U
Ulysses Netto


Uma estudante de 16 anos, com problemas escolares sabia que sua vida continuaria uma merda, mas não pensava em se tornar uma daquelas pessoas que abdicam quando já estão afundados na merda. Ela já estava nesse fundo desde o dia que chegou naquela escola, desde quando uma certa garota começou aquele inferno em sua vida. Apenas por bondade, heroísmo — um verdadeiro ato heróico — poupou a vida da pessoa que a importunava. Sendo atropelada em seu lugar, perdendo rapidamente sua vida, mas algo — alguém — lhe deu uma segunda chance em outro lugar, e ela aceitou. E quando abriu os olhos, tinha reencarnado em outro mundo mágico como Anna, uma mestiça de dois povos. Nascida nesse novo mundo, com uma nova vida, decidiu que: "Queria aproveitar, nunca esquecer da fraca que foi na vida anterior, mas também evitar que aquilo se repetisse". E assim, começa a sua jornada de uma mulher que busca por uma recomeço em sua vida.


Фентези эпический 13+.

#Original #fantasia #elfa #Isekai #romance #aventura #drama
0
3.8k ПРОСМОТРОВ
В процессе - Новая глава Everyday
reading time
AA Поделиться

Amargura

Fiquei em silêncio, como de costume, enquanto andava pelo corredor cheio de armários e salas e escadas, mantendo minha cabeça levemente abaixada, sem fazer contato visual excessivo com os demais estudantes.

O porquê de evitar olhar para os rostos? Porque sabia quais eram as ovelhas e os lobos, já era capaz de entender a cadeia alimentar daquele maldito colégio. E para minha infelicidade sempre fui a ovelha, a criatura frágil para que os predadores daquele lugar se divirtam, mas havia um lado bom em minha vida. Eu só tinha um lobo. Enquanto vários do meu tipo estavam cercados a anos por uma alcatéia, sofria em silêncio com um lobo. Ou melhor,loba.

Ajeitei as mãos nos bolsos da minha jaqueta escura, certificando de sentir meu celular e suspirei um alívio. E olhei para trás depois de levantar um pouco mais o rosto, um movimento que não passou despercebido por quem estive evitando nos últimos minutos, alobaque decidiu me seguir desde que passei as portas duplas de madeira da entrada, com seus olhos castanhos bem atentos em mim e com um sorriso malicioso nos lábios.

Deixei que minha imaginação viajasse por um momento e aquele momento se tornou o instante em que a ovelha encara o lobo e reconhece que seu fim está próximo.

— Já estava pensando que não me olharia hoje, Anna. — Minha loba comentou, sem abandonar aquela malícia nos lábios ou na voz.

— Acabei me distraindo um pouco com a agitação de hoje. Sinto muito, Yuliia. — Menti. Na verdade, não queria ver os belos olhos castanhos dela ou seu cabelo ruivo ou as sardas que serviam como um charme extra. Nem mesmo queria sentir o perfume adocicado dela, mas era impossível. — Onde estão as outras? —

As outras. As seguidoras fiéis de Yuliia; outras duas garotas que a tratam com devoção, ovelhas que tiveram uma breve oportunidade e agora se agarram com unhas e dentes no pouco alívio pessoal delas, são basicamente ovelhas fantasiadas de lobos.

— Não sei, mas tenho um pouco de certeza de que cheguei antes delas. Ei, Anna… — Não sabia se aquilo era verdade ou mentira. Mas já me alegrava um pouco já que eram menos duas rindo de cada comentário dela a meu respeito. E pelo tom de malícia na voz não foi difícil perceber que ela se preparava. — ...desculpe, mas escutei que o Paulo ia te levar ao cinema, não é? Então, sinto muito, mas os planos dele mudaram. Ele me chamou parao mesmo dia.

Osplanosdelemudaram. Não foi difícil de entender. Yuliia deve ter feito alguma coisa para o pobre garoto. Agradeci por minhas mãos estarem nos bolsos da jaqueta, assim a garota a poucos passos atrás não viu que as fechei com um pouco de força. Olhei para trás e abri um sorriso que treinava desde o dia que cheguei naquele colégio.

— Ah, tudo bem. De qualquer forma, não teria como ir já que me apareceu algo de última hora, até ia avisar sobre uma mudança para ele, sabe? Que bom que você vai com ele no dia. — Menti. Sem aquela ida ao cinema, meu dia seria assistir anime, ler algum livro ou assistir algum Streamer. E essa rotina já estava me enjoando. — Meu tio apareceu na cidade e vai me levar para acampar. — Outra mentira. Não via meu tio a anos, nem gostava de acampar, mas felizmente ninguém precisava saber disso.

Podia ser perigoso, mas ver a breve mudança na expressão de Yuliia era apetitoso, mesmo sabendo que por conta daquilo algo me aguardava em algum momento daquele dia. Abandonei a sensação e voltei a olhar para frente, ou melhor, para baixo e acelerando um pouco meus passos e subindo o lance de escadas para o próximo andar. Imaginando o que pode ter acontecido com Paulo para que ele tivesse de mudar seus planos. Éramos duas ovelhas para os olhos de muitos daquele colégio, então as chances dele ter chantageado ou zombado até desistir eram altas.Qual foi a chantagem? O que ele teria a ganhar ou a perder? Algum segredo que descobriram?Esses pensamentos e muitos outros cresciam em minha mente, me distraindo o suficiente para ignorar as provocações da loba a poucos passos de distância.

Porque um colégio aceitava aquele tipo de comportamento? Ou melhor, porque nenhum lobo recebe suspensão pela forma que agia com os outros? Bom, isso são coisas que odeio nesse lugar, mas essa instituição é principalmente para alunos ricos, semanas atrás soube que até mesmo o filho de um ex-presidente foi aluno aqui, ou seja, tínhamos uma hierarquia social no colégio. Os alunos mais ricos eram os lobos, que tinham essa liberdade por conta da influência de algum dos pais, e os mais azarados, como eu, eram de classe média sem nenhuma influência familiar. Eu não achava isso justo, mas sempre achei melhor manter esse pensamento como um mero pensamento, não gostaria de incomodar os superiores, de desenhar um belo alvo nas minhas costas. Não, muito obrigada. Uma loba já era o suficiente.

— Anna. — Minha loba cantarolou meu nome. Senti um arrepio passar por todo meu corpo e olhei para ela enquanto continuava minha caminhada. — Soube que irá participar do baile de inverno. —

— Sim, mas ainda não encontrei alguém para me acompanhar. — Verdade. Esperava que nessa ida ao cinema, convidasse Paulo para ir comigo na noite em questão, mas aparentemente planos mudam. — Já achou alguém para te acompanhar? —

— Com certeza. Assim que anunciaram, vários já me convidaram para participar, é uma pena queninguémpediu para te acompanhar. — Percebi como Yuliia se deliciou com aquela frase, como saboreou cada palavra jogada contra mim.

Sabia o porquê de não terem me convidado. Ela. Duvido que houvesse outra pessoa no colégio que aguentasse suas provocações, que ousasse chegar perto o suficiente de mim para fazer um convite e ser um alvo dela. Era esse tipo de poder, de influência, que a filha do diretor tinha com os outros.

— Mas tenho certeza que alguém vai me convidar. — Menti, ou quase. Realmente queria participar do baile de inverno, dançar com outra pessoa com uma música divertida. No fim, era uma maldita sonhadora.

Já estávamos no segundo andar, minha mão direita segurando a maçaneta da porta que dava acesso para a sala da aula de matemática, ouvindo algumas vozes e risos do outro lado. Ainda era cedo para a chegada do professor. Esse pequeno momento de descontração, de conversa e risos, quase fazia parecer que era um colégio comum com alunos normais. Quase. Não permiti que minha mente acreditasse naquilo.

— Será? — Yuliia perguntou. Com mais malícia do que antes.

Parei o que estava fazendo para olhar ela. Olhos nos olhos. Não conseguia me lembrar da última vez que fiz isso. A encarei com um pouco de ódio, mas com muito, muito medo. Meus olhos azuis como o céu fixos nos olhos castanhos dela. Num primeiro momento vi surpresa neles. Surpresa pelo meu tipo de olhar direcionado a ela. Mas depois outra coisa. Algo que não sei dizer o que era, mas me senti sob o olhar de um predador, aqueles olhos castanhos completamente concentrados em mim. Mordi meus lábios, contendo qualquer que fosse o instinto de agir, falar, e o deixando suprimido no meu interior. Voltei a sorrir e pisquei meus olhos ao mesmo tempo em que abria a porta da sala.

— Tenho certeza que não, Yuliia. — Sussurrei, agradecendo novamente por minha mão esquerda estar no bolso da jaqueta para que minha loba não tivesse a chance de vê-la tremer de raiva e medo.

— Que bom. — Ronronou. Parecendo satisfeita em ter me subjugado com tanta facilidade, mas percebi como ela havia demorado para responder. Devia ter ficado surpresa que uma ovelha tentasse atacar.

Atéo fim do dia isso vai se espalhar.

Pensei, sabendo como aquilo funcionava, como histórias corriam rápido por aqueles corredores. Inspirei fundo e puxei a porta da sala e acessei o cômodo enorme, meus olhos azuis fazendo uma rápida inspeção, procurando por alguém naquele meio. Só via os mesmos grupos de sempre conversando sobre um pouco de tudo; garotas, algum episódio de um anime específico, garotos, algum jogo que estava na moda. Coisas que me interessavam, mas por razões óbvias — Yuliia, lobos e ovelhas — nunca tentei fazer parte desses grupos. Meus olhos param numa pessoa em específico que começava a se enturmar com alguns outros. Era mais uma ovelha vestindo a pele de um lobo. Paulo estava num grupo que conversava sobre animes, rindo com eles como se as zombarias antes daquele dia nunca tivessem acontecido. Ele continuou conversando sobre o episódio mesmo depois de seus olhos verdes me perceberem e nossos olhares se cruzarem por um breve momento. Agora soube o preço dele. Olhei para o lado direito quando Yuliia passou apressada por mim para de reunir com suas amigas que dialogavam entre si.

Será um dia de merda.

Pensei novamente. Ajeitei meu celular no bolso da jaqueta e puxei da mochila um fone e o coloquei em meu ouvido direito assim que sentei em meu lugar de sempre — a última cadeira do lado esquerdo com a janela me garantindo uma brisa e os acontecimentos do dia — e coloquei meus materiais na mesa de madeira assim que o professor decidiu que já era hora de aparecer. E deixei que um compilado de músicas — aberturas e encerramentos de animes daquele ano — me guiasse por aquela aula, ignorando os olhares de Yuliia e os risinhos de suas amigas.

Anna

Ignorei quem me chamava. Só fiquei de olhos fechados alguns minutos depois, aproveitando o final de uma abertura de anime que me cativou naquele ano.

Anna

Ignorei novamente.

— Anna! —

— Que foi!? — Perguntei, abrindo meus olhos e me atendo em Yuliia que propriamente se assustou com minha concentração nela. Mas não havia sido ela quem me chamava. Olhei para frente e xinguei mentalmente pelo professor ter decidido se aproximar. — A-Ah. —

Ele com certeza sabia do fone, mas aparentemente não fez questão de removê-lo e dar uma lição em mim, me servir como exemplo para a turma. Ele só deu um passo para o lado e apontou para a lousa enquanto seus olhos estavam fixos em mim. Olhei para a lousa e depois para o homem. Esperava mesmo que eu pudesse dar a numeração de Pi para ele? Nem mesmo tínhamos estudado isso. E se tínhamos, não me lembrava. Ele percebeu que eu não tinha a resposta e sorriu, não como os estudantes — lobos — dessa escola sorriam, mas um sorriso gentil. Humano.

— Que bom que voltou a prestar atenção na aula, Anna. Serei grato se puder se distrair depois da explicação. — Me disse num tom divertido e levantou sua mão direita em punho fechado para evitar qualquer riso futuro. Ele se afastou logo em seguida sem me dar a chance de um pedido de desculpa.

Tinha uma coisa que eu sabia. Não sobre a aula. Mas depois de perceber alguns olhares na minha direção. Uma sensação que não me abandonaria naquele dia. Sabia de alguma forma que seria um longo, longo dia.

۝

A primeira e segunda aula foram um inferno. Os olhares de Yuliia — sérios, confusos e divertidos — me davam sinais de como exatamente meu dia acabaria sendo. Pelo menos não houve problemas e não precisei me tornar o centro da atenção novamente para qualquer resposta; talvez pela minha boa capacidade de me esquivar do olhar do professor sempre que ele perguntava algo ou porque o mesmo sabia que eu estava cansada. Assim que o alarme do primeiro intervalo soou, fui uma das primeiras a sair. Precisava parar de pensar naqueles olhares de Yuliia, em tudo que me disse sobre o baile de inverno, ou seja, parar de pensar nela.

— Merda! —

Uma voz masculina me desprendeu de sabe-se qual lugar que fiquei nos últimos minutos na minha mente enquanto, como uma idiota, segurava o lanche de frango perto dos lábios, sentada a alguns minutos na cadeira de ferro do refeitório. Meus olhos azuis suaves se movem, procurando pelo dono da voz e o encontrando a alguns metros de distância. O rapaz, de cabelo castanho e corpo visivelmente arredondado mesmo usando jaquetas folgadas, caído no chão e sua bandeja de comida a mais alguns metros dele, virada para baixo.. Minha atenção partiu para a mesa atrás dele em seguida, para um grupo de idiotas — lobos — cobrindo as bocas com uma ou ambas as mãos enquanto um deles gargalhava e tinha o pé direito para fora da mesa.

Cretino.

Pensei e olhei para o meu lanche ainda inteiro e desisti da primeira mordida. Fui a única a me levantar da cadeira para ajudar o rapaz caído, mas fazendo isso pude ouvir alguém se aproximando e esperei por algum empurrão por ter interrompido a diversão, mas nada aconteceu comigo. Quando olhei para trás, sem mover demais meu corpo, levantei as sobrancelhas por ver que a minha loba havia se aproximado daquele que usou o pé para a queda do rapaz que ajudava nos últimos momentos e, para a minha alegria e de muitas ovelhas, deu um tapa que soou por toda a cantina e, quando ele se levantou, só percebi que recuei um passo ou dois porque o rapaz me olhou e percebi nossa distância. Mas os olhos castanhos do lobo retornaram para a ruiva menor do que ele. Desta vez, permiti que minha mente viajasse e imaginei aquilo como uma discussão entre um membro da alcatéia e seu alfa — se alfas pudessem, obviamente, ser fêmeas. Olhei outra vez para o rapaz que estava ajudando.

— Você está bem? — Sussurrei aquela pergunta, pondo minhas mãos com cuidado nos ombros dele. — Não se machucou, né? —

— Eu estou bem. — Me respondeu, sem olhar para mim apesar da óbvia vontade. — Acho que tropecei.

— Você… — Comecei, mas fui interrompida.

Interrompida por Yuliia. Ela que, quando olhei enquanto falava com naturalidade, não desviou por nenhum momento seus olhos do outro rapaz centímetros maior do que ela.

— ...está mentindo. — A voz calma dela soou por toda a cantina. Era calma, mas também firme. — Esse tipo de ataque não é permitido com os alunos. Comnenhumaluno. —

Violênciafísicanãopode,maso que fazem diariamente pode?

Pensei, mas achava que não precisava dizer aquelas coisas no momento. Quem sabe na formatura? Sim, um espetáculo nesse evento, com tantos celulares na ocasião, com certeza a visibilidade negativa do colégio ia aparecer e, quem sabe, o mesmo mudaria? Qualquer coisa poderia dizer que estava bêbada.

Foco, Anna.

Pensei novamente ao perceber que, nos últimos segundos, tramava um plano até que interessante, mas não era o momento para aquilo. Olhei devagar pela área em que estávamos, ouvindo o silêncio incômodo que se formou, o sentimento de culpa podia ser quase tocado. Aquele era o poder de uma alfa — e da filha do diretor. Suspirei e voltei meus olhos para o rapaz que parecia tão surpreso quanto eu com o silêncio ambiente, uma das suas respostas já me entregou que não se machucou, mas e quanto a refeição que foi estragada pela queda? Olhei para minha mesa e já abria a boca para sugerir que dividíssemos, mas fiquei em silêncio quando vi nada onde estive até a poucos momentos. E surpresa com Yuliia ter se aproximado com o lanche em sua mão direita.

— Aqui, Sr. Carter. Espero que aproveite o lanche que Anna preparou. — Disse e então me olhou. Não como um lobo olha para uma ovelha, como ela me olha diariamente, mas um olhar que eu não soube reconhecer o tipo, mas que gostaria de ver mais vezes. E ainda piscou o olho direito para mim. — Não há problema nisso, correto? —

Fiquei em silêncio. Ela esperava por uma confirmação? Onde foi parar a loba que me atacava gratuitamente a tanto tempo? Não sei quanto tempo passou, mas imagino que não muito.

— Sim. Quero dizer, não tem problema. Sim para não ter problema. — Disse e desviei meu olhar para o lanche e depois para o rapaz que o pegava com cuidado. Se eu quisesse não ter outro lobo na minha sombra, era melhor tomar cuidado com o que falasse com tantos olhares na minha direção, com o responsável pela queda de Carter tão perto ainda. — Mais cuidado poronde andada próxima, Carter. —

Disse e ele me olhou e depois olhou para o rapaz atrás de Yuliia. Parece que entendeu o que quis dizer. E depois me olhou e afirmou balançando sua cabeça de forma sutil como se estivesse dizendo muito obrigado. Não soube dizer se o agradecimento foi para mim ou a Yuliia que, quando percebi, movia sua mão direita como se o dispensasse, como se a presença dele tivesse a exaurido. Quando olhei para o rapaz para dizer algo bobo vi que já era tarde, ele já estava longe com sua cabeça baixa e seguindo para a porta de saída do refeitório como se preferisse comer em outro lugar. Eu o entendia perfeitamente.

— Já acabamos por aqui? — O outro rapaz perguntou para Yuliia.

Quando olhei na sua direção, vi como pouco se importou com a situação, seus braços bem cruzados e seu olhar sendo do mais puro desinteresse. Assim como me lembrei quem era — o líbero do time de vôlei do colégio. Time esse que provavelmente jogaria no próximo campeonato.

— Não, não acabamos por aqui. — Yuliia comentou. E senti um frio nos pelos da nuca pela malícia que tomou sua voz. Não era mais a garota que ajudou alguém, mas a loba que tanto me atormentava. — Ajoelhe-se. Peça perdão a todos por terem interrompido a refeição ou a conversa com seus colegas de mesa. E posso me esquecer disso para a próxima temporada.

Ah, aí estava. Uma das vantagens que a filha do diretor possuía — poder sobre os clubes. Mordi meus lábios para evitar um sorriso. Odiava admitir, mas Yuliia era outro nível. Uma palavra dela e o clube de vôlei naquele ano não participaria de qualquer campeonato ou treino com outro time. Seriam postos na geladeira. Olhei para a mesa do esportista e se forçasse um pouco minha audição poderia ouvir sussurros de "ela pode fazer isso?", "cara, se ajoelha" e "ela é louca?".

Sim, com certeza se ajoelhe e sim. Essas perguntas eram as mais fáceis de serem respondidas. Em silêncio observei a cena — a alfa da imensa alcatéia rosnando para um membro qualquer pôr seu focinho no chão sujo. Haviam momentos que adorava minha imaginação. Olhei em volta, me certificando que todos viam cena e resmungavam entre os colegas mais próximos. E voltei minha atenção ao rapaz que por fim se ajoelhou, mas continuou com as costas eretas e seu olhar sério em Yuliia que exibia um sorriso quase satisfatório.

— Me desculpem. — O rapaz começou sem alterar o foco de seu olhar. — Por ter interrompido a refeição ou a conversa de vocês. —

Se aquilo era verdadeiro, não sabia. Minha atenção se alterou para Yuliia que gesticulou para que o rapaz se levantasse e o mesmo a obedeceu. Engoli em seco sabendo que jamais esqueceria aquela cena enquanto vivesse. Tão concentrada naquilo que levei um susto quando o alarme do fim de intervalo soou, levando uma das mãos para perto da boca para abafar um grito do breve susto. Mas olhei novamente em volta, para os estudantes se levantando e todos indo para a saída, e depois para Yuliia que passava muito perto de mim, com seus olhos concentrados nos meus, como se procurasse por aquele pouco ódio de mais cedo.

— Vai se atrasar para a aula. — Yuliia me disse como se aquela cena de poucos segundos atrás tivesse zero significado. — Se bem que você tem zero de importância. Então, fique aqui e coma os restos nas mesas. —

Lá estava aquele olhar dominante, cruel de sempre. Não me importei com o que me disse e também segui para a saída, me misturando com o aglomerado de estudantes que passavam pelas portas duplas do refeitório.. Meu dia melhorou o suficiente depois de assistir aquele pequeno espetáculo.

Meu dia estragou demais. A professora de educação física decidiu que deveríamos mostrar nosso potencial e depois deste único comentário nos fez correr em volta de uma quadra — sem interrupção, sem conversa, sem correr devagar — pelas próximas duas aulas. Confesso que meu estilo de vida costumava me afetar um pouco nesse tipo de aula. Não que eu fosse sedentária, mas correr por uma hora e meia era sufocante. Meu corpo já estava pedindo por trégua, meus pulmões queimavam, suor escorria por cada parte conhecida do meu corpo, quando prestei atenção suficiente em Yuliia que, apesar de suar, estava calma e seu olhar concentrado a frente como se não se importasse com aqueles atrás dela, acreditando fielmente que estava na liderança de alguma coisa. Me forcei um pouco e passei por alguns alunos piores do que eu e outros em situações melhores, mas consegui chegar ao lado da ruiva e senti a atenção dela em mim. Ela até apressou os passos, mas continuei me esforçando — lutando contra meu próprio corpo. Desculpa, corpo — e conseguindo a acompanhar.

No fim da aula não havia força em meu corpo. Nenhum tipo de força para me levantar e seguir para a próxima aula que, pelo que escutei, seria ao ar livre depois do professor ver seus estudantes correrem por tanto tempo. Conseguia entender já que não queria ficar numa sala com estudantes completamente suados. Minhas pernas latejavam de dor, buscar fôlego era uma tarefa difícil e sentia como se meus pulmões fossem explodir. Bom, pelo menos não tinha vomitado como alguns faziam no jardim de rosas mais perto.

Sintomuitopormeuscolegas,clubedejardinagem.

Pensei e fechei um pouco meus olhos para apreciar um vento fresco. Só os abri quando recebi um chute leve na costela e fiquei em silêncio quando vi Yuliia a minha frente e com a mão direita estendida, mas com o rosto noutra direção. Fiquei sem entender por um minuto, talvez dois, quem sabe uma hora? Meu mundo colapsou com aquele gesto de bondade. Aceitei a mão dela e a ruiva me levantou e depois passou meu braço pelo ombro dela.

— Estou esgotada para andar. — Confessou sem olhar para mim. — Se nós cairmos, posso culpar você já que está quase morrendo depois de ter dado tudo de si desde o começo. Nunca ouviu falar em preservar energia? —

— Você estava na liderança desde o começo. Devia se fazer a mesma pergunta. — Sussurrei, mas o suficiente para ela me escutar. Era a primeira vez que a respondia a altura, ou quase a altura.

— Quieta. — Me respondeu sem olhar para mim, apenas para frente. Estava cansada demais para qualquer olhar frio? Não sei. Só sei que seguimos daquela forma para a próxima aula.

Quemdiriaquemeudianãoseriatãopéssimoassim,?

۝

Não me aproximei mais de Yuliia desde aquele breve acontecimento que nos rendeu diversos olhares e sussurros, mas nós acabamos não dando a mínima para tais reações. Nem mesmo trocamos um olhar de despedida quando chegamos ao local aberto em que a última aula aconteceria. E para falar a verdade, não me importei. Já estava mais do que acostumada com a forma que a ruiva agia, não deveria criar falsas esperanças para que fossem destruídas por um comentário ou olhar. Aproveitei que a turma estava separada por aquela área aberta com poucas árvores e um jardim bem esverdeado — uma das provas que o clube de jardinagem fazia seu bom trabalho — para me sentar sob a sombra de uma árvore e olhei ao redor. Observando em silêncio os pequenos grupos que foram formados em volta da região e inconsciente procurando por Yuliia, mas a minha loba não tentava se enturmar com os outros e, quando olhei, não estava com o professor reclamando de sabe-se lá o que. Nem mesmo encontrava-se com suas falsas amigas que conversavam entre si, mas pude perceber em alguns momentos a atenção delas em mim.

Estãocominveja,?

Pensei, não escondendo um sorriso e acenando para uma delas quando me olharam. Se eu fosse mais ousada até mesmo faria um gesto obsceno, mas não estava afim de me explicar para o professor do porque ter feito tal coisa caso fossem reclamar. Enfim, o professor parecia não ter idéia de uma aula e estávamos todos cansados e permitiu que ficássemos por lá e, por isso, aproveitei para pegar o celular do bolso e pus um dos fones no ouvido — de forma semelhante que fiz em aula — e comecei a assistir os episódios recentes de alguns animes da temporada em questão. Preferia assistir e distrair minha mente do que saber que poderiam ter olhares na minha direção e, além disso, agradecia por ter tomado uma posição naquela árvore que me escondia o suficiente das pessoas. Odiava admitir, mas sempre fui boa em me esconder ou evitar ser a atenção.

Sequer comecei o episódio quando uma notificação de mensagem chegou em meu celular e já fui abrindo.

Mãe;Seupaivaitebuscarparaquepasseofimdesemanacomele.Passouaquiparapegaralgumasroupassuas.Eleestaráesperandonalanchonete.

Respondoalgoousó visualizar é suficiente?

Pensei e fiquei com os dedos próximos do teclado por tempo demais. Não sabendo que tipo de resposta dar a minha mãe. No fim, só mandei um emoji de um joinha e fechei o aplicativo de mensagem. Meus pais estavam separados a mais ou menos quatro anos por, como os astros de Hollywood costumam dizer, "divergência de opinião". Brigas, muitas brigas. Felizmente — ou infelizmente para meus avós — sou a única filha, então não era para ser difícil onde ficaria em fins de semana e festividades. Voltei a assistir o episódio do anime e não me aguentei em alguns momentos cômicos e rindo, mas abafando ao usar as mãos em minha boca.

— Não imaginei que você gostasse de anime de comédia. —

Tomei um susto e deixei o celular cair das mãos, mas por sorte parou no meu colo. Olhei para trás e vi Yuliia com o corpo curvado como se prestasse uma reverência, os braços cruzados e seus olhos concentrados na tela do meu smartphone que continuava o episódio. Ela só arqueou uma sobrancelha por conta de minha reação.

— Viu um fantasma? — Yuliia me perguntou e abriu um sorriso malicioso. — Ou está fugindo de algum aluno? Acho que não deixei claro para eles que só eu… — A interrompi antes que concluísse.

— Não é nada disso. Só não esperava que você viesse até mim quando… — Olhei para um canto específico, para a dupla de garotas que olhava na nossa direção e uma delas sussurrava alguma coisa. — ...suas amigas estão com tanta vontade de conversar. —

— Você está interessante hoje, Anna. — Me disse. Sua voz mostrava como estava calma enquanto conversávamos. Não soube dizer se havia aquela malícia, aquele prazer em provocar. — Seu olhar antes de chegarmos à sala de aula; aquele ódio contido. Aquele desafio não verbal na corrida. Você está se tornando uma pessoa interessante. —

— Cadê as provocações de sempre? — Perguntei, quebrando alguns segundos de um silêncio que sabia que deveria ser preenchido. — Se alguém está interessante hoje, é você. Ajudando alguém no refeitório? Ainda mais alguém sem valor. — Não queria dizer "ovelha" ou "sem pais conhecidos", mas imaginei que ela havia me entendido. — Diminuindo alguém que provocou outra pessoa? — Cada uma daquelas perguntas era um sussurro que sabia que a ruiva escutava. — Me dando a mão e o ombro? Conversando comigo? Você quem está interessante hoje, Yullia. —

— Quem diria, ovelhas sabem atacar. — Yuliia sussurrou também. Sabia que nossa conversa deveria permanecer em particular. Ela soltou aquelas palavras com a malícia de sempre. — Porque fiz essas coisas? Porque é divertido olhar parasuascaras e notar a confusão, não entenderem o porquê de eu ter feito aquilo. Essa mesma cara que está fazendo me diverte, Anna. —

Fiquei em silêncio, mas não abandonei a expressão de surpresa, confusão com aquelas palavras, mas pude ver algo a mais no olhar da ruiva, algo que ela não queria admitir. Antes que pudesse dizer qualquer coisa o sinal nos alertou. Era fim de aula. Ouvi um murmúrio de reclamação de Yuliia que se ajeitou e distanciou com as mãos entrelaçadas nas costas e só olhou para trás para sorrir para mim ou as duas garotas que começaram a segui-la, mas minha intuição me disse que foi para mim o sorriso. Porque aquele era um sorriso malicioso, provocativo. Engoli em seco e guardei o celular novamente no bolso da jaqueta e segui meu caminho para a sala de aula para pegar minha mochila e, mais alguns minutos depois, já tinha deixado o colégio com a mesma em minhas costas.

— Como eu considero esse dia? Bom ou merda? — Me questionei, sussurrando baixo e ajeitando o capuz da jaqueta em minha cabeça depois de pôr o fone outra vez em meu ouvido e caminhei ouvindo alguma abertura de anime. — Um dia neutro. —

Disse convencida daquilo. Olhei para o céu que devagar estava trocando sua cor azul para um alaranjado, não precisei olhar para saber que estávamos no fim da tarde. Abri minha boca, bocejando e sabendo que, quando chegasse na casa de meu pai, dormiria por sabe-se lá quanto tempo. Cocei um dos olhos assim que parei na faixa de pedestre e em silêncio assisti a cena a mais ou menos dez metros. Observei Yuliia andando desatenta pela faixa, com suas amigas bem mais adiante conversando entre si enquanto a ruiva conversava em voz alta com alguém pelo smartphone.

Até mesmo a alfa tem seus problemas?

Pensei e baguncei um pouco o cabelo por dentro do capuz e suspirei com mais preguiça. Sabia que a lanchonete que meu pai me buscaria ficava a poucos quarteirões — dois ou três se não me engano — mas estava cansada depois daquele dia exaustivo. Retirei o fone do meu ouvido e foi nesse momento em que escutei algo se aproximando rápido. Olhei para o lado esquerdo e um SUV vermelho chegando cada vez mais perto, pela forma que andava seu motorista deveria estar ocupado com outra coisa que não fosse ver a rua a sua frente. Sabia que não tinha tempo para pensar no que fazer, mas meu corpo se mexeu primeiro e, quando me dei conta, já estava de frente para Yuliia e usando os meus braços para a empurrar para longe da colisão. Aquela foi a primeira vez que agredi uma pessoa. A primeira foi usada para salvar a vida dessa pessoa. Não parei de sorrir quando a afastei da morte inevitável, sabendo que mesmo no chão ela me olhava com surpresa. Mas não tinha apenas um sorriso em meus lábios, meus olhos lacrimejavam sabendo do fim. Bastaram dois segundos para empurrar Yuliia e fui atingida em seu lugar, sentindo mais nada e sendo jogada a bons metros de distância, meu corpo rolando por mais alguns. Em momento algum perdi aquele sorriso levemente alegre ou a tristeza no meu olhar. Só pude ver Yuliia se aproximar e ajoelhando-se e segurando minha mão direita manchada de vermelho. A mão dela estava um pouco mais quente do que a minha, mas uma parte minha sabia o que aquilo significava.

— Porque!? — Ela me perguntou. Vendo as lágrimas dela, deixei que as minhas caíssem juntas. — Porque fez isso!? — Me perguntou novamente, quase podendo sentir sua raiva e mais outra coisa em sua voz.

— Você… — Disse com dificuldade enquanto pessoas que eu não conhecia se aproximavam com celulares nos ouvidos. Alguém devia já ter chamado a ambulância. —...foi legal... comigo. —

E apertei com o que me restava de força sua mão, olhei para o céu alaranjado não abandonando meu sorriso ou a paz que sentia quando tudo se escureceu e todas as vozes se calaram.

۝

Por um momento tudo se escureceu e o silêncio dominou. Mas abri novamente meus olhos depois de poucos segundos e observei o que estava acima de mim — um céu escuro com estrelas, um céu muito bonito que dificilmente veria na cidade grande. Como via aquilo se estava morta? Nem mesmo sabia em que me deitava, mas dificilmente saberia descrever com exatidão — não era duro como o chão, mas também não era mole ou fofo como um colchão, eraalgumacoisa. E com isso confirmei que meus cinco — ou alguns deles — sentidos funcionavam. Porque estava aqui? Ou melhor, como vim parar aqui? E uma dúvida melhor do que a anterior; onde era esse lugar?

Me sentei depois de um curto período e olhei para minhas mãos e depois braços como se procurasse por alguma coisa quebrada ou uma mísera mancha de sangue. Nada. Meu corpo estava intacto. Abri um sorriso que demonstrava meu alívio e levei a mão direita ao peito e gelei. A prova da minha morte estava lá; meu coração estava parado. Engoli em seco e com as pernas trêmulas consegui me levantar e decidi que estava na hora de explorar aquele lugar.

— Você vai andar infinitamente... — Uma voz bem atrás de mim. -...mas talvez não demore para perceber que está sozinha aqui. —

Olhei para trás. Aquela voz era antiga, mas também jovem. Quem estava logo atrás era uma mulher com um manto cobrindo grande parte de seu corpo, segurando um livro com a capa gasta pelo tempo, seus olhos apesar de calmos, gentis, me indicaram que a desconhecida era perigosa, mas sua presença mostrava um suave acolhimento — como o abraço de uma mãe.

— Que lugar é esse? Quem é você? — Questionei com cautela.

— Huh. Esse lugar é o Nada, uma área que os mortais não têm como chegar, nem mesmo depois da morte. — Me respondeu a primeira pergunta e virou a página do livro e continuou a me responder. — Sou Nocturna, deusa da vida e da morte. E você, minha pequena estrela, não tinha que estar nessa área do pós-morte. —

Nocturna,deusadavidaedamorte?Seráquealgumareligiãonovaacertoufinalmenteosdeuses?

— Não, só não estamos mais em seu mundo ou na dimensão dele.. Bom, você não está. — Ela me respondeu por mais que eu não tivesse feito uma pergunta verbal. Ótimo, não dava para guardar segredo. — Bom, a bagunça já está feita de qualquer forma. Sabe como veio parar aqui, menina? —

—...morrendo? — Perguntei. E fiquei em silêncio quando aquela mulher fechou o livro e não conteve uma gargalhada. Ótimo, tinha senso de humor.

— Devia ter perguntado de outra forma. — Nocturna me disse e removeu o manto que cobria seu rosto e deixou que seu cabelo escorresse livremente. Era como ver estrelas na mais repleta escuridão. E ela se aproximava de mim com casualidade, como se eu não fosse ameaça para sua existência. — Para o seu mundo não conseguirá retornar, não vai saborear o que chamam de céu ou inferno por lá. —

— Estou bem com isso. — Respondi, mantendo a calma e olhando para os olhos de Nocturna. Havia curiosidade e conhecimento neles. — Desculpe, mas seus olhos são… —

— Algo a ser temido? — Me respondeu e sorriu pelo canto dos lábios. — Costumam me dizer muito isso. —

— Ia dizer bonitos. — Respondi e ganhei um silêncio como resposta da mulher que levou a mão direita para o meu queixo e levantou o suficiente meu rosto. — O que está fazendo? —

— Avaliando. Você não tem nada de especial, garota. Era uma sombra em vida, quem sabe até menos que isso. Alguém sem coragem para responder às provocações de uma inimiga, mas que desperdiçou sua vida para salvá-la. Porquê? — Nocturna me perguntou e olhou para o meu pescoço e foi descendo mantendo aquela curiosidade no olhar antigo.

— Não sei. Meu corpo agiu bem antes de minha mente, mas estava em paz com isso. Eu sabia, e ainda sei, que o que fiz era o certo. — Respondi, deixando que ela me avaliasse. — Como sabe o que fiz? —

— Deusa da vida e da morte. E você é um resquício, um fragmento, do que era antes. É fácil ver esse tipo de coisa quando se tem a minha experiência. — Me respondeu. — Agiu como uma heroína e morreu em paz. Huh. — Disse e soltou meu queixo e se afastou de mim e olhou para o livro antigo que lia a pouco tempo. — Esse é um livro bem, bem antigo, garota. —

— Fala sobre o que? — Questionei.

— Regras. Pelo menos, as regras do meu mundo. É um livro desinteressante depois que se lê pela milésima vez. Por exemplo, aqui uma regra curiosa. — Ela folheou um bom número de páginas e me olhou. — Regra n°6700; Nenhum mortal está permitido reencarnar. Mas não diz que não posso fazer isso com aqueles que não são do meu mundo, diz? — Ela me olhou com diversão e fechou o livro que desapareceu numa cortina de fumaça escura. — Você já experienciou o seu antigo mundo, o que acha de fazer a mesma experiência com o meu? Eu tenho esse poder, afinal de contas sou a deusa da vida e da morte. —

Uma segunda chance. Aquela mulher estava me dando uma segunda chance. Era boa a oportunidade, mas como era o mundo que ela queria que eu fosse?

— Você está em dúvida. — Nocturna disse com cautela, mas não estava preocupada com minha eventual resposta.

— Certo, posso pedir um favor? — Perguntei, sabendo que estava mexendo com uma deusa que poderia rir da minha cara. Continuei quando vi que era gesticulou para que eu proseguisse. — Você disse que viu por esse fragmento do que fui em vida. Eu não quero morrer para qualquer coisa que habite seu mundo. Quero ter uma vida consideravelmente boa. — Agradeci pela vida que tive naquele mundo anterior. Com tantos jogos sendo lançados com frequência. — Quero ter uma progressão de status em seu mundo. Se eu derrotar algum bicho especializado em agilidade, quero progredir um pouco em agilidade. —

— Me dê um minuto para isso. — Nocturna me pediu. Havia um sorriso sincero em seus lábios quando senti o olhar dela concentrado nos meus, me avaliando com muita curiosidade. Talvez buscando a informação em mim. E finalmente piscou. — Isso não é difícil de ser feito. Mais alguma coisa? Peça, já que gostei de conhecê-la. —

— Continuar com as memórias anteriores? — Perguntei, não sabendo se era possível, mas pelo olhar dela soube que era viável. — Se vamos quebrar as regras, vamos fazer isso direito, Nocturna. — Disse com um pouco de divertimento. Só queria continuar com minhas memórias para lembrar a não ser como fui na vida anterior.

Nocturna sorriu. Como se tivesse gostado e muito do meu último comentário. Ela mostrou a mão direita com o dedo médio encostado no polegar e seus olhos pareciam ansiosos.

— Quiser me ver, é só chamar pelo meu nome em meus templos. Para você, farei questão de aparecer. — Me disse, piscando seu olho direito e sorrindo breve e então fez o estalo. — Até nosso próximo encontro. —

Finalmente senti alguma coisa. Um calor acolhedor e fechei meus olhos para aproveitar daquela sensação que dominava meu corpo que começava a formigar, a desaparecer como se fosse apenas poeira ao vento. A última coisa que meus olhos azuis viram, ao abri-los um pouco, foi uma luz que parecia me chamar.


19 июля 2021 г. 18:25 0 Отчет Добавить Подписаться
0
Прочтите следующую главу Novo mundo e espadas

Прокомментируйте

Отправить!
Нет комментариев. Будьте первым!
~

Вы наслаждаетесь чтением?

У вас все ещё остались 17 главы в этой истории.
Чтобы продолжить, пожалуйста, зарегистрируйтесь или войдите. Бесплатно!

Войти через Facebook Войти через Twitter

или используйте обычную регистрационную форму

Похожие истории