O Gato Подписаться

Como contar para as pessoas que você nunca sonhou com um princepe encantado? Eles eram tão pouco reais quanto os livros de conto de fadas. Uma criança sem amor se tornou uma mulher sem expectativas e varios medos.

Um dia houve essa garota, jovem e estúpida, que não queria de forma alguma ter uma alma gêmea, pois abominava a ideia de depender de alguém para ser feliz. Bom, é um tanto quanto compreensível não gostar de ser dependente de alguém, afinal, sua felicidade não deve ficar a cargo de outra pessoa que não seja você mesmo.

Passou a vida toda sem amor, então porque? Porquê ela deveria amar?

Ela nunca amou e nunca se sentiu amada, achava que esse sentimento era apenas uma invenção da cabeça humana. Por esse e outros motivos tinha medo de vivenciar algo novo. Para ela, se nunca sentiu é porque nunca existiu.

Então, cansada de ser escrava do medo e da pressão social de ter que se casar logo, já que estava chegando na idade, ela tomou uma estupida e louca decisão, viver isolada na floresta em uma pequena cabana porque ali, ninguém julgaria sua decisão de ser sozinha. Afinal, grilos e cigarras não falavam.

A garota nunca se sentiu tão livre, cantou, dançou e viveu alegremente, sem expectativas sem decepções.

Foi livre e independente durante anos vivendo como sempre pensou.

Um dia, porém agora ela se sentiu sozinha, ela agora queria ter alguém para contar todas as aventuras que viveu, que foram muitas, mas para não ser escrava da paixão ela se tornou escrava da solidão.

A moça que antes era alegre e feliz, agora mal conseguia sorrir. Mas ainda acreditava que o amor era algo artificial e, por esse motivo ela preferiu adotar um gato preto em vez de "adotar" um alguém em sua vida.

Ela pensou consigo mesma " um gato não me obrigará a fazer o que não quero. Não vou depender dele e sim, ele de mim"

Eram só os dois naquela casa, mas eles se completavam. Ela contava lhe histórias sobre como trapaceava no truco e das vezes que se aproveitou da "bondade" dos velhos ricos para conseguir o dinheiro que precisava, afinal eles tinham muito e ela tão pouco.

Mesmo que ela passasse o dia todo falando o gato nunca respondia, afinal era apenas um gato, mas a garota até que gostava disso. O gato não interrompia nas suas falas e, por deus, a garota amava falar, tanto quanto amava o gato.

Ela se sentia bem ao lado dele, ficava preocupada quando ele saia e não voltava no mesmo dia ou quando não terminava sua comida, mas ela ainda não sabia que isso era o amor. E assim eles envelheceram juntos, claro, o gato bem mais rápido que a mulher.

A angústia de antes voltou a atormenta-la, ela sabia que o gato logo partiria e que ela voltaria a ficar sozinha, mas agora o problema não era ficar sozinha e sim ficar sem o gato.

Como eu disse, ela o amava, demorou para perceber isso, mas quando percebeu já era tarde, seu amado gato preto que sempre serviu apenas para fazer companhia estava com os dias contados, não estava doente ou coisa do tipo, mas estava velho e precisava partir.

A mulher chorou, chorou como nunca havia chorado em toda sua vida. Ela finalmente sentia o que era ser amada, mas tudo estava prestes a acabar.

Foi então que ela percebeu que poderia não ter fugido do amor durante toda sua vida, que o amor não era apenas aquele romântico e idealizado que ela tanto descriminava. O amor que ela sentia pelo gato era o amor fraternal, certamente arrancar uma perna da mulher não doeria tanto quanto a dor que ela sentiu quando seu amado gato faleceu.

Em frente a lareira no primeiro dia de inverno ela desejou, apenas por alguns segundos, que não tivesse conhecido o gato, para assim não precisar passar pela dor de perde-lo. Logo em seguida se sentiu grata por tê-lo tido em sua vida e poder ter sido feliz ao lado do gato.

Sentir falta dele significou que ela o amou, passou bons momentos com ele e que o gato mudou a vida da mulher a mostrando o real significado do amor. E o gato, que apesar de nunca demonstrar, certamente a amava também.

E mais uma vez a mulher estava sozinha, mas dessa vez tinha algo de diferente. Ela finalmente vivenciou o amor, não tinha mais medo de amar, contudo, nunca amará alguém como amou o gato.

Ela odiava a dor que a falta do gato lhe causava, porém a dor tinha significado, o gato mudou a vida da mulher, afinal aquele pequeno animal mostrou a uma grande mulher os valores de amar alguém, independentemente de quem.