jace_beleren Lucas Vitoriano

Kent possui um passado nebuloso ao qual fez de tudo para se afastar. Isolara-se de tudo e de todos, mas o passado voltou, assumindo a forma de uma mulher. A primeira coisa que ele sentiu foi seu inconfundível perfume.


Короткий рассказ 13+.

#378 #femme-fatale
Короткий рассказ
0
1.8k ПРОСМОТРОВ
Завершено
reading time
AA Поделиться

Capítulo único

NOTAS DO AUTOR


Bom dia a todos, eu sei que estou super sumido. Explicando-me rapidamente, comecei a me focar em ser um escritor profissional e isso consumiu muito dos meus esforços para a escrita. Entretanto, foquei muito feliz ao ver o número de seguidores que possuo aqui e de tantas visualizações em meus textos. O conto a seguir eu havia enviado para uma antologia de contos, como não foi selecionado, estou postando aqui para que todos desfrutem.

Escrever profissionalmente é maravilhoso, mas admito que as vezes bate aquele gostinho de fazer uma fanfic para homenagear aqueles personagens que amamos. Vou tentar fazer algumas de vez em quando, fanfis de games, filmes da disney, animes... essas coisas. Enfim, aproveitem o texto e, prometo, vou adicionando mais alguns sempre que der!


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Kent abaixou-se em frente a armadilha que deixara no dia anterior. Uma lebre havia sido capturada, perfurada pelos dentes de metal que se fecharam contra o seu corpo, maculado pelas feridas. Tocando no corpo da pequena criatura, Kent constatou que já estava frio, o sangue que manchava a pelugem branca do animal estava seco, sinal de que a pobre lebre já havia morrido a um bom tempo.

— Desculpe garoto, não é nada pessoal, mas eu preciso me alimentar. Tenho certeza que entende isso — disse enquanto puxava os dentes de metal e desarmava a armadilha. Pegou o corpo da pequena lebre com respeito e colocou-o em um saco velho que trazia consigo.

Kent Spromm era um homem na casa dos quarenta anos. Possuía a fisionomia de um urso das montanhas, grande e musculoso, mas o coração era dócil e cheio de compaixão, ao menos agora, pois no passado tudo fora diferente. Uma barba densa cobria-lhe o rosto, dando-lhe uma aparência de bicho selvagem. Já faziam cinco anos que vivia ali, isolado no meio das montanhas, em algum lugar nos arredores da Itália. Antes disso, era um homem culto e rico, morava em um apartamento luxuoso, tinha motorista, uma amante ao qual encerrara o relacionamento de forma bastante abrupta e definitiva. Além disso, estava cercado por um exército de advogados e seguranças que garantiam que nada de mal lhe aconteceria. Era uma boa vida, mas depois do incidente em Berlim, foi obrigado a largar tudo e sumir do mapa.

No começo, essa mudança brusca fora difícil, mas apesar das dificuldades em se adaptar, Kent em nenhum momento arrependeu-se de sua atitude. Berlim havia lhe mostrado que certas linhas nunca deviam ser cruzadas. Ele a cruzou, para seu eterno arrependimento, e exatamente por isso garantiu que nunca cometeria esse erro novamente.

A vida nas montanhas era solitária, sem muitos recursos, e bastante diferente do ambiente aonde Kent crescera, mas ao menos lhe trazia paz de espírito e isso valia mais do que qualquer coisa. Com o jantar daquela noite em seu saco velho, Kent começou a fazer o caminho de volta em direção a sua cabana. O sol começava a se pôr no céu, que assumia a coloração alaranjada e melancólica do crepúsculo. Era uma vista linda e um dos maiores prazeres que ele encontrara ao viver ali, naquelas montanhas longe de tudo, inclusive dos fantasmas do seu passado.

A travessia até a cabana foi demorada e cansativa, mas ele já estava acostumado a isso, considerava uma expiação diária pelo pecado que cometera em Berlim. Um preço pequeno a se pagar diante do que fizera. Quando finalmente avistou a cabana, humilde e pequena a distância, sorriu com satisfação. Com as energias redobradas, venceu os últimos duzentos metros que o separavam de seu lar. No exato momento em que abriu a porta, o doce e inesquecível perfume de Lavanda adentrou em suas narinas. Kent paralisou de terror. Seu passado havia voltado para atormentá-lo e ele sabia exatamente quem era o arauto que viera encontrá-lo naquele fim de mundo.

Lá estava ela, sentada em frente a mesinha da sala, distraindo-se enquanto comia uma maça. O terninho verde-musgo, o rosto de boneca emoldurado por ondulados cabelos negros curtos, com um lencinho negro envolvendo o pescoço alvo. Com exceção do lenço, ela estava igual ao que ele se lembrava. Os lábios vermelhos da mulher lhe sorriram instantaneamente revelando dentes brancos perfeitos.

— Kent, que bom que chegou. Desculpe por não avisar que eu viria, não consegui seu telefone. A propósito, aqui nem tem sinal, não é mesmo? Realmente desculpe por invadir sua casa e comer suas maças que, preciso lhe dizer, estão ótimas.

Ela falava em tom amável, como se os dois fossem amigos queridos. De fato o foram, mas o último encontro entre os dois acabara de um jeito nada amigável. Kent olhou ao redor, preocupado. Não havia visto sinal de mais ninguém, mas tinha certeza que Cynthia havia trazido alguns rapazes para convence-lo a ir com ela ou para ajuda-la mata-lo.

— Estou muito bem depois daquele incidente — disse em tom alegre, dando mais uma mordida em sua maça, ou melhor, na maça de Kent ao qual se apossara — você por outro lado não parece bem, essa vida de ostracismo lhe deixou com um aspecto cansado. Olhe essa barba! Está parecendo um homem das cavernas!

Aquilo tudo ainda era apavorante demais. Kent mal conseguia falar de tão chocado que estava. O saco com o coelho morto balançava em sua mão, totalmente esquecido. Quando conseguiu reunir forças para falar, disse apenas uma palavra.

— Como?

Cynthia terminou de comer a maçã, repousando os restos da fruta em cima da mesa. Limpou os lábios com um guardanapo branco, de forma muito elegante e educada. Então, após esse pequeno ritual, respondeu a pergunta.

— O incidente foi bastante sério, eu perdi muito sangue e quase morri. Felizmente, duas cirurgias e uma internação de quase um mês conseguiram me reestabelecer totalmente — ela parou, deu um risinho gracioso e completou, em tom alegre — bem, não totalmente.

Puxando o lenço que envolvia seu pescoço apenas um pouco, a moça revelou uma marca horrível a macular sua pele. Havia uma deformidade ali, como se um pedaço tivesse sido arrancado e houvessem colocando outro no lugar, em uma tentativa grosseira de substitui-lo. Havia uma grande cicatriz, mas apesar de ser desagradável aos olhos, não parecia causar dor ou incomodo a moça.

— Você sabe marcar uma mulher querido. Admito que fiquei furiosa com você na época, e por muito tempo depois. Entretanto, não se preocupe, isso são águas passadas, não sou uma mulher rancorosa, certo? Caso o fosse, você já estaria morto.

Se não estivesse tão chocado, Kent teria rido daquela afirmação. Cynthia era o rancor em pessoa, nunca esquecia uma ofensa grave. Já a vira matar pessoas por coisas muito pequenas e bobas. Era obvio que ela ainda nutria ódio dele depois de ter sido baleada no pescoço e deixada sangrando para morrer em uma rua qualquer.

— Lamento o que houve, mas não por tê-la baleado, e sim por não ter feito o serviço direito. Não perguntei como havia se recuperado, o que quero saber é como me achou aqui. Eu apaguei todos os meus rastros, fui totalmente cuidadoso em cada passo que dei.

Cynthia sorriu com doçura, o tipo de sorriso que uma professora da a uma criança ao explicar-lhe que fez o dever de casa errado. Ela colocou o lenço de volta no lugar, ocultando assim a horrível cicatriz em seu pescoço.

— Um passarinho me contou querido. Isso que da ter vizinhos fofoqueiros! — respondeu cínica e alegre. Kent sabia que isso seria tudo que teria dela e decidiu que não adiantaria de nada pressiona-la mais.

Ela levantou-se, fazendo menção para pegar algo na bolsa. Kent já começou a reagir, imaginando que a moça sacaria uma pistola dali, ou então uma das lâminas que tanto gostava de carregar consigo. Antecedendo a reação dele, Cynthia o tranquilizou com sua voz de algodão.

— Vou pegar meu celular, não precisa fazer alarde. Puxa Kent, só porque você me baleou da última vez acha que eu faria o mesmo? Já disse, não guardo rancor.

E, de fato, retirou apenas um celular. Ela procurou algo nele brevemente e então virou a tela na direção de Kent que empalideceu no mesmo instante. Lá estava, outra pessoa que ele pensava estar morta. Um amigo de sangue que salvara sua vida não uma, mas duas vezes. Uma pessoa que o ajudara a sumir do mapa. Agora sim Kent sabia como havia sido encontrado.

Lágrimas rolaram de seu rosto ao reconhecer seu antigo amigo amordaçado e amarrado, o rosto vermelho de tanto ser espancado e o corpo emagrecido. O saco com o coelho caiu no chão. As pernas de Kent tremeram e ele quase caiu também. Precisou apoiar-se na parede para conseguir manter-se firme.

— Alehandro....vocês... desgraçados... como...

O ar lhe faltou. A raiva era intensa, mas a dor era ainda maior. Seu aspecto murchou e Kent pareceu ter envelhecido dez anos em apenas alguns segundos. Cynthia guardou o celular, sorrindo perversamente, regozijando-se do sofrimento que causara no antigo amigo.

— Essa foto foi tirada a apenas três dias. Não se preocupe, ele ainda está vivo, embora talvez com a cara um pouco mais inchada devido aos espancamentos. Alan está cuidando dele, então não a perigo de que Alehandro morra.

Ao ouvir o nome de Alan, Kent ficou ainda mais abalado. Mais e mais lágrimas escorreram de seu rosto. Ele queria fugir dali, de todo aquele sofrimento. Preferia que a armadilha tivesse matado a ele, não ao coelho, pois ao menos assim não sentiria toda a dor que estava sentindo agora. Conhecia a fama de Alan. Era o mais temido torturador que já conhecera, um homem sádico e frio, mas controlado ao ponto de nunca se exceder demais enquanto fazia seu trabalho. Em suas mãos, nenhuma de suas vítimas morrera, mas sofreram tanto que com certeza desejaram a morte com todas as suas forças.

— Se veio me matar, faça isso logo, em nome da amizade que um dia tivemos. Me odeia tanto assim ao ponto de ter prazer em me ver sofrer por uma pessoa que era mais querida que um irmão?

Cynthia suspirou, simulando um ar tristonho e magoado. Então, sem nenhuma simulação, seus lábios se moveram formando um sorriso cheio de prazer sádico. Ela juntou as mãos, fitou Kent nos olhos e então falou, bastante feliz. Parecia estar esperando a muito tempo para dizer-lhe aquelas palavras, pois sua felicidade era quase palpável.

— Tivemos muito mais do que amizade, já esqueceu das noites que passamos juntos? Das juras de amor que me fez? Foram ótimos momentos e eles não precisam ficar no passado. Podemos viver tudo de novo e muito mais. Eu estou disposta a lhe dar uma segunda chance e não sou a única. Alberto e Laura também — ela fez uma pausa, observando a expressão de Kent mudar. Havia horror em seus olhos e ele tremia da cabeça aos pés. Após desfrutar dessa visão por alguns instantes Cynthia prosseguiu — apareceu um serviço dos grandes, em Las Vegas. Vai ser um esquema complexo e tem muita gente envolvida, gente muito mais poderosa do que todos com quem já trabalhamos antes.

Ela continuou a falar. Sua voz assumira um tom profissional enquanto descrevia acerca de transações bancarias, contrabando e políticos influentes. Ainda com as pernas trêmulas. Kent sentou em uma cadeira, escutando a tudo como se estivesse em um sonho, como se aquilo se passasse com outra pessoa. No passado, teria ficado empolgado com o que Cynthia falava, com os esquemas de roubo e tráfico. Entretanto, depois de Berlim, tudo mudara, ele mudara. Queria deixar esses assuntos no passado, mas percebera, da pior forma, que o passado nunca iria abandoná-lo. Hoje, ele o assombrara na forma de Cynthia, mas amanhã poderia vir através de outra pessoa.

Ouvir tudo aquilo o estava deixando com dor de cabeça, as palavras de Cynthia se embolavam em seus ouvidos, tornando-se um ruido desagradável e indecifrável. Ela pareceu perceber que ele não estava focado, pois parou sua longa descrição do que seria o crime do século e o fitou, séria e sombria.

— Desculpe se minha voz está te entediando Kent. Talvez eu deva ligar para o Alan e pedir que ele lhe deixe ouvir os gritos de Alehandro durante a tortura. Isso iria prender sua atenção querido?

A ameaça foi bem clara, fazendo todo o corpo de Kent despertar, como se uma corrente elétrica tivesse lhe atingido. Ele fechou os punhos com força, controlando-se para não partir para cima de Cynthia naquele exato momento. Sabia como ela era boa em combate corpo-a-corpo e ainda melhor com lâminas. Não duvida nada que ela teria escondido entre suas roupas umas quatro ou cinco facas. Isso fazia bem o estilo dela.

Entretanto, de que adiantaria lutar? Mesmo que conseguisse matar Cynthia, o que era algo bastante incerto devido a habilidade dela, isso só pioraria a situação de Alehandro. Ele havia sido pegue em uma armadilha muito pior do que a que armara contra o coelho que capturara. Estava a mercê de Cynthia e sabia que ela não o pediria para realizar apenas um serviço. Se aceitasse voltar a vida de crimes, jamais conseguiria larga-la de novo.

— Um dia eu ainda vou fazê-la pagar por isso... — falou com toda a sinceridade de seu coração, mas sentia que sua promessa era vazia e que tal ameaça nunca se concretizaria — eu aceito, vamos ao trabalho então. Mas eu quero uma garantia que irão libertar Alehandro, entendeu?

— Você pode querer muitas coisas, querido, mas não está em condições de exigi-las — disse sorrindo de forma amável — pois agora que resolvemos essa questão, vamos voltar, tem um carro me esperando a uns dois quilômetros daqui.

E com isso, Kent selou seu destino. Ele deu meia volta e deixou sua cabana, sendo seguido por Cynthia que o seguia logo atrás. Da pouca distância a qual estavam, ele podia sentir o perfume dela, forte e marcante, o cheiro de Lavanda invadindo lhe as narinas e inebriando seu cérebro. Descobriu que odiava esse cheiro, mas sabia que se disse-se isso a companheira, só lhe daria uma boa dica de como irritá-lo.

Ele não sabia o que seria de seu futuro. Não sabia se Alehandro seria libertado, se o grande esquema de roubo que Cynthia lhe falara teria sucesso, não sabia nem se estaria vivo no dia seguinte. Entretanto, de uma coisa, tinha certeza. O cheiro daquele perfume jamais deixaria sua memória. Para ele, aquele era o odor da dor e do sofrimento e Cynthia a arauta de todos os males.

16 августа 2021 г. 0:04 0 Отчет Добавить Подписаться
0
Конец

Об авторе

Lucas Vitoriano Sou escritor, tendo alguns contos publicados. Além disso, sempre que possível posto alguma coisa aqui também. Amo animes, filmes da disney e mitologia grega. Para acompanhar meu trabalho visitem meu perfil no instagram @l.vitoriano ou meu perfil de literatura @pensandoescritor. Espero vocêsl á!

Прокомментируйте

Отправить!
Нет комментариев. Будьте первым!
~