus olhos e agarrei Eunjin-ah, tirando-a daquele lugar. Carregando a mais nova em meus braços, comecei a correr procurando uma forma de sair da casa o mais rápido possível.

Lembro exatamente de como foi ver meu próprio lar caindo aos pedaços enquanto o laranja escaldante se alastrava cada vez mais para todos os lados. Minha irmã ainda chorava baixinho em meu pescoço e logo passei a ouvir sua tosse forte indicando que a fumaça estava entrando em seus pulmões tanto quanto estavam entrando nos meus. Eu não pude fazer muito mais do que puxar a gola de sua própria camisa e cobrir o seu nariz e a sua boca com o tecido dela — com a intenção de filtrar um pouco o ar que ela respirava, assim como ensinaram nas aulas de emergências que eu havia tido no ano anterior quando ainda frequentava a escola — enquanto tentava encontrar uma forma de fugir daquele inferno flamejante.

Passamos pelo sofá onde os corpos de meus pais estavam e eu pedi para que Eunjin-ie fechasse os olhos para que ela não visse aquilo, ela não precisava de mais esse trauma, não mesmo. Foi aí que eu vi a saída. Os restos mortais da porta da frente estavam caídos no hall de entrada da casa após ela ter sido quase que completamente destruída pelo fogo e eu ouvia o som das sirenes que indicavam que os bombeiros estavam próximos. Corri naquela direção com toda a energia que me restavam segurando com força o corpo pequeno e delicado de minha irmã contra mim, mas antes que pudesse-mos alcançar a saída alguma coisa caiu bem ao nosso lado. Pode ter sido um enfeite, um dos armários de sapatos que ficavam perto da porta, um pedaço da parede ou do teto, ou qualquer outra coisa, mas quando essa tal coisa caiu no chão a fuligem se espalhou ainda mais pelo ar e conseguiu entrar em contato com meus olhos fazendo-me sentir um ardor completamente indescritível, mas mesmo assim não parei de correr. Sem enxergar completamente nada, meus passos nos levaram para fora da casa. Eu gritei por ajuda e lembro-me de sentir alguém tocar meu ombro pedindo para que eu me acalmasse. Eunjin-ah foi tirada de meu colo às pressas e apenas quando já estávamos no hospital que eu fui descobri que, quando isso aconteceu, ela já estava inconsciente.

Foi ali, do lado de fora da minha casa que estava em chamas, enquanto os bombeiros tentavam apagar o fogo e tirar de dentro de meu antigo lar os corpos queimados de meus pais e de meu irmão mais novo, enquanto os paramédicos encaminhavam com urgência minha irmã mais nova para o hospital mais próximo, foi exatamente naquele lugar que eu tentei abrir os olhos pela primeira vez desde que havia saído de dentro da casa e senti meu mundo já quebrado ser completamente dizimado quando tudo o que eu consegui ver foi um tipo de sombra levemente alaranjada no meio do breu que se tornou minha visão.

Era sufocante!

Parecia que eu estava preso em uma caixa onde a única coisa que eu conseguia ver era mostrado por um feixe de luz que entrava por um buraco feito com a ponta de uma caneta 0,7. Depois de tudo o que tinha acontecido eu já me sentia à beira de um colapso, logo, foi ali também que eu tive minha primeira crise de pânico.

A ardência que eu sentia em meus globos oculares não passou completamente até três semanas após o incêndio e mesmo depois disso eu ainda precisava lavar meus olhos várias vezes ao dia a fim de tirar todo e qualquer vestígio de fuligem que ainda poderia restar ali.

Dois dias depois do incêndio, quando eu ainda estava internado no hospital recebendo o tratamento de oxigênio, me contaram que não haviam conseguido salvar a vida de Eunjin-ah, ao que parece ela havia inalado fumaça de mais e seus pulmões não conseguiram aguentar. Diferente de mim, Eunjin era asmática e durante o incêndio ela teve um crise pesada que foi a culpada por seu desmaio. Essa mesma crise foi a causa do seu óbito. As chances de que aquilo pudesse mesmo acontecer depois de um incêndio como aquele eram realmente grandes e eu sabia bem disso, mas mesmo hoje eu ainda não consigo superar o fato de que uma garota com míseros 6 anos de idade perdeu a vida apenas porque um adulto irresponsável do bairro vizinho não havia manuseado corretamente um dos fogos de artifício.

Ele havia matado toda a minha família por causa de um pequeno erro de posição de mãos.

Era tão doloroso pensar assim.

Meus pais não me veriam iniciar a faculdade de artes que eu tanto queria, não veriam meus irmãos terminarem o fundamental e seguirem para o ensino médio, não estariam presentes no meu casamento e sequer poderiam conhecer meus filhos. Eu os havia perdido no dia seguinte ao meu aniversário de 18 anos, mas eu não esperava que aquele fosse ser o último aniversário em que eu os veria sorrindo para mim enquanto colocavam uma pequena caixa de presente em minha frente na mesa do café da manhã junto com um bolo que teria "Happy TaeTae Day" escrito com chantili em cima da cobertura de pasta de chocolate. Eu não fazia ideia de que poderia sentir tanta falta de um gesto tão simples quanto aquele.

Junggyun não faria seu tão esperado aniversário de oito anos — ele dizia que com oito anos poderia dormir fora então seria quase um adulto —, não teria a experiência de fugir de casa no meio da noite para ir a alguma festa quando passasse dos 15 anos. Gyun-ah nunca precisaria se incomodar em tirar as melhores notas a fim de passar para a turma A de sua série, ou precisaria estudar até morrer para conseguir uma boa nota no vestibular. Ele não daria seu primeiro beijo ou teria sua primeira namorada, não teria a chance de levar uma bronca de nossa omma por ter chegando tarde em casa e nem teria a tão temida conversa com nosso appa. Meu irmão havia perdido sua vida antes mesmo de poder vivê-la.

Eunjin não passaria de seus pequenos 6 anos de idade. Ela era a princesa da casa, tão alegre quanto nossa família permitia que fosse, Eun-ah havia se tornado a luz que iluminava cada um dos meus dias, desde os melhores até os piores deles. Mas minha pequena luz não havia tido a chance de ouvir minha omma reclamando sobre suas roupas, ou meu appa falando o quão parecida com nossa progenitora ela se tornaria a cada dia que passasse. Ela havia perdido a chance de conquistar seu primeiro coração e de ter seu coração conquistado por alguém. Eunjin-ah havia morrido antes de ter a chance de brigar comigo pela primeira vez por eu ser um irmão protetor demais e não deixar que ela conversasse livremente com qualquer um dos garotos que passariam a frequentar a nossa casa a partir do seu último ano do fundamental. O pior de tudo foi que eu realmente acreditei que havia conseguido salvá-la, mas no final ela acabou por me deixar sozinho.

Todos eles deixaram.

— Obrigada por compartilhar sua história conosco. — Disse Hamjoon me tirando de repente de meus devaneios. Logo as outras pessoas que estavam na sala repetiram a sua fala como se ela fosse um pequeno mantra. — Pelo que me disse, dessa vez você tem uma coisa boa para nos contar.

— Sim. — Concordei balançando a cabeça. — Algumas semanas atrás eu fiz uma cirurgia em meu olho direito e hoje eu receberei o resultado dela.

— O que isso significa? — Perguntou a psicóloga.

— Significa que há uma grande possibilidade de que eu volte a enxergar. — Respondi sorrindo sem conseguir me conter. Apesar do medo e da ansiedade quanto ao resultado eu também estava muito animado, afinal apenas a possibilidade de enxergar novamente era motivo de alegria para mim. — Por enquanto será apenas um dos olhos, mas neste momento um é melhor do que zero.

— Isso é maravilhoso Taehyung-ssi! — Disse Hamjoon e havia um sorriso em sua voz. — Como se sente com isso?

— Assustado, ansioso... Feliz. — Dei de ombros e suspirei. — Quer dizer, eu sonho com esse dia a muito tempo, mas também tenho medo de que a cirurgia não tenha dado certo.

— E qual é a coisa que você mais irá querer ver quando tirar esse curativo? — Perguntou de forma curiosa.

— Você se refere a coisas que eu conheci antes ou depois do acidente? — Perguntei apenas para ter certeza.

— Antes. — Respondeu ela e eu sorri novamente, mas dessa vez um sorriso triste, pois, querendo ou não, aquela simples pergunta fazia meu coração doer. De tudo que eu conheci antes do incêndio nenhuma das quatro pessoas que eu realmente queria rever estavam ali comigo, então a primeira coisa que veio a mente naquele momento foi algo do qual eu sentia muita falta, algo que me lembraria eles.

— As estrelas... — Respondi sem nenhum pingo de hesitação.

— Estrelas? Por quê? — Perguntou Lee e eu pude ouvir sua confusão na maneira como ela falava.

— Sempre que todos nós tínhamos um tempo, minha família se reunia no quintal de casa e observávamos as estrelas juntos. Era algo que minha omma fazia desde criança, uma paixão que ela quis compartilhar com seu marido e seus filhos. — Sorri sem dentes com as lembranças que me vieram a mente daqueles pequenos momentos felizes que tivemos em nosso quintal. Eram momentos lindos, momentos que eu queria poder reviver e, agora, também eram momentos que eu queria compartilhar com Jimin-ah. — Eu quero vê-las novamente e quero manter o desejo de minha omma vivo, pois tenho certeza que passarei todo esse amor que eu mesmo criei pelas estrelas para meus próprios filhos, assim como ela queria que eu e meus irmãos fizessemos.

— Esperamos que dê tudo certo hoje Taehyung-ssi, boa sorte. — Disse Hamjoon, havia sinceridade em sua voz.

— Boa sorte, Taehyung—ssi. — Repetiram os outros. Curvei-me novamente e sentei em minha cadeira com cuidado.

Assim que Hamjoon voltou a falar senti uma mão tocar meu braço. Eu sabia que era Jimin, afinal era ele quem estava sentado à minha direita naquele momento. Ele havia me acompanhado até a cessão apenas para não me deixar sozinho no meio de tantas pessoas desconhecidas por quase 2 horas. Eu até tentei contestar quando ele disse que ficaria para ver a cessão toda, mas, na opinião de meu hyung, qualquer segundo ao meu lado — mesmo aqueles em que ele teria que aguentar horas ouvindo discursos depressivos sobre problemas de saúde e palestras extensas sobre como sair de casa e interagir com outras pessoas fazia bem — valia a pena e o deixava feliz.

— Vai dar tudo certo, não se preocupe. — Garantiu-me Jimin e eu apenas concordei com a cabeça em resposta pedindo mentalmente para que ele estivesse certo. Então deixei que ele segurasse minha mão enquanto a conversa do grupo continuava.

Aquilo me acalmava.

Ter sua mão na minha em um momento como aquele me trazia uma paz inexplicável e me fazia ver que, mesmo que tudo desse errado naquele dia, ele ainda estaria ali para mim. Então, em outras palavras, mesmo que eu não pudesse ver aquelas lindas constelações novamente, eu ainda teria minha pequena estrela particular para me fazer companhia. Mas ele não era um simples astro como aqueles que as pessoas viam todas as noites quando olhavam para o céu, não, Jimin era muito mais do que isso.

Park Jimin era a minha estrela cadente e eu sabia que ele estaria sim disposto a realizar todos os meus pequenos e grandes desejos, mesmo que eu nunca tenha feito sequer um pedido em voz alta.

∞•∞•∞•∞•∞•∞•∞

Já era noite e estávamos no carro enquanto Jimin dirigia para algum lugar que eu não fazia a mínima ideia de qual era. Almoçamos em um restaurante qualquer que ficava perto de onde o grupo de apoio se reunia e depois voltamos para casa onde passamos o resto do dia. Jimin-ssi terminou de limpar completamente a manteiga que ainda havia ficado no chão, pois, para ele, apenas passar a esponja como o mesmo havia feito pela manhã não era suficiente para limpar toda aquela "melequeira" — anos de convivência com Kim Seokjin dá isso, ta vendo? —, enqunto eu brincava um pouco com Soonshim na sala de estar, até que Park terminasse tudo que tinha que fazer e me levasse para nosso quarto onde ficamos o resto da tarde apenas curtindo a presença um do outro e ouvindo um pouco de música. E foi assim que levamos o dia até o momento em que Jimin-ie disse que gostaria de me levar a algum lugar.

Já havia passado das sete da noite e eu sabia que poderia tirar o curativo a hora que eu quisesse a partir daquele momento, mas Jimin me convenceu de não fazê-lo até chegarmos ao tal lugar que ele queria me mostrar. Eu estava extremamente curioso e ansioso. O medo ainda era presente, porque eu sabia que as chances de que quando eu abrisse os olhos enxergasse apenas aquele mesmo borrão de cores escuras ainda era uma possibilidade muito viva e isso me assustava um pouco, até porque ninguém quer ficar no escuro para sempre.

— Já estamos chegando? – Perguntei de forma curiosa depois de mais de 20 minutos de viagem.

— Sim, eu apenas preciso estacionar. – Respondeu Park me fazendo sorrir um pouco.

Ele estacionou o carro e saiu de dentro do mesmo antes de correr para o outro lado do veículo a fim de me ajudar a sair também. Assim que deixei o carro senti uma brisa forte tomar meu corpo e um cheiro salgado adentrou minhas narinas, ao longe se ouvia o som das ondas batendo contra a areia da praia e isso me faz sorrir.

— Porque me trouxe para cá? — Perguntei curiosamente, sentindo Jiminie pegar em meu braço e começar a me guiar em direção a algum lugar.

— Você vai ver, apenas espere mais um pouco. — Pediu e eu prontamente assenti em concordância estando completamente ansioso para saber do que a tal surpresa se tratava. — Tire seus sapatos.

Fiz o que ele mandou com sua ajuda e assim que meus pés tocaram o chão eu já pude sentir um pouco da areia gelada da praia. Não andamos por muito mais tempo depois daquilo. De onde estávamos eu podia ouvir o som das ondas um pouco mais alto e o vento levemente mais forte deixando meu corpo um pouco mais sensível por conta do frio. Quando paramos de andar Jimin me fez sentar no que parecia ser uma toalha de praia que estava estendida na areia e logo me pediu para deitar, assim que o fiz senti que ele também estava deitando bem ao meu lado.

— Está pronto TaeTae? — Perguntou Jimin segundos depois visivelmente ansioso, eu apenas concordei com a cabeça sabendo exatamente a que aquela pergunta se referia. Ouvi seu suspiro enquanto ele se debruçava sobre mim e selava nossos lábios em um beijo simples, ao se afastar Jimin acariciou minha bochecha direita e eu senti seu hálito gelado tocar minha pele já que nossos rostos estavam bem próximos. — Eu te amo Kim Taehyung e, independente do resultado dessa cirurgia, eu vou continuar te amando pelo resto da minha vida.

Um sorriso largo surgiu em meus lábios e eu puxei Jimin para mim novamente para um segundo beijo, mas, dessa vez, este sendo um pouco mais profundo.

— Eu também te amo hyung, muito mais do que meu coração pode suportar. — Sussurrei colando nossas testas. Então Jimin me deu um ultimo selar antes de se deitar ao meu lado novamente. Senti seus dedos pequenos e macios contornarem o curativo que estava sobre meu olho direito, então ele tirou aquelas fitas que o prendiam a minha pele com cuidado antes de afastar completamente aquele pedaço de esparadrapo do meu rosto.

Meu coração estava acelerado e minhas mãos suavam frio. Eu tinha medo de abrir os olhos, tinha medo do que poderia ver e mais medo ainda do que eu não poderia ver. E se desse errado? E se toda a minha esperança tivesse existido apenas para ser esmagada no final daquele longo mês de espera?

— Vamos lá, TaeTae. – Sussurrou Jimin no pé de meu ouvido, ele segurou minha mão direita que descansava ao lado de meu corpo como que para me dar apoio e dizer que ele estava ali para mim independente de qualquer coisa. — Faça isso por mim, amor, por favor.

Ele apertava minha mão com delicadeza e eu apenas concordei com a cabeça antes de respirar fundo algumas vezes e finalmente abrir os olhos.

Estava tudo escuro.

Meu coração falhou uma batida ao constatar que nada parecia ter mudado. Então havia sido tudo em vão? A cirurgia, a recuperação, o dinheiro gasto nos remédios para dor e aqueles que preveniam inflamação. Foi tudo para o lixo? Então, no final, tudo o que me restaria era apenas o maldito escuro? Para sempre?

Eu quis gritar, quis dizer o quanto aquilo tudo era injusto, quis xingar a todos os malditos deuses e curandeiros que já foram citados em meus livros de história na época de escola, pois nenhum deles esteve disposto a me ajudar naquele momento. Mas não o fiz. Eu não me sentia forte o suficiente para fazer algo assim, parecia que toda a minha energia havia se esvaiado em questão de segundos... Senti meu corpo pesar e uma tristeza imensa me atingir de repente, ao que parece minha mente realmente não estava preparada para um resultado negativo. Eu estava pronto para fechar os olhos novamente e chorar no colo de Jimin até a hora em que ele me levaria para casa, se deitaria ao meu lado em nossa cama e me daria todo o amor e carinho que eu fosse precisar naquele momento quando algo me fez parar.

O que é essa bola brilhante cor de prata?

De onde ela surgiu?

Ela não estava ali minutos atrás, mas me parece tão familiar.

Espera! Aquela não é...

Por Deus, aquela é a lua?

Minha visão clareava aos poucos e eu conseguia perceber que sim, aquela era a lua, mas eu não me lembrava de que nosso satélite natural poderia ser tão bonito. E então as estrelas começaram a aparecer também, uma por uma, até que eu encontrei a minha primeira constelação. Era a constelação de Aquila, a águia, aquela era uma de minhas preferidas, foi uma das primeiras a qual conheci quando mais novo e, por algum motivo desconhecido, eu costumava procurá-la no céu todos os dias no decorrer de meus anos de vida, mesmo que às vezes fosse difícil enxergá-la a olho nú.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu não tentei reprimi-las quando elas começaram a cair. Por Deus, eu estava enxergando de novo! Estava vendo novamente todas aquelas bolas de fogo que queimavam e explodiam a trilhões de quilômetros de distância de onde eu estava, e elas me eram tão familiares, e tão incrivelmente bonitas que me tiravam o fôlego.

— TaeTae? – chamou Jimin de forma preocupada. Foi aí que eu percebi que estava tão maravilhado em olhar as pequenas estrelas que havia esquecido que tinha algo muito mais importante a qual eu precisava observar naquele momento, algo que estava bem ao meu lado.

Com extremo cuidado girei minha cabeça para a direita em direção a ele e mais lágrimas caíram de meus olhos. Eu não conseguia enxergar tão bem quanto queria porque estava escuro e meu olho ainda precisaria de algum tempo para se acostumar direito antes que minha visão ficasse realmente boa, mas eu conseguia distinguir sim o rosto de meu pequeno Park Jimin e, Senhor, como ele era bonito!

Seus olhos eram pequenos, suas bochechas eram um pouco cheinhas e seu nariz também pequeno era um tanto achatado, mas aquilo apenas chamava mais atenção para seus lábios volumosos. Na penumbra da noite seus cabelos pareciam bem escuros, talvez até mesmo pretos, mas pelas descrições que os outros me davam eu sabia bem que sua cor era na verdade de um castanho mais claro que beirava o loiro, só que o que realmente me chamava a atenção naquele momento era que a forma como seus fios estavam penteados apenas deixava-o com a aparência ainda mais fofa, se é que isso era realmente possível.

Park Jimin era a pessoa mais bonita que já havia visto e, por mais incrível que possa parecer, eu já tinha visto muitas pessoas. Jimin tinha um coração de ouro e um rosto que parecia ter sido desenhado pelas mãos do próprio Deus, pois não era possível que realmente existisse alguém tão malditamente bonito como era aquele garoto.

Levei uma de minhas mãos para seu rosto e toquei sua pele macia sorrindo para ele enquanto as lágrimas continuavam a cair. Seu olhar passou de preocupado para feliz e Jimin literalmente pulou em cima de mim envolvendo meu pescoço com seus braços e me abraçando com força, devolvi o abraço imediatamente e afundei meu rosto em seu pescoço, me prendendo ao seu perfume maravilhoso. Ficamos algum tempo ali, naquela mesma posição. Talvez tenham se passado vários minutos até que Jimin-ssi finalmente tomasse a iniciativa de se afastar novamente me puxando junto, para que ambos pudéssemos nos sentar.

Nós dois ficamos ali, um de frente para o outro, encarando um ao outro e foi apenas por causa disso que eu percebi que ele estava chorando tanto quanto eu. Observei Park pegar seu celular de dentro do bolso traseiro de sua calça e pedir pra que eu fechasse os olhos para que ele pudesse ligar a lanterna. Eu ainda precisaria tomar muito cuidado com a luz, minha retina era sensível demais para luzes fortes e olhar diretamente para ela – a luz – poderia acabar por me causar sequelas, ou seja, óculos escuros sempre serão bem vindos, mesmo a noite.

Quando Jimin-ah deixou que eu abrisse os olhos novamente minha visão precisou de mais alguns segundos para se acostumar com a nova fonte de luz. Jimin-ssi havia apoiado seu celular em uma pedra para que a luz da lanterna do aparelho iluminasse diretamente a nós dois e aquilo me permitia ver seu corpo com mais facilidade. Ele parecia ser pequeno, talvez menor do que eu imaginava. Suas roupas se resumiam em um blusa de manga grossa de cor azul escuro e uma calça de moletom cinza que marcava bem suas coxas torneadas, as mãos delicadas de que tanto me falavam estavam descansando em cima de suas pernas e eu pude finalmente comprovar quão pequenas elas eram.

— Eu não acredito que você realmente me faz acreditar que poderia ser feio! — reclamei com um bico falso em meus lábios enquanto esquadrinhava seu rosto novamente. — Estou procurando por essa tal feiura da qual tanto ouvi falar, mas nesse rosto... — apontei com o queixo em sua direção — ...apenas encontro sua inimiga, aquela chamada beleza.

Então finalmente tive a deliciosa visão das bochechas de meu namorado tornando-se um pouco mais rosadas enquanto o mesmo desviava os olhos para a areia da praia. Ver aquilo pessoalmente era muito mais encantador do que eu imaginava que poderia ser com base nas explicações que nossos amigos me deram sobre Jimin durante aqueles três anos e meio de convivência. Precisei sorrir com aquilo e me aproximei mais uma vez de Jimin beijando sua testa por alguns segundos antes de me afastar e passar a observar seu rosto sorridente. Por mais incrível que pareça aquela expressão, aquele sorriso, deixava meu hyung ainda mais bonito, afinal seus olhos sorriam junto com seus lábios, mostrando seu tão comentado eye smile e aquele momento me foi tão precioso que eu sequer poderia colocar em palavras meus sentimentos quanto a isso.

— Eu tenho mais uma coisa pra te mostrar... – disse ele me tirando de meus pensamentos enquanto se virava para trás e procurava alguma coisa em sua grande mochila azul a qual apenas naquele momento eu havia notado a existência. Ela era do mesmo tipo que eu via Hoseok levar para a escola de dança anos atrás quando ele ainda trabalhava lá, então constatei que aquela era a bolsa que Jimin usava quando ia dar as suas aulas. Mantendo meu olhar atento sobre si, vi Jimin-ssi tirar de dentro da sacola algo retangular com mais ou menos 30 centímetros de altura e 20 de largura em seguida o mesmo se virou para mim e percebeu meu olhar curioso. — Está pronto?

Concordei levemente com a cabeça e, deixando que um pequeno sorriso tomasse seu rosto, Jimin virou aquela coisa retangular de frente para mim e eu me surpreendi ao ver que aquilo era na verdade um espelho. Meus olhos travaram na figura que aparecia ali do outro lado, olhando de volta para mim. Ela me era tão familiar, mas ao mesmo tempo parecia ser completamente desconhecida por mim. Eu tinha plena certeza de que aquele ali era eu, mas a última vez em que me olhei no espelho eu tinha apenas 18 anos e com certeza o meu eu de 18 anos não tinha ombros tão largos, nem o maxilar tão forte, ele certamente não parecia tão maduro e aqueles sinais definitivamente não estavam ali antes. Toquei meu próprio rosto como que para ter certeza do que estava vendo, ter certeza de que aquele que aparecia ali no espelho era mesmo eu, e de fato era. Aquele era o meu eu de 22 anos.

— Bonito não é? — perguntou Jimin ainda mantendo o mesmo sorriso em seu rosto, mas eu não me importei em responder a sua pergunta possivelmente retórica.

Meus olhos começaram a derramar aquelas lágrimas novamente e eu observei como meu rosto ficava mais um pouco mais avermelhado quando isso acontecia — o que era visível mesmo na luz escassa —, assisti pelo espelho as lágrimas caírem uma a uma, molhando minhas bochechas e solucei levemente com a visão. Um sorriso tomou meus lábios novamente e eu praticamente gargalhei olhando para baixo, observando meu próprio corpo. Minhas mãos pareciam ter crescido, na verdade eu parecia estar maior por completo e de todas as formas possíveis, dos pés aos fios de cabelo e, ao mesmo tempo em que isso parecia normal para mim — já que o fato de que um dos meus olhos esteja prestando não altera em nada as sensações cotidianas do meu corpo —, também parecia que eu estava completamente diferente, quase como se eu tivesse piscado em um corpo e aberto os olhos em outro. Desviei meu olhar para Jimin que ainda me encarava sorrindo e em seguida me levantei de cima da toalha, e olhei em volta pela primeira vez. A areia da praia tinha um brilho prateado por causa da luz da lua e o mesmo se dizia do mar logo ao lado. Eu nunca cansaria de dizer o quanto aquilo tudo era lindo.

Depois de mais de quatro longos anos aquela era a primeira vez em que eu conseguia diferenciar formas e cores com tamanha precisão; era a primeira vez que eu podia olhar para cima e observar as estrelas que agora faziam companhia a minha família nos céus; era a primeira vez que eu tinha a possibilidade de ver o rosto da pessoa que salvou a minha vida anos antes quando eu tinha certeza de que viver não valia mais apena e que minha existência nada mais era do que um efeito colateral do erro de outra pessoa.

Olhei para Jimin que continuava sentado no mesmo lugar com os olhos grudados em mim e sorri para ele. Eu agradecia mentalmente a tudo o que me levou a ele depois do incêndio, pois todas essas coisas e todas essas pessoas me apresentaram aquele que eu mais amei em toda a minha vida.

Sabe a melhor parte? Mesmo depois de quase quatro anos o dia em que nos conhecemos ainda era bem nítido em minhas memórias.

Depois que eu fui liberado do hospital meus amigos haviam se programado para cuidar de mim se revezado no decorrer das semanas, naquele dia em especial era a vez de Min Yoongi — aquele mesmo amigo de infância do qual falei no inicio disso tudo —, mas Suga hyung estava um pouco atarefado de mais com algumas das coisas de seu trabalho, então ele passou a parte da manhã comigo e depois do almoço me levou para a escola de artes onde estavam outros dois de nossos amigos, Jung Hoseok e Jeon Jungkook.

Foi ali que eu conheci Jimin.

Eu estava na sala dos professores esperando por Hoseok-ah hyung quando Jimin entrou na sala e se surpreendeu com a minha presença ali. Ele perguntou quem eu era e apenas respondi que estava esperando pelo professor de dança, então ele me contou que também estava esperando por J-Hope hyung porque precisava resolver algo sobre um dos trabalhos em grupo que o hyung havia passado, em seguida o mais velho se sentou ao meu lado e disse: "Então vamos esperá-lo juntos, assim ninguém fica entediado e você pode me contar quem foi o babaca que deixou você sozinho em um lugar como esse onde qualquer um pode vir aqui apenas para apreciar a sua beleza..." Eu me lembro de rir alto com a cantada idiota e então começamos a conversar animadamente até Hobi hyung finalmente aparecer com Jungkook-ie em seu encalço. Naquele dia ambos se surpreenderam ao me encontrarem sorrindo tanto, principalmente para um estranho.

Jimin gostava de dizer que foi no mesmo dia em que nos conhecemos que ele resolveu que iria sim cuidar de mim, iria me amar como bem entendesse e que ninguém iria impedi-lo de fazer isso, pois aquele era o seu próprio desejo e ele o tornaria real. Park Jimin nunca se importou com o fato de que eu era cego, ele não ligava se um dia eu poderia conhecer ou não seu rosto, ou se futuramente eu pudesse acabar por simplesmente dizer que não precisava mais dele e o mandasse embora, não, Jimin apenas me queria por perto, fosse como amigo, conhecido ou algo mais, ele dizia que apenas queria estar ali, estar comigo e foi assim desde o primeiro momento. Depois do dia em que nos conhecemos nós passamos a nos encontrar todas ás vezes em que eu precisava ficar com Hoseok-ah ou Jungkook-ah na escola, até que chegou um momento em que Jimin obrigou Kook-ie — que eu logo descobri ser seu colega de classe nas aulas de canto — a levá-lo até a minha casa para que ele pudesse aprender o caminho a fim de ir me visitar sempre que tivesse vontade. Aquilo me tocou de um jeito que eu sequer consigo explicar. Jimin havia me conquistado de todas as malditas formas possíveis e eu me apaixonei por ele menos de dois meses depois que nos conhecemos.

Não tenho vergonha em dizer que foi Jimin-ssi quem tomou o primeiro passo em nosso relacionamento, assim como o segundo e o terceiro; mas ali naquela praia escura, olhando para o garoto tímido que estava a minha frente sob a luz da lua, eu sequer poderia imaginar que aqueles dois garotos — o Jimin de 18 anos que eu conheci em 2014 e o Jimin de 22 que estava comigo naquele momento — poderiam ser a mesma pessoa.

— Jimin-ssi — chamei mesmo estando ciente que sua atenção já estava voltada para mim. Ele então murmurou algo inteligível pedindo para que eu continuasse e eu assim o fiz — Obrigado... Obrigado por tudo.

O menor se levantou e eu não consegui esconder o sorriso ao perceber a grande diferença de altura que existia entre nós dois. aquela "distância" chegava a se engraçada, mas de um jeito fofo que eu se quer conseguia explicar.

— Não precisa agradecer TaeTae-ssi, eu faria tudo de novo se como recompensa eu pudesse ter novamente a visão desse sorriso — ele tocou meu queixo e eu apenas alarguei ainda mais o sorriso retangular vendo-o sorrir de volta para mim.

E bem ali, no meio daquela praia escura, deserta e fria, tendo apenas um teto feito de estrelas brilhantes acima de nossas cabeças e enquanto o vento frio envolvia nossos corpos já gelados, foi bem ali que nós nos beijamos novamente.

Mais tarde naquela mesma noite, depois de eu ter feito um rápido tour com Jimin pela casa onde morávamos e de brincarmos um pouco com Soonshim, nós fomos para nosso quarto e, mais por rotina do que qualquer outra coisa, resolvemos por tomar banho no mesmo banheiro. Aquele foi o primeiro lugar onde nos amamos em que eu pude ter a experiência completa do ato e eu preciso dizer que era incrível a forma como Jimin conseguia me encantar cada vez mais.

Quando voltamos para o nosso quarto já prontos para dormir e nos deitamos juntos em nossa cama — ambos cansados demais após o momento intenso que havíamos compartilhado minutos antes —, Jimin deitou a cabeça em meu peito como fazia todas as noites desde que começamos a morar juntos e eu o abracei de lado, em seguida juntei nossas mãos livres e observei a forma extremamente fofa de como minha mão quase conseguia cobrir a sua por completo. Fiquei tão entretido com aquilo que se quer percebi quando Park dormiu, mas assim que ouvi o ressonar baixinho que saia por entre seus lábios sorri pelo que parecia ser a quadragésima vez apenas naquela noite enquanto voltava meu olhar para seu rosto tão encantadoramente sereno.

Jimin era absurdamente bonito!

Sei que já falei isso antes — várias vezes —, mas eu também sei que não me importaria de ficar repetindo essas mesmas palavras uma vez a cada 2 minutos pelos próximos 10 mil anos, pois aquela era uma das maiores verdades que eu conhecia e eu queria que o mundo inteiro soubesse que era eu quem estava ali deitado ao lado do meu namorado que nada mais era além do homem mais absurdamente bonito que existia na face da Terra. Eu queria que todos soubessem que eu estava deitado ao lado daquele que havia virado minha pequena estrela anos antes, quando me guiou para fora da enorme escuridão em que eu havia me enfiado. É, eu realmente havia entregado o meu coração para o único que mantinha a esperança em seu devido lugar mesmo quando tudo parecia demasiadamente desesperador.

Seu nome?

Park Jimin.

Era ele quem tinha meu coração. Ele era a pessoa que eu mais amava e quem eu mais queria proteger no mundo inteiro. Ele era aquela pessoa que eu sempre sentiria a necessidade de manter em minha vida até o momento em que a mortalidade nos separasse. E, sabe qual era a melhor parte de tudo isso?

Ele era apenas meu.

26 июня 2018 г. 1:24 1 Отчет Добавить Подписаться
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Kim Gaby Kim Gaby
Uau! Enquanto lia me conectei com a história... chorei, ri, sorri, me empolguei... e, mais uma vez, uau! Eu amo quando me conecto com a história. Adorei a escrita, adorei tudo... simplesmente perfeito
~

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