karimy Karimy Lubarino

O rei Thanfor anexou Mansolar ao seu território, mas um dos herdeiros legítimos conseguiu escapar. Tentando compensar uma dívida do passado, a Cavaleira do Vale vai à caça. Sua aventura, porém, se revelará mais complicada do que imaginava.



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Prólogo

📷

O matagal era baixo no Vale de Manom, cheio de ervas daninhas enfincadas em um solo duro e poeirento. O Cavaleiro Negro seguia à frente de uma das linhas da retaguarda, montado em seu corcel negro, com a pesada armadura preta reluzindo. O estandarte de Belmonte ia ao seu lado — uma montanha em um fundo alaranjado, representando a alvorada. Sua fila mantinha um perfeito alinhamento logo atrás dele, duzentos soldados juramentados a Thanfor em uma lenta cavalgada.

Os tambores e trombetas de guerra eram ouvidos por todos os lados, pareciam fazer a terra tremer sob os cascos do cavalo.

— Meio galope — ordenou Enzo. — Seguir em alinhamento. Acompanhar a linha central. — Suas ordens eram repassadas para trás e para os lados. A capa negra dele se agitou, suor começou a escorrer da raiz de seus cabelos castanhos, deslizando pelo seu rosto sob o elmo em forma de caveira. Os cavalos abriam caminho, ganhando terreno, enquanto as pontas das lanças do flanco, metros à frente, tremulavam, parecendo beber o brilho do sol da manhã.

Seu rei havia deixado bem claro que Mansolar devia estar anexada ao território de Belmonte ainda ao fim daquele dia.

De sua posição, o Cavaleiro Negro conseguia avistar o estandarte que seguia ao lado da Mercenária da Taverna, no flanco esquerdo. Ele liderara uma investida daquela posição havia poucos anos, na rebelião de Valdamar, e também em outras rebeliões. Mas aqueles soldados que seguiam ali não eram seus soldados, não saberia dizer o nome nem de metade dos que ali se encontravam. Dessa vez, seu rei dissera que a guerra seria vencida com a retaguarda e que era lá onde ele tinha de estar, mas Enzo não conseguia parar de pensar que sua posição deveria ter sido na linha de frente. Preferia estar a pé, com Beijo de Sangue em mãos, correndo em direção ao inimigo.

Os companheiros da Guarda Real de Enzo seguiam liderando os batedores, cada um de um lado da retaguarda. Ele até mesmo preferia ter ficado com esse trabalho, mas era juramentado ao rei Thanfor e obedecia sem reclamar, mesmo que seu coração se apertasse. De qualquer forma, ansiava por fazer seu nome ainda mais famoso naquela guerra.

Thanfor já esperara pouco mais de duas décadas para invadir Mansolar, não admitia que o rei Gael ainda estivesse vivo depois de conspirar contra seu irmão, Thomas, o rei que governou um dia. E, antes mesmo de tudo começar, Enzo já se via entregando a vitória ao seu rei.

Do flanco até a última linha da retaguarda, as trombetas de guerra soaram mais uma vez, mais altas, mais demoradas, e os tambores entraram em um ritmo mais forte e contínuo.

— Lanças — gritou. — Espadas! — Aço raspou em couro e madeira, um barulho estridente e fino em contraste com os demais que ali se erguiam. Enzo apontou Beijo de Sangue para frente e depois a recuou, colocando seu cavalo a passos mais rápidos, sendo seguido pelos cavaleiros que vinham atrás. A cavalaria inteira avançava como uma só.

As armas dos soldados do flanco se ergueram, os inimigos ainda pareciam distantes ao seu olhar, mas todos mantiveram o ritmo; estavam afastados o bastante para manter o galope de guerra.

— Escudos — gritou o Cavaleiro Negro, puxando o seu próprio, que estava atado à armadura de seu corcel, e o colocou à frente do rosto bem a tempo de deter os raios de luz azuis, amarelas, brancas e cinzas que se ergueram contra eles, mas passaram muito longe, em cima de suas cabeças.

A tropa de Mansolar possuía uma quantidade de magos muito pequena em comparação à deles, e eram verdes, inexperientes em batalha, além de estarem longe demais. Mesmo assim, atingiram alguns soldados do flanco, que agora eram pisoteados pelos demais que avançavam.

Alguns gritaram de dor, enquanto outros soltavam gritos de guerra. As tropas sequer tinham se encontrado e uns já sucumbiam. Seu escudeiro, Ramon, estava ansioso pela batalha. Só lutara em algumas justas no começo do ano, por isso ainda não entendia direito o que viria.

O rei Thanfor gritou na fila da direita, e os soldados começaram a rugir em resposta. Uma tempestade de vozes invadia o Vale.

Thanfor convocara os capitães para o conselho de guerra meses antes, enquanto os soldados se reuniam e se aglomeravam no pátio de Belmonte, prontos para a partida. Até então, Enzo não sabia que ficaria com o comando de uma das fileiras da cavalaria, antes contava que sua posição seria mantida no flanco.

— Que honra, meu irmão. Ao lado da fileira do rei — dissera Tiro, o Vigilante, e dera três tapinhas nas costas dele.

— Verdade. Honra — ele respondera, recebendo olhares de soslaio de alguns dos comandantes. Acham que estou velho, que sou fraco demais para comandar o flanco, ele vira naqueles olhares, mas estão errados. Sou o Cavaleiro Negro, Guarda Real de Thanfor. Vou mostrar minha força seja onde for.

Enzo batalhara em três grandes rebeliões em Belmonte, protegera o rei de diversas formas, assassinara em seu nome e abandonara o direito de herdeiro da Casa de seu pai, tudo para servir Thanfor. Agora, o posto que tanto almejara na guerra fora tomado por um cavaleiro livre, pior, uma mulher. Enzo conhecia o flanco, os homens certos, as estratégias. Mas seu posto fora dado a uma puta, aquela do tipo que, quando via sangue mesmo, corria.

As coisas certamente teriam sido diferentes se fosse ele a estar à frente, no comando do flanco. Jamais teria colocado cavaleiros livres e mercenários na frente de batalha. Eles correm e choram feito crianças quando são feridos, com medo de não viverem o bastante para o saque. Em vez disso, teria posto cavaleiros consagrados, com espadas de nomes conhecidos em mão, armaduras brilhantes e vorazes, para assustar os inimigos que os olhassem. O rei Thanfor nem o respondera quando havia falado isso.

Entendia também os riscos do que propusera; as armaduras eram pesadas para quem teria que guerrear a pé. Sabia disso bastante bem, até porque a que ele usava deixava marcas em seu corpo onde as tiras eram atadas. Cota de malha, elmo, peitoral, manopla, greva e todos os outros adereços talvez fossem prejudiciais, mas pelo menos deviam usar algum aço que não fosse nas armas.

Desejou que o flanco perecesse, que todos aqueles cavaleirinhos de merda que seguiam a Mercenária da Taverna morressem para que ele os pisoteasse com seu corcel logo depois. Alguns até usavam alguma cota de malha da pior qualidade, mas a maioria apenas roupas de couro: pelo menos metade morreria no primeiro encontro corpo a corpo. A companhia de arqueiros era boa, isso ele admitia, mas eram indisciplinados, apesar da boa mira.

Até a escolha do dia para dar batalha fora ruim. A maioria dos poucos magos de Mansolar tinha poder de fogo, enquanto os magos de Belmonte eram, em grande parte, portadores de poderes de água. Esperar uma chuva seria sensato, pelo menos não íamos ter que ficar desviando dos poderes deles. Enzo não possuía poder algum, mas sua espada de lâmina de kaitsja era o suficiente para protegê-lo das rajadas de magia.

Mesmo com tudo isso, pelo menos tinham o favor do elemento surpresa, já que, ainda que com quase trinta mil cavaleiros, mais os cavaleiros livres, mercenários e soldados a pé, conseguiram avançar pela Estrada da Perdição com rapidez.

Quando chegaram na entrada de Mansolar, encontraram as casas das rameiras fechadas e silenciosas, mas, quando seus homens as invadiram, ainda conseguiram encontrar duas dúzias de pessoas, homens e mulheres.

— Que sorte — seu escudeiro dissera. Os capturados tinham sido amarrados a postes improvisados e dados aos soldados para que se saciassem antes da guerra.

Enzo ficara bem mais interessado em outras coisas. Depois de pegar gonorreia de uma prostituta, não colocava mais a mão em qualquer uma, antes disso preferia ir na estalagem de Melindra, ela arrumava mulheres sadias e novas para ele, algumas ainda donzelas. A diversão de seus homens só começara depois que ele interrogara cada um dos cativos. O que havia sido bom, pois acabara por descobrir que a tropa do Rei Gael já se direcionava ao Vale de Manom e, graças a essa informação, não se detiveram na entrada de Mansolar como haviam planejado fazer, avançaram ainda mais rápido para chegarem no campo de batalha antes de seu inimigo, agruparam-se sem alvoroço e podia-se dizer que os pegou desprevenido.

O assalto ao grande muro da cidade acabara sendo fácil. Os soldados mansolarenses ainda não tinham tido tempo de chegar, então só precisaram enfrentar a tropa pequena do Senhor do Vale, enquanto os magos davam conta do primeiro portão da cidade. O segundo portão se mostrara um problema a parte, porém, pois muitos homens morreram queimados e esmagados por pedras que os soldados de Mansolar jogavam de cima das ameias. Os magos tiveram de recuar, e o segundo portão da cidade fora arrebentado com aríete. Alguns homens haviam caído no fosso raso entre os muros, mas resgatá-los era impossível, pois os sobreviventes, em maioria, tinham quebrado alguma parte do corpo e só teriam atrasado a tropa.

A poeira se erguia no solo do Vale, luzes de energia mágica coloriam os olhos acinzentados do Cavaleiro Negro. A capa do soldado que estava atrás dele se prendeu no estribo do companheiro do lado, o homem caiu com um baque de aço e foi pisoteado pelos cavalos que corriam em direção à batalha.

Ahuuuuuuuuuuuuu!, as trombetas soaram em uníssono, e um som mais seco ecoou depois, acompanhado por gritos e ranger de aço com aço.

A primeira linha de frente de Belmonte se encontrou com a de Mansolar. Um milhar de gritos se espalhou, flechas subiram e desceram, e o corcel de batalha de Enzo seguia. Eu deveria estar lá, pensou ele. Deveria estar confrontando o Cavaleiro de Sal, fazendo meu nome mais uma vez.

O Cavaleiro Negro chegara a sonhar que havia ganhado uma canção por ter matado alguns cavaleiros importantes e os príncipes de Mansolar. No sonho, a batalha acontecera em um campo de rosas e o maior machucado que recebera havia sido um arranhão de um espinho. O problema era que, depois de toda a glória que se sucedeu após a batalha, o arranhão inflamou e ele morreu.

Agora que ele olhava bem, os espinhos do sonho dele muito se pareciam com as lanças cruzadas no fundo vermelho-sangue do estandarte de Mansolar. Ele segurou Beijo de Sangue com ainda mais força. Não estava nem aí se estava na retaguarda, ia matar o maior número de soldados que conseguisse. Se fosse ferido, ia ferir três vezes mais, se morresse, levaria mais ainda consigo.

O cheiro de sangue fresco pairava no ar, luzes mágicas passavam por ele como relâmpagos multicolores. Enzo ouviu um grito e, quando olhou para trás, viu a égua de Ramon se dobrar sobre as patas dianteiras, dando com a cara no mato baixo e lançando o escudeiro metros de distância. O Cavaleiro Negro tentou desviar seu corcel, mas foi tarde demais e acabou passando por cima do rapaz. Ele tinha só vinte anos, pensou ele, mas era burro, burro demais!

Um homem surgiu em pé, ao seu lado, brandindo a espada em um meio arco, mas Enzo passou por ele, desferindo a lâmina de sua espada contra o homem. O aço penetrou no couro, na carne e vibrou enquanto passava no osso, soltando-se em seguida.

Soldados rolavam no chão trocando socos, viu um que usava uma pedra para esmagar a cabeça do outro. Enzo passou por ele, fazendo sua espada zunir no ar antes de cortar o braço esquerdo do homem.

Um mago de Mansolar surgiu na frente do corcel, fazendo um movimento dançante com as mãos, Enzo colocou sua lâmina na frente do rosto quando a rajada de luz verde estava prestes a o atingir e a magia foi repelida. O cavalo passou por cima do mago, mas se desequilibrou e caiu.

Deitado no chão sentindo sua perna sendo esmagada pelo animal que guinchava de dor, o Cavaleiro Negro tateou o solo em busca de Beijo de sangue, enquanto um soldado com o brasão de Mansolar no peito seguia, cambaleante, em direção a ele. Quando viu que não alcançaria a espada, Enzo enfiou a mão na cintura, por baixo da cota de malha, arrancou de lá seu punhal e cortou o calcanhar do soldado com um movimento rápido. O homem caiu por cima dele, soltando um gemido, e Enzo enfiou a lâmina na bochecha do inimigo.

Mais homens vinham do nada para confrontá-lo, encontrando outros de seus cavaleiros antes de chegar até ele. Enzo empurrou o soldado que estava em cima dele para o lado e puxou sua perna com força. Quando de pé, viu que seu corcel quebrara a pata, pegou Beijo de Sangue e cortou o pescoço do animal. Um forte jato de sangue vermelho quase preto jorrou, deixando a espada e as manoplas dele ensopadas.

Arrancou a armadura de mão enquanto avançava em direção a um aglomerado de soldados que se empurravam, caiam e morriam à sua frente. Abriu caminho chutando, cortando couro, cota de malha e carne. Já estava ofegante quando passou a confusão, continuando em frente.

Os tambores ainda cantavam, enchendo o ar com seu batuque, abafando as vozes que se encontravam, desencontravam e morriam. Homens soltavam guinchos de dor e animais gritavam.

Carne queimada encheu seu nariz e, quando olhou para o lado, viu um soldado gritando por ajuda enquanto rolava no chão de sangue. Um mago de Mansolar lançava chamas em quem quer que se aproximasse de si e, mais atrás dele, Enzo viu um homem com cabelos pretos que desciam o ombro, usava um meio elmo encimado por um par de lanças cruzadas, uma blusa de couro cozido e uma calça com o mesmo material, também tinha grevas para proteger as canelas e usava antebraçal. Ele se movimentava rápido, subindo e descendo os braços, rodando em torno de si mesmo, enquanto passava rasteiras, distribuía socos e chutes em quem vinha de encontro a ele.

Sua rapidez fez Enzo ter certeza de que o filho mais novo do rei Gael de Mansolar não usava cota de malha. Mas tem poder.

O segundo filho, Bryen Pistodi, lançava rajadas de fogo do mesmo jeito que o mago que estava na frente dele. Enzo avançou em direção aos dois, parou uma mão que segurava uma machadinha que quase acertou sua costela, virou-se para ver uma mulher duas cabeças mais alta do que ele, com ombros tão largos quanto os do Cavaleiro Negro. Passou a espada na perna dela e continuou a seguir.

Quando batalhara na Rebelião dos Andantes, em Belmonte, tinha enfrentado uma mulher que devia ter um metro e meio de altura, dez centímetros menos que ele, e que resistira bem mais do que aquela ali, quase transformando a batata da perna dele em filés.

O soldado que ateava fogo com as mãos para todos os lados o enxergou e um jato quente e alaranjado veio na direção de Enzo, como uma flecha. O Cavaleiro Negro colocou Beijo de Sangue na frente, bloqueando o golpe mágico e avançando.

O mago de Mansolar não desistiu e lançou bolas de chamas, alternando os arremessos com uma mão e depois a outra, sem parar. Chamas do tamanho de um punho acertavam a espada de Enzo e eram repelidas uma a uma, desfazendo-se com o corte da lâmina de kaitsja, enquanto ele avançava passo a passo. Quando estava perto o suficiente, brandiu Beijo de Sangue e acertou o mago com um corte em diagonal. A espada abriu a roupa do homem, cortou pele e lançou para fora suas entranhas.

O Cavaleiro Negro notou que o último ataque de fogo tinha pegado em seu espaldar. Apesar do aço, o fogo queimava, fazendo-o sentir o calor perto de seu rosto. Enzo arrancou o espaldar do ombro com dedos desajeitados, ainda tendo tempo de ver o mago cair no chão. Acabou tirando também o espaldar do lado direito e depois jogou no chão ensanguentado. Com raiva, arrancou o elmo para dar visão a um rosto achatado, liso de barba, lábios finos e cabelos curtos.

Ahuuuuuuu!, soavam as trombetas, e, quando olhou para os lados, um sorriso reto apareceu em seu rosto. Os soldados de Belmonte se aglomeravam, matando, chutando, enquanto os magos combatiam magos. Mansolar caía bem na frente dele. Porém seu sorriso morreu quando viu o Cavaleiro de Sal sendo empalado por uma lança, do outro lado, a mão que a segurava pertencia à Mercenária da Taverna. Puta, eu que ia matá-lo

Seus olhos se voltaram para frente a tempo de se livrar de um golpe de espada, só então percebia que seu escudo desaparecera. Devia tê-lo perdido quando o cavalo caira, mas já não fazia diferença. O homem que veio ter com ele devia ter pelo menos dois metros de altura, mas era gordo e lento demais. Enzo fê-lo cair com um chute no joelho e enfiou Beijo de Sangue na boca do gordo. Quando arrancou a lâmina da goela, o homem caiu. O Cavaleiro Negro limpou o sangue no couro do morto e foi em direção ao príncipe, notando só nesse momento que Bryen já não mais usava magia, em vez disso, uma espada de duas mãos.

Ahuuuuuuuuuuuu!, um corno de guerra gritou bem perto dele, mas só olhou para o punho de Bryen, que crescia em sua direção.

O príncipe possuía olhos estreitos, talvez pequenos demais para perceber que Enzo já tinha previsto aquele golpe. O Cavaleiro Negro se abaixou e lançou a espada contra as pernas dele, o qual pulou antes de ser atingido.

Beijo de Sangue subiu em um meio arco ao mesmo tempo que Enzo se levantava. Aço se encontrou com aço, soltando faíscas enquanto rangiam uma de encontro à outra, até estarem livres. O Cavaleiro Negro virou de lado, deu uma estocada em Bryen, mas ele parou Beijo de Sangue com sua lâmina. Enzo puxou sua espada de volta, girou ao redor do príncipe e lançou mais uma investida.

Os dois dançaram em meio aos golpes, com o tilintar dos encontros e desencontros das lâminas ecoando no meio de tantos outros barulhos. Bryen passou, rápido, girando, corpo a corpo com Enzo, e acertou uma cotovelada na nuca do Cavaleiro Negro, que era quase quarenta centímetros mais baixo.

Enzo cambaleou para frente com o golpe, arrastando Beijo de Sangue no chão, encurvado, enquanto tentava se equilibrar outra vez. Quando virou de volta para Bryen, foi para impedir mais um golpe.

O coração do Cavaleiro Negro batia junto com o som dos tambores de guerra, suas mãos seguraram, juntas, Beijo de Sangue. Suor escorria pelo seu rosto, sua perna doía, uma dor fina e irritante que não se lembrava de como tinha adquirido. Ergueu sua espada e foi em direção a Bryen, ganhando espaço, avançando, um pé na frente do outro. Beijo de Sangue subia e descia em investidas pesadas, enquanto Bryen bloqueava.

Havia correria por todos os lados, raios coloridos riscavam o céu, flechas subiam e caíam, silvando. A relva estava coberta de sangue, partes de corpos, tripas e rostos inchados. Enzo deu mais um passo, levantou a espada mais uma vez, urrando, mas, quando a baixou, uma dor lancinante o fez cair por cima do joelho esquerdo, a espada pendeu para o lado direito e ele arregalou seus olhos, vendo Bryen com sua lâmina acima da cabeça, tremeluzindo com as cores que captava do céu. Quando o Cavaleiro Negro fechou os olhos, sentindo o sabor da morte chegando à garganta, ouviu um grito:

— Vem, sobe. Sobe! — Era um homem em cima de um palafrém, estendendo a mão para Bryen. Só lhe restava pedaços de armadura no corpo e a cicatriz no lugar da orelha esquerda fez Enzo reconhecer o Cavaleiro da Lança, de Mansolar. Bryen enfiou a espada na bainha e subiu em cima do cavalo, sem lançar um olhar sequer para Enzo, ajoelhado como estava.

Soldados de Mansolar corriam enquanto soldados de Belmonte corriam atrás deles. Homens do rei Thanfor espetavam cadáveres e gritavam a vitória. Enzo enfiou sua espada no chão e a usou de apoio para se levantar. Sangue escorria de seu ombro para dentro da armadura e sua visão já começava a ficar turva, mas permaneceu firme até conseguir encontrar um cavalo que corria para longe do campo de batalha.

Alguns dos comandantes de Belmonte ficaram para acabar com o serviço e deixar o resto para os corvos que sobrevoavam abaixo da mancha colorida que ficou no céu, deixada pela magia, como óleo em água.

Enzo incitou o cavalo a ir na direção sul, onde um aglomerado de homens erguia lanças, espadas, arcos e escudos, gritando pelo rei Thanfor, por Belmonte.

O ocaso se aproximava quando Enzo conseguiu entrar na tenda do rei. Seus companheiros da Guarda Real também estavam lá. Tiro, o Vigilante, parecia intacto em toda sua magreza e altura, mas Fausto, o Cavaleiro de Prata, possuía um rombo na cabeça, deixando sangue escorrer por suas costas largas.

— Soube que teve Bryen nas mãos e o deixou fugir, sor — disse rei Thanfor, em uma voz que mais se parecia com um raspar de pedras.

— O Cavaleiro da Lança o resgatou, Majestade.

— Bom... então receio que tenhamos de colocar a cabeça dele a prêmio. Não posso permitir que o último herdeiro de Mansolar fique vivo para me atormentar depois.

— E o príncipe Mariel, Vossa Majestade? — questionou Tiro.

— O príncipe Mariel foi morto no começo da batalha, o rei Gael está à minha espera para uma... conversa, e a princesa deve estar sendo comida pelos soldados. A dei de presente.

Um vento soturno soprou as abas do pavilhão.

— Qual a recompensa, Vossa Majestade? — questionou Fausto.

— Peçam para fazer folhetos com o desenho do príncipe e espalhem entre os soldados e pela cidade. Digam que quem me trouxer Bryen ganhará um posto na minha Guarda Real.

Enzo sofreu um choque.

— Na Guarda real? — perguntou, vendo Thanfor se levantar. — Mas... mas são apenas três Guardas Reais, cada um representando um dos nossos deuses.

— Sim — disse o rei. — Mas acontece que agora temos uma vaga. Não mandei você deixar o príncipe escapar.

As mãos de Enzo subiram de encontro à garganta, um bolo se formava em seu peito, por dentro, e, quando ele abriu a boca, água começou a jorrar para fora, enquanto ele fazia um barulho estranho, como quem vomita.

O Cavaleiro Negro caiu de joelhos no chão, sentindo o ar faltando cada vez mais. Água saía de seu nariz, de seus ouvidos e até de seus olhos, mas não sabia se era por causa da magia de seu rei ou por estar chorando. Tinha servido Thanfor como escudeiro em sua juventude e já estava protegendo o rei quando ele subiu no trono. Pensou que, quando morresse, veria sua vida passar diante de seus olhos, mas a única coisa que viu foi o Cavaleiro de Sal sendo morto por outra pessoa.

Devia ter sido eu, pensou ele, eu.

1 марта 2018 г. 20:32 12 Отчет Добавить Подписаться
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Jonathan Rodrigues Jonathan Rodrigues
Ola... Estou esperando revisar a minha história a 1 ano... Ajuntei alguns benefícios das metas do aplicativo para revisar o mais rápido possível! E até agora ninguém deu aténção... Alguém pode me ajudar nisso pelo amor de deus ? Monetização também até hoje eu espero... Muito Bug nesse app... Pode revisar minha história por gentileza????
Lucas Lira Lucas Lira
Simplesmente fantástico. É só isso que tenho a dizer sobre o capítulo que acabei de ler. Minhas espectativas já estavam bem altas quando cheguei aqui, mesmo assim você conseguiu me surpreender. Digo com certeza que estava procurando ouro e encontrei um diamante dos mais belos que já vi. Sua história é linda, é épica, é empolgante, e sem sombra de dúvidas, visceral. Enquanto lia, fui completamente transportado para a cidade de Mansolar. Me vi completamente preso. Não conseguia parar de ler um segundo, e pasme, até suei de nervoso em alguns momentos. Espero em algum momento saber as motivações por trás dessa história, ou suas fontes de inspiração e tudo mais que está nas entrelinhas dessa história fabulosa, que também e tecnicamente perfeita. quero que saiba que Mansolar ganhou mais um leitor fanático e você acaba de ganhar mais um admirador. Ps. Tadinho do Enzo 😔
D Neves D Neves
O modo como capítulo foi escrito foi ótimo! Eu realmente pude sentir toda a tensão das cenas, principalmente dos combates. O realismo duro das descrições precisas foi capaz de apresentar um verdadeiro confronto medieval. Além disso, a narração apresentou bem o cavaleiro negro e o modo como ele via o mundo. Provavelmente, essa visão de mundo é compartilhada pelos outros nobres, certo? Pelo que eu pude entender, o Enzo já era mais velho, certo? Se mesmo com idade ele foi tão forte, eu me pergunto como ele lutava em seus dias de juventude! Bom, eu realmente gostei deste capítulo! Vou continuar acompanhando a história!

  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Olá, Wladi! Tudo bem? Não imagina como me sinto feliz em saber que gostou do prólogo da história. Desde este início, já queria mostrar um pouco sobre como esse mundo funciona e como as pessoas nele pensam, em principal os mais abastados, como você bem foi capaz de perceber. E, sim, essa visão do Enzo é muito comum entre os nobres do reino de Belmonte, principalmente por causa da crença deles. Você está certo sobre a idade dele. Durante a invasão de Mansolar, ele já estava com a idade avançada e mesmo assim era capaz de superar muitos mais novos do que ele. Não à toa ele era um guarda de um dos reis mais importantes dentre todos os continentes. Fico feliz com sua presença aqui e realmente espero que goste do que está por vir. Um abraço. November 18, 2021, 16:33
 Silva Silva
Tive que adiantar um ano no meu perfil mas foi um sacrifício necessário. Já posso chamar de obra-prima? Precipitado? Kkkk Eu realmente adorei cada linha deste magnífico prólogo. Foi como ler Bernard Cornwell e George Martin num mesmo capítulo. A ambientação, os personagens mostrando-se de fato humanos com defeitos, qualidades e ambições... A batalha que foi muito bem conduzida, me senti ali ao lado do Cavaleiro Negro no calor da batalha. Com certeza uma história que conquista o leitor logo no seu início. Estou ansioso para ler os próximos. Meus parabéns!

  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Olá, Silva! Tudo bem? Sinto muito pela demora em responder, acho que sem querer apaguei as notificações do site hahaha Ai, que fofura, viu! Muito obrigada por ter apostado na leitura, não imagina o quanto isso significa pra mim. Já faz um tempo que escrevi o primeiro arco dessa história e confesso que ela é meu xodozinho. E, caramba, você me maaaataaaa com essas comparações. Fez meu dia hahahaha vou ficar me achando agora hauhauaha Muito obrigada de novo. Tô muito feliz por ver você por aqui <3. January 11, 2021, 16:16
Amanda Luna De Carvalho Amanda Luna De Carvalho
Olá, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Primeiro de tudo, amo histórias de fantasia. Eu devorei cada linha do texto porque tenho fascinação por enredos que envolvam um mundo mítico e com ações grandiosas também. Minha predileção por tramas assim foram desenvolvidas desde a mais tenra idade. A coerência está apropriada. A estrutura empregada está excelente e tenho que dar as felicitações de como os personagens e as situações são condizentes com tudo que a história pede realmente. Tudo é muito intenso durante o decorrer do livro. Os personagens são possantes em todas as passagens, ainda mais, quando exigem um esforço maior naquele momento. As primeiras cenas me cativaram bastante e gostei da maneira como descreveu tudo. Todos parecem ser fortes em suas atitudes tão poderosas e impressionantes. Vivenciei tudo como se estivesse vendo num telão de cinema. É impressionante como os acontecimentos são desenvolvidos numa entoação encantadora. A gramática está ótima e sem deslize algum. Devo dar as congratulações pela ortografia e gramática impecáveis. É muito satisfatório ler histórias tão bem escritas assim. Esse é meu apontamento e espero ter sido útil em mencionar isso. Seu livro é simplesmente fantástico e tenho que dizer tudo é citado de modo esplendoroso. Amei ler cada linha escrita, de coração. Livros assim são maravilhosos e nossa alma degusta todas as palavras proferidas. Tenho muito carinho por obras estupendas assim. Espero que continue escrevendo seus livros e tenha muito sucesso em seus escritos futuramente. Até mais!

  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Oi, Amanda! Fiquei emocionada com o comentário! Eu também gosto demais de fantasia e pôr isso resolvi me aventurar um pouco nesse gênero através de Mansolar. Muito bom saber que conseguiu ver tudo como um filme: confesso que é assim wue imagino tudo enquanto escrevo. Muito obrigada pelo carinho e dedicação. Você é 10! ❤ August 02, 2020, 20:08
Isís Marchetti Isís Marchetti
Que magnifico! Magia misturado com o gênero medieval, guerra e muito sangue!! Estou ansiosa para ver aonde está história irá me levar,,, Bem, você sempre me surpreende!

  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Ahh! Que bom que está gostando. O prólogo foi mais para mostrar um pouquinho sobre como a personagem principal foi parar em Mansolar e como o rei que ela serve é, mas terão outras situações por vi! E o Enzo não foi muito feliz aqui kkk Bjs! *-* September 15, 2018, 10:52
Karimy Lubarino Karimy Lubarino
Muito obrigada! Fico feliz em saber que gostou!
Karina Da Silva Ramiro Karina Da Silva Ramiro
Amei muito maravilho 💟😽💗🌸
~

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