Kurosaki é um idiota. Para Uryuu Ishida é provavelmente a pessoa mais insuportável de toda a terra, insistente, cabeça dura e sem um terço da sua inteligência, ele o achava uma piada, não entendia como uma pessoa tão fantástica como Orihime poderia se sentir atraída por ele.
Ela é tão bonita, gentil e amorosa. E ele… Uryuu não conseguia ao menos pensar em um adjetivo positivo para aquele idiota!
Mesmo assim, com mais defeitos do que qualidades, o ruivo estava sempre cercado de amigos, recebia dezenas de declarações de amor e as pessoas viviam em cima dele como urubus, ansiosas por um pingo de sua atenção.
E Uryuu? Bem, ele estava sozinho. Mas tudo bem, melhor sozinho do que envolvido com idiotas.
Idiotas como o Kurosaki.
— Uryuu Ishida! — Distraído em seus pensamentos narcisistas e idealistas não percebeu quando Ichigo se aproximou, apoiando os braços em sua mesa, praticamente gritando na sua cara.
Um total sem noção.
Ishida não fez nenhuma questão de respondê-lo, apenas ergueu o rosto e o encarou. Ichigo bugou.
— Por que tão mesquinho?
— O que quer, Kurosaki?
— Me chame de Ichigo, U-ry-uu.
— Para você é Ishida, Ku-ro-sa-ki — Ichigo revira os olhos, aquele menino era mesmo difícil, o que deixava sua cabeça confusa, afinal, nunca precisou se esforçar para fazer amizade com alguém, mas Uryuu... Ah, Uryuu parecia querer tomar sua cabeça como troféu.
A muito tempo Ichigo tentava se aproximar do moreno, porque é muito curioso e queria descobrir o motivo de tamanho ódio com relação a si. Rukia disse que era óbvio: Ishida o odiava por ser burro.
Ichigo achou aquilo muito ofensivo e mesmo que fosse a cara do menino o odiar por isso, ainda não parecia o suficiente. Porque Uryuu Ishida o odeia? Essa pergunta ficou rondando sua mente por muito tempo, até que teve coragem de ir até ele e perguntar.
Só se esqueceu de fazê-lo.
As poucas pessoas que tinham na sala já haviam ido embora e restava apenas os dois, sozinhos, pensando coisas completamente opostas. Ou nem tanto.
— Estou sem dupla para o trabalho. — Uryuu estava quase indo embora, não tinha nada a ver com ele se o idiota do Kurosaki não sabia o que estava fazendo, a única coisa que cabia a si era não deixar que isso atrapalhasse seus próprios planos.
— O problema não é meu.
É por isso que não tem amigos. Ichigo pensou, alto demais.
Ao invés de jogar a mochila na sua cara, descontando a raiva, ele apenas sorriu amargo.
— E isso não é problema seu. — Então, sem que Ichigo conseguisse questioná-lo, Uryuu foi embora, pisando forte.
No outro dia, no começo da aula.
— Uryuu! — Ichigo corria no corredor da escola gritando por Uryuu, que parecia evita-lo a todo custo, fingindo que não ouviu chama-lo, por meia hora. Kurosaki parecia mais idiota do que o normal. — Pelo amor, Ishida!
— Não me enche, Kurosaki!
Ichigo poderia ser um idiota, mas era um idiota muito sortudo, porque teve a sorte de Uryuu ser parado por um dos professores e ser obrigado a parar de fugir dele. O ruivo não perdeu a oportunidade de agarrá-lo pelo braço e arrastá-lo até uma sala vazia no segundo andar.
O menino o encarava furioso, mas parara de gritar, porque sabia que se um professor os pegassem ali teriam problemas. A aula tinha começado, Ichigo furtou de Uryuu o histórico perfeito, fazendo-o matar a primeira aula com ele.
Isso fez com um sorriso surgisse em seu rosto.
— Do que está rindo idiota?
— Você está matando aula.
— Hunf — Ele bufa, ajeitando os óculos com a ponta dos dedos, como se não se importasse.
— Parece despreocupado com sua primeira falta.
— Me trouxe aqui só para acabar com meu histórico?
Não, definitivamente não foi esse motivo que fez com que Ichigo o arrastasse até ali.
— Quero te fazer uma pergunta.
— Me trouxe até aqui para me fazer uma pergunta? — Ishida ri alto. — Idiota! Qual a necessidade?! Poderia ter me perguntado na droga da aula.
— Não... eu... — Ichigo colocou o rosto entre as mãos, levemente envergonhado, ele estava certo, não precisava de todo essa drama para uma maldita pergunta. Por que ele o arrastara até ali? É tão idiota assim?
— Já que estamos aqui, faça a maldita pergunta de uma vez. — Uryuu cruza os braços.
— Você me odeia?
— Sim, mais alguma coisa? — A franqueza do menino o pegou de surpresa.
— O que eu fiz para me odiar?!
Uryuu o encarou por alguns segundos, pensando por onde começar a classificar todos os defeitos de Kurosaki que fazem com que ele o odeie profundamente.
— É ruivo, fala gritando, só se mete em confusão, dorme na aula ou atrapalha a aula, nunca tem um meio termo aceitável... — Ichigo estava cansado, pensou futilmente que Ishida só teria um ou dois motivos para não ir com a cara dele, que o que sentia por si não era realmente ódio, mas só um leve rancor mal fundado.
Nunca esteve tão enganado. Com a mesma vontade que tinha de fazer Uryuu falar, tinha agora para que ele calasse a boca.
— Uryuu...
— Arrogante, se acha melhor que todo mundo porque fica desfilando pelos corredores, quando é no máximo um desocupado...
— Uryuu!
— Não sei por que todo mundo gosta de você, não presta atenção em nada, parece perdido no mundo colorido dessa sua mente infantil...
Uryuu Ishida definitivamente não esperava o que aconteceu depois.
Primeiramente, ele estava muito feliz, depois de ficar verdadeiramente irritado. Porque 1) Ichigo Kurosaki estava enchendo seu saco a manhã inteira, ele não teve um momento de paz desde que colocou os pés no colégio, o pior é que todo mundo reparou na perseguição, e todos olhavam para ele, porque queriam ser olhados por ele.
O ruivo idiota.
2) Ichigo Kurosaki, irritante e insistente, arrastou-o a força para uma sala vazia. Sabe quem faz isso? Assassinos e estupradores.
O que ele tinha na cabeça? Nada, sabemos disso, mas nem noção?
Todo esse drama para lhe fazer uma pergunta: você me odeia? Claro que o odeia! Que motivos tem para gostar dele?
Mas o fato de odiá-lo deixou Ishida feliz pela primeira vez, porque teve a chance de dizer todas as dezenas de motivos que o faziam acreditar piamente que o mundo seria melhor sem a presença de Ichigo Kurosaki.
Só não esperava que ao invés de um tapa, por falar tão mal dele por tanto tempo, ele o beijaria.
Ichigo não sabe ao certo o que o levou a beijá-lo, só queria que ele parasse de falar mal dele de forma tão prazerosa. Esse cara gosta tanto de odiá-lo?
Tudo bem, pensou, parte disso é sua culpa, ele deu abertura para os insultos, se não tivesse aberto a boca e perguntado “O que eu fiz para me odiar?!” ele não teria começado a recitar sua lista gigantesca.
É, certo, por isso o beijou, porque queria calar a sua boca. E, convenhamos, funcionou.
Nunca imaginaria que uma pessoa como ele se renderia tão fácil quando entrelaçasse os dedos no cabelo negro e beijasse contra as mesas de uma sala vazia. Quando forçou a boca contra a sua, pensou na hora que levaria um chute entre as pernas, e novos tópicos na lista de Uryuu, mas ao contrário disso, ele retribuía o beijo inesperado, agarrando sua camisa para que não se afastasse.
Kurosaki não faria isso, não se afastaria porque estava gostando de beijar o Ishida. A sensação é parecida com a de vencer uma discussão, ser o último em pé em uma briga, vencer um jogo quando todas as probabilidades estão contra você.
É prazeroso e estranhamente viciante. Se você prova a sensação uma vez, vai querer experimentá-la de novo.
Uryu não sabia o que tinha lhe dado. O que aconteceu para, de um momento para o outro, ele perder totalmente a noção? Se odiava o Ichigo por que ainda não o jogou para longe? Seria tão mais simples, não requereria nenhuma informação, depois disso poderia sair para fora da sala e nunca mais falar com ele.
Mas ao invés de seguir a opção sensata, agarrou o colarinho da camiseta do ruivo, deixou que o sentasse em uma das mesas, que suas mãos agarrassem os fios negros do seu cabelo, o que o beijasse até sua boca ficar dormente e seus sentidos enevoados.
Era confuso estar gostando, era complicado não querer que acabasse.
— Uryu... — Ichigo murmurou contra sua boca, quando se afastaram milímetros por conta da falta de ar. Ishida não queria escutar nada do que ele tinha para dizer.
Por isso o beijou de novo antes que se arrependesse de todas as decisões terríveis que tomou até ali. Mas uma hora voltaram a precisar respirar e a noção que havia desaparecido decidiu retornar, fazendo com que Uryu Ishida empurrasse Ichigo o mais longe possível enquanto ainda tinha chance.
Ichigo estava confuso, em um momento o menino estava o agarrando para que não deixasse de o beijar e no outro o empurrava e caminhava para longe, com a intenção de sair da sala. Como se o que aconteceu não tivesse acontecido.
— Uryu?
— Me chame Ishida, por favor. — Ichigo suspirou, cansado.
— Depois disso, me recuso a te chamar pelo sobrenome. — Ele se vira para encarar o ruivo que lamentava pela surpreendente frieza que Uryu poderia ter depois de parecer que o mundo acabaria com o beijo deles.
— Disso o que, Kurosaki?
— Depois da merda do nosso beijo!
Uryu revira os olhos, impaciente.
— Esqueça isso.
— Não, guardarei esse momento na memória: o dia que Uryu Ishida me beijou.
— Você me beijou.
— E faz alguma diferença?
— Sim, faz uma total diferença na minha narrativa.
— De qualquer forma, você retribuiu.
— Isso foi um acidente.
Ichigo não estava gostando nada do rumo da conversa, do: nada aconteceu e se aconteceu foi ilusão da sua cabeça oca.
Por isso decidiu provocar, segurando o braço de Uryuu para que não fugisse novamente, aproximando seu rosto do de Ishida.
— E se eu te beijar de novo? — Ele pousou um beijo no canto da sua boca. — E se você retribuir novamente?
Kurosaki estava satisfeito ao perceber a respiração do moreno em seus braços ficar mais pesada, é bom saber que algo nesse planeta o afeta. Melhor ainda saber que era si próprio.
— Continuará sendo um acidente. — Ele sussurra. E Ichigo o beija novamente.
Depois desse dia acidentes envolvendo Uryu Ishida e Ichigo Kurosaki se tornaram cada vez mais frequentes.
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