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Charlotte

Charlotte olhava para a imagem no celular e de novo para casa à sua frente. O endereço era aquele e a casa era idêntica à foto, até mesmo a janela quebrada do terceiro andar estava ali.

Recomeçar era complicado. Em um lugar novo, onde ninguém te conhecia. Parecia bem mais fácil, mas não deixava de ser assustador.

Respirou fundo, apertando o celular em suas mãos. O conflito interno em sua cabeça não deu nenhum sinal de que iria acabar.

— Vamos, só mais alguns passos… — dizia a si mesma, baixinho. Estava sozinha na rua, mas não queria arriscar ser pega falando sozinha. Seus vizinhos não precisavam saber das suas manias estranhas. — Você já chegou até aqui, não tem porquê recuar agora.

Enquanto Charlotte sofria sua crise na calçada quente. Da janela do primeiro andar, Yohana a observava.

— Ei — diz, chamando por cima dos ombros, sem desviar os olhos da garota na calçada. Que agora estava andando de um lado para o outro, cada vez mais e mais indecisa. — Aquela é a novata?

Elizabeth largou seu livro no sofá, indo a passos rápidos até a janela. Empurrou Yohana para o lado, para caber no quadrado com moldura de madeira colorida.

— É mesmo ela? — perguntou Elizabeth.

— É a mesma da foto — Yohana mostrou seu celular a outra. E Elizabeth pode ver. A garota na fotografia não sorria e tinha um cabelo tingido de roxo, que precisava desesperadamente de um retoque. A garota em conflito na calçada tinha o cabelo puxado para um marrom dourado e havia ganhado alguns, precisamente vários, quilos a mais. Talvez aquela foto havia sido tirada há anos? Elizabeth não sabia ao certo. Mas ela gostou da coragem em que aquela garota teve ao pintar seu cabelo com uma cor tão forte.

— Não devemos descer lá? Ela parece ao ponto de desistir. — Diz Yohana.

— Deixe-a — Elizabeth devolveu o celular, dando de ombros. — Ela já pagou três meses de aluguel, ela não vai fugir.

— Ah, ela tá subindo as escadas! — exclamou Yohana, saindo da janela e correndo até a porta. Pronta para receber a nova moradora. De todas as garotas na casa, ela era a única animada com a novidade. Na ponta dos pés, inclinava seu corpo para frente e para trás, como uma criança excitada com algo novo.

Elizabeth voltou para o sofá, ignorando sua colega de quarto. Yohana era uma das mais velhas, mesmo assim, fazia hora extra agindo como uma criança.

Abriu seu livro, tirando o marcador para poder retomar a sua leitura, ou era o que pretendia. Sua atenção estava totalmente voltada para a porta.

E então, o que pareceu ser uma eternidade para aquelas garotas, Charlotte tocou na campainha.

Yohana não tardou em atender. Em um movimento ansioso, a porta foi aberta e os ouvidos de Charlotte sofreram com os berros de sua anfitriã.

— Bem vinda, bem vinda! — a pegou pelo pulso, arrastando para dentro. Yohana estava preocupada que se não a convidasse para entrar logo, ela daria meia volta e sairia correndo. — Lizzy!

Elizabeth fechou o livro com força, não se preocupando em colocar o marcador na página. Ela já leu aquele livro antes, era só para passar o tempo. O deixou de lado, olhando para Yohana e a nova garota.

O primeiro pensamento de Elizabeth sobre ela foi: enorme. Não apenas sua altura, mas largura também. Vendo-a agora de perto, notou o quanto ela estava diferente da garota da foto. Não apenas a óbvia diferença no peso e cor de cabelo. Seu olhar era mais estranho, Elizabeth não sabia explicar. Será que era pelo nervosismo?

Pois a garota estava visivelmente nervosa. Olhava ao redor, antes de fixar seu olhar para o chão e depois para a mão que segurava seu pulso. Julgando pela demora que ela teve de subir as pequenas escadas para a porta e enfim ter coragem de tocar a campainha, Elizabeth a rotulou como alguém extremamente tímida.

— Sou Elizabeth. Seu nome é Charlotte, certo? — diz ela, por fim, com um pequeno sorriso nos lábios. Não do tipo "estou feliz com sua chegada, espero que possamos ser amigas" mas claramente do tipo "não estou nem aí, mas sou obrigada a ser educada."

Charlotte percebeu bem isso. Ela melhor do que ninguém sabia reconhecer de longe sorrisos falsos.

— Isso. — Disse, com um pequeno aceno de cabeça. Então olhou para seu pulso que ainda era segurado. Olhou para a fonte daquele aperto. — É… hm… você já pode me soltar.

— Oh, desculpa. — Yohana a soltou, rindo da sua própria estupidez. — Mas então… Você já sabe em que quarto está?

— Não, a mulher que me entrevistou disse que ia decidir no momento que eu chegasse. — Respondeu Charlotte.

— Quem foi que a entrevistou? — Yohana se virou para Elizabeth.

— Foi a Daisy. — Diz ela, agora voltando a prestar atenção em Charlotte. — Ela está no trabalho, então temos que esperar ela para resolvermos sua situação. Desculpe o transtorno, você deve estar cansada.

Elizabeth não sorriu, mas Charlotte não notou falsidade em suas palavras. Talvez aquela não seja sua principal característica. Quem sabe indiferente a descrevesse melhor?

— Você pode deixar suas coisas no final do corredor lá em cima, enquanto isso. — Diz Yohana. — Você só trouxe isso?

— Ah, sim. — Charlotte olhou para sua pequena mala em sua mão direita e a mochila em suas costas. Havia apenas as suas roupas e documentos. Ela não precisava de mais que isso para recomeçar.

— Tão pouco… Mas bem, o quarto já está mobiliado, mas você vai precisar de lençóis.

— Certo… — Charlotte resmungou em resposta. Ela não queria saber sobre lençóis, naquele momento ela só queria se trancar no seu quarto e dormi por treze horas.

— Se quiser, podemos fazer compras, mais tarde. — Sorriu Yahana. Charlotte se sentiu mal por ela e toda sua simpatia gratuita. Não queria estragar tudo com seu mau humor, sendo assim, forçou um sorriso.

— Se não for incomodo, eu agradeço.

— Então tá combinado. Podemos ir amanhã à tarde, depois da aula. Ah! Você também faz faculdade?

— Yohan, não deveria convidá-la pra sentar primeiro? — diz Elizabeth.

— Ah, desculpa. Vamos, vamos — Yohana tomou o pulso de Charlotte novamente, arrastando-a dessa vez até a mesa na cozinha.

Charlotte não teve nem tempo de conhecer a casa e já estava sendo torturada com perguntas.

— Então — Yohana começou, cruzando os braços sobre a mesa de madeira. — Faculdades? Tá namorando? Pode contar tudo!

— Céus, Yohana. Não seja tão invasiva — gritou Elizabeth do sofá. — Você nem ao menos se apresentou!

Yohana soltou uma exclamação, como se só agora tivesse notado sua falta de educação.

— Um pouco atrasado, mas… Me chamo Yohana, é um prazer. — Diz, rindo e mesmo desejando só sair dali e ficar sozinha, foi impossível para Charlotte não rir também.

— É um prazer. — Respondeu, olhando para os próprios dedos entrelaçados sobre a mesa. — E… bem, eu não faço faculdade. Não tem nada que eu queira fazer e meu último relacionamento terminou há alguns meses.

— História de corações partidos? Adoro.

— Não quer fazer faculdade? — Elizabeth jogou o livro e seu orgulho de lado, se juntando às outras à mesa.

— Qual problema? Você também não faz faculdade. — Diz Yohana.

— Sim, mas eu tenho um emprego.

— Você faz vídeo para internet, isso não é um emprego.

— Se paga minhas contas, é um emprego.

— Você faz vídeos para internet? — Charlotte piscou, um pouco impressionada. Aquilo não parecia bater com a primeira impressão que ela teve de Elizabeth. — Tipo um youtuber?

— Não é assim — Elizabeth revirou os olhos. — Eu canto.

— E ela é ótima no que faz. — Yohana voltou a se animar. — Quer ver o canal dela?

— Mais tarde. Não acha que devemos mostrar a casa a ela primeiro. Certo, Charlotte? — Elizabeth sorriu, um sorriso um pouco sombrio. Charlotte concordou rapidamente com a cabeça, com medo do que aconteceria se ela não o fizesse.

As três garotas se levantaram e novamente, Charlotte teve seu pulso segurado. Yohana a guiava pela casa. Ela observava tudo com cuidado, apreciando cada cantinho da casa. Era relativamente grande, o suficiente para seis garotas. A cozinha era americana, com ligação à sala. A mobília era simples, mas colorida, em cores pastéis. Charlotte se perguntou quem era o responsável pela decoração. Ao lado da cozinha, havia a lavanderia, separada por uma cortina de cordinhas com conchinhas penduradas. O banheiro ficava do outro lado do cômodo, uma porta abaixo das escadas.

No segundo andar, ficavam os quartos. E uma porta no fim do corredor que levava a outra escada, que levava ao terraço.

— Eu acho que você vai acabar dividindo o quarto com a Serena, ela é a única que não tem colega de quarto. — Diz Yohana.

— Mas a Annie estava querendo trocar com ela, lembra? — diz Elizabeth. — O horário dela não bate com o da Daisy, então estão sempre acordando uma a outra.

— De qualquer forma, coloque suas coisas no quarto da Serena, tem uma cama vazia lá, você pode descansar enquanto elas não chegam.

— Certo, obrigada. — Respondeu Charlotte recebendo um sorriso genuíno de Yohana como resposta. Charlotte se perguntou se aquela garota era sempre assim. Existiria tempo ruim para ela?

Charlotte desceu as escadas de volta para buscar suas coisas. Ignorando o celular tocando em seu bolso.

— Não vai atender? — Perguntou Elizabeth. Arqueando as sobrancelhas ao toque de chamada. Era tão… chamativo. O que a fazia pensar que Charlotte era do tipo de pessoa que não ouvia quando o telefone estava tocando, por isso o toque tão alto.

Charlotte limpou a garganta, pegando o celular e o desligando.

— Não se preocupe, não é nada. Eu retorno a ligação depois.

Yohana e Elizabeth se olharam. Elizabeth deu de ombros. Ela não iria se meter naquilo.

— Obrigada por serem tão gentis — diz Charlotte, não olhando necessariamente para nenhuma das duas — , se não se importam, eu gostaria mesmo de descansar um pouco…

— Sinta-se em casa. — Riu Yohana, logo empurrando Elizabeth pelas costas, de volta para o sofá. Charlotte não ficou para ouvir Elizabeth reclamando com Yohana. Ela subiu as escadas novamente, seguindo para a terceira porta no corredor.

Abriu a porta.

O quarto tinha o mesmo tom do resto da casa. Azul, rosa e amarelo. havia uma cama em cada ponta do quarto. Junto com uma pequena cômoda e uma escrivaninha. O canto esquerdo do quarto estava intocável, então foi naquela cama que Charlotte se jogou e dormiu quase instantaneamente.

Na sala, Yohana e Elizabeth estavam com o celular em mãos. Procurando por Charlotte em todas as redes sociais existentes.

— Achei o instagram dela. — Diz Yohana. Elizabeth larga seu próprio celular, chegando mais perto da colega de quarto.

— Acha que é o cabelo dela de verdade? Acho que ele não ia aguentar tanta mudança assim. — Diz Elizabeth, olhando o feed de notícias de Charlotte. Ela havia parado de contar no oito, Charlotte parecia tratar o cabelo como um caderno de colorir. Mas havia algo a mais. Elizabeth pegou o celular da mão de Yohana. Pressionando as imagens para ampliá-las.

— Olha esses quadros. — Colocou o celular entre as duas. — Acha que é ela quem pinta?

— Acho que não. Olha, tem os créditos na legenda.

Elizabeth pressionou o perfil marcado, que levava ao perfil do artista. Não havia apenas quadros, mas grafites em grandes paredes também. Em cores vivas e fortes, em alguns deles, havia desenho, não apenas cores. Eram traços simples, mas carregados.

— Hm? — Yohana franziu a testa. — Por que tem uma foto dela aqui? — seu dedo com unha exageradamente decorada pressionou a foto, onde um texto preenche a legenda.

— ... E como única herdeira do artista, Charlotte Millie tem todos os direitos reservados das obras do artista Bruno Millie. Um dos grandes artistas de sua geração...

— Bem, — diz Yohana, ainda olhando o celular. — Eu também não faria faculdade se tivesse com a vida ganha desse jeito.

— Ela não tem cara de que vem de uma família de artistas. — Elizabeth balançou a cabeça.

— Eu por acaso tenho cara de quem veio de uma família de médicos e advogados? Aparência não quer dizer nada.

— Mas se ela tem uma herança, porque escolheria morar com a gente? — Elizabeth colocou a mão esquerda sobre o queixo, o indicador pressionando os lábios.

— Você fala como se morar aqui fosse ruim.

— Em comparação com uma mansão? É horrível.

— Ainda não sabemos se ela morava em uma mansão.

— Yohana, ele era um artista. Você mesma viu os quadros. Ele não parecia nenhum tipo de artista flopado.

— Tipo você e seus vídeos? — alfinetou Yohana, recebendo um tapa no ombro como resposta.

Elizabeth sabia que não recebia o reconhecimento que merecia. Entretanto, ela não se limitava apenas a vídeos para a internet. Ela tinha um emprego fixo na lanchonete da universidade e se apresentava em bares durante a noite. Ela não tinha nenhuma herança milionária como a da Charlotte — ela nem mesmo tinha família. — como as outras garotas (tirando Yohana, pois essa preferia passar horas vendo desenho a pensar no futuro) ela se esforçava para construir um amanhã.

— Olha — Yohana, que ainda xeretava a rede social de Charlotte, a chamou — Ela tem fotos com um cara.

— E daí?

— Será que é o ex namorado dela?

— Você vai mesmo pesquisar todo o histórico da garota?

— Por que não? Ela não pareceu do tipo que conta as coisas se você perguntar. E tá na internet. É de domínio público.

— Você a conheceu há trinta minutos e acha que a conhece.

— Eu sei julgar bem a primeira vista, você sabe. — Yohana riu, ainda com os olhos no celular. Elizabeth nada falou. Ela sabia que era verdade.

Elizabeth pegou seu livro de volta, apenas para não dar a Yohana o gostinho de sua curiosidade. Seus olhos estavam fixos na página, mas seus ouvidos estavam atentos para qualquer fofoca nova de Yohana.

— E não é que é realmente o ex namorado? — Yohana riu, como sempre ria enquanto assistia seus desenhos. Ela estava se divertindo. — Ele é bonito. A Charlotte não é de se jogar fora também, super pegaria se fosse um cara.

Elizabeth segurou a vontade de falar "você não precisa ser um cara para ficar com uma garota" mas se segurou. Folheando a página que ela não terminou de ler.

Aaah, eles faziam um casal tão fofo. Eles pintavam cabelos juntos. Nossa, se não for assim eu nem quero. Não, espera, ele era o cabeleireiro dela. Ele tem uma página oficial, também.

Elizabeth viu o dedo indicador de Yohana clicar em um link, levando a um ciclo vicioso.

— Hmm… Eu não conheço esse bairro. Lizzy, você conhece? — Yohana virou o celular para Elizabeth, está, ergueu minimamente os olhos, em sua personagem fingindo que estava sendo incomodada enquanto lia. Elizabeth leu o endereço.

— Isso fica do outro lado da cidade. É uma rua comercial. Já trabalhei em um bar nessa rua. — Elizabeth estreitou os olhos, olhando a fachada da loja. — Conheço o lugar.

— Você é realmente uma rodada no mundo, Lizzy.

— Você prestou atenção no que acabou de falar?

— Só tem foto de cabelo — Yohana pareceu desapontada com o óbvio. — Vou voltar para o perfil da Charlotte.

Elizabeth revirou os olhos. Levantando. Agora ela realmente iria deixar Yohana sozinha com suas esquisitices. Diferente da colega de quarto, ela precisava se preparar para o trabalho.

Ela tinha que trabalhar na lanchonete naquela tarde e um show para fazer a noite. Um show. Era exagerado, não passava de um palco de bar e um banquinho. Mas era onde ela queria estar, fazendo o que amava fazer. Ela podia reclamar, sonhar mais alto. Porém, ser realista ajudava a pagar as contas.

Que no momento, acumulavam como papel em gaveta.

Aluguel, compras mensais, aulas de violão, plano do celular… A lista não parava de crescer.

Elizabeth suspirou. A mão parada na maçaneta de sua porta. Olhou para o quarto de Serena, onde Charlotte dormia.

Até o ano passado, ela havia sido a novata. A carne fresca. A quem comprava o pão. As outras garotas não eram malvadas, mas também não facilitava nada. Era cada uma por si. Elizabeth estava acostumada com aquilo, afinal, nunca teve ninguém que fizesse as coisas no seu lugar.

Viver de orfanatos em orfanatos desde que pronunciou as primeiras palavras ajudou a construir a garota que é hoje. Não importava se ela não tinha um sobrenome próprio.

O pior havia passado. Ela estava bem.

— Lizzy, vai ficar parada aí até quando? — disse, Annie, em meio a um bocejo barulhento. Eram onze da manhã, mas isso não parecia impedir Annie de estar morrendo de sono.

— Voltando do trabalho agora? — perguntou Lizzy, dando espaço para Annie passar e abrir a porta ao lado.

— Sim, e preciso voltar em três horas. — outro bocejo. — Yohana estava concentrada no celular e nem me viu chegar, o que tá rolando?

— A moradora nova chegou. Charlotte.

— Ah, era hoje? — Annie fez uma careta, como se não tivesse lembrando de muitas coisas ultimamente. — Onde ela está?

— Mandamos ela para o quarto da Serena, deve estar dormindo.

— Ah! Eu ia me mudar para lá ontem. Droga! — Annie bateu com a mão em sua porta. Ela realmente estava com a memória péssima ultimamente. — O trabalho tá me sugando, eu tenho que decorar o roteiro da série e daquele comercial de sabão. Minha cabeça está cheia disso.

— Se você quiser, posso te ajudar a mover suas coisas. Charlotte ainda não se acomodou, ela apareceu com apenas uma mochila e uma mala pequena. Tudo indica que ela não tem muita coisa pra arrumar

— Ora, ora, minha pequena Sherlock Holmes. — Annie riu da própria piada. Seguindo por um bocejo longo e barulhento. — Pode fazer isso por mim? Te trago um autógrafo do Mariam da próxima vez.

Elizabeth riu.

— Eu já tenho três autógrafos dele. E um poster em tamanho real. Eu nem mesmo sou tão fã dele assim.

— Faço ele gravar um vídeo falando o quanto seu canto é bonito.

— Não precisa, mas não seria nada mau ouvir um bonitão elogiando meu talento.

Foi a vez de Annie rir, seguido de mais um bocejo.

— Eu vou indo, Lizzy. Essas três horas de sono realmente significam muito para mim.

Elizabeth se despediu da garota, abrindo enfim a porta do seu quarto. Ela tinha muito trabalho a fazer.

De volta a sala. Yohana não estava mais interessada em stalkear a vida de Charlotte. Ela descobriu o suficiente, o resto ela gostaria de ouvir da própria garota.

Yohana precisava levantar e se preparar para a aula que teria naquela noite e um estágio pela manhã. Entretanto, o único movimento que fez foi pegar o controle remoto e ligar a TV em seu desenho favorito do momento.

Enquanto Adora gritava "Pela honra de greyscow!" e se transforma na heroína She-Ra. Yohana se perguntava quando chegaria o dia em que seu próprio desenho animado estaria naquela mesma tela.

Vindo de uma família de médicos e advogados, Yohana não podia nem mesmo cogitar a ideia de colocar seu sonho em prática. Mesmo assim ela não parava de sonhar. Seguir a tradição da família era uma obrigação. A faculdade de medicina era uma droga, mas seus estágios como pediatra a faziam se sentir um pouco melhor.

Pegou seu celular, ligando para o segundo número nos seus favoritos — ninguém mais fazia chamadas pelo celular, ela sabia. Celulares hoje em dia serviam para tudo, menos para ligações normais. Mas Yohana era tradicional. Ela adorava falar ao telefone com as pessoas de 2009.

— Acho bom você estar assistindo a nova temporada nesse momento. — disse. Do outro lado da linha, um suspiro seguido de uma risada foi a resposta.

— Eu estou estudando, esqueceu que temos uma palestra hoje e que nós somos os palestrantes?

— E daí? A Felina tá cruelmente linda nesse episódio, você viu?

— Não, eu não vi. Por favor, segure seus spoilers.

Yohana escorregou no sofá, as pernas sobre a mesinha de centro — Elizabeth odiava quando ela fazia aquilo, mas Elizabeth não estava ali para repreendê-la.

— Você nem imagina o que está perdendo, Nick Ah! — Yohana soltou uma exclamação exagerada, sabendo que aquilo instigaria seu amigo de infância. — Nossa, isso foi muito incrível!

Certooo, vou desligar.

— Espera, espera — Yohana inclinou o corpo para frente, como se pudesse segurar Nikolaj e impedi-lo de desligar a chamada. — Prometo não falar mais nada, só não desligue.

— Está se sentindo solitária?

— Um pouco — disse — Te falei da garota nova que estava vindo morar aqui?

— Sim. Ela já chegou?

— Hoje pela manhã. Ela parece ser gente boa, mas uma Lizzy da vida, sabe? Tipo, ela chegou toda tímida…

Do outro lado, Nikolaj suspirou.

— E não é natural? Qualquer um se sentiria tímido ou intimidado com uma mudança de território, principalmente com você por perto.

— Isso foi muito rude da sua parte.

— Aposto que você assustou a garota, assim como fez com a Elizabeth quando ela chegou.

— Eu não assustei a Lizzy.

— Devo te lembrar que ela não falou com você depois de duas semanas porque te acha estranha pra caramba?

— Você não tem que estudar para uma palestra?

Nós! Você mesma se inscreveu como palestrante, por que não leva isso a sério?

— Você sabe porque eu me inscrevi — foi a vez de Yohana suspirar. Ela afastou a franja da testa, como sempre fazia quando começava a se sentir incomodada e/ou frustrada. — Minha mãe acha que estou levando tudo na brincadeira e queria me ver fazendo algo sério.

— E tá errada? Você quase nunca presta atenção às aulas.

— E mesmo assim minhas notas são ótimas. Eu cresci ouvindo termos médico, minha primeira palavra foi Estetoscópio.

— Achei que sua primeira palavra havia sido "Protesto!"

— Eu passava mais tempo com minha mãe, você sabe.

Sua mãe era uma cirurgia neurologista, enquanto seu pai era advogado. Sempre foi assim. Gerações e gerações de médicos e advogados na família. Nenhuma brecha para uma roteirista de desenhos animados.

— Quer vir aqui em casa pra estudar? — pergunta Nikolaj.

— Eu não sei, não…

— Prometo maratonar She-Ra e o que mais você quiser quando terminarmos.

— Chego em cinco minutos.

═❁═

Quando Charlotte acordou, tinha uma garota parada no meio do quarto olhando em sua direção. Ela sentou rapidamente, fazendo a cabeça recém despertada rodar. Charlotte gemeu.

— Ah, foi mal, te acordei?

— Não acho que acordei por sua causa — respondeu, piscando para que os olhos focassem novamente. Ela olhou para a garota, era a mesma que a havia entrevistado. — Daisy, certo?

— Isso. — Respondeu. — É um pouco repentino, mas vou pedir que você troque de quarto comigo. Era pra Annie sair ontem, mas ela estava ocupada com o trabalho e eu também. No fim, não deu pra gente se organizar antes de você chegar.

— Tudo bem — diz Charlotte, já se levantando. — Pra onde eu devo ir?

— O quarto ao lado, a porta amarela. Você vai ficar com a Annie enquanto eu fico aqui com a Serena. — Diz Daisy. — Acredite, estou te fazendo um favor. A Serena passa a noite acordada, ela trabalha na internet. Você iria enlouquecer dormindo com ela. Por isso ela tinha um quarto só pra ela.

— E isso não te incomoda?

— Não. Raramente durmo em casa por conta do trabalho. Serena vai ser o menor dos meus problemas.

— Serena é realmente o nome real dela?

— Não — diz Daisy, mostrando um sorriso pela primeira vez — É seu codinome na internet e acabou adotando pra vida real. Apenas a proprietária sabe seu nome verdadeiro.

Charlotte arqueou as sobrancelhas, em um gesto genuinamente surpreso. Gente assim realmente existia.

— Enfim — Daisy limpou a garganta — Não quero te apressar, mas agradeceria se saísse agora. É que quero arrumar tudo antes de voltar para o trabalho.

— Ah, claro, desculpa — Charlotte levantou da cama, levando consigo sua mochila e mala. Da porta, Daisy indicou onde seria seu quarto definitivo. Charlotte entrou no quarto de porta amarela.

Era um pouco diferente do quarto que ela estava. Era bagunçado, mas não uma bagunça de coisas espalhadas e desorganizadas. Era uma bagunça visual. Haviam anotações espalhadas por todo o quarto, fotografias de um homem que ela jurava conhecer de algum lugar coladas nas paredes e fichários coloridos.

Entretanto, diferente do quarto que Charlotte conheceu antes, esse era dividido por um mezanino. Parecia ser um quarto para três pessoas. Havia um beliche em baixo e outro no mezanino. Charlotte queria ficar com a parte de cima. Desejar privacidade em uma casa compartilhada parece idiotice, mas ela queria mesmo assim.

Charlotte colocou sua mala e mochila no chão, bocejando. Ela havia dormido pouco, sua cabeça estava latejando. Também estava começando a ficar com fome.

Ela sabia que sua colega de quarto se chamava Annie. Mesmo se Daisy não tivesse falado o nome ela saberia pelas letras com ledes sobre a escrivaninha. Charlotte estava andando pelo quarto, quando a porta foi aberta e a garota da fotografia colada no espelho do guarda roupa rosa bebê apareceu.

— Você deve ser minha nova colega de quarto — diz Annie, sorriso de orelha a orelha. Charlotte sorriu de volta, um sorriso mais contido. O sorriso ao estilo Charlotte. — Eu sou a Annie, é um prazer.

— Charlotte — ela acenou — Vou tentar não ser um incômodo muito grande pra você.

— Não se preocupe com isso — Annie gesticulou, caminhando pelo quarto. Ela pegou um dos fichários coloridos. —, Eu praticamente só venho pra casa para dormir. E eu durmo muito pouco. — Ela riu. Como se sua péssima rotina de sono fosse sua piada interna.

— Certo. — Diz Charlotte, tentando não mexer tanto seus dedos, como sempre fazia quando ficava nervosa. — Então, qual cama está livre?

— Você pode ficar com o mezanino. — Responde Annie. — Daisy e eu não o usamos porque dava trabalho demais subir as escadas. A gente praticamente dividia a mesma cama — Ela apontou para a parte de baixo do beliche — É bem conveniente simplesmente se jogar ali depois de um dia longo no trabalho.

Charlotte anuiu. Ela nunca precisou trabalhar, mas sempre via o estado do seu pai depois de longas horas no estúdio. Era o mesmo olhar que Daisy estava minutos antes e as olheiras que Annie carregava agora.

— Eu adoraria conhecer minha nova colega de quarto, mas eu preciso ir — Annie realmente parecia lamentar não poder passar horas e horas conversando sobre assuntos pessoais com Charlotte. — Mas a gente se fala mais tarde, tudo bem? Quando a Serena voltar podemos te dar uma festa de boas vindas.

— Ah, não se incomodem com isso — começou Charlotte, mas Annie já estava mandando um áudio em um chat do que parecia ser um grupo com todas as garotas da casa. (Annie também se assegurou de adicionar Charlotte nele assim que terminou de mandar a mensagem de voz)

Charlotte continuou acenando até mesmo depois de Annie ter fechado a porta. Até agora estava tudo indo bem. As garotas pareciam ser uma diferente das outras, mas Charlotte estava positiva sobre aquilo. Ela ia conseguir sobreviver.

18 мая 2021 г. 17:21 0 Отчет Добавить Подписаться
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