xixisss Isis Souza

A última pessoa que Yuri esperava encontrar tocando as melhores músicas que já tinha dançado na vida era aquele moreno que conhecera no ensino médio. Ele estava diferente do que Yuri se lembrava, mas mesmo assim não sabia o que todos naquela época - inclusive seu melhor amigo - tinham visto em alguém como ele...


Фанфикшн Аниме/Манга 18+.

#fanficsotaconda #yaoi #yoi #yuri-on-ice #otayuri #Otario #Party #Otabek-Yuri #universo-alternativo
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Cap. 1

A música estava alta mas em nada incomodava, pelo contrário. As luzes piscantes e as bebidas doces e coloridas que ingeria provavelmente lhe renderiam uma dor de cabeça assim que visse a luz do sol, mas tudo bem. A roupa, ainda mais colada pelo suor produzido na pista de dança, já beirava o desconforto, mas valia a pena. Era tudo de que Yuri precisava naquele sábado a noite – que a essa altura já era madrugada de domingo.

Percebeu quando um grupo animado numa das mesas começou a cantar parabéns pra alguém. “Nina! Nina!” o pessoal gritava. “Pobre Nina, passando por uma vergonha dessas bem em seu aniversário”. Mas na verdade a menina não parecia nada envergonhada com um sorriso enorme e levantando a bebida que segurava. Foi ao olhar pra dela que Yuri percebeu que a sua tinha chegado ao fim. Ainda não estava bêbado, mas também não pretendia ficar, então decidiu que seria uma boa ideia beber uma água no momento. Passando pela massa de gente suada, colorida e purpurinada que apinhava o local, se dirigiu ao bar. Assim que o viu, Pichit já foi colocando uma taça no balcão, pronto pra lhe preparar mais um de seus famosos drinks.

— Agora vai ser só uma água Pichit.

— Certo Yuri ;)

Também não lhe incomodava o fato de estar sozinho na balada. JJ, sua habitual companhia nessas situações, tinha um compromisso de família e não pôde ir com ele. Chegou a pensar em chamar Yuuri, mas ele com certeza levaria Victor e acabaria sobrando pro loiro cuidar de dois marmanjos mais velhos do que ele completamente bêbados e, muito provavelmente, seminus. Não estava com paciência pra isso. Essa noite só precisava mexer seu corpo, sentir as sensações gostosas que a música e a dança lhe proporcionavam. Então foi pra boate Eros, a qual já frequentava há algum tempo e aonde tinha amizade com alguns funcionários. Se precisasse de algo ou mesmo quisesse um pouco de companhia poderia contar com Pichit, o barman mais talentoso da cidade que era também seu vizinho, ou com Chris, o gerente do local.

Enquanto bebia sua água Yuri reparou que começaria mais uma apresentação no palco central. Era a terceira da noite. A primeira havia sido de uma dupla de dançarinos bastante talentosos. A segunda de uma cantora impressionante. Sempre valia a pena assistir e o bar, um pouco mais alto que a pista de dança, dava uma visão privilegiada do palco, então Yuri resolveu ficar por ali mesmo. Não pôde dizer que ficou exatamente surpreso quando viu Chris adentrar o palco, não como gerente, mas como uma Drag Queen extremamente bem produzida e sensual. Ele adorava a atenção e sempre que possível fazia um pequeno show. Yuri sorriu, mas como já conhecia a apresentação, tinha inclusive dado algumas sugestões para a coreografia, deixou seu olhar vagar pela boate.

E foi então que o viu. Um ser completamente deslocado, vestido todo de preto num mar colorido. A camiseta lisa e o jeans escuro lhe caíam bem mas eram extremamente monótonos, o que ficava ainda mais evidente naquele lugar. O corte de cabelo, em estilo undercut, parecia extremamente estúpido aos olhos de Yuri – talvez por ser o mesmo que ele tentava fazer o melhor amigo espalhafatoso abandonar a anos. O moreno peixe-fora-d’água bebia Whisky, algo que Yuri jamais poderia compreender, ainda mais no bar da Eros, famoso pelos drinks impressionantes. Mas o mais irritante era a cara dele. Uma expressão séria, quase entediada, observando a boate com aparente desinteresse. “Ora, desinteressante é ele! Se não é pra se divertir o que está fazendo aqui? Pra que se dar ao trabalho de vir se é pra ficar com essa cara?” Olhar praquele cara passava uma sensação deveras entediante... então por que mesmo Yuri não deixava de fazê-lo? Ah sim, Yuri tinha a sensação de que o conhecia.

Sacudindo a cabeça e desviando o olhar um segundo antes do moreno se virar em sua direção, Yuri foi pra pista de dança mais uma vez. Assistiu de lá o restante da apresentação de Chris e se deixou envolver novamente pelo calor das pessoas ao seu redor. Logo o clima animado e divertido mudou um pouco para algo mais sensual... Seria a música? Yuri não pensou muito, apenas se deixou atender à necessidade de mover os quadris que o novo setlist lhe impunha. Ficou ainda mais feliz de ter resolvido ir até ali, aquelas músicas eram ótimas. Ao fim da terceira, resolveu olhar a cabine do DJ, queria ver quem era o responsável por aquela sequência tão boa e hipnotizante. Não poderia ter ficado mais surpreso com o que viu. Ora, se não era justamente o moreno entediante. Como se tivesse sido estimulado pelo olhar do loiro, o DJ pegou o microfone para se apresentar naquela hora. E ao ouvir o nome, Yuri lembrou-se.

Otabek Altin. Não via o cara a mais de 2 anos e ele estava diferente – embora mantivesse a mesma expressão de peixe morto. Altin tinha sido a sensação no seu colégio no fim do ensino médio. Recém-chegado do Cazaquistão, o moreno foi o assunto entre todas as meninas – e alguns dos meninos – da turma de Yuri. O próprio loiro teve que aguentar JJ falando do moreno por mais tempo do que gostaria – “Acho que estou apaixonado Yuri...”, “Você se apaixona por alguém diferente a cada duas semanas JJ, vai passar”. Yuri, por sua vez, nunca viu graça no tal cazaque.

Bom, pelo menos fazia sentido ele estar com um ar tão sério – nos meses em que conviveram Yuri nunca tinha visto uma expressão muito diferente mesmo, não que prestasse muita atenção – ainda mais se estava ali a trabalho e não apenas pra se divertir. E Yuri tinha que admitir, ele fazia um bom trabalho. Não queria parar de dançar mas já sentia vontade de beber algo de novo, então foi até o bar e pediu a Pichit a bebida mais leve e refrescante que tivesse e voltou com ela pra pista. Enquanto se mexia no ritmo da música e bebericava de seu copo, seus olhos voltavam à cabine do DJ.

Ele estava mesmo diferente. Se fosse outra pessoa, Yuri poderia dizer que talvez a regata monótona na verdade delineava muito bem o peitoral definido que o moreno tinha. E talvez que o fato de ele beber Whisky lhe conferia um ar de masculinidade que lhe caía bem. E talvez que aquele rosto sério fosse bem bonito e assim, concentrado em mixar as músicas de maneira brilhante, ficava bem sexy... “Sexy? O que diabos estou pensando?”. Yuri sacudiu a cabeça mais uma vez e achou que era melhor parar de dançar. Claramente a bebida e aquele clima sensual que tinha se instaurado na pista de dança estava lhe deixando meio doido.

Voltou ao bar e viu que Pichit estava num raro momento de descanso.

— O pessoal foi todo dançar, o novo DJ está mandando bem mesmo. É apenas a terceira noite que ele toca aqui e sempre causa esse efeito. Que acha Yuri?

— Ah sim, nunca tinha ouvido esse tipo de set aqui... Ele é mesmo ótimo.

— Hmm, você deve ter achado ele ótimo mesmo, não para de olhar pra ele desde que o viu aqui no bar.

Yuri desviou o olhar da cabine para Pichit e viu o sorriso perverso no rosto do amigo. Não podia nem negar, estava mesmo olhando pro cara dois segundos atrás. Mas tinha um motivo, certo? Certo.

— Eu estava achando bem esquisito um tipo sem graça como ele por aqui, fiquei surpreso quando vi que era ele que estava comandando esse som tão bom, só isso.

— Sem graça é? Sei... Esse não seria um adjetivo que eu usaria pra descrever o Otabek.

— Pois é isso que sempre achei dele.

— Como assim? Se conhecem?

— Estudamos juntos no fim do ensino médio. JJ tinha uma queda extremamente irritante pelo cara. Reconheci quando ele falou o nome...

— Ah, entendo. JJ sempre teve bom gosto.

— Se você diz.

— Em todo caso Yuri, se for ficar aqui até o final, podemos ir juntos pra casa.

— Isso seria ótimo Pichit.

O barman morava na mesma quadra que Yuri, no prédio ao lado. Seria bom ter companhia na volta, embora não tivesse bebido demais, não costumava mesmo andar por aí sozinho de madrugada, tendo sempre Jean como companhia.

— Certo. E como vai me esperar, de repente pode até cumprimentar o seu colega “sem graça” pelo bom trabalho.

Pichit deu uma piscadinha marota e Yuri apenas revirou os olhos com o comentário. Não tinha nenhuma intenção em ir cumprimentar Otabek. Tinham trocado poucas palavras 2 anos atrás e não se viam desde a formatura. E, pela cara, o moreno continuava nada interessante – embora, o fato de ser DJ e ser tão bom fosse no mínimo surpreendente. Por isso Yuri decidiu que não deixaria de aproveitar enquanto ele estivesse tocando. Estava ali pra dançar afinal.

— Vou voltar pra pista Pichit. Você está falando muita bobagem hoje.

Ainda ouviu a gargalhada do amigo ao se afastar.

—__________________________________________

Otabek tocou até o fim da festa. Foi ele que anunciou, as 4:30 da manhã, que a Eros estava encerrando aquela noite. Ainda demorou quase uma hora até o local esvaziar de fato e só sobrar Yuri e os funcionários. Quando Pichit terminou seus afazeres no bar, deixando a limpeza para os mais novos, chamou-o até a área de funcionários da boate.

— Eu vou pegar minhas coisas Yuri e acho que Chris quer falar algo comigo também, mas vou tentar não demorar, tudo bem?

— Sem problemas Pichit, eu não estou com pressa.

Yuri não sentia sono. Estava cansado e suado e levemente alegre pela bebida, mas a última hora e meia da festa tinha com certeza sido a melhor. As músicas que o moreno tocava eram realmente ótimas de dançar e mesmo as que Yuri não conhecia lhe traziam sensações boas. A penúltima, por exemplo, era uma que ele jamais tinha ouvido, mas que o deixou ainda mais animado. Era nisso que pensava quando viu o DJ entrar na sala de funcionários com uma maleta que devia ter seu equipamento. Yuri estava sentado no sofá do lugar e tratou de virar o rosto e desviar o olhar – embora não soubesse exatamente o porquê.

— Oi, desculpe, mas esse lugar é apenas pra funcionários e a boate já fechou.

Yuri o olhou, mas ele estava de costas pra si.

— Tá falando comigo?

— Não tem mais ninguém aqui, não é? Você não deveria estar aqui – o DJ falou enquanto guardava o equipamento num armário.

“Mais que puto debochado”

— Estou exatamente no lugar onde deveria estar.

— Você trabalha aqui? Eu te vi no bar e na pista e...

Yuri parou de ouvir quando o outro disse que o viu. Entre tantas pessoas ele o viu? O teria reconhecido?

— ... e você estava dançando tão animado e não parecia estar no meio de nada profissional...

— Não, eu não trabalho aqui.

— Então cara, você realmente não devia estar aqui.

— Porra, relaxa... Eu sou amigo do Pichit e do Chris eles estão em reunião agora e eu vou embora junto com o Pichit, por isso estou aqui esperando.

— Ah. Por que não disse logo então?

— Porque não devo explicação nenhuma a você.

Enfim, Otabek se virou, após trancar o armário, dando um sorriso torto. Por dentro Yuri pensou “Puta merda, UAU”. Por fora emburrou a cara e olhou nos olhos do outro com uma expressão de desafio.

— Plisetsky? É você mesmo?

— Hmph. Oi Altin.

— Nossa, desculpe, eu nem te reconheci. Te vi dançando mas você está...

— Estou o que? – Yuri desafiou.

— Diferente.

Yuri tentou ler nas entrelinhas da expressão de Otabek se ele debochava de si de alguma forma, mas não encontrou nada. Decidindo que não tinha porque destrata-lo – nunca tiveram nenhum tipo de problema afinal - aceitou a mão que o outro lhe estendia. O aperto de mão do moreno era quente e firme. Seguraram por um segundo a mais do que o necessário até enfim soltarem e voltarem a se encarar.

— É, você também.

— Sério? Não acho que eu tenha mudado muito. Mas você mudou bastante. Menos seus olhos. Seus olhos são os mesmos.

“Que que esse cara tá falando?” Yuri pensou. De fato tinha mudado bastante depois de terminar o ensino médio. Tinha crescido uns bons 5 centímetros nesses 2 anos, seu corpo, embora ainda esguio, agora era bem mais definido. Seu cabelo, que antes ficava na altura de seu queixo, agora já chegava em seus ombros e a franja longa cobria uma grande parte do seu rosto. Mas não entendia o que o moreno queria dizer sobre seus olhos. Quando tinha reparado neles pra falar assim? Antes que perguntasse, porém, o moreno se jogou no sofá ao seu lado.

— O que está fazendo?

— Hã? Vou esperar. Também preciso falar com Chris. Tudo bem se eu me sentar aqui com você um pouco?

E de novo o sorriso. Yuri desviou o olhar. Não sabia por que mas parecia que encarar esse sorriso poderia ser altamente...perigoso.

— Tanto faz.

Respondeu sem olhar pro outro mas sentindo o olhar dele queimando sobre si. O sofá não era muito grande e o jeito como estavam sentados fazia com que suas pernas se tocassem muito levemente. Yuri tentava dizer pra si mesmo que deveria afastar a sua, mas não se mexia. Depois de alguns minutos de silêncio e percebendo que o outro o olhava de novo, falou

— O que foi?

— Nada... só... posso te perguntar uma coisa?

— Hm. Tá.

— Você curtiu o set de hoje? Eu sou novo aqui e você parece frequentar o lugar a um tempo e bom, é amigo do meu chefe, então seria bom saber sua opinião.

Yuri encarou o moreno e achou graça da expressão que estampava sua face, uma mistura de profissionalismo e vergonha. “Ele é quase...fofo, quando demonstra alguma emoção”. No segundo seguinte em que pensou isso se repreendeu e se focou em responder a pergunta do outro.

— Na verdade, eu gostei muito. Foi um set bem diferente, bastante original, mas posso dizer que foi o melhor da noite, pelo menos desde a hora que eu cheguei.

Yuri não costumava elogiar nem seus amigos mais próximos. Mas jamais mentiria e sabia valorizar o trabalho dos outros, afinal, apreciava imensamente quando o seu era valorizado, então respondeu com toda a sinceridade. Mas não estava preparado para o sorriso que o outro deu, o que fez com que Yuri é que se sentisse envergonhado dessa vez. “Mas que porra...”, pensou ao sentir o rosto esquentar.

— Nossa, muito obrigado! Eu estava bastante apreensivo, não sabia como o pessoal ia reagir a não ouvir só os maiores hits.

— Ah sim, tinham várias músicas que eu não conhecia, e olha que eu sou bem viciado, mas eram bem boas. Mas, a penúltima que você tocou, de quem é? Qual o nome?

O rosto do DJ ficou vermelho antes de ele responder.

— Bem, aquela, é... é minha. Eu compus e mixei. Coloquei pra tocar porque precisava ouvir como ficaria no ambiente, e como já tinha pouca gente...

A voz do outro foi sumindo aos poucos ao mesmo tempo em que os olhos de Yuri se arregalavam. A música era dele? Aquela música que conseguiu fazer Yuri ficar animado de novo a ponto de mal perceber o cansaço de estar a horas ali? Ok, agora Yuri estava impressionado...um pouco.

— É sua?

— Uhum. Estava muito ruim?

— Na verdade eu perguntei porque gostei muito, queria saber pra procurar e baixar, de repente...

Agora foi o olhar do moreno que se arregalou e logo o sorriso lindo voltou aos seus lábios e o rubor voltou a face de Yuri.

— Nossa! Gostou mesmo? Que bom! Bom, o registro ainda tá correndo e eu ainda não fiz o upload dela, mas se você me prometer não repassar a ninguém posso te enviar...

“Que? Ele é louco? Como assim me enviar uma música original que ainda nem está registrada? Quão ingênuo ele pode ser?”

— Oi... tá me ouvindo? Se não quiser tudo bem...

— Hã? Você não tem medo de passar uma música original que você ainda nem tem o registro pra qualquer um?

— Hmm... Mas você não é qualquer um Yuri.

— Saber nossos nomes e termos convivido por uns meses anos atrás não quer dizer que haja esse tipo de confiança, seu idiota!

— Não? Por algum motivo eu acho que posso confiar em você. E como você é o primeiro fã da minha música eu realmente gostaria que você a tivesse então... Você quer a música ou não?

“Esse cara é inacreditável!”.

— Você é doido.

— O problema é convivência? A gente pode conviver...

“Opa, o que? Agora ele tá flertando comigo? Na cara dura? Assim, do nada, sem nenhum sinal? Ou ele falou isso na inocência? E por que estou corando de novo? Merda!”

— Você...

Mas antes que Yuri terminasse de falar, Pichit e Chris surgiram na sala e o loiro mais velho tratou de se dirigir a eles animadamente

— Ah, Yuri, Otabek, vejo que já se apresentaram! Bom, bom. Otabek, querido, você pode vir aqui um minutinho? Pichit, vai ser rápido, me espere aqui ou lá fora se preferir.

Otabek então seguiu Chris pra dentro da sala do gerente e Pichit se sentou ao lado de Yuri – “Pichit consegue se sentar sem encostar na minha perna”.

— Vejo que resolveu cumprimentar seu amigo Yuri.

— Ele não é meu amigo. E não teve jeito, ele entrou e eu estava aqui. O puto nem me olhou e já veio dizendo que não devia estar na área de funcionários.

— Ele não te reconheceu?

— Ah, depois reconheceu sim. Mas, tanto faz também.

Yuri ficou quieto. Por algum motivo estava na defensiva. Mas não pensou muito nisso e Pichit voltou a falar

— Chris vai nos dar uma carona até em casa, tudo bem?

Agora Pichit parecia um pouco envergonhado e Yuri achou graça

— Claro Pichit, tudo certo. Não precisa fazer essa cara.

Não era segredo pra ninguém que o barman e o gerente da Eros tinham uma relação que ia além da profissional, embora eles não assumissem nenhum tipo de compromisso. Mas Pichit sempre parecia se constranger com essa bobagem.

— Mas podemos esperar lá fora então? Tá meio quente aqui...

Yuri realmente se sentia quente e estava meio desconfortável naquele sofá.

Estavam a uns 5 minutos parados ao lado do carro de Chris, já se aproximavam das 6 da manhã e o céu já dava os primeiros sinais de querer clarear quando Chris e Otabek saíram da boate e vieram de encontro a eles. Dessa vez Yuri não desviou o olhar do moreno, lembrando do ~possível~ flerte que ele lhe tinha direcionado pouco antes.

— Bom meninos, podemos ir... – disse Chris - Otabek, você está de carro? Precisa de uma carona?

— Não Chris, tudo bem, minha moto está ali.

E apontou para uma Harley-Davidson Fat Boy Special novinha a poucos metros de onde estavam. Ok, agora sim Yuri estava impressionado. Otabek-peixe-morto-Altin era DJ E pilotava uma máquina daquelas? Apesar de nunca ter tido a paciência de incluir a licença pra pilotar motos em sua carteira de motorista, amava as máquinas e aquela era um de seus mais recentes objetos de desejo. “Quanto o Chris paga pros DJ’s aqui pra esse cara poder comprar uma moto dessas?”. Viu o moreno pegar uma jaqueta de couro de dentro de sua mochila e vesti-la e ok, teve que admitir, o visual lhe caía bem. Sem pensar muito no que estava fazendo, antes que o outro colocasse a mochila nas costas, o loiro se aproximou e falou

— Otabek, seu celular tá aí?

— Hm? Sim – o moreno pegou o celular de um bolso menor da mochila – aqui, por que?

Yuri então pegou o celular da mão do outro, digitou seu número, salvou e mandou uma mensagem pra seu próprio Whatsapp, para salvar o número do moreno em seu aparelho em seguida.

— Sabe, a música. Eu quero. Tchau.

Foi tudo o que disse antes de se virar e entrar no banco traseiro do carro de Chris. Sequer olhou de novo pro moreno, mas sabia que ele olhava pra si.

— Sem graça né?

— Cala a boca Pichit.

Mas, apesar da resposta malcriada, Yuri por algum motivo estava se sentindo muito bem observando aquele nascer do sol de domingo.

—_________________________________

Não demorou muito pra Otabek entrar em contato com Yuri. No fim da tarde de segunda, quando foi checar seu celular antes de sair do seu trabalho de meio-período, Yuri viu que o moreno tinha mandado um áudio. Era curto, tinha poucos segundos, mas Yuri reconheceu o ritmo da tal música que o DJ compôs. Yuri pressionou o botão pra gravar e disse “Hm, alguns segundos de tum-ti-tum, estou impressionado”. Falou isso num tom meio debochado, meio divertido.

Menos de um minuto depois a resposta veio

Altin – bom, seguindo a constatação de um certo alguém, como não nos víamos a mais de 2 anos e não temos uma convivência eu não devia lhe confiar minha música, então é tudo o que posso oferecer, foi mal :p

Você – hmm. Parece um pé no saco esse certo alguém, eu realmente queria essa música.

Yuri sorria. Não entendia porque estava sendo tão amigável com alguém com relação a quem sempre foi um tanto quanto indiferente, mas não lhe parecia algo ruim. O celular fez um pequeno barulho e Yuri pegou-o novamente

Altin – podemos dar um jeito nisso, se eu te ver mais vezes posso adquirir a confiança necessária.

Ok. Yuri não tinha mais dúvidas. Otabek Altin estava flertando consigo. Seu primeiro pensamento foi “Que abusado”. Mas logo rumou para outros caminhos. Yuri nunca soube se JJ tinha conseguido alguma coisa com o outro moreno. Antes da formatura os comentários de que Otabek era bissexual estavam rolando na escola e Yuri teve que aguentar um JJ muito animado por de fato ter uma chance. Mas na maior parte do tempo em que seu amigo começava a falar do assunto Yuri se concentrava na música que tocava em seus fones de ouvido e se limitava a acenar com a cabeça sem ouvir de fato.

Poucos dias depois da formatura Yuri embarcou para a Rússia para viver um período com seu avô, tendo retornado há poucos meses ao ser aceito numa universidade canadense. No tempo em que ficou fora mantinha contato com JJ e, puxando pela memória, lembrava-se de o amigo ter mencionado algo sobre Otabek ainda nas férias logo depois de Yuri ter ido embora. Mas como sempre não estava prestando total atenção. Agora se perguntava se o amigo tinha de fato se apaixonado pelo cazaque e se eles tinham tido algum relacionamento e como isso teria terminado – Yuri sabia que JJ tinha entrado na faculdade solteiro naquele mesmo ano, então se eles tivessem mesmo tido algo, teria sido breve. Mas mesmo sendo breve, Yuri não poderia dar trela pro ex de seu melhor amigo, certo? Ou... “Mas o que estou pensando? Por que estou cogitando corresponder ao flerte dele? Desde quando eu penso em ter algo assim com alguém tão sem-graça?”

Yuri já estava voltando para casa, a mensagem visualizada e não respondida em seu celular e agora se questionava se Otabek era mesmo tão sem-graça assim. Bom, ele é um DJ muito bom e pilota uma moto irada. E tá, nunca foi exatamente feio, mas agora está com um corpo mais forte, está um pouco mais alto e Yuri poderia acha-lo atraente, talvez. Mas ainda tinha aquele olhar de peixe-morto e o jeito debochado e indiferente, quase sem demonstrar emoções, que irritavam o loiro profundamente. “Mas quando ele sorri é algo realmente bonito de se ver... Ok Yuri Plisetsky, você deve estar ficando louco mas...”

Você: É, talvez possamos...

Você: dar um jeito nisso.

Respondeu rapidamente, jogou o celular silenciado na cama assim que abriu a porta de seu quarto, não querendo ver a possível resposta do outro no momento, e tratou de ocupar-se. Se fosse cometer o ato estranho de cogitar ter algum envolvimento com Altin, tinha que falar com JJ antes. “Amigos antes das minas”, ou, nesse caso “dos caras”, certo?

Jean entrou pela porta do quarto do loiro algum tempo depois, escandaloso como sempre, sem nem se preocupar em bater e sem se importar um pouco que fosse ao encontrar um Yuri apenas com uma toalha enrolada em volta da cintura, com os cabelos ainda molhados do banho que acabara de tomar.

— Yuri! Por que você não atende esse celular?

— Cacete Leroy, bate na merda da porta, esse é o meu quarto!

Yuri falou e lançou um olhar mortal ao melhor amigo

— Estou te ligando desde que saí do trabalho e você não atende. Como não desgruda do celular achei que pudesse ter acontecido alguma coisa e vim logo pra casa te salvar.

— Não aconteceu nada, eu só estava no banho, como você pode ver. E eu não sou a porra de uma donzela pra precisar ser salvo!

— Certo, certo.

JJ jogou-se na cama sem pedir licença e Yuri continuava a encará-lo com uma expressão de incredulidade. “Como é que eu aguento essa cara a mais de 7 anos? Mais, o que eu tinha na cabeça de dividir um apartamento com ele?”.

— Yuri, por mais que eu aprecie a visão, estou morrendo de fome, dá pra se vestir pra irmos logo comer alguma coisa?

— Babaca

Yuri suspirou antes de jogar a toalha na cara do canadense e começar a se vestir. Não tinha vergonha nenhuma de Jean. Por mais que tenham tido algo na adolescência, eram amigos antes e continuaram sendo amigos depois sem nunca ter nenhum clima estranho nem nada do tipo. Compartilhavam tudo e já haviam se visto nus muitas vezes para que Yuri se incomodasse. Quando examinava uma camisa com mangas com estampa de tigre tentando decidir se usaria ela viu JJ se esticar para pegar seu celular que estava jogado na cama. Pensando que poderia ter alguma mensagem de Otabek e que não queria que o amigo visse nada estranho antes que tocasse no assunto, praticamente se jogou em cima do outro, imediatamente antes de ele acender a tela do aparelho.

— Hey, que isso gatinho?!

— Não mexe nas coisas dos outros assim, idiota!

— O que? Por que? Tá mandando nudes? – JJ perguntou com um sorriso malicioso.

— Que? Não. Você só pensa nisso é? Hmph, tanto faz, vou deixar o celular aqui carregando. – Yuri colocou o aparelho no carregador em sua escrivaninha e completou – Vamos logo, também estou com fome.

— Aleluia!!

JJ tagarelava sem parar no caminho até a lanchonete e Yuri escutava parcialmente, pensando em como abordar o assunto que queria tocar com o amigo. Não entendia porque estava colocando tanto pensamento nisso, não era como se estivesse contando as horas pra sair com Otabek, mas mesmo assim pensava. Foi quando JJ começou a falar sobre não saber o que fazer pra comemorar seu aniversário que Yuri teve sua deixa. Lembrando da festa que tinha presenciado no último sábado, sugeriu,

— Por que não comemora na Eros? Aposto que Chris até te deixaria ser uma das atrações da noite...

— Yuri, que ótima ideia! Eu estou mesmo compondo uma música em minha homenagem, quer ouvir?

— Sabia... Mas não, outra hora. – “Tá, lá vai”. – Eu fui na Eros sábado, nem te conto quem encontrei tocando lá... Aquele cara que você gostava no fim do ensino médio, o Altin.

Yuri observava a expressão de JJ que pareceu um pouco surpreso mas não tanto quanto o loiro esperava.

— Ah, é mesmo, eu soube que ele ia voltar por agora. Ele está tocando na Eros então? Isso é legal! Vocês se falaram?

— É, sim, falamos, um pouco. Você já sabia, tem falado com ele?

— Pela internet, as vezes. Ele foi pra Europa uns meses depois do fim das férias naquela época e acabou virando DJ. Vi o check-in dele na cidade uns dias atrás e foi assim que eu soube que ele tinha voltado pra cá.

Para Yuri parecia que JJ falava do outro moreno de forma bastante natural, não parecia haver sentimentos mal resolvidos nem nada do tipo. Mas ainda queria confirmar antes de... sabe-se lá o que fosse fazer em relação ao cazaque.

— Mas então, eu não lembro direito, você chegou a ficar mesmo com ele naquela época? Lembro até hoje de você dizendo que estava apaixonado... – Yuri deu um riso meio forçado e esperou pela resposta do amigo.

— Ah sim, a gente ficou naquelas férias, eu te falei isso por telefone na época Yuri.

— É, deve ter falado. – Yuri não sabia por que mas sentia como se tivesse levado um banho de água fria. – Então chegaram a namorar mesmo né...

— Quê? Namorar? Não Yuri! A gente só ficou mesmo! Ele é bem gostoso, mas era mesmo muito sério...

— Ah, é? Você disse que estava apaixonado...

— Ah vá Yuri, eu me apaixonava de 15 em 15 dias, você mesmo dizia isso. A gente ficou e foi legal e só. Depois quase não nos falamos mais, embora ele seja um cara bacana.

Agora Yuri tinha um pequeno sorriso no rosto. Então parece que não teria problema se eles resolvessem...hum...como foi que o moreno falou... “se verem mais”. Percebendo a expressão do amigo JJ parou de andar e encarou Yuri antes de perguntar.

— Por que tanto interesse em saber o que houve entre eu e ele do nada Yuri? Você vivia dizendo que só me ouvir falar dele te entediava... O que foi que vocês conversaram quando se viram hein?

Yuri ficou vermelho e se amaldiçoou por isso, por que em seguida o amigo estava falando, de um jeito bem mais escandaloso do que o necessário, ainda mais considerando que estavam no meio da rua

— AI MEU DEUS, VOCÊS FICARAM?

— Ficar? Que? Não, JJ, de onde tirou isso?

— Olha sua cara Yuri, você tá vermelho! Vamos, não minta pra mim. Ficaram lá na Eros?

Yuri suspirou antes de responder.

— Não Jean, nós não ficamos. Só conversamos um pouco e bem, ele é um DJ muito bom e tem essa música irada que eu quero ter salva e que só ele tem porque é dele afinal, e ele tem uma moto foda, daí eu acabei passando meu telefone pra ele num impulso e ele veio com um papo da gente se ver e – eu não estou dizendo que quero – mas achei que deveria falar algo com você porque não ia cogitar ter algo com um ex seu – de novo, não que eu esteja pensando nisso – pras coisas não ficarem estranhas e...

Yuri falava tão rápido que quase não respirava e JJ começou a rir da exasperação do amigo.

— Tá rindo de que babaca?

— Ai, Yuri, tudo bem, já entendi que você está a fim dele e queria saber se tudo bem... Muito fofo da sua parte viu?! Mas ó, vai fundo, você tem minha benção. Só me pergunto como isso foi acontecer, já que você vivia dizendo que ele era sem-graça quando metade da escola queria ficar com ele, ele deve estar mudado...

Yuri arregalou um pouco os olhos ao se dar conta do que JJ falou. Estaria mesmo a fim de Otabek? Assim , tão rápido? Claro que atração é uma coisa rápida mesmo e Yuri já tinha se permitido admitir que o moreno havia se tornado um cara atraente, mas...

— Ei, eu não disse que to a fim dele JJ! E eu não sou fofo porra nenhuma e nem pedi pela sua benção... Mas... é bom que, hum, as coisas não tenham terminado mal entre vocês. Só, porque, você sabe, eu não vi motivos pra tratar ele mal, então, meio que falei que tudo bem a gente se ver...

— AI MEU DEUS MEUS DOIS CRUSHS DO PASSADO VÃO A UM ENCONTRO JUNTOS EU PRECISO VER ISSO

— Para de gritar JJ! Quem falou de encontro?

Mas Yuri já ria e não protestou – muito – em explicar como Otabek estava diferente a ponto de fazer Yuri cogitar sair com ele para algo que, com certeza, não era um encontro.


25 февраля 2018 г. 1:53 0 Отчет Добавить Подписаться
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