Quando a canção terminou, gostou do que ouviu. Era uma banda com a formação clássica de bateria, guitarra, viola-baixo, cantor. O vocalista tinha muito carisma, era insinuante e provocador. Jovem. Os quatro eram bastante jovens. Frescos. Cheios de possibilidades. Lembrou-se dele próprio e dos seus amigos, do início em que tudo era novo, brilhante, acelerado, mágico e esgotante.
E se Chester estivesse ali… haveria de adorá-los.
– Adoro-os. Tens razão.
Mike não levantou a cabeça. Estava sentado, de frente para o monitor da sua estação de trabalho, dedos entrelaçados, a rebuscar na sua memória aqueles dias intensos de quando os Linkin Park começaram. Também eles tinham um cantor que era carismático e que congregava todas as atenções. Como esses Maneskin de Itália que andavam, por aqueles dias, nas bocas do mundo musical – e não só. Ganharam o festival da Eurovisão de 2021, um concurso europeu de cantigas que reunia participações de vários países, e estavam a fazer furor com a sua canção, Zitti e Buoni.
O nome da banda causara-lhe estranheza quando o ouvira, na sua live do Twitch. Houve alguém que esclareceu que se traduzia por luz da Lua e não tinha nada que ver com manequins ou pele…
– É bem o teu estilo.
– Rock and Roll never dies, disse o tipo, não foi? Como é que ele se chama?
– Não faço a mínima ideia, Chester…
Estaria outra vez com alucinações, ou o amigo tinha resolvido voltar a aparecer no seu estúdio de casa? Mike não sabia e nem queria saber!
– Gosto muito dele. Tenho ouvido esta canção sem parar. Yeah! Vou aprender italiano para cantá-la melhor.
E Chester pôs-se a berrar o refrão, embrulhando as palavras com a língua, lutando contra o sotaque anglo-saxónico. Mike riu-se.
Sim, aquela canção era muito o estilo do Chester!
– Estás a fazer uma barulheira tremenda – avisou-o, divertido. Continuava cabisbaixo, a fingir que falava consigo próprio. E talvez falasse. O amigo não estaria ali e era impossível que conhecesse os Maneskin. Já se tinham passado alguns anos desde… apagou esse pensamento, dos anos que se passaram desde que se tinham visto. Desde que se tinham despedido unilateralmente. Primeiro o Chester, sem aviso. Depois ele, perante uma assembleia entristecida pelo lamentável acontecimento.
– O Rock é para ser barulhento, Shinoda! – E Chester continuava a cantar, animado. Estava a pular também, Mike entrevia sombras a se moverem pelo canto do olho.
– Vou descobrir como se chama esse vocalista.
– E vais fazer uma collab com ele.
– Não exageres, Chazy.
– Porque não? Eu adoraria cantar com ele!
– E ele contigo, tenho a certeza.
A música reinventava-se, renascia, unia as pessoas, fazia-o sorrir. Mike sentia-se abençoado por ter entrado naquela viagem algures, no passado, naquele tempo em que era rebelde, irreverente, cheio de sonhos. E nesse trajeto conhecera um ser humano fantástico e talentoso: Chester Bennington.
Então, a música continuava a encantá-lo, porque graças àqueles miúdos italianos pudera ter, mais uma vez, o seu amigo Chester consigo, a partilhar o que eles mais amavam. Em registos diferentes, mas juntos tinham feito música que inspirara milhões – e que continuava a congregar uma base de fãs mais ou menos estável e fiel.
Ao levantar a cabeça estava sozinho.
Colocou outra vez a música a tocar. Fazia-lhe lembrar o Chester. Fazia-lhe lembrar de como ele era e de como fora ter pertencido aos Linkin Park nos tempos alucinantes de Hybrid Theory. De como sabia bem chegar ao palco e ter aquela assistência de centenas, de milhares de pessoas que sabiam cantar o que ele, um dia, escrevera na reclusão do seu quarto de adolescente.
A música era isso mesmo. Reunião e maravilha. Renovação.
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