Os raios de sol incomodaram seus olhos assim que foi chutado para fora daquele lugar. A brisa fresca finalmente estapeando o rosto rígido e sem expressão, balançando os fios negros e longos que cobriam um de seus olhos por causa do comprimento.
Os lábios tremeram como se quisesse sorrir, mas ele não o fez.
Estava liberto agora e pronto para vingar-se da pessoa que o colocou atrás das grades, que fechou os mirantes, permitindo-se apreciar a liberdade dos muros que o privou por malditos longos anos – doze, para ser exato.
A sensação de estar livre, longe das regras que eram impostas lá dentro e de tudo que teve de suportar no passar lento dos dias cansativos e rigorosos era reconfortante. Havia chegado o fim de sua sentença, havia pagado pelo que cometeu. Mas, ainda assim, não podia dizer que era o mocinho da história. Pelo contrário, estava longe de ser.
Os mocinhos não matam, não roubam e muito menos destroem famílias.
Estava ciente de que a cadeia já o esperava por muito tempo. Daí, por um deslize, foi parar lá.
Era inteligente o suficiente para não confiar em qualquer pessoa – principalmente no amante do seu irmão mais velho – mas algumas coisas saíram dos trilhos. O rapaz era um manipulador de primeira. Os olhos azuis irônicos e perversos irritavam-no mais do que tudo, assim como a atenção extremamente exagerada que Itachi lhe dava.
Ainda que todos ao redor percebessem que Menma era egoísta e hipócrita, ninguém se atrevia a falar uma mísera palavra. Aqueles que conheciam Uchiha Itachi, o homem respeitável e que comandava boa parte do Japão, não olhariam diretamente nos olhos de seu homem e cuspiriam verdades.
O prodígio dos Uchiha's tinha alcançado o que nenhum outro de sua família tinha. Hoje, era internacionalmente conhecido.
O rapaz de feições tão severas surpreendia muitos ao se mostrar calmo em tantas ocasiões. A voz era grossa, as palavras sempre diretas e só era rigoroso quando precisava ser. Mesmo assim, todos o temiam. Menma tinha sido encontrado por Itachi quando uma conversa entre Sasuke e Sasori, membro de outra gangue, resultou em uma troca de tiros.
O Uchiha mais novo viu o irmão protegendo um rapaz desconhecido – que, na sua visão, era um tanto suspeito – e, depois, guiando-o para o carro.
Foi a primeira vez que o mais novo foi deixado para trás – e não é como se ele não soubesse se virar, mas odiou com todas as forças que o irmão realmente tenha o abandonado. Principalmente por ter tido de voltar com Suigetsu gritando como um louco e quase desmaiando em cima do volante por ter percebido que Sasuke estava sangrando por causa de uma bala que se alojou em seu braço.
Além disso, a partir daí, teve de passar a aguentar aquele novo membro na equipe – embora Itachi não gostasse muito de incluí-lo em todos os planos, porque, ironicamente, o Uzumaki sabia demais. Era perfeito em arquitetar esquemas.
Sasuke nem de longe foi o primeiro a estranhar.
Deidara, apesar de não comentar nada, tinha um desgosto quase palatável pelo novo membro e pela relação que ele tinha com o chefe, que não era nem um pouco escondida. Todos estavam curiosos para saber quem de fato era Menma, já que não sabiam nada para além do nome, da idade e de onde morava. Por isso, uma pergunta vagava na mente de todos:o que o Uzumaki estava fazendo na noite do tiroteio? Por quê estava lá?
Ainda assim, nada parecia abalar a barreira de proteção que Itachi impôs sobre o garoto – que era o que mais irritava o irmão mais novo. O chefão parecia cego, enfeitiçado pela ousadia daquele menino…
E como se fosse uma profecia, o que Deidara tinha falado realmente aconteceu. Ninguém se importava quando o loiro resmungava que Menma iria levar a gangue para baixo, a sua completa ruína. Mas não foi só isso que aconteceu. Não foi só a ruína da gangue que o garoto cravou, mas a de Sasuke também.
Ele enganara a todos, entregando todas as informações da Akatsuki para a Darkness.
A memória desse dia em que Itachi quase perdeu seu reinado e foi salvo por Deidara era fraca e desconexa. Sasuke lembrava da dor e da decepção nos olhos do irmão, de como ele abraçava um loiro gravemente ferido por ter se jogado na frente do amado. E em seguida, à poucos metros dali, Menma entrava no carro com o líder da Darkness, gritando que a culpa era de Sasuke.
Não demorou muito para que a polícia chegasse no local. Era uma emboscada.
Com a decepção no rosto, o Uchiha mais velho foi jogado para trás e puxado pelos capangas até a van. Eles fugiram das autoridades enquanto Sasuke se esforçou para seguir Menma. Puxou a 38 de sua cintura, mirou no carro do Uzumaki e atirou várias vezes, apenas se dando por satisfeito quando um dos tiros acertou a mão do rapaz.
A questão é que a sorte não brincou com Uchiha Sasuke daquela vez.
Ele foi puxado pela camisa e jogado contra o chão segundos antes de vários policiais tomarem conta da situação. Os socos e os chutes que recebeu não se comparavam com o ódio que sentiu por ter sido enganado e feito de idiota. Ainda assim, tinha certeza que o irmão deveria estar se sentindo muito pior.
Finalmente estava livre.
Os dias na cadeia fizeram sua mente trabalhar em como mataria o desgraçado do Uzumaki milhões e milhões de vezes. Após a maldita fuga do ex-amante do irmão, tudo que o moreno mais queria era vingança. Ele entrou em sua gangue, usou de sua família, os traiu e, no final de tudo, não sofreu punição nenhuma.
Sasuke não era só irmão e braço direito de Itachi por ser de sua família. Era o melhor atirador da gangue e fez por merecer o posto quando passou anos de sua vida tentando provar para o Uchiha mais velho que seria tão bom quanto ele.
Uma risada de satisfação o fez abrir os olhos que sequer tinha percebido estarem fechados. Suigetsu saiu do carro sorrindo, os óculos de sol ridiculamente chamativos fez o moreno bufar. Os braços magros envolveram o corpo do ex-presidiário rápido, embora o Uchiha sequer tinha se movido para retribuir. Por isso, o outro o soltou.
— Que cara de assassino é essa, amigo? Você acabou de deixar a cadeia e já quer voltar? — O tom divertido em sua voz tinha feito falta para Sasuke, que costumava ter o amigo sempre por perto.
Andou até o carro, pouco se importando com a ironia alheia, e logo entrou pela porta do passageiro. Sasuke jogou a mochila no banco de trás, sobre o qual encontrou alguns papéis revirados, e, já sentado ao seu lado, Suigetsu balançou a cabeça, dando a total liberdade para o moreno bisbilhotar.
— Eu sabia que quando você saísse da cadeia, iria ficar que nem um cachorrinho atrás do Uzumaki. Por isso, passei os anos procurando por ele. O desgraçado é muito bom em se esconder, em não deixar rastros — A raiva era notável em seu tom de voz. — Desde aquele dia, foi como se ele tivesse sumido do mapa. Os Darkness declararam que você quebrou a regra de respeito quando atirou no Menma, daí o acordo com os Uchiha's foi arruinado e eles querem a sua cabeça.
— Eles não são os primeiros a quererem por isso.
E realmente não eram. Só que Sasuke não era um alvo fácil. A tatuagem da Fênix que cobria metade de suas costas era bastante conhecida, principalmente por ter sobrevivido a um grave acidente de carro. Embora seu corpo fosse coberto de desenhos, o Uchiha era internacionalmente conhecido por um em específico: El Lobo.
O olhar receoso do amigo recaiu sobre ele.
— Achou alguma coisa? — Sasuke disse enquanto olhava os papéis.
— Sim e não — Os mirantes se ergueram até Suigetsu, que retornou a falar. — Não achei muita coisa sobre ele. Como disse antes, ele não deixa rastros. No entanto, liguei para Karin e pedi para que ela procurasse o Uzumaki. Ela achou os pais de Menma e viu que mandavam presentes, dinheiro e cartas para alguém no México. Ela investigou mais a fundo sobre e achou isso… — Suigetsu mostrou a foto para Sasuke. — Ela achou ele.
Sasuke quase suspirou de alívio. Quase.
Ao pegar a foto, esperava encontrar a imagem de um garoto de cabelo preto e olhos azuis frios e calculistas. Porém, não foi isso que aconteceu. O menino era loiro. Tinha um sorriso cativante enquanto estava ao lado de um rapaz ruivo e bonito.
O dos cabelos dourados era completamente diferente do homem que conheceu, o que traiu a sua família. Talvez fosse o modo como sorria tão verdadeiramente ou o quão feliz e confortável parecia estar.
Sasuke conheceu Menma como alguém que ficava nervoso de repente, que não era de sorrir muito e muito menos era amigo de qualquer pessoa. O Uzumaki sempre confessou que não tinha muitos amigos; as histórias que contava quando bêbado eram fracas, rasas e sem sentido. Foi então que Sasuke lembrou que, em uma das noites de farras e bebidas, Menma brincou sobre ter um irmão. Será que isso era verdade?
— Tem certeza que é ele? — Questionou. Os olhos negros não desgrudaram do rapaz da foto. Não sabia o que sentir naquele momento.
Suigetsu mordeu o lábio.
— Não conheço outro Uzumaki ridiculamente parecido com ele que tenha fugido para o México. Essa pessoa foi para outro país dois dias após você ser preso, é uma coincidência e tanto.
—Elesabe sobre isso? — Sasuke referia-se a Itachi. Não precisava citar o nome, porque o amigo sabia muito bem de quem se tratava.
Hozuki engoliu em seco enquanto virava a esquina de uma rua nas redondezas do novo apartamento.
— Não, mas ainda procura pelo Uzumaki.
O Uchiha não sabia se sentia-se aliviado ou irritado. De qualquer forma, estava pronto para dar um fim à isso.
— Certifique-se de que estejamos prontos para partir amanhã. Quero que a Karin fique de olho nele. Quando eu pôr minhas mãos naquele desgraçado, ele vai rezar muito.
Suigetsu sentiu o suor em sua testa.
Conhecia o moreno há anos e sua fama de impiedoso não só era espalhada pelas gangues, como também pelo povo da cidade. Todos o temiam. El Lobo não tinha causado problemas apenas no Japão; seu primeiro assassinato tinha sido na Espanha.
Ele não se orgulhava do que fez, nem um pouco. Sentia vontade de vomitar quando as memórias duras vinham e perfuravam sua cabeça com as lembranças daquela noite suja e sangrenta. Sasuke ainda lembrava dos gritos da moça acusando-o claramente, dizendo em alto e em bom som para que quem quer que passasse do outro lado da rua pudesse ouvi-la.
“— El Lobo, foi ele. O cara da tatuagem. El Lobo!”
O Uchiha só lembra-se de correr pelas ruas estreitas, das lágrimas rolando desesperadamente por suas bochechas e da dor nos pés descalços.
— Você deveria ir vê-lo. Seu irmão parece sem rumo. Ele perdeu você e Deidara — Sasuke franziu o cenho e Suigetsu viu a deixa para explicá-lo. — Dei não morreu, mas largou a gangue quando o Itachi enlouqueceu, pedindo para que todos procurassem por Menma, vivo. Achei que ele pediria desculpa pela coisas que fez ao Deidara, mas ele não o fez, porque duvidou que nosso amigo o deixasse…
— Mas ele deixou. — Concluiu o moreno.
Sasuke não podia julgar Deidara, pois no seu lugar teria feito o mesmo.
Itachi sempre esteve ciente dos sentimentos do loiro por si e ainda assim, o ignorou. As consequências eram absurdas, mas teria que lidar.
— Não totalmente. Seu irmão vai vê-lo todos os dias como um pobre condenado.
El Lobo não comentou nada. Assentiu lentamente como quem confirmava que entendia a situação.
Se Deidara precisava de um tempo, então, ele teria. Provavelmente seu irmão estava se sentindo muito culpado e preocupado, já que embora tenha ignorado os sentimentos do companheiro de equipe por anos, Sasuke sabia do estranho cuidado que ele tinha para com o loiro. Itachi não se perdoaria se algo tivesse acontecido. Agora, definitivamente, ele estava correndo atrás com mil desculpas, em busca de aceitação e perdão.
A falha com Menma só abriu os olhos da Akatsuki, fazendo todos passarem a desconfiar uns dos outros.
Sasuke permitiu-se pegar o celular para pedir a Karin que tratasse o mais rápido possível de conseguir as passagens, mas antes que pudesse escrever algo, o outro falou.
— Não se preocupe, ela já está providenciando tudo. Até mesmo nossa entrada lá e as documentações. Ela está dando o seu melhor.
O Uchiha finalmente relaxou.
— Quero uma arma. — Sem nem pestanejar, Suigetsu apontou para uma caixa no banco de trás. — Você arquitetou tudo isso?
— Caro amigo, eu conheço você há mais de dez anos para não saber que você iria atrás do Menma na primeira oportunidade — O carro finalmente parou. Ambos saíram e entraram no novo apartamento, o qual obviamente era dominado pela Akatsuki. — Você é famoso. — disse ao perceber que vários dos membros olhavam para o mais novo.
— Tsk.
Os olhares pouco importavam. El lobo estava apenas focado em uma coisa e ela não estava ali. Estava no México.
Quando o elevador chegou, algumas pessoas se apressaram para ir com eles, mas ao perceber o quão incomodado o Uchiha ficou, decidiram esperar pela próxima leva.
— Karin alugou dois quartos bem perto de onde o Menma está. Ao que parece, ele vive como intercambista. Não sei o que aconteceu com ele, mas trancou a faculdade por quatro anos e foi despedido de uma empresa após bater em um dos empresários.
Aquilo era algo novo. Não a parte de que Menma era agressivo, até porque, sem dúvidas, ele era. Mas o que intrigou mesmo o moreno foi a parte do trabalho. O dono dos olhos azuis sempre gabava-se de que não precisava trabalhar.
Algo estava errado.
O elevador parou no quarto andar. O magricelo destrancou a porta do quarto, jogando a chave para Sasuke.
— Você pode descansar, amigo. Amanhã será um longo dia. Provavelmente todos já devem estar cientes da sua liberdade, então, o quanto mais rápido sairmos do Japão, melhor.
Deixando o Uchiha sozinho, Suigetsu bateu no ombro largo antes de ir embora.
Fora do quarto, escorado na porta, o dos cabelos platinados soltou um suspiro cansado e desesperado. O medo o atingiu de forma miserável. Temia mais do que nunca pela vida do amigo, mas agora não cabia a ele decidir sobre Menma. Afinal, Sasuke fora o mais prejudicado.
[...]
Horas depois dentro do quarto…
Sasuke tinha todas as informações que precisava. Sabia até mesmo sobre o paradeiro do Uzumaki. Então, por quê sentia que faltava algo?
Olhando pela janela, desejou voltar no tempo e ter feito o trabalho antes que tudo acontecesse. Antes de ter sido traído. A foto em sua mão era amassada aos poucos pela brutalidade com que a segurava.
O Uchiha mais do que nunca quis que todos soubessem que El Lobo estava de volta. E para confirmar isso, traria a cabeça de Menma Uzumaki em mãos.
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