— Você é tão inútil que não sabe nem o que teu boy gosta, Gojou? — Utahime encarou o amigo com um desgosto enorme no rosto.
— Ele ainda não é meu boy, sua megera, e é exatamente por isso que eu não sei! — Replicou Gojou, indignado, os braços cruzados e bochechas infladas infantilmente. — E por isso tem que ser perfeito, eu vou pedir ele namoro e, se for uma droga, ele não vai me querer — acrescentou em tom de choro, bebendo um longo gole de sua cerveja em seguida.
— Dá dinheiro, não tem nada melhor que dinheiro — opinou Mei Mei, dando de ombros.
— Isso é desleixado e preguiçoso e só uma esquisitona como você pra curtir isso, Mei — Ieiri devolveu, soprando a fumaça do cigarro na cara de Gojou, que estava do outro lado da mesa do bar. — Porra, o Getou é teu melhor amigo, como que cê não sabe o que ele gosta?
— Ah, sei lá, porque ele não sai me dizendo gratuitamente o tipo de presente que ele gostaria de ganhar, porra! — Argumentou Gojou, que já estava cansado de ser julgado por um bando de peruas que sabiam tanto quanto ele: nada.
— Você divide o dormitório com ele, não é? Fuça as coisas dele e vê se acha algo pra te dar ideias — Ieiri sugeriu de forma prática, dando de ombros.
— Ou você pode ser uma pessoa normal e dar algo básico, doces e uma declaração, quem sabe Polaroids de gatinhos, ele ama gatos — Utahime sugeriu, brincando com o canudinho de sua caipirinha.
E então, Gojou bateu a mão na mesa com força o suficiente para chacoalhar os copos e latinhas, sorrindo triunfante. Enfim tinha tido sua epifania! Sabia exatamente qual o presente perfeito e tinha pouco mais de 24 horas para preparar tudo, então levantou da cadeira num pulo.
— Acabei de ter a ideia perfeita, suas putas! Getou vai ser meu, vocês vão ver. Agora, se me dão licença, eu tenho o melhor presente do mundo pra preparar — acenou para elas, que apenas lhe desejaram boa sorte de forma debochada e voltaram a fofocar entre si.
Nem oferecem ajuda, essas mocréias! Mas tudo bem, se eu fizer sozinho, melhor ainda, o crédito será todo meu! — Gojou pensou com seus botões, feliz da vida. Faria daquele o melhor dia dos namorados da sua vida, ah, se faria!
***
Getou já estava meio de saco cheio do clima romântico no ar. Não que estivesse com inveja: de jeito nenhum! Era só que casais felizes eram muito chatos com toda aquela aura de mundo cor de rosa afogado em amor e baboseiras do tipo.
Suspirou de alívio ao entrar em seu dormitório e encontrá-lo vazio. Ouvir as piadinhas de Gojou com certeza não iria melhorar seu humor, principalmente se tivesse que ouvir o colega de quarto idiota zombando dos presentes que sempre ganhava de pessoas aleatórias cuja existência ele nem se importava.
Por falar em presentes… Que presente! Ele encarou com curiosidade a enorme caixa larga e cilíndrica que ocupava o meio do quarto, surpreso por ver, pela primeira vez, um presente cuja embalagem era preta com um laço azul, ao invés das clássicas cores do amor — vulgo vermelho e rosa. Pelo menos a pessoa que o admirava tinha bom gosto esse ano.
Apesar disso, Getou não se viu empolgado para saber o que tinha dentro da caixa. Sempre foi ciente do quão chamava atenção, tanto de caloures quanto veteranes, e já estava cansado de lidar com as coisas absurdas que elus mandavam — uma vez tinha recebido uma lingerie usada e simplesmente não sabia o que fazer com aquilo, já que felizmente não tinha aprendido a ser pervertido a ponto de se excitar com uma lingerie usada por alguém que não só ele não conhecia, como também tinha péssimo gosto para perfumes e lhe dera uma boa rinite atacada de brinde. Sendo assim, o universitário decidiu que podia muito bem deixar sua nova decepção esperando enquanto arrumava suas coisas e ia para um banho relaxante, cujo intitulou de “tirador de nhaca de dia dos namorados''.
Quando retornou ao quarto, já se sentia renovado. Andou pelo dormitório enxugando os cabelos negros que pingavam, pensando na própria fome, disposto a ignorar seu presente por mais um tempinho. Isso até ele notar que a caixa estava se mexendo. Getou estreitou os olhos para a incógnita embalada no meio da sala e percebeu com assombro que alguma coisa estava viva lá dentro. O ápice foi quando um barulho selvagem veio dali, e então a caixa deu um pulo e tombou de lado, fazendo seu espectador pular junto e soltar um gritinho nada digno.
Passado o susto inicial, ele notou duas coisas: em primeiro lugar, um filhote de gato bastante ultrajado, que miava para a caixa tombada com muita indignação; e, em segundo lugar, cabelos brancos familiares despontando da maldita embalagem, cabelos que estavam no topo da cabeça de um idiota que rastejava devagar para fora dela até estar de quatro no meio do cômodo com um sorriso enorme estampando seu rosto, como se não tivesse acabado de protagonizar uma cena ridícula.
— Feliz dia dos namorados! — Gojou cumprimentou do chão, apoiado nos joelhos e abrindo os braços em uma espécie de comemoração.
— Que porra de brincadeira é essa? — Getou reclamou, ainda sentindo o coração acelerado no peito devido ao susto. — Isso é demais até pra você, Gojou!
— Não é brincadeira, é meu presente sincero de dia dos namorados! — Um bico enorme se formou nos lábios dele, a expressão de ofensa se tornando quase cômica. — Eu até me vesti de gatinho pra ti… — acrescentou, apontando as orelhas felpudas no topo dos cabelos brancos.
— Eu não diria que pôr um arquinho de orelha de gato é exatamente se vestir como um... — Pontuou Getou, cruzando os braços e segurando o riso. — Tudo isso foi pra amenizar meu mau humor por causa da data ou foi só pra me irritar mais?
Gojou finalmente se levantou e o encarou com olhos firmes e decididos, aproximando-se até estar a poucos centímetros do amigo.
— Isso foi exatamente o que eu disse que é: um presente de dia dos namorados!
— E nós estamos namorando? — Getou arqueou a sobrancelha, confuso e curioso.
— Bem, ainda não, mas eu estava pensando em te pedir e ver se dava certo, mas aí o Gaspar estragou tudo! — Ele apontou para o gato que agora estava muito ocupado se lambendo.
— Então não seria um presente de pedido de namoro?
— Tanto faz, que porra! Será que você pode focar no fato de que eu estou te pedindo em namoro, seu infeliz? — Gojou bateu o pé no chão, ansioso por não ter certeza do que passava pela cabeça do outro.
— Oh, amor, você é tão romântico! — Caçoou Getou, rindo enquanto andava até o gato e o pegava no colo com carinho, o erguendo até a altura do rosto para olhar no fundo das orbes cinzentas. — Esse idiota fez você ficar todo esse tempo numa caixa, é? Por que você não mordeu a bunda dele?
— Ele fez pior, arranhou a minha cara! Meu rostinho tão lindo… — lamentou-se Gojou, fazendo careta para o animal enquanto acariciava sua própria bochecha, onde um fino corte tinha inchado.
— Você enfiou o gato dentro de uma caixa e obrigou o coitado a dividir espaço com você, óbvio que ele te atacou! Por que só não trouxe ele como uma pessoa normal, aliás? — Getou voltou-se para o amigo, o gato seguro contra o peito e ronronando alegremente.
— Por que aí não teria o efeito surpresa, né?! — Gojou exclamou em tom de obviedade, pondo as mãos na cintura. — Deu um trabalhão para cronometrar certo o tempo que tu ia levar do campus até aqui pra me enfiar ali dentro e tudo mais antes de tu chegar, sabia? E aí você estragou tudo indo pro banho, e eu tive que tirar esse diabrete da caixa e mais uma vez medir o tempo que tu leva no chuveiro pra voltar lá pra dentro a tempo, mas ele não gostou disso e me atacou.
— Todo esse trabalho pra me presentear? — Getou riu, encarando o amigo.
— Sim, você deveria valorizar mais ao invés de me zoar! Eu queria ter o presente perfeito, inovador e legal, então lembrei que você gostava de gatos, aí juntei o gato e eu num embrulho e pensei que não tinha como dar errado, mas acho que deu…
Getou conhecia o amigo a tempo o suficiente para saber que ele só tagarelava assim quando estava muito inseguro e incerto acerca de algo, assim como sabia que era raro ele sentir-se desse modo. Sorriu convencido pelos efeitos que causava e soltou o gato, pronto para acabar com a tortura e dar logo sua resposta.
— Mas que boa autoestima você tem, a ponto de se achar o presente perfeito — comentou sorrindo e encarando os olhos azuis cristalinos.
— Eu e o gato! — Protestou, corando furiosamente ao interpretar aquilo como uma crítica.
— Sabe qual é sua sorte? — Indagou Getou, ignorando o comentário e se aproximando cada vez mais. — Você acertou em cheio, porque o melhor presente que eu poderia querer é justamente esse: você.
Os olhos azuis mal tiveram tempo de se arregalar em surpresa, já que logo em seguida estavam se fechando por sentir a maciez dos lábios de Getou contra os seus. Gojou derreteu nos braços fortes do amigo e se deixou aproveitar o momento, puxando os cabelos negros ao seu bel prazer, apertando os músculos do braço, sentindo as costas dele sob a ponta de seus dedos… suas línguas se encontravam como dois astros que se atraíam no espaço, se enroscando em perfeita sincronia. Tudo era tão bom que Gojou até se imaginou como uma estrela prestes a explodir de felicidade, e a melhor parte era saber que, pela forma como era correspondido, Getou sentia algo semelhante.
Foi inevitável o sorriso bobo que adornou seus rostos quando se separaram, principalmente ao notarem um gatinho manhoso se esfregando em suas pernas e ansioso por participar do momento in love. Rindo, Getou pegou o filhote no colo mais uma vez, o abraçou e apertou de leve contra sua bochecha.
— Seu nome vai ser Floquinho porque Gaspar é uma merda — declarou, ignorando os protestos alheios. — E como você é um presente, eu só fico com suas partes boas e quem vai catar sua bosta vai ser o Gojou.
— Ei! — O dito cujo protestou, rindo. — A Guarda é compartilhada, então tu tem que ser pai também e ser presente nesses momentos críticos da formação dele!
Desataram a rir dessa piada boba e até mesmo Floquinho parecia se divertir. Juntos, passaram a tarde restante rindo, brincando com o filho e namorando. O belo dia terminou com um Gojou convicto de suas habilidades supremas em presentear e com um Getou assumindo sem nenhuma vergonha na cara que o dia dos namorados era sim lindo, colorido e mágico, e que o elemento principal para despertar essa magia no mundo era a sensação de amar e ser amado.
Спасибо за чтение!
Мы можем поддерживать Inkspired бесплатно, показывая рекламу нашим посетителям.. Пожалуйста, поддержите нас, добавив в белый список или отключив AdBlocker.
После этого перезагрузите веб-сайт, чтобы продолжить использовать Inkspired в обычном режиме.