straussilver Joalison Silva

O mundo mudou. Restando apenas pequenas ilhas de vida inteligente, a humanidade se voltou a natureza para devolver o planeta à sua antiga glória verdejante. Todos possuem responsabilidades nesta nova realidade, porém nem todos a aceitam. Como forma de lidar com as mudanças, um garoto decide abandonar a origem de seus problemas, e por consequência seu papel na sociedade, para retornar a vida de antes... e consegue, temporariamente, até perceber que escapar dos problemas não é tão simples quanto pensava.


#6 in LGBT+ 13+.
Короткий рассказ
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Capítulo Único

A sombra colossal cresceu acusadora acima do terreno numa proeza digna das criaturas, porém, atentando-se à pouca quantidade de luz no tapete de erva rasteira, o garoto viu que era apenas uma nuvem solitária. Jogo de criança. Os ecologistas inventaram, embora levantar o queixo daria a mesma resposta, nuvem ou leviatã, existia uma certa seriedade na brincadeira. Saindo da zona de exclusão depois de duas horas e uma longa caminhada entre os gigantes arbóreos, ele suspirou aliviado.

Seguia o largo retorno à casa provisória conforme ensaiava o discurso que narraria o feito aos olhos do pai. A orla da cidade pendia à esquerda. A floresta, à direita. O céu se estendia num azulado oceânico, livre das criaturas, negando a tempestade que se aproximava, quando as primeiras testemunhas apareceram. Um homem descansando à sombra de um antigo arranha-céu e uma menina, demasiado jovem, provável filha ou aprendiz, limpando as ferramentas de cultivo largadas no chão.

Como a pouca coragem do garoto abraçava a teoria de que passaria invisível se os privasse do contato visual, ele apontou o nariz às próprias botas e acompanhou-as obediente. No entanto, fraco nas teorias, não resistiu a curiosidade. Olhou de soslaio. A menina afiava a foice numa concentração de cirurgiã enquanto o homem, no canto, fingia dormir. A testa relaxada mentindo. Uma intenção crescente nos lábios. O garoto apertou o passo antes do homem transformá-la numa pergunta.

Por sorte, não era um ecologista.

Os espertalhões aprendiam cedo a focar nos pequenos detalhes. Difíceis de enrolar, de pouca conversa. Os ecologistas falavam somente diante a certeza, reprovando um ato e explicando um conhecimento tácito alheio às pessoas comuns ou, em momentos atípicos, também resolviam os problemas administrativos das reuniões, ansiosos e sedentos de exaltação, podiam intervir, encontrariam uma solução simples... e receberiam as vivas da colônia.

Não!

O garoto apertou os olhos. Restava a esperança. A vida retomaria os antigos cursos passado o devido tempo. Sim, restava a esperança.

— Ei, garoto!

E, como todas as crenças fundamentadas no idealismo, desaparecia na brisa mais leve.

Outro aprendizado importante.

A voz o chamara detrás e o caminho estava livre para correr e se esconder nos destroços. Demasiado suspeito. O garoto atendeu o chamado. De um edifício semi-destruído, uma mulher acenava da sacada do terceiro andar.

— Vem aqui! — ela chamou, morena e sorridente, os cachos cobrindo parte do rosto e caindo nos ombros. A braçadeira cromada reluzia como um farol sobre o uniforme amarelo e cinza... uma espertalhona. Talvez, necessitada de um par de mãos extras.

O garoto devolveu:

— Agora eu não posso!

— O quê?!

— Preciso ver o meu pai... lá no mercado. Ele é artesão.... o meu pai. Que a sombra dos grandes a proteja, moça!

Prestes a dar as costas, seguir em frente, escapar, a mulher chamou-o outra vez. Os malditos, além de observadores, eram perspicazes. A desobediência acabaria o entregando e ela o intimaria a narrar os detalhes do crime diante do conselho antes de qualquer desculpa. De certo, ele contaria e ouviria a punição de cabeça baixa. A Comunidade sempre o julgaria pelo terrível feito. O falatório depois da reunião... os amigos, os vizinhos, a mãe e o amigo espertalhão na antiga casa. Nunca findaria!

O garoto principiou uma corrida.

— Espere aí! — a mulher ordenou. E, noutro súbito impulso de obediência, ele parou. Quando olhou por cima do ombro, viu somente o musgo entranhado nas paredes por completo verdes e a folhagem saltando das janelas quebradas. O edifício agora pendia estranho, meio torto, como se os destroços denunciassem a aberração eco-transmutada, atemporal, integrada à natureza, criada pelos espertalhões, principiando-se numa queda mortal.

A mulher desceu os poucos degraus da escadaria, e ainda era uma guia. O pequeno passageiro flutuou atrás dela.

— Eu não ouvi direito... — ela disse. Trazia numa das mãos um punhado de cerejas. Comeu uma. — Po' repetir?

O garoto buscou dentro de si uma migalha de coragem, um fio de esperteza, mas a mente se escolhia e desistia. Meio atrapalhado, acabou perguntando:

— O que faz aqui?

— Espero — respondeu a mulher, dando de ombros. — A vida passa e é única, garoto. Então, eu espero e aproveito o tempo antes que o momento especial chegue, porque depois ele só passa, 'tendeu?

O garoto acenou afirmando. O pequeno cetáceo passou perto, murmurando o canto da espécie. A mulher tocou o corpo fusiforme e deslizou a mão até a cauda bifurcada. Em seguida, jogou uma cereja. O passageiro comeu-a no ar e, satisfeito, soltou um jato branco do espiráculo no topo da cabeça.

— Incrível, né? Ser guia não é fácil, mas tem seus momentos. — ela afirmou, absorta nos movimentos do pequeno cetáceo. — Cadê o seu passageiro?

— Eu não tenho um — ele se apressou a dizer —, ainda não, mas vou ter no próximo ano... certeza. Mas... a moça precisa de ajuda? Agora tenho que ver o meu pai e não posso...

— Me chamo Paper — ela afirmou, a boca cheia das frutinhas vermelhas. — Paper, a eco. Paper da Zona A9. É um nome bonito de dizer, né? Pa-per. O seu é bonito também?

— Não... não sei.

— Não sabe qual é o seu nome?

— Sei, sim — respondeu o garoto, contrariado. — É... B-Box.

— Ahh...? Box é o nome do meu pai! Soa intimidador, né? Box! Acho que não faz muito tempo que virou guia... porque minha intuição me diz que você é um guia. Sa', como dizem, um guia sempre reconhece o outro.

O garoto abaixou a cabeça e fitou a sombra da criatura deslizando no chão. A mulher estudou o céu distraída, disse:

— Escute, sou uma guia também, mas já tenho a autoridade de eco, 'tendeu? Olha aqui a braçadeira. Não quer uma reclamação oficial na sua ficha, quer?

— Não, moça!

— Então, cadê o seu passageiro?

— Eu o perdi...

A mulher o encarou de cima para baixo.

— Perdeu?

— Sim. Juro debaixo das grandes sombras.

— Ah, não precisa. Eu não vejo nenhum passageiro além do meu, é prova suficiente para mim. Onde o viu da última vez?

— Na zona de exclusão.

— Então — ela enrugou a testa —, em nome das grandes sombras, por que você tá indo na direção contrária? A zona fica pa' lá.

— Eu sei, moça, mas a zona é grande... eu pensei em pedir ajuda ao meu pai.

— O artesão do outro lado da colônia?

— Sim.

— Enquanto o seu passageiro tá perdido?

— Sim...

— Afinal, o que tava fazendo na zona de ex-clu-são?!

O garoto apertou os lábios.

— Que enrascada... — ela afirmou num tom distraído, terminou de comer as cerejas e olhou a posição do sol na lateral do edifício, novamente, afirmando como se recebesse instruções importantes. — Vem comigo, Box. É uma ordem de eco.

Ao contrário do esperado, a mulher se afastou do edifício e ainda mais da zona de exclusão, adentrando o denso arvoredo costeiro onde o fruto da eco-transmutação substituia os destroços da cidade sob a forma de flores, folhas, troncos rijos e ervas que roçavam nos tornozelos.

O leviatã encabeçou a fila.

O garoto se mantinha na retaguarda, atento às costas da mulher chamada Paper. O nome era familiar, ouvira-o na oficina. A especialidade do pai envolvia contato com os clientes e ele sempre estava disposto a uma boa conversa durante os consertos menos exigentes. O velho Leaf quebrava o cabo da pá de semana a semana, os dois conversavam por horas. O garoto espiava-os entre as pausas nos estudos e lá ouvira sobre o tal Box, pai de um tal Paper, mas falavam baixo e ele nada escutara de fosse qual fosse a conversa e aonde a mulher o levava prosseguia no mistério.

Distraído, o garoto aumentou a marcha e esbarrou nas costas dela. Prestes a pedir desculpas, ergueu a cabeça. Sorriu. Uma miríade de contêineres, espalhada ao redor das árvores, e um imenso cargueiro, desfigurado pelo tempo, devorado pela selva, além de impedir o avanço, forçaria a tomada do caminho de volta.

O olhar indeciso da mulher reafirmava.

Foi quando o leviatã, circundando sua guia, resvalou no braço do garoto. No toque da pele oleosa, ele se sobressaltou. Já a mulher levantou uma sobrancelha.

— Que que foi isso?

— Nada!

Ela resmungou, meio divertida.

— Ele não morde. — E acrescentou uma piscada. — Po' ficar tranquilo.

— Eu tô — afirmou o garoto, ofendido. — Eu não tenho medo dele!

— Então, qual é o problema?

— Nada, eu só... não gosto.

— Mentira.

— Mentira, o quê?

— Men-ti-ra — repetiu a mulher. — Você gosta dos passageiros. Olha, são fofinhos. Por isso, todo mundo quer ser um guia.

O garoto enrubesceu e, respirando fundo, ergueu-se na ponta dos pés.

— Ninguém quer ser guia de verdade, moça, e quem fala outra coisa é porque não pode ser um guia de verdade, os passageiros são umas porcarias!

— Eu gosto deles — Paper devolveu, simples e direta, enquanto admirava o pequeno cetáceo mover as barbatanas em forma de remo. O passageiro nadava em volta e se afastou. — Não vá muito longe. Um passageiro perdido já é suficiente.

— Ia ficar melhor se ele se perdesse — comentou o garoto, encontrando dentro de si a migalha de coragem. — Eles dão muito azar. Dão um baita azar e podem te comer, sabia? Ele pode te comer!

Ela concordou em silêncio. Durante um instante, o garoto enxergou um vislumbre de vitória e, bem mais importante, uma chance de convencê-la a esquecer o sumiço do passageiro. Porém, Paper disse:

— Conhece a história do bêbado e do passageiro? Falo da verdadeira história. O conto de Glass.

— Sim — ele respondeu, indeciso. Glass não era um bêbado. — O passageiro come o guia no fim da viagem, porque ele era um péssimo guia, né?

— Errado. Não, não e não. Glass foi um bom guia e nunca maltratou o passageiro, bom... não o dele. Mas o passageiro viu umas coisas bem ruins. Na verdade, Glass batia nos irmão menores, e até na mãe quando ficava irritado. Dizem que ele roubou um passageiro uma vez e o matou..., pode ser mentira. A questão é: Glass era um ótimo guia, mas uma péssima pessoa. O passageiro sabia disso e sa' como é. Mas Glass fugiu pa' colônia no meio da passagem e se escondeu.

— Ah?

— Calma, ainda não acabei. Os leviatãs mataram o passageiro antes dele completar a passagem. Glass então viveu, casou-se, teve filhos e tornou-se um bêbado, mas, no dia em que os filhos receberam os passageiros, ele, bêbado e furioso, matou os dois com um pedaço de pau. Ninguém sabe porquê. Os passageiros? Não. Não foram os passageiros. Depois, ele se matou. Tendeu' a moral da história?

O garoto engoliu em seco.

— Os nossos antepassados aprenderam a colocar nos filhos o nome da primeira coisa que vissem porque a humanidade, independente das falhas, muitas e muitas falhas, nunca enfrentavam os seus leviatãs. Veja como caímos. Onde estamos hoje, e nem sabemos o significado dos nossos nomes, devemos a eles. — Ela apontou a pequena criatura fusiforme, agora se aproximando num balançar paciente. — As antigas gerações já iam ter desaparecido há muito tempo sem a ajuda dos passageiros. Eu sei, é uma fase difícil, mas a culpa é só nossa.

O garoto, da segunda vez, engoliu qualquer coisa semelhante a uma resposta.

— Por aqui não dá... — Paper afirmou. — Melhor a gente ir paa' Sinma.

E os arredores persistiram imutáveis conforme avançavam no interior da floresta. O garoto passava naquela área pela primeira vez, porém sequer levantava a cabeça. Ouvira o conto de Glass na infância e a mais vaga referência àquele nome ficara escondida nas memórias até a entrega do passageiro. A mãe recontara a história no primeiro dia. Ele ouviu-a com atenção. Se a história era mentirosa, o pai estava certo: a mãe também seria.

O garoto encarou o pequeno cetáceo.

— Porque disse que os passageiros dão um baita azar? — Paper perguntou como se visse-o de costas.

— Porque eles dão. Eu ganho um leviatã, tudo dá errado. Coincidência?

— Humm. Quem te disse isso? Não foi um eco... com certeza, mas foi um adulto, não foi?

— Ah?

— Quem te disse que tudo só deu errado po' culpa do "leviatã". Parece um adulto falando. Um eco ia falar "passageiro" e um guia como você ia falar "o meu passageiro", 'tendeu? Alguém que não é eco disse isso. Quem foi?

A mulher olhou-o por cima do ombro.

— O meu pai — o garoto acabou respondendo.

— O artesão.

— É.

— O que aconteceu? Po' falar. Finge que é uma ordem de eco se for segredo.

Uma fileira de torres pontiagudas fincadas de ponta cabeça, ou derrubadas como vítimas da fúria de um gigante, cruzou o horizonte acima da floresta. Ao longe, os cipós selvagens tentavam amarrá-las aos paradigmas do presente. Mas ali, sem dúvidas, os ecologistas desistiram de recriar seu mundo perfeito. Era uma falha.

— Não é segredo — ele começou a dizer —, todo mundo sabe. A minha mãe ficou doida e expulsou o meu pai de casa. Agora um amigo mora com ela. Mas eu continuo com o meu pai. Só que...

— Não é como antes.

— Não... agora ele não fala, e trabalha pouco. Quando eu chego, ele nem olha pra mim direito. Sabe por quê?

Paper acenou afirmativamente.

— Porque é mais fácil colocar a culpa nos outros. A sua mãe é o problema, ou o amigo dela, ou o seu pai que não aceita a separação. O coitado do passageiro não tem nada a ver com isso.

— Tem sim! — ele gritou. — Quem é você pra falar que não?

A mulher se virou.

— Eu sou a Paper — ela disse, sorrindo.

O garoto enrugou a testa, a boca entreaberta preparando uma pergunta.

— Não me conhece mesmo? Box é o seu nome de verdade...

— N-Não — ele respondeu. — É C-Coin.

— Ahh, tava mentindo!

— Não! Eu só não falei o meu nome de verdade... e inventei um.

A mulher riu.

— Então, você me conhecia, mas não se lembrava. Talvez, se lembre de um Paper... filho de Box? Que tal... Paper, o garoto.

Ele arregalou os olhos.

— Agora lembrou, né? — A mulher riu outra vez, deu as costas. — Vamos. Já tá perto.

Enquanto perseguiam em direção às torres, a fileira de colossos metálicos se curvou em arco. O passageiro se afastou uma ou outra vez, a mulher chamava-o antes de perdê-lo de vista e o garoto logo se impacientou.

Em posse da identidade da mulher e a coragem dos preconceituosos, atinava a desobediência mesmo se tratando das ordens de uma ecologista, pois, se era quem dizia, ninguém aceitaria a palavra dela como prova de crime. E a mulher se adiantava em vários passos. Conseguiria fugir, estava convicto. No entanto, a borda de Sinma se agigantou e paralisou aquele plano sequer posto em prática.

A floresta cessou abrupta numa grande cratera, dezenas de quilômetros do terreno consumidos pelo vazio, a borda impossível de enxergar daquele ponto, o fundo tornava-se um abismo obscuro, enigmático, o vento soprava forte como se uma criatura desconhecida, a espreita, preparando o ataque, inspirasse dentro da escuridão.

A mulher respirou fundo.

— Sabe por que você tá aqui?

— N-Não.

— Tudo bem, eu explico... — ela disse e, no entanto, calou-se. Apertou os olhos em busca das palavras certas e retomou o discurso. — A viagem é sobre mudança, você começa sendo uma pessoa e termina como outra, 'tendeu? Quer dizer... eu não espero que diga "sim" agora. No futuro, é que você vai olhar pa' trás, pa' os últimos seis anos e vai saber.

— É uma lição? — perguntou o garoto, confuso, estivera presente em dezenas de lições práticas e convertera-se num aprendiz exemplar, os paradigmas da arte perdiam o mistério até nas escassas explicações dos novos espertalhões, porém, em nenhum dos projetos, os mentores se preocuparam em criar o menor dos laços pessoais com seus futuros representantes.

— Digamos, sim — Paper respondeu. — Hoje eu faço 19, é o fim da minha viagem, Coin filho do artesão, e quero que veja o que tá tentando abandonar.

— Mas... — gaguejou o garoto. — Aqui?! Mas... e os outros?

Ela riu alto.

— Quem? Ninguém se importa com a minha passagem, e eu não me importo com quem não se importa comigo. Por que essa cara, você se importa?

O passageiro soltou um longo jato de vapor atrás dela. O garoto não respondeu. A mulher deu as costas e permitiu ao pequeno cetáceo se aproximar de seu rosto. O garoto não ouviu-a falando, apenas o murmúrio da criatura embalava a borda da cratera.

Por fim, ela recuou.

E o passageiro mergulhou no abismo.

Era, de muitas maneiras, diferente do primeiro testemunho do garoto. O guia se chamava Doors. A passagem ocorrera no meio da antiga colônia e sobre um arranha-céu transpassado por uma ponte quebrada.

Uma multidão assistia maravilhada.

Pouco a pouco, ainda que de repente, uma nuvem branca inundou a imensa cratera e escalou a borda, devagar, como somente um doente moribundo faria. No fundo, o corpanzil se moveu. O canto da espécie chegava nos ouvidos. A criatura agitou as barbatanas e uma larga cabeça frente às dezenas de metros agora em posse do cetáceo emergiu da bruma cerrada.

O garoto de pernas amolecidas e coração palpitante gritou:

— E se ele te comer?!

A mulher deu de ombros.

— Eu fiz o meu melhor. Sa', se' quem sou e tô em paz comigo mesma. Enfim, eu não tenho medo. Foi uma boa viagem.

Num berro gutural, o leviatã emergiu por completo e investiu contra a borda da cratera. Paper abriu os braços. O garoto, um pouco afastado, mas no raio da colisão, fechou os olhos.

Um leve rumor do vento atingiu-o.

Ele espiou com um olho. O colosso subia no limite da colisão, a cauda horizontal arremetia em direção a liberdade do céu. Do espiráculo, um poderoso jato branco brotava e se somava às escassas nuvens presentes na atmosfera do planeta.

Em breve, a chuva cairia.

O ciclo estava completo.

O gigantesco cetáceo desceu. Devagar, parou frente a sua antiga guia. Paper estendeu a mão carinhosa e tocou a imensa fronte. Existia uma tristeza no toque. Ela jamais o acariciaria até a ponta da cauda. Um grupo de leviatãs surgiu voando na borda oposta, atraídos pelo canto da passagem. A criatura agitou o corpo rumo à manada.

A mulher se ajoelhou. O garoto ouviu-a dizer:

— Adeus, amiguinho...

A mulher chamada Paper permaneceu um longo período mirando o afastar dos leviatãs.

Quando ela se levantou, o garoto sorriu de uma forma consoladora mas espontânea. Ele sequer conseguiria dizer o motivo. Apenas, sorriu.

— Obrigada... — ela disse, em retribuição. — Bem, é hora de buscar o seu passageiro. Onde você o escondeu?

O garoto arregalou os olhos.

— Eu já passei pela sua idade, esqueceu? — Ela tirou os resquícios de grama dos joelhos, piscou. — Não faz essa cara... Eu sou mais esperta. Só isso. Agora vamos! É uma ordem de eco.

13 марта 2023 г. 12:23 2 Отчет Добавить Подписаться
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Daniel Trindade Daniel Trindade
Saudações! Faço parte da Embaixada Brasileira do Inkspired. Estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação de sua história. Espero que ela seja prestigiada por muitos leitores aqui em nossa comunidade. Sucesso e felicidade em sua arte! ♡

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