Capítulo 1
A cela era escura e vazia, com dois feixes de luz somente — vindos de duas altas e estreitas aberturas na parede. No único assento presente, estava uma mulher, belíssima, de pele negra e com tranças no cabelo, que estavam presas em um belíssimo coque. Ela encarava a grande porta de metal com uma feição séria, em seguida olhava para as algemas que prendiam suas mãos, com um ar pensativo.
Tudo estava quieto, até que a calmaria do silêncio foi interrompida pelo som de um golpe e de alguém caindo. Curiosa, a jovem se ergueu e lentamente se aproximou da porta, buscando dicas para saber o que estava acontecendo do outro lado. Pôde-se ouvir um som de chave, em seguida as engrenagens da porta se moveram e a mesma se abriu.
A claridade invadiu a escuridão da pequena sala e intimidou os olhos da prisioneira, que pôs uma mão no rosto, enquanto esperava a visão se ajustar. Foi possível ver um homem encostado na parede, era alto — muito mais que a mulher—, pele negra, suas vestes possuíam um estilo mais rocker, compostas por um par de botas pretas, uma calça de mesma cor, com um tecido levemente grosso e com bolsos na lateral, luvas de couro com os dedos livres, acopladas a socos inglês; dentro de sua jaqueta de couro vermelho, com detalhes em preto, havia um colete preto, com um capuz acoplado, que escondia seu rosto, deixando em evidência somente sua boca, realçando o intrigante sorriso que existia. Ele rodava um chaveiro em seu dedo, enquanto olhava para o guarda desacordado no chão.
— Você não acha burrice um só guarda cuidar da cela de uma das criminosas mais procuradas do país? — questionou ele, sorrindo divertido enquanto olhava para a preta.
— Acho engraçado o quanto vocês demoraram para aparecer. — retrucou ela, sorrindo enquanto se soltava da algema como se a mesma não fosse nada.
O rapaz sorriu para ela e a puxou para si, dando-lhe um beijo.
— Queria ver como você ficava com a roupa de prisioneira. Nada mal, mas prefiro o casaco vermelho. — brincou, se desencostando da parede. — Nossa carona vai chegar já já, mas antes precisamos recuperar suas coisas. Então, chefe, podemos mostrar para eles o que acontece com quem mexe com a Casaco Vermelho? — questionou, sorrindo, enquanto seguia com ela para uma pequena sala, onde tinha uma mesa com as roupas da mulher e suas armas.
A menor se aproximou da mesa e olhou para sua jaqueta, sorrindo de canto.
— Com certeza!
7 horas antes
— Essa é a planta do local, como já havíamos estudado, essas são as melhores entradas.— dizia a preta, indicando os locais no mapa.— Blood, você e eu entramos por aqui,— apontou para uma escotilha no teto, ao lado de uma cúpula de vidro. — faremos como o planejado, sonífero nos convidados e funcionários, assim que a Rose der o sinal.
A raposa concordou, assim como o homem negro, que usava curtos dreads — também conhecido como Blood.
— Invadir uma festa de gala e colocar geral para dormir, não tem diversão melhor para essa noite. — comentou Blood, sorrindo enquanto olhava um mecanismo robusto com um cilindro no meio. — Só puxar a alavanca e ativa, né? — perguntou, olhando para a mulher ruiva ao seu lado.
— Exatamente.— respondeu ela, tranquilamente.— Aqui, lembrem das máscaras.— completou, estendendo quatro máscaras; duas eram menores, em um formato padrão para humanos, enquanto outra era mais longa, sendo entregue a loba, que sorriu de canto e aceitou; Rose pegou a sua, apenas mais larga que as outras duas.
— Obrigada, Rage.— disse a loba, piscando para a ruiva, que revirou os olhos, negando.
— Certo, quando todos estiverem dormindo, Rage e Scarlett irão para o escritório, peguem as cartas e esqueçam o resto. Rose, já que vai estar infiltrada na festa, roube o máximo de pertences que conseguir dos convidados. Faremos muito dinheiro com isso. Com tudo pronto, deixamos nossa assinatura e vazamos. Alguma dúvida? — disse a menor, relaxando na cadeira e mexendo levemente em suas tranças.
— Para quê são essas cartas mesmo? — questionou Blood.
— É o material que o representante do Ornel quer, disse que vai ajudar a manter os políticos longe daqui da periferia… — explicou, com os pés na mesa. — Imagino que seja alguma prova de corrupção ou sei lá.
— Invadir uma festa para pegar papéis… — começou Rage, arqueando as sobrancelhas.— Espero que seja realmente eficaz.
— Rage, minha ruivinha linda, relaxa.— disse Scarlett, sorrindo para a ruiva.— Vamos acabar com o barato dos granfinos, tirar onda com a cara deles, pegar uma grana, uns papéis pra acabar com a mamata e cascar fora; vai ser lindo.— disse divertida.
— A festa é o único momento em que as cartas estarão juntas, então fica tudo mais fácil. Sem contar que a grana vai ser muito boa… — disse Red, se erguendo, indo até a sacada do local, olhando para uma grande construção em um mármore branco com uma cúpula de vidro ciano no topo, iluminada por holofotes. — Vamos?
— É, acho que já tomamos muito o tempo do nosso amigo aqui. — brincou Blood, mexendo no rosto do dono da cobertura onde estavam, que se encontrava desacordado. — Francamente amigo, seu gosto para decoração é bem questionável. — disse, abriu uma gaveta no gabinete, pegou uma garrafa de whisky e tomou um gole. — Que nojo, bebida chique! — reclamou e jogou a garrafa no chão, vendo o líquido se espalhar pelo tapete.
— Blood… — Reclamou Red, sorrindo de canto e o olhando.
— Vamos logo. — disse Rage, que se levantou da poltrona roxa e apertou em um pingente, preso a testa, com seu rosto se iluminando por um breve momento e uma máscara, de um demônio, com grandes presas e chifres, apareceu em seu rosto, como se fosse o rosto natural da garota.
— Vamos, vamos!~ — disse Scarlett, sorrindo e cobriu seu rosto com uma máscara de cervo.
— Só se for agora… — concordou Blood, pondo o capuz e seguindo com eles até a sacada.
Os cinco subiram pela sacada parando no topo do prédio por um momento, admiraram a cidade iluminada pela noite e então respiraram fundo, sabendo que aquilo não fazia parte de suas realidades. Eles seguiram pelos telhados, com Blood e Red seguindo pelos prédios mais altos, enquanto Scarlett e Rage iam por trás, e Rose descia para um beco, com uma mochila.
A raposa pegou um vestido chique com um convite e se trocou, seguindo calmamente para a fila de convidados. Red e Blood pararam no telhado do local, observando diversos garçons indo de um lado para o outro enquanto os convidados começavam a se espalhar pelas salas.
Rage e Scarlett foram por trás, como o combinado. Elas observaram os funcionários que levavam o carregamento para dentro do espaço, por uma porta. As duas se olharam, com a animaliana sorrindo, louca para começar um caos.
— Foco, Scarlett! — sussurrou Rage, já imaginando o que se passava na mente da loba, sem nem precisar olhar para o rosto dela.
Ao entrar no local, Rose deu uma volta, se certificando onde os guardas se encontravam e a proteção para o escritório. Com tudo pronto, ela seguiu até o salão principal, entrando na vista de Red e Blood, e então chamou um senhor para dançar.
— Esse é o nosso sinal. — comentou Red, se erguendo e pegando o mecanismo que guardava o sonífero.
— Depois de você. — comentou Blood, abrindo a escotilha e dando espaço para que a menor entrasse.
Eles desceram em um pequeno caminho para manutenção da parte interna do telhado, seguindo até uma grade que dava acesso aos tubos de ventilação. A preta pegou uma chave inglesa e desparafusou a proteção, pondo a mesma ao lado e já vestindo a máscara de gás. O maior fez o mesmo e então pegou o mecanismo, puxando a alavanca e o jogando no duto.
Foi possível ouvir o som do metal se colidindo ecoando pelo salão, chamando a atenção de todos presentes. Rose se afastou do senhor e sorriu para ele, pondo sua máscara de gás, enquanto notava o sonífero começando a tomar conta do lugar.
Enquanto as pessoas entravam em desespero, e até tentavam fugir, mas acabavam por desmaiar antes de chegar na porta, Scarlett colocou a máscara de gás e invadiu o local por trás, junto a Rage. As duas subiram as escadas, rumo ao escritório.
Ao chegar na porta, as duas viram os guardas desmaiados, tudo era tão fácil, como tirar doce de bebê. Scarlett abriu a porta facilmente, destrancando-a como se tivesse a chave certa para isso. A animaliana ficou do lado de fora, enquanto Rage entrava na sala, indo direto para a mesa, abrindo as gavetas, até achar um cofre trancado, atrás de um quadro.
— Scarlett.— chamou e a loba entrou, sorrindo de canto, caminhou até a ruiva e fez sua mágica, abrindo o cofre, onde encontraram as cartas, junto com jóias e bastante grana.
Rage pegou as cartas, guardando em suas vestes.
— Vamos!
— Mas olha isso aqui, tem muita grana!— disse Scarlett, sorrindo.
— Red disse para pegarmos apenas as cartas, vamos logo!— disse Rage, seguindo para a porta, por onde saiu.
No entanto, Scarlett não resistiu a tentação, pegando uma caixa de jóias, guardado em seus bolsos, então seguiu para fora, junto com Rage.
As duas seguiram para o salão principal, encontrando os outros três companheiros saqueando os convidados desacordados.
— Tudo feito. — disse Scarlett, sorrindo.
— Ótimo… agora só falta assinar! — disse Red, sorrindo e pegando um spray vermelho do bolso de seu casaco e indo até o centro da sala. — E… pronto. "Tava precisando de um pouco de vermelho nessa festa p&b. GCV". — leu em voz alta e então olhou para os outros. — Vamos para as docas, encontrarei o representante da Ornel lá para entregar as cartas.
— Cara, isso foi tão fácil. — comentou Blood. — Nem precisei bater em ninguém, poxa. — reclamou de forma leve, enquanto subia as escadas.
— Né? Seria tão legal explodir algo! — concordou Scarlett, sorrindo.
— Por isso que vocês dois nunca serão uma dupla. — disse Red, rindo levemente e indo com eles até a janela, passando pela mesma e começando a andar cuidadosamente pela beirada.
— Nem quero imaginar o caos que seria, caso esses dois fizessem as coisas sozinhos. — brincou Rose, acompanhando a líder.
— O caos é lindo, seus estraga prazeres.— reclamou Scarlett.
Rage não disse nada, apenas andando com eles, ainda pensativa sobre o quão fácil tudo tinha sido.
O grupo seguiu pelos telhados, admirando as ruas da cidade, eram limpas e repletas de pessoas bem vestidas e despreocupadas, com calçadas seguras de piso brilhante. Eram cativados pelos carros andando pela parte asfaltada, uma invenção tão nova e intrigante, sendo possuída somente pelos Guardiões e pessoas do mais alto escalão.
Ao chegarem no telhado de um prédio de quatro andares, em frente às docas, Red os parou.
— Certo; daqui eu vou sozinha. — disse ela, olhando para os outros.
— Ué, mas por que isso? — questionou Blood.
— O representante quer que o encontro seja o mais discreto possível, para garantir que não iremos levantar suspeitas. — explicou ela. — Rage, as cartas, por favor. — pediu, estendendo a mão para a ruiva.
— Ainda acho tudo muito estranho. Tem certeza que não prefere que eu vá?— questionou a ruiva, tirando as cartas de seu bolso, olhando delas para a mulher mais nova.
— Isso iria estragar toda a negociação. Sem contar que, todos nós sabemos nos cuidar e eu sou a que melhor sabe falar aqui. — disse sorrindo, pegando as cartas. — Volto já.
Red rapidamente desceu o prédio, deslizando pelo telhado, aterrissando em um parapeito e pulando para o chão em seguida. Ela seguiu até a entrada das docas e atravessou o portão, esperando o representante chegar ao local. Cerca de trinta minutos depois, um homem de roupas comuns parou ao lado dela.
— Trouxe as cartas? — questionou ele, se apoiando na mureta.
— Está com o pagamento? — retrucou ela, olhando para o mar.
— Está ali dentro. — disse, indicando uma entrada para a parte onde era posta os carregamentos. — Podemos ir até lá.
— Hum. — murmurou Red, olhando para o homem de cima a baixo. — A quanto tempo trabalha para Ornel? Nunca te vi antes… — questionou ela, com uma feição séria.
— Há cerca de três meses. Por que? — perguntou ele, a olhando.
— Normalmente o próprio Ornel vem solicitar os nossos serviços. — disse ela, puxando uma arma da parte de dentro do seu casaco e apontando para o rosto do homem. — Em três meses você não estaria fazendo um negócio tão importante. — afirmou ela, sorrindo de canto. — Acha que é o primeiro novato que tenta tirar vantagem de uma situação dessas? Não é fácil desse jeito.
O homem ergueu as mãos em rendição, se mostrando tranquilo com a situação.
— Agora. — afirmou ele.
Naquele momento, diversos guardiões saíram da construção, apontando armas para Red, que se viu cercada e sem opção. Lentamente, a jovem pôs a arma no chão e se ajoelhou, com as mãos atrás da cabeça. Ao longe, os outros quatro observavam a situação, surpresos, vendo que não teriam chances para atacar, devido ao número de guardiões no local, restando somente assistir Red ser algemada e posta em um carro da polícia. Os carros começaram a andar, saindo das docas, com os outros quatro rapidamente os acompanhando pelos telhados, visando não perdê-los de vista.
— Caralho, isso foi inesperado. — comentou Blood. — A primeira vez que um de nós é capturado desde começamos. — disse enquanto corria pelos telhados, se desviando de obstáculos pelo caminho.
— Agora, sim; vamos bater em alguém!— disse Scarlett, sorrindo de canto, enquanto pulava uma chaminé.
— Eu falei que tinha algo errado.— disse Rage, negando.— Mas vocês não me escutam, não é?!— deslizou por uma telha quebrada e pulou em outro telhado.
— Não é essa a questão. Red sabia o que tava fazendo, mas como iríamos imaginar que o cara estaria com guardiões? Nunca teve um infiltrado antes! — comentou Anny, enquanto passava por debaixo de um duto de ventilação.
— Gente, paz e amor, por favor.— pediu Scarlett, sorrindo.— Vamos pegar a Red de volta e seguir com nossas vidas.
— Não acredito que vou dizer isso… mas vamos evitar confronto. — disse Blood, sem tirar os olhos do carro. — Ser detectado em uma base guardiã é pedir ou para também ser preso ou morrer, e nós não queremos isso.
— Ih… tá falando que nem ela. — brincou Scarlett. — Será que o vírus mandona dela passa pela saliva? — completou, rindo.
— Precisamos de um plano, estão levando ela para o porto.— observou Rage, correndo pela fiação.
— Vamos ver o que nos espera, a partir daí dá pra pensar em alguma coisa. — sugeriu Rose.
Os outros concordaram e seguiram até o porto, observando toda a movimentação do local pelos telhados, enquanto tentavam ficar fora do campo de visão das janelas. O carro que levava Red parou em um grande pátio, com uma grande aeronave ao fundo, tendo uma casca muito semelhante a de um barco, porém priorizando aerodinâmica, com cataventos ao fundo e um grande balão em cima, lembrando um zeppelin.
— Vão colocá-la em uma skyship? Pra quê? — questionou Rose, confusa.
— Fiquei sabendo que iria ter uma reunião do parlamento com a ditadora, lá em Traven… talvez queiram levar Red como um troféu. — cogitou Blood olhando o local. — Tem gente demais para tentarmos algo agora, nossa melhor chance seria se infiltrar no momento de partida e agir quando a skyship já estivesse em céu aberto…
— E como retornar ao chão?— questionou Scarlett.
— É só pegarmos os equipamentos de segurança deles.— disse Rage.— Temos que ser rápidos, pois se cairmos no mar, o problema será outro.
— Realmente. Agora é madrugada, eles só irão partir ao amanhecer… temos tempo para voltarmos ao Mil em Um, guardarmos o saque e pegar mais alguns materiais. O que acham? — sugeriu Blood.
— O que estamos esperando? Essa é a pergunta certa.— disse Scarlett, que sorriu de canto e olhou os companheiros.
— Vamos! — disse Rage, indicando que adiantassem.
Os quatro saíram do local, percorrendo os telhados em conjunto, em direção a parte pobre de Zion, que era separada da parte rica por um grande canal artificial, simulando um rio. Ao chegarem na ponte que dividia as áreas, eles passaram por cima, evitando a barricada de guardiões que revistam qualquer um que passar para o outro lado, sendo somente cidadãos permitidos. Então a grande desigualdade pôde ser vista. Se antes eram ruas limpas e iluminadas, com uma arquitetura bonita e planejada, agora eles viam vielas sujas mal iluminadas, utilizando ainda óleo de baleia ao invés de eletricidade, prédios mais simples, quando não eram puxadinhos malfeitos, pessoas com roupas simples, com caras suspeitas.
O crime dominava aquele local, era preciso conhecer as pessoas certas para sobreviver, eles seguiram pelos caminhos mais discretos, evitando zonas de outras gangues, enquanto todos os olhavam, aquelas roupas eram símbolo de respeito na região. Após um tempo, chegaram uma região um pouco melhor iluminada, com várias lojas e casas. As pessoas os olhavam sorrindo, porém um pouco confusos por sentirem falta da última integrante do grupo. Então eles entraram em um bar, que estava fechado, localizado em um prédio largo de três andares, com uma placa acima do andar térreo onde estava escrito "1001".
Assim que Scarlett fechou a porta novamente, todos tiraram o que encobria seus rostos. Rage acendeu uma luz, seguindo para uma passagem atrás do balcão do bar, a abrindo e descendo, para onde os cinco guardavam suas coisas da gangue.
— Que bom que eu adoro fugir um pouco do plano~— disse Scarlett, sorrindo divertida e entrando no espaço logo em seguida, tirando das calças as jóias que havia pego, além do dinheiro.— Eles queriam que deixássemos toda essa grana lá, até parece que eu deixaria.— brincou, colocando tudo sobre uma mesa de madeira, enquanto Rage ligava a luz do porão.
— Bem, nem vou reclamar.— disse a ruiva, indo até um pequeno espelho quebrado na parede, pegando um pote perto dele e o abriu, passando o conteúdo sobre sua cicatriz no olho esquerdo, a mesma estava cicatrizada, mas bem avermelhada no momento.
— Rage, na sua oficina ainda tem as bombas de fumaça? — questionou Blood. — Vai ser bem útil na hora da fuga…
— Deixa que eu pego~— disse Scarlett, sorrindo e indo em direção a porta de cobre com um grande aviso de “Não entre!”.
A loba nem chegou perto da porta e uma faca passou perto de seu rosto, rente ao olho e cravou na placa.
— Leia! — mandou, deixando o pote com a pomada na mesinha e foi na direção dela, arrancando a faca da porta e a guardou de volta.— Estou esperando…
— “Não entre”... — disse a loba, se encolheu.
— Então pronto, boa garota! — a ruiva abriu a porta e entrou na oficina, voltando pouco depois com algumas bombas e uma sacola. — Aqui.
— Obrigado. — disse o maior, sorrindo. — Pelo o que ouvi, eles devem partir às 6 da manhã… estaríamos lá às 5, então temos quatro horas para descansar e se preparar. — disse ele, tirando sua jaqueta.
— Essa madrugada o Mil em Um não vai abrir, então. — comentou Rose, se sentando em uma poltrona.
— Que maravilha. — disse Scarlett, deitando no sofá de couro, deixando as pernas sobre o encosto das costas e ficando com a cabeça pendida de cabeça para baixo.
— Me chamem na hora de irmos.— disse Rage, se enfiando em sua oficina.
— Vou subir para tomar um banho. — disse Blood, indo até a porta. — Qualquer coisa, me falem. — comentou, tranquilo.
— Vou para minha biblioteca. — informou Anny.
Os quatro se ocuparam com passatempos do cotidiano, sem se preocuparem muito.
4 Horas depois
A gangue já havia se armado e os quatro estavam prontos para irem atrás da líder do grupo; com os rostos encobertos, eles saíram pelas ruelas da parte pobre de Zion, com os moradores — que já começavam a abrir o comércio local ou saiam para o trabalho — os olhando com admiração e preocupação. A peça vermelha, que os da gangue carregavam, era como um manto sagrado para aquela região; eles garantiam que as pessoas dali tivessem benefícios que só os ricos — do outro lado — tinham, benefícios básicos, como segurança e boa iluminação.
Quando os quatro chegaram ao porto, eles viram que o skyship ainda estava ali, assim como os guardiões. O plano já estava formado e eles só precisavam agir.
Rage olhou seu relógio de bolso e mostrou aos outros.
— Em três minutos.— avisou, preparando-se para quando ela e Blood fossem invadir a aeronave.
— Nos vemos em 16 minutos. — disse Rose, se erguendo.
— Finalmente, vamos roubar um carro! — comentou Scarlett, animada. — Eu amo esse tipo de fugas. — completou, enquanto seguia Rose.
As duas seguiram pelos telhados, indo para uma parte da cidade que faria parte do trajeto da skyship. Blood e Rage foram se aproximando da aeronave, enquanto notavam as movimentações dos soldados, preparando a mesma para voo. A atenção de ambos se voltou para uma movimentação na porta do prédio, onde viram Red algemada, sendo levada por um grupo de guardas para dentro da skyship. Então a oportunidade certa apareceu, quando todos os funcionários responsáveis pela manutenção saíram e começaram a soltar as correntes, liberando a nave para subir, Blood e Rage pularam em uma janela do casco, entrando em um pequeno quarto.
— Ok, tudo certo. Essa skyship é bem maneira, se encontrar algo que dê pra roubar, não tem porquê ignorar. — comentou Blood, sorrindo de canto. — Vou para a ala das velas, até daqui a pouco. — completou, abrindo a porta com cautela e olhando o corredor.
Momento atual
Red vestiu sua jaqueta e pegou suas armas, já tendo vestido suas roupas costumeiras. Ela e Blood seguiram pelos corredores, nocauteando com facilidade qualquer um que entrasse no caminho deles.
— Qual o plano? — questionou a preta.
— Vamos para o convés; encontraremos Rage lá, batemos em uma galera e depois pulamos. — respondeu tranquilo, enquanto nocauteava um guardião com uma coronhada na nuca.
— Scarlett e Rose? — questionou, enquanto chutava o queixo de outro e corria com o parceiro para o destino deles.
— Elas devem estar roubando um carro agora para usarmos como fuga. — respondeu, enquanto olhava a porta que dava acesso ao convés. — Ficamos com inveja que você andou em um, então resolvemos ter nossa própria experiência. — brincou.
— Ah, claro, foi super glamuroso o meu passeio.— disse Red, sorrindo de canto e então deu um rápido selar em Blood.
— Será que dá para adiantarem? — questionou Rage, abrindo a porta e os encarando.
— Relaxa, Rage. Tá ansiosa pra bater neles, é? — disse Blood, rindo levemente.
— Não, eu já bati neles.— disse a ruiva, não muito interessada, entrando onde haviam dois homens, presos um de costas para o outro, apagados e só de cueca; outros guardiões também estavam caídos e ela puxou três equipamento de paraquedas. — Temos dois minutos.
— Dois minutos, é? Então ainda temos um tempinho… eu não vou deixar você sair daqui com toda a diversão. — disse o maior, indo até o centro do convés com uma de suas pistolas na mão e dando três tiros para o alto. — Vamos brincar mais um pouco. — completou, rindo.
Os tiros alertaram todos os outros guardas presentes na skyship, demorando poucos segundos para que eles começassem a aparecer no local e partirem para cima dos três.
Rage revirou os olhos, encostando-se na parede e observou Blood lidar com a maioria a base da força bruta, então Red acertando tiros certeiros em pontos não vitais. A ruiva só veio a agir quando foi atacada diretamente, quebrando o braço do guardião como se não fosse nada.
— Acabou, vamos! — chamou, vestindo o paraquedas.
— Senhores, foi um prazer. — disse Blood, se despedindo dos guardas e pondo o paraquedas. — Eu amo essa parte.
— Não, você ama o caos. — disse Red, também colocando os paraquedas.
Rage revirou os olhos, pegando as bombas de fumaça.
— Vão se foder, otários! — mandou para os guardiões, jogando as bombas e então pulou, sendo seguida pelos outros dois.
Os três pularam, aproveitando a queda livre por um momento e então puxaram o paraquedas, descendo suavemente, guiando para um pequeno estacionamento, onde Scarlett e Rose os esperavam, dentro de um carro conversível.
— Foi divertido. — disse Blood, aterrissando e soltando o paraquedas no chão. — Que tal jogarmos esse carro no rio, quando chegarmos na fronteira? — sugeriu, enquanto admirava o veículo.
— Que desperdício.— disse Rage, olhando a máquina, admirada.
— Olá, Red~— disse Scarlett, sorrindo para a preta, mas com normalidade, como se tudo fosse apenas um dia comum; e era.
— Scarlett. — cumprimentou, sorrindo de volta. — Vamos adiantar, Blood já me falou que não abriram o 1001 nessa madrugada, então temos que recuperar a grana perdida. — disse ela, entrando no carro.
— E jogar esse carro no rio! — complementou Blood, sorrindo, notando o olhar de reprovação da ruiva. — Deixa de coisa, não tem nem como levarmos esse carro pro outro lado. — completou, se sentando ao lado de Red.
Rage parecia indignada, não só parecia, como de fato estava. Ela sentou com os outros e deixou que Rose dirigisse até um local seguro. Eles colocaram uma pedra sobre o acelerador e deixaram o carro ir sozinho para o fundo do rio.
Voltando ao distrito vermelho, com a quinta integrante de volta ao grupo, eles seguiram ao 1001; as pessoas pareciam mais tranquilas por verem Red e os cumprimentavam. Os cinco entraram no estabelecimento, começando a se preparar para abrirem, enquanto alguns funcionários começavam a chegar, com o bar abrindo às 8 da manhã, servindo café da manhã. Red e Blood subiram para o segundo andar, enquanto Anny ficava anotando pedidos dos primeiros clientes.
Rage seguiu para a oficina, onde guardou as coisas; saiu pouco depois, avistando as joias pegas por Scarlett, dentre elas um colar de diamantes azulados; essa joia se destacava entre as demais pegas pela loba.
— Linda, não é?! — indagou a animaliana, entrando no porão e se aproximou da ruiva.— Tem certas peças que dão até pena de vender, mas não vivemos no luxo dos de lá para poder manter coisas superficiais.
— É… — a ruiva nem prestava tanta atenção na amiga, estava tentando lembrar se em algum momento viu um colar como aquele antes. — Esse colar… Lembro de ver um parecido, quando éramos crianças.
— Ah, Asterin, qualquer rico que tenhamos visto poderia ter algo assim.— retrucou a outra, sem dar importância.
— Hum… Difícil. No entanto, não lembro de um colar com tantos diamantes e ainda azuis… Enfim, não importa.— concluiu Asterin, deixando o colar sobre a mesa.— Não vá fazer a venda sozinha, hum?! Chame o Blood.— avisou, seguindo para o elevador.— Vou ver como está o Flor de Mel.— disse e puxou a porta de ferro, colocando a alavanca para cima e a máquina fez o resto.
Ao chegar ao primeiro andar do prédio, a garota pôde ver uma porta de madeira e passou por ela, se encontrando em um comprido; próximo a uma escadaria, de onde vinha o som do bar, havia uma outra porta de madeira, mas esta era polida, por onde a ruiva seguiu, passando por debaixo de um letreiro com “FM” escrito em luz neon; o espaço estava vazio, tirando pelas poltronas e o bar, aquela era só a entrada para o “Flor de Mel”, um bordel planejado e muito bem requisitado, sob as ordens de Rage. Toda a área tinha sido estética e eficientemente realizada pela ruiva, que fazia questão de, não só, manter o local bonito, atrativo e aconchegante, como também trazer benefícios para a gangue e para a comunidade do distrito vermelho; ali era um espaço frequentado por mais do que as mazelas da baixa, como também por muitos importantes da alta — pessoas endinheiradas e corruptas — sendo fontes de muitas informações úteis para a GCV.
Trabalhar em um lugar como aquele poderia de fato não parecer algo propício para aquela mulher, visto seu temperamento e hobbies, no entanto, era justamente isso que a tornava a melhor ali; ela conseguia balancear a frieza necessária para os negócios, e o calor para atrair quem quisesse envolver em sua lábia traiçoeira. Ela não apenas administrava, como também atuava, de todas, a mais cara.
Estralando os dedos das mãos, ela se direcionou ao bar, verificando as bebidas e os aperitivos, antes de averiguar os quartos, não apenas o que atendiam aos mais endinheirados, pois tudo tinha que se manter limpo, organizado e o mais justo possível; ela não deixaria que as pessoas de sua comunidade ficassem em um local desagradável só por não cobrar tanto deles quanto dos ricaços. Após toda sua inspeção, sabendo que seus funcionários fariam outra ao chegarem, ela seguiu para uma porta pintada de vermelho escuro, numa área menos acessível, abrindo e tendo acesso ao seu escritório; era uma sala comum, uma mesa no centro com uma cadeira maior, de estofado negro, e uma outra na frente, menor, mais baixa; havia uma estante com livros atrás de sua cadeira — a qual ela foi se sentar —, a maioria ela não tinha lido, pois nem todos continham um assunto de seu interesse, no entanto ela os mantinha ali, porque ainda poderiam ser útil em um momento em que sua mente se encontrasse travada em algo pouco proveitoso.
Naquela sala também havia um vaso de planta, assim como a mulher presente nela, era uma das mais resistentes, que sobreviveriam — como ela sobreviveu — a circunstâncias severas, fizesse muito ou pouco sol; a rosa do deserto florescia lindamente, algo que a ruiva sempre acabava se perdendo em admirar; ela poderia ser bruta, raivosa — como seu próprio codinome —, mas, ainda assim, ela mantinha o equilíbrio sobre seus gostos, desejos — mesmo os mais assassinos — e anseios; infelizmente, ela ainda tinha que lidar com muitos traumas, aos quais ela lutava para silenciar. Uma porta ao fundo da sala também era visível, atravessá-la possibilitaria a visão de um quarto, esse que Asterin usava para realizar seus serviços. No mais amplo, era apenas aquilo, mas nada era tão raso quando o Flor de Mel abria.
Após algum tempo admirando a flor e se perdendo em seus pensamentos, a ruiva pôde ouvir o som do elevador mover, em seguida passos lentos em sua direção, com Scarlett parando na porta, com os olhos arregalados.
— Eu tô traumatizada… — disse ela, olhando para a amiga. — Eu vi Evangeline de quatro, algemada, enquanto Michael macetava ela sem dó. — informou, sem acreditar. — Eles nem sequer me notaram… como alguém tão pequena aguenta aquilo, Asterin? Cê tem mais experiência, vai saber explicar, né? —completou, se sentando na outra cadeira, com uma feição assustada.
A ruiva arqueou as sobrancelhas, olhando para a amiga por um tempo, então riu.
— Não se faça de santa, Otsana.— disse negando.— Ele nem deve conseguir colocar tudo, de todo modo. — deu de ombros.— E você certamente tem mais experiência em ser “macetada”. — alegou.
— Quando eu tô no cio é uma coisa, mas ver vocês humanos fazendo é muito estranho! — reclamou a loba, choramingando.
— Veja, eles estão no cio.— brincou a ruiva, sorrindo de canto, mexendo em um cubinho.— Só que o cio deles dura 24 horas, 7 dias por semanas.
— Não faz nem sentido! — reclamou. — Francamente, eu não merecia ter visto isso.
— Você tem uma ótima audição, por que se aproximou?— questionou a ruiva, rindo da cara que a loba fazia.— Você deve odiar o Flor de Mel em funcionamento.
— Eu tava desatenta, pensando nas jóias… não sei como não ouvi, ela tá se acabando lá. — disse negando. — E sempre que você abre esse inferno barulhento, eu coloco várias bandas para tocarem no bar, da pra inibir o som. — explicou, relaxando na cadeira.
Rage riu e negou.
— Os seres humanos fazem sexo por prazer, você pelo cio, mas nunca teve um filhote. Se empolga mais e daqui a pouco os animalianos ficaram tão… Pervertidos quanto nós.— disse sorrindo e deixou o cubo na mesa, se levantando da cadeira e suspirou. — Hoje eu nem estou afim de lidar com esses caras…
— Hum…~ E quando você está? — questionou Otsana, rindo.
— Olhe… — começou a ruiva, então suspirou e deu de ombros, indo até a janela, perto da rosa, e olhou a vista da baixa do distrito Zion. — Ah, sei lá.
— Mas pelo o que você fala, eu entendo. — disse se levantando. — Você só transa com gente podre que não está nem aí pra você.
— Uma mão lava a outra, eles ficam tão altos em seu próprio ego inflado e contam tudo. — disse a ruiva, sorrindo para a loba. — São tudo um bando de imbecis hipócritas e sujos.
— Realmente… isso que faz esse lugar ser o melhor para sabermos o que está rolando na parte alta. — disse ela, indo para o lado da amiga, olhando a vista. — E podermos ajudar eles… — completou, indicando o distrito.
— É por isso, e só por isso, que eu não saio metendo a porrada em alguns.— disse suspirando e riu.— Vem, vamos descer, a Anny deve estar sozinha no bar e eu estou com fome.— disse, empurrando Scarlett para fora do escritório, seguindo com ela para o andar de baixo.
— Bem melhor, tava dando para ouvir os gemidos de Evangeline… — disse Otsana, entrando no bar.
Rage revirou os olhos, rindo.
— Como está ai, Anny? — questionou, olhando a raposa.
— Tudo de boa… poderiam me ajudar nos pedidos? Eu fico na cozinha. — disse ela, anotando os pedidos.
— Claro.— disse a ruiva, indo para o balcão e colocando o avental, tomando o bloquinho da mão da raposa.
— Vamos lá, Asterin!~— disse Otsana, ficando ao lado da menor, também pegando um bloquinho e seguindo para atender os clientes.
Do outro lado da cidade, onde antes a gangue havia atuado, agora tudo se encontrava quieto, ou talvez nem tudo.
— Vocês são todos inúteis! — esbravejou o homem que aparentava estar em seus plenos 50 anos; ele possuía uma cicatriz que ia do meio de sua testa até o meio de sua maçã do rosto esquerda, usava uma bengala, tinha fios loiros, começando a ficar grisalho.
Este mesmo homem se encontrava na skyship, com os guardiões à sua frente, com os rostos abaixados, muitos machucados, outros nem podiam estar ali. Ele os encarava com raiva, todo seu plano de provar que ele conseguia ter um controle mais efetivo sobre os rebeldes de Zion havia ido por água abaixo, pois a líder da maior gangue havia escapado por entre seus dedos.
— Vocês são incompetentes e irão pagar por me fazer perder tamanho trunfo que eu tinha entre as minhas mãos! — declarou o líder.
— Senhor… — chamou uma voz ao lado dele, que olhou para quem ousava falar com ele em meio ao seu discurso de ódio; o rapaz ao seu lado tinha cabelo escuro e usava o uniforme padrão dos guardiões, ele não olhava para o senhor nos olhos. — Lamentamos o ocorrido, no entanto, muitos dos guardiões se lesionaram muito para poderem cumprir sua função, então eu devo solicitar ao senhor que permita que eu chame mais deles.
— Me atrapalhou para isso? Se essa é a sua função, apenas chame e chame apenas os úteis, porque de inúteis essa aeronave já está cheia.— disse o líder.
— Sim, senhor MacGyver.— concordou o rapaz, afastando-se e aproveitando da mudança de foco para instruir aos seus companheiros uma ação que desencadearia na liberação deles.
— Vão logo, bando de incompetentes. — não deu em outra.
O rapaz seguiu para fora do convés, indo para a sala de comando, onde mandou um sinal para Zion, solicitando mais guardiões. Um jovem loiro, de pele pálida, estava logo atrás, analisando a situação atenciosamente. Ele usava vestes elegantes,calça de sarja, uma camisa social branca de seda, com um colete azul marinho por cima, que haviam estampas em prata bordadas. Em seu pescoço ele utilizava uma corrente com um pingente em forma de brasão, o brasão dos MacGyver.
— O que aconteceu, Nyrag? — questionou o loiro, se aproximando do defensor que estava apoiado na mesa, ao lado do rádio.
— A gangue do Casaco Vermelho atacaram para pegar a líder.— respondeu o moreno, suspirando e negando.— Seu pai está uma fera, melhor não fazer nada que possa o deixar mais irritado.
— Hum… uma pena. — disse ele, negando. — Teve alguma parte positiva nisso, pelo menos?
O moreno olhou o loiro por um tempo, parecendo pensativo.
— Não que eu saiba. Eu fui acertado por um chute no rosto pela Rage, sabe, a com máscara de demônio; — disse, apontando para um ferimento no rosto — ela me acertou como se não fosse nada. Ah, e ela é ruiva, por sinal. — lembrou, visto que os cartazes eram em preto e branco.
— Ai… — disse rindo levemente. — É uma ruiva bonita? — questionou, sorrindo de canto.
— Como vou saber? O rosto dela tá com uma máscara de demônio; eu achar isso atraente seria estranho, no mínimo.— disse o moreno, arqueando as sobrancelhas.
O loiro riu e negou.
— Vai saber, acho que você tem tara por apanhar para uma mulher bonita. — brincou. — Próxima vez vocês conseguem pegá-los… e sobre aquilo que conversamos? — disse, com o tom mais baixo na última parte.
Nyrag suspirou e negou.
— Você quer me complicar, só pode… Mas tá, beleza…
— Eu não quero te complicar, eu só quero descobrir sobre o que tem do outro lado. Também, ouvi alguns dos homens que trabalham com meu pai falando que eles iriam para lá e eu quero entender como e porque. — indagou, ainda que falasse baixo.—Sabe que eu não vou permitir que nada aconteça com você, você é como um irmão para mim.— afirmou, estendendo a mão para o outro, que sorriu de leve e apertou a mão dele.
— Cometa um erro, Zadkiel, e eu vou dar um soco bem forte nesse seu rostinho bonito. — alertou o guardião, pondo uma mão no ombro do amigo.
— Relaxe, isso não será necessário.— garantiu o loiro, sorrindo divertido.— Não vou te dar esse gostinho.
— Quando voltarmos para Zion, eu te levo para lá. — disse o maior, negando. — Eu vou me arrepender disso.
— Não vai, não.— disse Zadkiel, sorrindo, empolgado com a ideia.
— Eu já estou.— declarou Nyrag, negando e suspirando.
Horas mais tarde, outros empreendimentos no Mil em Um foram se abrindo, com cada membro da GCV administrando um deles; Evangeline tomava conta de um pequeno estúdio de tatuagem que ficava na área do bar, com uma sala dividida por paredes falsas, propondo privacidade o suficiente para seus clientes; era um hobbie para a líder da gangue, que era extremamente habilidosa naquilo, tendo uma demanda interessante ao longo do dia, com os preços rodando entre 100 à 1000 franz, dependendo do tamanho do desenho. Michael tomava conta de um clube de luta que ficava nos fundos do bar, sendo uma das principais atrações para a grande massa que frequentava o local; era um espaço que lembrava um galpão, com um ringue no meio, cercado por painéis de madeira até a altura da cintura e blocos de feno espalhado pelo chão; um palco, acoplado ao ringue, tomava conta de uma das paredes, com um grande placar ao fundo, que era comandado por um painel rústico e repleto de alavancas que comandavam as plaquetas de madeira que indicavam os valores das apostas e chaveamento dos pequenos torneios que serviam de atração.
Asterin observava seus funcionários, desde o pessoal da limpeza aos que atuavam com os clientes; o local ainda não estava aberto, mas não demoraria para o mesmo entrar em funcionamento e ter clientes indo e vindo por todo o bordel. A ruiva conversou com quatro de seus funcionários, dentre eles um homem e uma mulher — Lynn e Chloe — que cuidavam dos clientes da comunidade e outros dois — Leo e Reyna — que atendiam aos ricos da parte alta; eles eram os “líderes” dos outros, gerenciando os pedidos e funcionamento de cada área em relação ao gosto e pedido de quem quer que aparecesse por ali. Após a conversa, tomada por verificações se tudo estaria nos conformes, a chefe se direcionou ao escritório, entrando logo em seguida no quarto, onde tomou banho.
Quando terminou o banho, pegou um de seus vestidos no armário, este que era claro, mas muito refinado — pego em um dos roubos—, sem decote, mas com um caimento que deixava o início dos seios fartos exposto — podendo-se ver até o começo de sua tatuagem, localizada entre eles—; além disso, a peça possuía duas aberturas laterais, deixando sua tatuagem, de uma cobra e flores de cerejeira — localizada do meio de suas coxas até seu quadril—, bem evidente. Vestiu-se, cobrindo seu corpo cheio de curvas; ela não era magra, tão pouco gorda, tinha o corpo perfeito do jeito que tinha para ser a fonte dos maiores desejos dos ricaços que frequentavam seu bordel; passando uma maquiagem leve e arrumando seus fios, deixando-os soltos, calçou um salto alto, e seguiu para fora do quarto, fechando a porta e se dirigindo para sua cadeira, onde sentou-se, cruzando as pernas e se reclinando sobre o encosto, podendo fechar os olhos e relaxar por alguns instantes.
À medida que a abertura do Flor de Mel se aproximava, o torneio do clube da luta afunilava. O local estava repleto de pessoas vibrantes pelo confronto, enquanto se embriagavam com o alto volume de bebidas que passavam naquela parte. No ringue era possível ver dois homens lutando na final do torneio, um deles muito alto e robusto, enquanto o outro era menor e mais magro, porém extremamente ágil, sendo notoriamente difícil de ser acertado pelos pesados golpes do oponente. Após diversos golpes rápidos do menor lutador, o mesmo tropeçou em uma garrafa de cerveja que havia sido jogada no ringue e caiu, dando brecha para o maior nocauteá-lo com fortes pancadas na parte da cabeça, levando o público à loucura.
— E… temos o vencedor da noite! — afirmou o narrador, que estava sentado na mesa onde tinha o painel, falando em um microfone que estava à sua direita. — Andyson acaba de ganhar o grande prêmio do dia! Sorte de quem apostou nele, hein?! — continuou, animado. — Porém… existe uma possibilidade de ganhar muito mais dinheiro, ainda hoje! — alertou, notando a atenção do lutador, que estava na torcida, ir diretamente para ele. — As regras são simples: enfrente nosso anfitrião, Michael, em uma luta onde vale: O TRIPLO OU NADA! — afirmou, apontando para Blood, que estava em um canto do palco, assistindo a luta com um sorriso.
A torcida clamava pelo embate, incentivando o lutador a aceitar o desafio. Michael era um cara alto, com pouco mais de um metro e oitenta, possuindo um físico forte e atlético, porém, o vencedor da noite era um sujeito que passava dos dois metros, com um físico que misturava gordura e músculo, passando um ar intimidador. Andyson, impulsionado pela massa que o assistia e julgando Blood um cara muito pequeno para causar problemas, abriu os braços e sorriu.
— Derrotar só mais um para ganhar três vezes mais?! — questionou, olhando para a torcida, enquanto se aproximava do palco, batendo o braço no mesmo. — Mas é claro! Pode vir, nanico!
Michael sorriu ainda mais, se desencostando da parede, enquanto dava sinal para um dos garçons, indo até o centro do palco em seguida, olhando para o oponente.
— É desse tipo de lutador que eu gosto! — exclamou o preto, sorrindo.
O garçom ao qual Blood havia alertado saiu do clube, indo em direção ao bar onde Otsana e Anny estavam.
— Senhoras, o triplo ou nada vai começar! — informou ele, rapidamente.
As duas se mostraram animadas, preparando ainda mais bebidas e então a loba foi até o meio das mesas.
— Atenção, pessoal! O triplo ou nada vai começar! Aqueles interessados no confronto ainda têm a chance de apostar! — disse ela, que logo em seguida viu boa parte dos clientes indo para os fundos para testemunhar o confronto.
Anny, Otsana e Evangeline também seguiram para assistir, ficando no palco para uma visão privilegiada.
— Ainda bem que foi bem no meu horário de descanso. — disse a preta sorrindo. — Quanto tempo acha que vai demorar? — perguntou para as amigas.
— Hum… acho que esse vai ser mais difícil de nocautear. — disse Anny, se encostando na parede.
— Não chega nem à dois minutos. — afirmou Otsana, negando.
Com todos os interessados no local, o narrador se levantou após comandar as alavancas, animado.
— E como vocês já sabem, vocês também apostam valendo o triplo ou nada! — exclamou, indicando o placar que ainda rodava com os valores postos no confronto. — Se Andyson vencer, é o triplo para ele e vocês! Se perder, é nada! — completou, dando espaço para Michael no palco, que começava a tirar a camisa.
O preto jogou sua peça de roupa para o lado, revelando diversas tatuagens em seu corpo, que fechavam os dois braços, subindo para o peito que também era fechado, se alongando pelos trapézios e terminando na nuca. Com ambos no ringue, o alarme soou, dando início ao confronto. Michael se mostrava tranquilo, com uma postura relaxada e guarda baixa, enquanto olhava para seu oponente nos olhos, com um sorriso debochado. Andyson tentou seu primeiro golpe, que foi facilmente evitado pelo menor, se esquivando e provocando o combatente logo em seguida.
— Parceiro, assim você não acerta nem uma lesma. — caçoou, enquanto se movia levemente de um lado para o outro.
O vencedor da noite fechou sua expressão, tentando o golpear novamente, e mais uma vez errando. No entanto, após essa esquiva Michael acertou dois socos rápidos na costela, que fez o oponente grunhir e se afastar.
— Que foi? O nanico tá batendo forte é? — brincou, fazendo uma expressão triste.
— Vai se fuder! — reclamou o maior, avançando em direção a ele com raiva.
Mais uma vez, Blood desviou e dessa vez acertou um chute no joelho esquerdo do oponente, que levou a área do golpe ao chão, deixando o rosto exposto para um forte soco na cara que recebeu na sequência. Andyson cambaleou, se apoiando em um dos braços para não cair.
— Tem certeza que vai ser difícil nocautear? — questionou Evangeline para a amiga, rindo levemente.
— Talvez eu tenha sido um pouco otimista. — disse a raposa, olhando para a menor.
Michael se afastou e abriu os braços para a torcida, que vibrava a cada golpe, uns por desespero, outros por alegria de ver o confronto. Irritado e querendo mostrar que ainda era capaz de lutar, Andyson se levantou, apesar de ainda tonto, e avançou para cima de seu oponente, — ao qual estava de costas — buscando agarrá-lo, porém recebeu uma cotovelada em sua maçã do rosto, o fazendo cair, com o rosto no encontro de paredes do ringue. O público vibrou, aquele golpe tinha sido muito pesado e já julgavam o vencedor da noite incapaz de lutar, porém com ele levantando mais uma vez, completamente zonzo, mas sem querer aceitar a derrota.
— Você ainda tá insistindo? — perguntou Michael, o olhando de cima a baixo. — Orgulhoso, hein?!
— Vem pra cima, seu merda! — chamou, enquanto se apoiava nas placas de madeira.
O preto negou, rindo levemente e então correu e saltou, usando a parede do ringue como apoio, acertando um forte soco no rosto do oponente, o fazendo apagar de vez. Blood abriu os braços, comemorando a vitória, enquanto a torcida ia à loucura com o combate.
— Senhoras e senhores, e o resultado do triplo ou nada de hoje é: Nada! — anunciou o narrador. — Parece que a ganância falou mais alto dessa vez, não é?! — disse, enquanto via o lutador ser retirado do ringue pelos colegas e Michael voltando para o palco. — Com isso encerramos nosso principal evento da noite! Agora os confrontos menores poderão ser abertos para o público aproveitar!
Blood recuperou sua camisa que havia jogado ao chão e então foi conversar com as garotas que haviam visto o confronto.
— E aí, o que acharam do triplo ou nada de hoje? — questionou ele, sorrindo.
— Foi divertido. — disse Evangeline, dando um selinho no maior.
— Você brincou muito com ele, dava pra ter nocauteado logo depois do primeiro soco na cara. — disse Anny, sorrindo.
— Você fala como se Michael fosse querer encurtar uma luta. — comentou Otsana, rindo. — Foi maneiro.
— Eu até tentei deixar o combate mais longo, mas tinham tantas brechas que eu não podia desperdiçar. — comentou o maior, seguindo com as garotas para o bar.
— Eles sempre acham que você não vai conseguir, e olhe que você é alto e forte.— observou Otsana, rindo.
— Estão com um ego alto demais para analisar a situação da forma certa. — comentou, entrando no bar e pegando uma garrafa de licor. — Sem contar a grana envolvida e a galera querendo apostar mais. — disse servindo a si e às mulheres.
— Dinheiro e ego são a ruína de muitos. — afirmou Evangeline, aceitando a bebida.
— É por isso que conseguimos tantas informações.— sussurrou Otsana, sorrindo de canto, indicando o andar de cima com a cabeça.
No Flor de Mel a cena era outra. De um lado, havia um palco com homens seminus dançando em frente à outros homens e mulheres, que iam se cativando pelos rapazes e os chamavam para os quartos; do outro havia mulheres, servindo bebidas com roupas reveladoras, e buscando seduzir aos homens e mulheres daquele lado. Asterin ainda estava em seu escritório, sentia dor de cabeça e nenhuma vontade de lidar com os clientes do bordel, ainda mais com a música alta que escutava vir do lado de fora, quase desejando se trancar no quarto e dormir um pouco; no entanto, para seu desgosto naquele momento, ela era a chefe e precisava se fazer presente naquele local.
Levantando-se de sua cadeira, ela abriu a porta e segui para fora, vendo seus funcionários, cumprimentando o segurança que ficava ao lado de sua porta. Ela chamou uma mulher, que se aproximou, essa estava bem vestida, com o corpo preto coberto e os fios loiros e cacheados presos em um rabo de cavalo alto.
— Como estão as coisas?— questionou Rage a ela.
— Tudo indo bem, nenhuma confusão, os pedidos só aumentam e os quartos estão cheios.— disse a outra, sorrindo para a chefe.— E temos mais contratos assinados para novos clientes.— disse, indicando dois homens e uma mulher, claramente da alta.
— Ótimo, me informe caso tenha algum problema, Rachel.— pediu e acariciou o ombro dela, voltando a andar e passando por entre os clientes, muitos desses que a comeram com os olhos.
Quando chegou em frente aos novos clientes, sorriu de canto, os olhando do mesmo modo que eles a olharam: avaliando o quanto valiam. Ela reconheceu um dos rostos, o homem à esquerda da mulher, maduro, aparentando ter por volta dos 40 anos, com o cabelo escuro e uma barba bem feita, esse trabalhava na câmara de Zion, um político menor, não muito significante, mas que poderia saber de algo útil para a gangue.
— Boa noite, eu sou Asterin, chefe do Flor de Mel, espero que tenham uma boa experiência aqui.— declarou ela, olhando para o homem, que também a olhava.
— Se você fizer parte dela.— declarou o outro, fazendo o homem à direita da mulher rir e concordar.
Asterin não negaria o quão irritada ela ficava com aqueles caras, para eles, tudo no distrito vermelho era lixo, mas na hora de usar e abusar do que tinha nele, eles não perdiam tempo; ela sorriu mais, olhando-o nos olhos.
— Se você puder bancar.— condicionou, sorrindo divertida.
Ela sabia como convencer pessoas como aquele cara, eram orgulhosos e não admitiriam que alguém declarasse que ele não fosse capaz de fazer algo, ainda mais quando o assunto era dinheiro. O semblante do homem mudou logo, ficando com um sorriso perverso e os olhos escureceram.
— Isso não é um problema para mim, garanto.— disse ele, rindo.
— Bem, veremos.— disse Asterin, fazendo um manejo de cabeça e se afastou, indo até Rachel.— Entregue o gold e o rubro para eles.— pediu e a maior concordou, sorrindo.
— Sim, senhorita.— disse e se afastou, indo atrás do que foi pedido.
Enquanto isso, a ruiva sentou-se no bar, de costas para o balcão, com as pernas cruzadas, definindo a grossura de suas coxas e marcando mais a tatuagem na lateral de seu corpo; ela observou as pessoas, inclinando-se para trás, chamando o barman.
— O de sempre.— pediu e ele sorriu para ela, concordando e indo preparar a bebida da mesma; logo entregou uma taça com um líquido rosado por conta de vários morangos, que ela começou a tomar.— Obrigada.
— Por nada, senhorita. — disse o barman, indo atender as outras pessoas, enquanto a mulher bebia sua bebida, tranquilamente.
Ao olhar para o lado ela notou o homem, com quem conversara antes, aproximando-se dela com um cardápio em mãos.
— É só isso? — questionou ele, mostrando o cardápio, sorrindo perverso.— Eu pagaria até mais por você, gracinha.— disse se inclinando na direção dela, que ergueu a mão e então abaixou quatro dedos, balançando o indicador.
— Você só pode usufruir do que pagar… — disse, deixando a taça no balcão e se levantou.— Então pague e depois conversamos.— estabeleceu, indo para o escritório, olhando para trás apenas para fechar a porta dele, sorrindo de canto para o homem, que ela sabia já ter ganhado.
Quando a Skiship posou novamente em solo Zioniano, todos dentro dela, começando pelo senhor MacGyver, seguiram para fora, buscando entrar na mansão do chefe do parlamento, que não estava nem um pouco mais animado.
— Eu acho que eu posso ir agora.— começou Zadkiel, olhando para Nyrag.
— Olha, não é nenhum pouco boa ideia! Seu pai está revoltado e não traçamos nenhum plano para isso.— retrucou o guardião, falando baixo com o amigo.
— Nyrag, vamos, me ajuda. Estou ansioso, não aguento esperar mais tanto tempo.— insistiu o loiro.
— Zadkiel, deixa de putaria! Amanhã você pode ir e com algo melhor do que “vamos morrer” como plano.— declarou o moreno.
— Amanhã eu vou de novo, se der certo, mas eu não quero esperar mais e você concordou em me ajudar! — lembrou ao amigo, insistindo naquela ideia, olhando-o nos olhos e falando baixinho, enquanto andavam para a lateral da mansão.
— Você tá achando que vai encontrar o que lá, hein?! — indagou, ainda que sussurrando. — Um bando de gente amigável e feliz?! Sair agora e com essas roupas é pedir para morrer com um tiro na primeira viela. Vão encontrar seu corpo só depois, quando ele já estiver completamente nu e com todas suas roupas vendidas! — disse, o olhando sério. — Não é que nem aqui, Zadkiel… a realidade da periferia é bem diferente.
— Quando eu era pequeno, encontrei pessoas boas lá! — retrucou o loiro, o olhando convicto. — Eu…
— Você deu sorte! Muita sorte! — exclamou o maior. — Vou te dar um exemplo do tipo de gente que tem lá. — disse, sentando o amigo em um confortável banco que ficava em uma sala de leitura. — No ataque da manhã, um dos membros da Gangue do Casaco Vermelho, Blood, alertou a posição dele e de sua gangue na skyship. Sabe por que? Eu vou te dizer o porquê. Porque ele queria bater em mais guardiões! Sabe o que ele fez?! Deixou cinco guardiões em uma cama de hospital com traumatismo craniano! Outros três com o braço quebrado e rosto inchado de tanta porrada! Eu dei sorte de ter apagado logo no primeiro golpe! O que você acha que iria acontecer com você se encontrasse um cara desses, hein?! Esse é o tipo de gente que você vai encontrar lá, Zadkiel! Pessoas que não estão nem aí para porra nenhuma e que vão tirar proveito de você. — afirmou Nyrag, um pouco ofegante por conta da velocidade de sua fala.
O loiro o olhou por um tempo, processando as informações que haviam sido ditas e a preocupação do amigo em relação a sua segurança.
— Eu entendo… — disse o menor, pensativo. — Mas isso só comprova como eu tenho que ir para lá. Se quero ajudar minha nação, como vou fazer isso sem olhar todas as realidades? — indagou, se levantando. — Já que é tão perigoso, venha comigo! Você tem mais experiência, vai saber me guiar pelos locais certos. Assim não vou me meter em nenhum lugar onde não devo.
O guardião o olhou por um tempo e então levou uma das mãos ao rosto.
— Puta que pariu, é como falar com uma criança de três anos… — comentou, negando. — Eu vou te levar. Mas somente dessa vez, para você parar de fogo no cu e não fazer merda tentando ir sozinho. — completou, se afastando.
— Isso! — disse o acompanhando, sendo impedido pelo amigo em seguida.
— Acha mesmo que vai entrar lá com essas roupas? — questionou, rindo levemente, mas por desespero. — Em meia hora, me encontre na praça. Seja discreto, ouviu porra? — completou, saindo.
— Sim, senhor. — disse o loiro, rindo baixinho e seguindo para seu quarto.
Enquanto isso, no Flor de Mel a ruiva tinha que lidar com aquele mesmo homem; como sempre, ele falou várias e várias coisas para a menor, mas no fim o único a se satisfazer após toda uma atividade de vinte minutos. Por outro lado, a ruiva havia adorado saber que Zygarde MacGyver estava possesso por ter perdido seu troféu, a única coisa que realmente a divertiu naquela transa, além do dinheiro fácil.
— Foi muito bom poder te ter, gracinha.— disse o homem, fazendo Asterin ter que se conter muito para não revirar os olhos ou fazer uma careta.
— Fico feliz.— respondeu, dando o melhor sorriso que conseguia.— Volte sempre e divulgue os nossos serviços.— indicou, abrindo a porta do escritório e acenou para ele.
— Farei questão de retornar. — disse ele, se aproximando mais dela, que se inclinou para trás.— Nem um beijinho, gracinha?
— Só o que pagar, lembra?— indagou ela, sorrindo de canto e ele riu.
— Não me deixe excitado novamente.— ameaçou e ela abaixou a cabeça, rindo de leve, mas aproveitando para revirar os olhos, com uma careta de nojo, então ergueu o olhar novamente.
— Imagina… Eu não aguentaria outra rodada.— disse, o que só fez aumentar o ego do homem, que riu e concordou.
— Claro. Até outro dia, gracinha.— disse ele, piscando e saindo da sala, enquanto a ruiva fechava a porta e suspirava.
— Argh, que nojo! — declarou, ficando toda arrepiada e seguindo de volta para o quarto, onde arrancou todos os lençóis da cama, deixando-os no chão, e seguiu para o banheiro, onde tomaria um banho decente.
Quando ela saiu do banheiro, o quarto estava arrumado e uma peça de roupa limpa estava sobre a cama, esperando para ser vestida. Ela olhou para o lado e viu Rachel, sorrindo para ela.
— Ai, o que eu seria sem você, Rachel.— disse indo até a mulher e segurou sua mão, a apertando.— Obrigada.
— Bem, agradeça a quem limpou, só escolhi sua roupa.— disse a loira, sorrindo divertida.
— Agradeço a todos e todas, então. Sério… Argh! Que homem asqueroso! — disse a ruiva, deixando a toalha sobre a cama e se trocando.— E ele era insistente em fazer coisas que não havia pagado e, pior, que estavam fora de qualquer coisa que eu ofereço. Arrombado!
— Depois você pede para um dos rapazes cuidarem de você quando fecharmos.— sugeriu Rachel, sorrindo de canto, vendo a chefe se arrumar e então rir.
— Não seria uma má ideia, mas tudo que eu quero é descansar, não durmo desde antes de ontem.— reclamou e olhou para a preta, que a encarava séria.
— E ainda reclama que está cansada! Porra! — Rachel reclamou, negando.— Quando fecharmos, você vai para cama dormir e eu cuido do resto, hum?!
Asterin até pensou em negar, mas era uma oferta boa demais para ela recusar, ainda mais quando ela quase havia dormido enquanto o cara se matava para arrancar um gemido dela.
— Tá… Beleza… Agora eu preciso de uma bebida.— disse e terminou de se arrumar, indo até a amiga e tocou seu ombro.— Obrigada, você é a melhor!
— Eu sei.— respondeu, sorrindo divertida, enquanto as duas seguiam para fora.
Zadkiel se trocava no quarto, procurando pelas roupas mais comuns em seu guarda roupa, porém todas que ali estavam seriam o maior dos chamariz do outro lado do rio. Após se trocar às pressas, pegou um pequeno bloco de notas e um lápis, saindo rapidamente do quarto em seguida, com o coração disparando em seu peito, com um misto de ansiedade, felicidade e receio. Apesar de ter livre acesso, o jovem optou por sair sem que chamasse muitas atenções, até por não saber o horário ao qual voltaria para a casa.
Ele seguiu pelas belas ruas, limpas e iluminadas de Zion, até chegar em uma praça, em frente a uma igreja, onde se sentou e ficou observando as pessoas enquanto esperava o amigo. Alguns minutos depois, Nyrag apareceu com vestes simples e uma bolsa, indo em direção ao loiro que o olhava com um sorriso animado.
— Caraca, que demora! Tava ansioso. — disse Zadkiel, se levantando rapidamente.
— Vamos logo, antes que eu me arrependa. — disse o moreno, seguindo. — Quando chegarmos perto da fronteira, você vai se trocar com as roupas que eu trouxe e esconda seu rosto, pelo amor de deus. — informou, enquanto seguia pelas ruas.
— Certo! Então, você já foi lá quantas vezes? — questionou o menor, curioso.
— Os guardiões só entram na periferia se algo muito ruim acontecer. As pessoas que comandam o lugar não gostam de nós por lá… como não queremos uma guerra, ficamos na nossa. Por conta disso, só fui uma vez e foi tenso. — respondeu, enquanto procurava um local escondido.
— O que aconteceu? — perguntou ele, ainda mais curioso.
— Tínhamos que interceptar um carregamento de drogas que estava afetando os portos, quando chegamos no local, estava repleto de bandidos tomando conta do lugar… rolou uma briga forte, muito tiro e muita porrada… o armamento deles era impressionante. — afirmou enquanto virava em um beco, abrindo a mochila e entregando as roupas para o amigo. — Se troca.
— Aqui? — disse surpreso, olhando em volta.
— Claro. Tava esperando um banheiro? — ironizou, rindo levemente.
— Ah, sei lá… continua a história aí, por favor. — pediu, enquanto começava a se trocar.
— Bem, eles tinham armas bem potentes, do tipo que só o primeiro escalão tem. Tivemos que fazer uma retirada e uns dias depois o marechal informou que a missão não iria prosseguir por ordens superiores… francamente, às vezes não entendo o porquê disso. — disse, suspirando levemente e negando. — Tá pronto aí?
— Sim, sim. — disse o loiro, terminando de pôr a camisa. — Roupas bem diferentes. — comentou, enquanto analisava vestes simplórias e de material barato.
— Roupas para se camuflar lá. — afirmou, escondendo a mochila em um canto atrás de uma caçamba de lixo e então seguindo com o amigo.
Ao chegarem na barricada, Nyrag conversou com um dos guardas, que era seu amigo, mentindo que Zadkiel era um metalúrgico e que estava interessado na irmã do mesmo, então iria passar a barricada para conhecê-la. Apesar de um pouco relutante, o guardião autorizou a passagem de ambos, que rapidamente seguiram para longe da barricada.
— Minha irmã é uma criança, seu pedófilo! — brincou o loiro, vendo o amigo revirar os olhos.
— Eu precisava de uma desculpa para te acompanhar, seu porra. — retrucou, rindo levemente.
— Claro, claro… — disse o menor, olhando o entorno. — Depois de tantos anos… aqui estou de novo. Tá bem escuro, né? — comentou, olhando para o amigo.
— Cara, você vai ver que aqui é quase como se fosse outra cidade… — disse Nyrag, negando.
O guardião foi conduzindo o amigo pelas vielas, tentando evitar qualquer tipo de contato humano, olhando sempre o entorno para garantir que não estavam sendo seguidos. Zadkiel analisava o local atentamente, notando que praticamente todos os estabelecimentos estavam fechados, podendo ver somente aqueles considerados ilegais, abertos. Enquanto seguiam pelo caminho, puderam ouvir uma conversa vinda de um beco.
— Nyrag, espera! — sussurrou o loiro, se encostando na parede para ouvir melhor.
— Isso não é da nossa conta, Zadkiel! — retrucou o maior, tentando puxá-lo.
— Só escuta, porra! — disse, indicando o beco.
Na viela, era possível ver dois grupos de homens, com os aparentes líderes conversando. Todos estavam armados, com uma variedade grande, de cada lado.
— O senhor Ornel já deixou bem claro que a parte do chefinho de vocês vai ser garantida. — disse um dos líderes, se apoiando em uma caixa de madeira, que um de seus comparsas levava em um carrinho.
— Vou falar mais uma vez, caso você tenha algum problema nessa sua audição. A porcentagem para produzir essa droga fodida de vocês na área do grande Isak aumentou, porra! Ou você fala para o balofo do Ornel para entregar 20% do valor, ou podem procurar outra fábrica! — intimou o outro líder, aparentemente, sem paciência.
— Deveria ter mais respeito ao falar de alguém que pode matar a sua família, parceiro. Imagina como o senhor Ornel iria reagir ao saber da ofensa que você desferiu a ele? — ameaçou, onda esquerda.
— Eu moro na parte do Isak, acha mesmo que ele iria deixar o chefe de vocês fazer algo comigo? — retrucou, o da direita, rindo.
— Não sei, você acha que é tão importante assim para ele? — questionou o líder da esquerda, com um sorriso irônico.
O líder da direita parou subitamente, pensando no que havia sido dito e então olhou para o outro líder, com raiva.
— 20%! Ou podem fazer essa grindor de vocês em outro lugar! — alertou, saindo logo em seguida.
Zadkiel se mostrou extremamente interessado na conversa e então olhou para o amigo.
— Grindor? O alucinógeno? Aí ó! Agora você tem uma informação importante sobre uma das drogas que você luta! Te ajudei, trouxa. — disse o loiro, sorrindo divertido.
Nyrag o olhou sério e então suspirou.
— Vamos…
Asterin se entretia com o show no palco de dança, observando os dançarinos, enquanto ela bebia uma bebida sem álcool. Um de seus funcionários se aproximou dela, um homem alto, forte, de pele escura e com o uniforme de segurança.
— Senhorita, temos um problema. — sussurrou e ela o olhou, arqueando as sobrancelhas.
— O que houve?— questionou.
— Um dos clientes está acusando a Sabine de roubar um anel dele.— disse e a ruiva grunhiu baixo, deixando a taça no balcão e se levantou.
— Vamos.— disse e seguiu na direção dos quartos gold.
— Eu não quero saber! Eu quero o meu anel!— ela já pôde escutar o homem gritar.
O corredor estava com bastante pessoas, todas curiosas.
— Com licença.— pediu Asterin, vendo a Sabine nua, no corredor, e foi até ela, envolvendo seu corpo com seus braços.— Talib, busque algo para ela.— pediu ao homem que havia ido avisá-la do ocorrido e o mesmo concordou; então ela se voltou para os clientes.— Por favor, podem voltar para seus quartos, peço perdão por todo o inconveniente.
— Inconveniente? Essa puta me roubou! Eu quero falar com o dono, imediatamente!— disse o cliente de Sabine, que a ruiva encarou em seguida, era um velho barrigudo, com algumas jóias em seu corpo.
— Prazer, a dona.— disse, estendendo a mão para o homem, que a olhou de cima a baixo.
— Claro, só podia uma puta cuidar de outras! Eu quero o meu anel!— disse o homem e Asterin suspirou, olhando Sabine, que negou com a cabeça.
— O que o senhor pensa que somos? Olhe, minha funcionária não pegou nada, o senhor mesmo está vendo que ela não está com nada para poder esconder qualquer jóia que seja. E eu peço que baixe seu tom comigo, pois aqui você assinou um contrato e qualquer dano a essa propriedade, que inclui os meus funcionários, terá que ser arcado pelo senhor. — afirmou a mulher. — E difamação também conta como tal.
— Como é que é? Ela me rouba e eu que tenho que pagar? Me poupe, sua puta! Você deveria me mamar para que eu não conte para os outros o quão ruim é esse lugar.— disse, já levando a mão para cima de Asterin, que agarrou o braço dele, soltando Sabine, e o entortou, jogando-o contra a parede e o prendeu lá.— Ai, aí… Isso está doendo!
— A partir de agora, você não é mais bem-vindo ao Flor de Mel, ou ao 1001, não coloque mais seus pés imundos neste lugar, ou farei questão de contatar a GCV para baní-lo do distrito vermelho e mostrar todos os seus podres para a comunidade da alta!— ameaçou a ruiva, apertando mais o braço dele.— Saía de uma vez e não volte mais aqui!
Ela o chutou, derrubando-o e o homem, quando se levantou, saiu a xingando de tudo quanto é nome, antes de correr para fora do Flor de Mel; bem nessa hora o funcionário retornou com uma toalha em mãos e passou pelos ombros de Sabine.
— Você está bem?— questionou Asterin à mulher.
— Estou… Obrigada… — disse suspirando baixo e a ruiva concordou.
— Não me agradeça. Agora vá tomar um banho e pode ir descansar, hum?! — indagou e a mulher concordou, saindo em seguida.— Talib, peça para limparem o quarto.— pediu ao homem, que concordou.
A ruiva suspirou e negou, se retirando e indo se enfiar em seu escritório, sua cabeça explodia em dor.
Zadkiel se questionava o motivo para aquela região ser tão negligenciada pelo governo, o porquê de ainda usar um método ultrapassado para iluminação, ou ruas tão mal cuidadas. Enquanto seguia com o amigo por uma das ruas, o loiro voltou sua atenção para três homens à frente, batendo em um outro, notoriamente mais fraco que os agressores. Aquilo fez com que o jovem queimasse por dentro, uma irritação forte surgiu e ele estava decidido em intervir.
— Zadkiel, não… — o guardião foi interrompido pelo amigo.
— Ei! Seus covardes, o que estão fazendo?! — exclamou o loiro, se aproximando.
Os três voltaram suas atenções para o filho do representante, o olhando de cima a baixo.
— Tá maluco, magrelo? — disse o do meio, indo para perto dele. — Cuida da tua vida, mermão, não se mete no que você não sabe. — alertou, se virando.
Nyrag se aproximou, checando se os agressores estavam desarmados, o que parecia estar.
— Desculpem, meu amigo bebeu, não vamos atrapalhar. — disse o guardião, tentando puxar o menor para longe.
— Que porra é essa, cara? — indagou o loiro, o olhando. — Não vou deixar esses cuzões baterem em alguém indefeso!
O mesmo que havia alertado no primeiro momento, agora se aproximou acompanhado dos outros dois colegas.
— Você nos chamou de quê, loirinho? — indagou, enquanto notava Nyrag se afastar com o amigo.
— De cuzões! — repetiu Zadkiel, tentando se soltar.
— Puta que pariu! — reclamou Nyrag, o soltando.
— Vocês tão fudidos! — disse o do meio, avançando para cima deles com os amigos.
O guardião se pôs em posição de combate, ao lado do amigo, buscando protegê-lo de qualquer marca. O loiro percebeu o problema que tinha acabado de se meter, também se preparando para lutar. Nyrag avançou contra dois dos homens, buscando aliviar a situação para o amigo, acertando um soco no rosto do primeiro, enquanto tentava bloquear o golpe do segundo. O terceiro avançou em direção a Zadkiel rapidamente, enquanto o loiro se mantinha sem reação, não sabendo como agir. Um soco foi desferido no rosto dele, o fazendo cair, com o agressor ficando por cima, o impedindo de levantar, dando mais socos no bloqueio do loiro.
Vendo a situação do amigo, Nyrag pegou um pouco de areia no chão, jogando no rosto dos dois oponentes e então avançou contra o terceiro, dando um chute na cabeça dele, o fazendo cair.
— Vem, corre! — exclamou o guardião, puxando o amigo para levantar e começando a correr.
— Vamo pegar eles! — disse um dos que enfrentava, puxando o outro para correr, deixando o terceiro no chão.
Nyrag e Zadkiel correram pelos becos, buscando despistar os perseguidores, jogando alguns entulhos que encontravam no caminho, para atrasá-los.
— Caralho, Zadkiel, você é um imbecil! Puta que pariu! — reclamou Nyrag, enquanto corria.
— Você queria que eu só ignorasse o cara apanhando? — retrucou o loiro, seguindo o maior.
— Você nunca lutou na vida, porra! Como você achou que isso daria certo?! Não à toa que apanhou! — disse, enquanto chutava mais algumas madeiras, as fazendo cair atrás deles.
Eles correram por alguns minutos, para garantir de que não estavam mais sendo perseguidos e então pararam em um beco, com Nyrag colocando o amigo contra a parede.
— Seu idiota! — exclamou o maior. — Olha a merda que você fez! — disse, indicando o olho inchado e um lábio partido no rosto do loiro. — Como você vai explicar essa merda pros seus pais, hein?!
— F-Foi mal, cara. Eu não pensei direito, mas não poderia deixar aquilo acontecer! — explicou o menor.
— Você poderia ter morrido, caralho! E se eles estivessem armados? Você iria parecer um queijo de tanto buraco! — reclamou o maior, o empurrando. — Nós vamos embora, agora! E nunca mais me peça para vir aqui. — disse, começando andar.
— Já? Ainda temos tempo, pode…
— Você acha que tá em posição de reclamar, porra?! — indagou, o olhando nos olhos. — Cala a porra da boca e vamos embora! Agora! — intimou, se virando.
Zadkiel engoliu seco, vendo seu amigo irado e suspirou.
— Certo… — disse se encolhendo e seguindo o guardião.
— Por favor, não me fale que tem mais problemas.— pediu Asterin, olhando Talib, que negou.
— Não, senhorita.— disse e abriu mais a porta, deixando uma funcionária passar, com a bandeja em mãos.— Rachel mandou chá para a senhorita.
A ruiva suspirou aliviada e sorriu grata.
— Obrigada e agradeça a ela.— pediu, estendendo as mãos e pegando a xícara.
— Por nada.— disseram ambos os funcionários.
A moça saiu e o homem continuou ali, olhando a chefe tomar a bebida.
— Melhor ir descansar, posso pedir que tirem o rubro de circulação e Rachel, eu e os outros cuidamos de tudo.— sugeriu.
A mulher o olhou por um tempo e suspirou, concordando.
— Você e sua irmã são uns amores, obrigada.— agradeceu, voltando a tomar o chá.— Eu vou me deitar, mas, qualquer coisa, me chamem, por favor.— pediu e terminou de beber, deixando a xícara sobre o pires e seguiu para o quarto.
— Sim, senhorita. — disse, ouvindo a porta ser fechada atrás de si, enquanto ela entrava no quarto, perfeitamente limpo e que malmente parecia ter sido usado para algo além de dormir.
Ela fechou a porta e se arrastou para a cama, arrancando o vestido do corpo, chutando os saltos e se jogou entre os lençóis limpos, se cobrindo e aconchegando-se ali, não demorando nada para dormir.
O clima era pesado, os amigos seguiam pelas ruas sem dizer uma única palavra, enquanto Nyrag ia guiando pela saída. Após algum tempo andando, o silêncio desconfortável foi interrompido por um homem gordo esbravejando na rua a frente a deles.
— Aquela puta! Quem ela pensa que é?! — esbravejou, enquanto era acompanhado por um homem e uma mulher.
Aquela voz era conhecida para o loiro, que parou curioso, querendo garantir que não era um engano.
— Nyrag, vem cá. — chamou, enquanto ia se aproximando, se apoiando na parede.
— Cara, não começa… — reclamou o guardião, revirando os olhos.
— É sério! Você vai querer ver isso. — disse, puxando o amigo.
Nyrag resistiu um pouco, mas cedeu, olhando o que o amigo chamava e arregalando os olhos logo em seguida.
— Esse cara… é o deputado Trevor? — indagou, um pouco perplexo.
— Sim! Escuta o que ele tá falando… — pediu o amigo, se atentando ao político.
— Eu perdi a porra do meu anel e ela ainda teve a audácia de me banir do 1001! Ela realmente acha que tem poder para isso?! Aquela desgraçada só sabe dar a porra da buceta! Deve ser toda larga e esfolada! — reclamou, chutando uma garrafa. — Eu vou voltar lá… ela vai pagar por tamanha humilhação!
— Do que ele tá falando? — questionou o guardião, olhando para o amigo e arqueando as sobrancelhas. — Você tá escrevendo? — questionou, um pouco surpreso.
— Tô anotando o que ele disse… — respondeu o loiro, enquanto via o político se afastar. — Se ouvi certo, ele falou algo em relação a algum lugar… chamado "mil em um". Conhece algum lugar com esse nome? — questionou, olhando para o maior.
— Não sei e você também não vai saber. — disse ele, voltando a seguir o caminho.
— Ei, como assim? Você não quer saber o que um membro da câmara estava fazendo em um puteiro? — indagou o loiro, o acompanhando.
— Ele tava transando, porra. — respondeu Nyrag, de forma seca.
— Não é disso que eu tô falando, caralho. E se tiver algo ali que faça a gente descobrir algo? Sei lá, uma corrupção? Não te interessa nem um pouco? — insistiu Zadkiel.
— A única coisa que me interessa agora é sair daqui. — rebateu o amigo. — E garantir que você não vai voltar para esse lugar.
— Ai, estou mortita.— disse Otsana, sentada no balcão, já havia passado das 01 da manhã e o bar havia fechado para dar descanso e troca de pessoal.
Agora os donos poderiam descansar e deixariam seus funcionários leais cuidando de tudo para eles, com exceção do Flor de Mel, que ainda continuaria funcionando até às 05h da manhã.
— Rachel avisou que a Asterin estava cansada e foi dormir, então ela e o irmão estão cuidando das coisas por lá.— disse Evangeline, entre os braços do namorado.
— Ainda bem… ela não dorme a dois dias, acho. Tava na hora de descansar… — comentou Michael, enquanto fazia um leve cafuné na nuca da menor. — Vamos ver o Ornel amanhã? Acho que ele tá precisando explicar sobre mais cedo.
— Com certeza, esse arrombado!— declarou Otsana, concordando.
— Vamos com calma, hum?! Para tudo tem uma explicação e é muito pouco provável ele querer prejudicar uma aliança tão favorável para ele.— indagou Evangeline.
— Hum… realmente. — disse o maior, pensativo. — Mas essa explicação tem que ser bem boa. Até porque seu rosto foi exposto, não podemos deixar essa informação chegar aqui na periferia… — comentou, com um leve sorriso aparecendo em seu rosto. — Acho que temos um trabalho a fazer quando amanhecer.
— O que se passa nessa sua mente perturbada, grandão?— questionou a namorada, arqueando as sobrancelhas.
— Bem, os cartazes com seu rosto ainda estão em produção… isso não é bom para nós. Então… talvez explodir os locais onde estão produzindo pode ser uma boa ideia. — sugeriu, descendo para a mão boba.
— Uh, explodir, legal!~— disse a loba, sorrindo animada pela ideia.
— Explodir? Bem, talvez, temos que ver com a Asterin se ela tem o necessário para isso e precisamos de um plano.
— Asterin é cheia de bombas naquela oficina e você consegue criar um plano bom em pouco tempo… — disse dando um selinho na preta, enquanto apalpava. — Podemos analisar o local pela manhã e explodir pela tarde… que tal?
— Hum… Pode ser… — respondeu a menor, se contendo ao máximo.
— Certo, então eu vou para o meu quarto, boa noite.— disse Otsana, saltando do balcão e seguindo para o outro andar, correndo para não ouvir nada do Flor de Mel.
— Também vou, boa noite.— disse Anny, seguindo os passos da loba.
— Ai ai… — Blood riu, negando. — Tá cansada? — questionou ele, a olhando nos olhos.
— Não.— respondeu Evangeline, sorrindo para ele.
— Bem… vou te fazer cansar, então. — respondeu, a pegando no colo e seguindo com ela para o elevador, onde puxou a alavanca para o terraço.
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