Alguns diriam que foi o acaso, outros mais românticos talvez, diriam que fora o destino, os céticos, os desacreditados no amor, irão jurar que fora magnetismo puro e simples, uma reação física a aparência do outro, não necessariamente algo emocional.
Pouco importa, no entanto, o que tenho a contar, é que um encontro aconteceu, quer seja de corpos, fluidos ou alma, um encontro entre duas pessoas aconteceu, e ele aconteceu sem ensaios, sem esperas, sem o enredo de uma cena de cinema, sem o esbarrar na rua, sem os livros caídos ao chão, os cabelos soltos de um coque elaborado as pressas, ou o mocinho vestido em uma surrada jaqueta de couro.
Javier era o atual CEO da Sandoval Corporation, especializada na criação de jogos de múltiplas categorias e gêneros. Um homem que, aos trinta anos, era considerado um dos mais bonitos da atualidade e bilionário, por nascimento e mérito. Diferente do que se possa esperar, Javier não era um Playboy típico, não tinha uma fila de ex amantes, ou vivia constantemente nos tabloides por ser pego dirigindo bêbado, ou em baladas de cunho duvidoso. O nosso mocinho, era tímido e nunca havia tido um relacionamento verdadeiro, preferindo cuidar de sua mente, o que havia lhe rendido alguns diplomas e méritos elevados, como passatempo? Frequentava a academia constantemente e praticava esportes ao ar livre. Para quem o conhecia intimamente, Javier poderia ser considerado antiquado, simples e um homem de família.
Não tinha um tipo romanticamente ideal, aliás, era até mesmo avesso a casamento, ou assim pensava, visto que seu pai, havia colecionado alguns deles em toda a sua vida. Mas como todo romântico incurável, ele desejava encontrar alguém que visse além de cifras ao lhe olhar, que visse nele algo além de seus carros caros, ou seu corpo estrutural. Ele desejava encontrar alguém com quem compartilhar seus segredos, que lhe fizesse companhia num passeio no jardim, tolice, diriam. Mas não para ele, mas era algo que mantinha escondido. Até de si mesmo.
Até aquele dia, onde tudo mudou e de uma forma que nada, nem ninguém poderia prever
Enquanto um homem jantava em uma mesa cercada de conversas sobre negócios, acordos eram fechados, e sentia-se entendiado, uma mulher, de cabelos escuros, terninho levemente amassado e olhos verdes, descia do táxi, buscando no banco levemente desbotado, sua bolsa, ela paga o motorista e sai, elevando os olhos para a imponente fachada do The Westin Palace, o hotel cujo centro de convenções estava sendo alugado para uma sucessão de palestras e projetos, um dos quais, por motivos maiores, ela havia assumido de última hora.
Longe de se sentir desmotivada, apesar do calor que fazia, a mulher sorri, seu melhor sorriso e adentra o hall do mesmo, já estivera ali antes, em outra convenção, uma menininha assustada, ansiando por se livrar de um passado cruel. Agora era uma mulher, no alto de seus vinte e oito anos, formada e preparada para o que enfrentaria, pronta para entrar na cova dos leões do mundo dos negócios.
Após encontrar o cerimonialista, e deixar com ele seu material, a mesma foi até o bar do hotel, precisava de algo bem gelado e refrescante. Uma coisa era dizer a si mesma que estava pronta para falar sobre a importância do marketing dentro do ambiente de trabalho e as reações interpessoais, para alguns dos homens mais ricos do mundo, outra era realmente estar.
Não havia muito tempo que estava ali, quando se sentiu observada, e mesmo tentando, não conseguiu se conter, procurou pelo que, ou quem havia lhe causado tal sensação. E o encontrou, terno escuro, cabelos escuros, uma barba bem feita... Sentindo-se corar, desviou o olhar, para em seguida ver que logo se daria início ao evento…
— Hora de trabalhar, Marissa. Nada de homens bonitos para você, aliás, nada de homem algum. — Ela repetia em pensamento. Sem saber que o mesmo homem, a analisava com cuidado, imaginando o que uma mulher de aparência etérea e, simultaneamente, tão carnal fazia ali, a morena era encantadora e tal qual chegou, logo se foi.
Apenas para que ele tivesse uma feliz surpresa algum tempo depois, ela era uma das palestrantes, e era ótima no que fazia. Javier, que nunca havia experimentado sensações tão fortes, se viu cativo do som da voz da bela estranha, do brilho que as luzes do local lançavam sobre seus cabelos, cativo do suave balançar de seus quadris presos numa saia levemente justa. Ele se perguntava que cheiro ela teria, quais eram as suas cores, como seria acordá-la pela manhã. Café da manhã na cama, ou na varanda?
E foi com esse pensamento, como se uma força o puxasse, que só final da apresentação, desviando de pessoas as quais não tinha o menor interesse, ele se aproximou da mesma... Sem imaginar que ela também era arrebatada por sua presença, como se de repente, uma fantasia criasse vida diante de seus olhos. Chamem de acaso, destino, o que for. O importante é que não houve necessidade de uma longa conversa, os corpos se conheciam, os olhos se conectaram, as vozes apenas tiveram o alcance de dizer:
— Você... — Javier disse.
— Onde? — Era tudo em que Marissa podia pensar.
Rosie Senna
