Agora eles te enxergam, dizem como você é bonito, como você é jovem, como você é bom. Agora eles te amam.
Gosto de retratar seu sorriso, gosto de mostrar em minhas obras como você brilha. A cera pinga e escorre pelo chão, mas eu não me importo. É tudo por você. Para você.
O pensamento de sua pele pálida, frágil, fina, gelada. Gélida. Agora você é gélido.
Faz falta. Dói e queima mais do que qualquer droga que, agora, corre em minhas veias. Mas eles gostam de me lembrar disso, e eu sinto todos os dias.
Eu contei que tinha ouvido você gritar pelos corredores. Contei que fui atrás, só para te encontrar, sem respirar, no quarto. Eu disse que ouvi sua voz, mas eles não acreditam.
Quando deitei seu corpo imóvel perto do meu naquele celeiro e beijei seu rosto, você era meu. Encontraram-nos amando em silêncio, apenas para me tirarem de você. Eu ouvi sua voz novamente. Implorava. Você só queria ser amado, e eles te impediam disso. Lembro como lamentava todos os dias, os maus tratos, os olhares perigosos, os descasos. Você só precisava de amor. E eu te amava, mas parecia que não era o suficiente. Sempre querendo mais.
Eu te dei mais. Eu ouvi você gritar, mas era o que queria, não era? Só tinha um jeito.
Agora, eles te assistem de longe. Te enxergam. Dizem como você era bonito, como era jovem, como era bom, como fará falta. Agora eles te amam.
Fiz eles te amarem.
Acho que foi o suficiente, pois não escuto mais suas lamúrias e reclamações. É sua vez de me escutar.
Escute meus gritos, meu choro, meu desespero. Me perdoe, por favor. Eu sinto sua falta.
Mas o que importa é que, agora, eles te amam.
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