ESPANHA, BARCELONA.
Um estojo com lápis de cor, um papel e um temporizador. Aqueles antigos pertences haviam sido repassados para Nyack, meu irmão mais novo, já que no auge dos meus dezessete anos eu preferia festas e celular.
Ignorando as palavras que saíam da boca do velho em frente ao púlpito, eu batucava os lápis em cima da superfície do banco em minha frente. Um lápis da cor vermelha e outro da tonalidade azul residiam entre os meus dedos e o meu mundo perfeito residia naqueles poucos instantes de fuga, mesmo que todo o resto me arrastasse de volta à realidade.
Conforme o ritmo aumentava e o som ludibriava os meus ouvidos, a música presente dentro dos meus pensamentos percorria por toda a minha mente, como se automaticamente ela nascesse de lá, tão livre quanto o ar que eu respirava.
Ao meu redor, as pessoas estavam atentas demais na pregação que acontecia, mas algumas delas não deixaram de franzir o cenho e girar os olhos pelo ambiente, procurando de onde aquele ruído insistente e desconexo estava vindo. Eu me deparava com alguns adeptos a juízes jogando sentenças em minha direção em forma de olhares, mas fazia questão de abaixar o rosto até que um destes alcançou a minha mãe, que ficou sem jeito e cutucou-me no braço.
Park Chanyeol, o garoto que gostava de batucar coisas. Era assim como todos me conheciam na igreja desde que eu era pequeno. Durante a minha infância, a atitude era dita como adorável, mas conforme eu crescia, outros instrumentos eram mais valorizados do que os de meu interesse.
Encarei minha mãe, questionando-a silenciosamente com o olhar, o porquê ela havia me interrompido. A mulher sussurrou para mim:
― Não faça barulho ou irão chamar a sua atenção.
Devolvi meus lápis a Nyack e ele sorriu, se divertindo com a situação. Instantaneamente, escondi as mãos, cruzando os braços no peito e me encolhendo no banco. Minha visão estava em busca de uma distração, qualquer fosse, contato, que me tirasse do tédio. Meus passatempos praticamente não existiam dentro daquele lugar.
Girei os olhos pelo ambiente, até que na fileira ao lado de onde eu estava, um jovem estava atento, encarando-me como se tivesse algo grudado em meu rosto. Não tinha como ignorar um cara com mechas azuis no cabelo, alardeando a própria personalidade em meio a tantos cabelos tradicionais. O azul simplesmente me hipnotizou e jurei que se o velho na frente de todos, pudesse dizer quais cores existiam no tal do paraíso que ele tanto explicava, a cor das mechas daquele rapaz serviria de exemplo.
O desconhecido pegou um papel qualquer e escreveu algo neste enquanto eu assistia a cada movimento. Quando todos se ajoelharam para realizar a clássica oração de um domingo à tarde, ele aproveitou para se inclinar para o lado e me apontou o pequeno bilhete dobrado. Demorei a entender o recado e somente capturei o papel quando este foi sacudido com intimidação.
Voltando a posição de oração, ele escondeu a testa entre os braços, mas logo levantou a cabeça aos poucos, com os olhos grudados em minha reação, numa análise fascinante de que estava atento a minha reação.
Na primeira linha, havia um "Olá! Qual é o seu nome?” escrito com uma letra um pouco torta ou rabiscada às pressas. O olhei de canto com um meio sorriso, esperando um sinal de afinidade, mas ele continuava inexpressivo, me encarando com os olhos castanhos imponentes e cativantes.
Escrevi meu nome, aproveitando para perguntar como ele se chamava. O entreguei após esticar bem o braço e cutucá-lo com a ponta da folha dobrada. Ele riu de canto ao notar minha dificuldade durante o processo, capturou o item dos meus dedos com rapidez, como se estivesse cometendo um crime. Aparentemente, ninguém havia nos visto ou teriam chamado nossa atenção. Pode apostar que teriam!
Segundos depois, quando o papel veio parar nos pés do meu banco, ao lê-lo, eu tive a leve impressão de que com ele, as coisas seriam um pouco mais divertidas.
Alguém. Era o que estava escrito.
Quando me virei para repreender o mistério alheio com o olhar, pois eu nunca gostei de meias respostas, me deparei com um banco vazio. Na porta aos fundos, localizei o cabelo que batia na nuca, os fios azulados da mecha escondida e o terno maior que o próprio corpo, sumindo do mesmo ambiente que o meu.
Eu estava certo de que havia acabado de conhecer o meu inferno particular.
2 ANOS DEPOIS.
Abotoei o último botão do terno, abaixei os fios rebeldes do cabelo preto com gel de pentear, calcei os sapatos novos, pois eu ainda não passava de um desgraçado de um playboyzinho sustentado pelos pais e de certa forma, gostava do encargo, pelo menos até que eu conseguisse grana suficiente para meter o pé daquela casa e provar o contrário.
Eu estava me esquecendo de alguma coisa? Ah, certo! Escondi o maço de cigarro dentro do bolso, posicionei a bíblia debaixo do braço como um fiel desprovido de maldade e por fim, eu estava pronto. Estava pronto para encontrar-me com mais uma desordem ambulante, ou como todos ao meu redor costumavam chamar, o filho pecador da Dona Junkyo.
Não haviam muitas opções, eu precisava de dinheiro para o final de semana e meu pai, de um pupilo que assistisse seu habitual espetáculo. Tomei coragem de sair no mesmo carro que a minha família e a mulher desamparada da vez, já que nenhum jovem da minha idade gostava daquele tipo de compromisso. Não que eu fosse a exceção ou que a agenda exigisse outro tipo de lazer, mas porque, inevitavelmente, eu estava sendo obrigado a acompanhá-los.
No banco passageiro do veículo, o meu silêncio era perpétuo, tal como o habitual, já que meu pai sempre chamava a atenção quando alguém conversava enquanto ele dirigia. Ao seu lado, uma mulher parecia tremer, estava vestida inteira de preto, mas eu estava ocupado demais buscando distrair minha mente com outros pensamentos para pensar no motivo de seu evidente luto.
O que eles fariam, afinal? Rezariam para que algum morto voltasse à vida ou condenariam alguma alma pecadora? Eram tantas opções que preferi apenas pensar em outra coisa. Como, por exemplo, para qual festa eu iria na noite seguinte, com qual roupa ou quantas bebidas beberia. Se eu terminaria a noite caindo pelos cantos, tentando enfiar a chave na porta de casa enquanto evitaria de fazer o mínimo de barulho possível.
Todos saíram do carro, eu com um pouco menos de vontade. Caminhamos em direção a um ambiente aberto, com inúmeras pessoas reunidas dentro de tendas, bebendo e vivendo de risadas e conversas altas. Tenho certeza que a minha inveja tornou-se perceptível, pois os copos me chamavam a cada mesa que eu passava.
O local era estranhamente diferente do que eles estavam acostumados já que seus costumes tradicionais insistiam em me impor que igreja aos domingos e leitura dentro do quarto eram a única diversão disponível para o filho do pastor. Contudo, eu tinha meus próprios entretenimentos que eram colocados em prática sempre que eu conseguia fugir de casa com alguma desculpa esfarrapada. E eu precisaria de uma boa para o dia seguinte.
Os gritos aconteceram. Parecia ser uma discussão, ou talvez, mais de uma. Passamos por vários grupos de pessoas. Durante todo o caminho, permaneci acompanhando o meu pai enquanto minha mãe estava ao meu lado, tentando acalmar a mulher desesperada que parecia carregar a preocupação no rosto padecido.
Quando estávamos no lado interno próximo da extensa pista, foi possível alcançar um pouco mais de lucidez e de repente, um novo universo se abriu bem diante dos meus olhos. Reparei que havia uma plateia extensa e logo à frente, um enorme espaço de terra, areado e rodeado por separações de ferro. O caminho de onde a competição acontecia, era limitado por faixas amarelas. Os stands e as bandeiras de patrocínios gritavam para todos os lados.
Procurei pelo que recebia tamanha atenção. Meu pai sentou-se num lugar vazio da arquibancada e pediu que nós o acompanhássemos. Apostas estavam acontecendo ao nosso redor com tamanha naturalidade e eu não tinha uma opinião formada sobre aquilo. Só era um mundo completamente aleatório.
Enquanto o locutor narrava o placar atual, os competidores aceleravam bruscamente. Tentei contar por cima quantos destes estavam na pista, mas minha visão desistiu depois do décimo quinto. Precisei apertar os olhos para enxergá-los com precisão, já que estavam a metros de distância do público. Somente quando a onda de terra diminuiu, foi possível perceber que eram mais competidores do que imaginava ser. À frente, a moto laranja tomava velocidade e conseguia o prodígio de estar em primeiro lugar, pouco à frente de outro oponente.
Todos gritavam por Serpiente Azul e ao meu lado, meu pai parecia incomodado com que seus ouvidos prestassem a esse papel.
Senti um cutucão pressionando-me na área da cintura, quando me virei, um rapaz de sorriso largo me estudava.
― Pra quem está torcendo, cara? ― Suas sobrancelhas arqueadas e a forma como seu corpo roubava meu espaço não era nada agradável.
Não recordo de ter dado algum sinal de que o conhecia, mas ele me analisava como se tentasse.
― Pra ninguém ― respondi áspero.
Ele piscou por um momento e retomou:
― Precisa torcer para alguém, senão não tem porque estar aqui.
Desviei minha atenção para frente, infelizmente ainda o ouvindo.
― Faça uma aposta! ― Eu sentia que os seus olhos percorriam a minha vestimenta. ― Quem você acha que ganha?
― O da moto laranja. Está óbvio!
― Aposte no concorrente logo atrás dele ― ele respondeu calmamente aos sussurros. ― Na moto azul. Escreva Serpiente Azul no livro de apostas e terá ganho dinheiro suficiente para suas próximas roupas de grife.
― Não acho que ele irá vencer, parece atrasado.
― De algum jeito, ele sempre vence! Mas se quiser deixar nosso papo mais divertido, eu tenho no meu bolso, duas notas altas demais para alegrar o seu final de semana.
O olhei de canto, de repente interessado na conversa e ele apontou-me a carteira. Meu pai passou o braço pelo meu colo e afastou o braço do rapaz para longe da minha direção. Apesar de não sermos próximos, ele entendia meu interesse em números.
― Não estamos aqui para apostas, meu rapaz.
Desapontado, o jovem se levantou e sumiu da minha visão.
Apesar da oferta negada, eu comecei a prestar mais atenção no tal do competidor citado. Não me concentrei no final da corrida só porque meu pai estava ali, me incitando a fazer isso, mas porque meus olhos não conseguiam se desviar de algo tão perigoso. Como eles conseguiam simplesmente entregar suas motos para praticamente destruí-las? No meio da corrida, muitos competidores perdiam o equilíbrio, caíam da moto e acabavam desclassificados. E provavelmente, além de sair sem o prêmio, eles também ainda teriam que arcar com consertos e machucados. Céus, que desperdício!
Quando faltavam apenas alguns segundos para terminar, após uma rápida acrobacia semelhante a um salto sobre a última sequência da pequena lombada, a moto azul conseguiu se destacar, ultrapassando o primeiro lugar. Todos a minha volta vibraram junto com o acontecimento, pois seu posicionamento em cima da moto era hipnotizante, desde o modo como a circunferência corporal ficava e seus dedos apertavam o volante com firmeza.
O número 120apareceu na tela com explosões de emojis indicando que o tal do Serpiente Azul havia ganhado. Meu pai fez um ruído de desaprovação com a boca, se levantou e pediu que eu o acompanhasse.
Passávamos por um mar de pessoas reunidas na entrada onde os competidores deixavam suas motos, meu ombro batia contra os de alguns torcedores durante todo o caminho. Droga! Era uma perda de tempo ter viajado por quase uma hora para estar dividindo espaço com torcedores e repórteres, sendo que eu poderia estar muito bem em alguma festa, bebendo pra cacete e esquecendo até do meu nome. Mas bem, para conseguir chegar a esse nível, eu precisava da minha carteira cheia e o dinheiro praticamente gritava em meu ouvido para seguir as ordens do meu pai.
E de repente, quando ouvi as pessoas gritando por aquele pseudônimo, eu não quis admitir a mim mesmo que uma linha de arrepio captou parte da minha pele. Pois quando meu pai parou e eu quase choquei com sua figura, coloquei meus olhos no que ele estava atento e a falta de interesse foi dissipada.
Byun Baekhyun estava vestido com o uniforme do esporte onde chamas azuisdecoravam suas costas e peitoral. Sua mão seguravao capacete na lateral de seu corpo enquanto seu rosto estava completamente exposto. A linha jovial havia ganhado destaque para os piercings, lentes azuis, pálpebras esfumadas com maquiagem preta e o começo de seu pescoço dando indícios da presença de tatuagens. Como alguém conseguia passar de um adolescente de estilo confuso para um cara fodidamente bonito em apenas dois anos?
Eu ficaria duro só com a imagem, mas concentrei-me na missão na qual eu estava sendo arrastado. Meu pai tentou passar pelos seguranças, no entanto, estes o travaram antes que tentasse, o segurando pelo peito.
― Onde pensa que está indo?
― Precisamos conversar com Baekhyun.
Ele riu.
― Todos querem, amigão!
Com a atenção tomada, Baekhyun olhou para mim de relance e todo meu corpo foi desligado por uma fração de segundos. Rapidamente, em resposta, ele se aproximou do segurança e disse algo em seu ouvido. Quando terminou, saiu andando, sem nem olhar para trás.
O homem me encarou e disse:
― Pode entrar!
Os passos foram dados de forma automática, passei pela grade de separação, mas percebi que não havia ninguém atrás de mim além da plateia separada por uma barra de proteção. Virei-me e meu pai encarou o segurança, irritado.
― Eu também estou com ele.
― Sinto muito, mas Baekhyun deixou claro que é apenas um por vez.
― Certo! ― Meu pai me encarou por cima dos ombros do segurança. ― Volte e fique, Chanyeol! Eu vou em seu lugar.
― Nada disso! ― O segurança o intimidou. ― Baekhyun disse que quer conversar apenas com ele. Você, fica!
Esperei por uma reprovação, mas meu pai maneou a cabeça, entregando um papel.
― Diga que o queremos de volta na igreja e peça para ele assinar esse papel.
Capturei o item de suas mãos, mas ele agarrou meu pulso após o movimento, segurando-me contra ele enquanto seus olhos me coagiam.
― O faça assinar a droga do papel!
― Certo, certo! E depois disso voltamos para casa, certo?
― Não ouse estragar tudo, como sempre faz.
Ele soltou minha mão e eu peguei a direção do corredor com o passo mais lerdo que o normal. Pois, enquanto procurava pela sala, ainda sem saber em qual delas ele estaria, me ocorreu que eu deveria voltar e apenas desistir. Afinal, eu era terrível com pregações e coisas do tipo. Por onde eu começaria?
Na terceira sala, em frente a porta, havia uma pequena placa com os dizeres conhecidos. Esta estava entreaberta, mas ainda assim, eu bati, esperando por uma resposta. No entanto, o som do lado de fora interrompeu os meus passos. Trees de Twenty One Pilots começou a tocar no som ambiente, minha música favorita não merecia estar onde eu menos queria permanecer. Me parecia tão injusto ouvi-la enquanto eu me arremessava para um dos problemas de meu pai.
Sofri uma discussão interna se deveria ou não entrar. Numa falha tentativa de pensar num plano melhor, empurrei a porta com cuidado e Baekhyun estava retirando as luvas das mãos enquanto o zíper de seu macacão na parte inferior do tronco estava aberto até o começo da virilha.
Merda, merda! Hora errada de entrar, Chanyeol.
Travei por um momento. Engoli a saliva e apertei o papel em mãos.
― Não precisa se preocupar com formalidades. Você foi convidado, Chanyeol.
Ele sabia meu nome. Espera! É óbvio que ele saberia, nós havíamos trocado algo próximo de uma apresentação quando éramos mais novos. Mas ainda assim, eu sempre acreditei que por ele ter sumido depois disso, a lembrança do meu nome havia ido junto.
― Se eu estiver te atrapalhando, posso voltar em outro momento.
― Acalme seus hormônios, eu não vou trocar de roupa na sua frente, Park. Não sem a sua permissão, é claro! Eu sei os meus limites.
Mas eu não sabia os meus. Todos os meus limites adorariam ultrapassar os de Baekhyun e isso não parecia certo.
― E então? ― Ele levantou a sobrancelha, recostou-se sobre a mesa e me encarou. As costas sutilmente se inclinaram para trás, enquanto suas mãos se seguraram na ponta do móvel, deixando o abdômen mais evidente.
Era praticamente impossível desviar os olhos das partes visíveis das tatuagens em seu abdômen e meu interesse foi captado assim que subi o olhar e ele sorriu em resposta. A posição era tão narcisista que me desconcentrou por um breve momento.
― Você nunca pensou em voltar a frequentar a igreja?
Ele esbanjou um sorriso de canto. As palavras pareciam ter tocado em um ponto sensível.
― Pediu para entrar no meu camarim porque seu pai sente que perdeu um fiel? Está tarde para recuperar o tempo perdido, não acha? Já faz dois anos que eu fui expulso de lá. O meu luto eu pago correndo, não esbanjando sorrisos falsos.
Fiquei em silêncio. Ele entendeu o recado, pois se remexeu, saindo do lugar. Lamentei-me por um momento, pois queria que o movimento da blusa aberta durante seus passos parassem de atrapalhar a minha visão privilegiada.
Ele respirou fundo e se aproximou. Ficou tão perto que eu precisei segurar a respiração na garganta, pois seu interesse exacerbado em me analisar chegava a incomodar. Haviam duas coisas acontecendo dentro daquele inferno. A minha música favorita estava tocando bem baixinho do lado de fora, mas do lado de dentro, a tensão sexual definhava cada membro do meu corpo. A começar pela parte mais íntima.
Seu contato visual desceu descaradamente dos meus olhos para a minha gola alta, depois para minha cintura e por fim, para o que minhas mãos seguravam.
― Veio pegar o meu autógrafo?
― Não!
Ele soprou uma risada, se divertindo com minha expressão séria. Nem eu sabia do que se tratava e havia sido um erro não ter conferido com antecedência.
― Meu pai pediu que você assinasse.
O direcionei. Baekhyun pegou, abriu o papel e passou rapidamente os olhos pelo texto.
― Mas é claro que seria isso! Por que mais a família Park me procuraria após a morte dos meus pais? ― A pergunta parecia retórica, minha confusão mental também.
― Duvido que ele irá desistir se eu não voltar com sua assinatura, meu pai é do tipo determinado. Talvez você esteja encrencado.
― Eu não pareço encrencado, Chanyeol, eu sou encrenca. E as pessoas que te esperam lá fora, odiariam saber o que se passa na minha mente, toda vez que eu coloco meus olhos em você.
Céus!
― Pretende ou não assinar isso, encrenca?
― Terá que responder por mim dessa vez, eu simplesmente não tenho mais paciência. Minha tia veio com vocês, certo? Se não fosse para ficar chorando durante a minha vitória, eu até pensaria em assinar essa merda como agradecimento por ter saído do conforto de sua casa e vindo me assistir pela primeira vez em dois anos.
Me apontou o papel, desanimado.
― É apenas uma assinatura ― insisti. ― Que desculpa eu daria se saísse por aquela porta sem ter conseguido o mínimo?
Baekhyun percebeu que eu não me movimentei para pegar o item de volta, me olhou debaixo, aproximou-se e encostou o corpo no meu.
― Eu não sou comprado com o mínimo, garoto, e não pretendo assinar esse papel, nem que eu esteja morto. Então, se preferir, pode levar outra coisa. Um beijo, por exemplo.
Ele direcionou o olhar para a minha boca com uma vontade perceptível. Se eu desse três passos para trás, me livraria da tentação de colaborar com suas más ou boas intenções e correria de volta para a minha casa, para dentro da minha caixinha hétero, escondendo completamente minha bissexualidade por debaixo do tapete, mas havia todo um caminho para isso e até mesmo o primeiro passo parecia impossível agora.
Sem beijar. Sem tocar. Sem me apaixonar. Eram as três regras que eu havia me imposto a partir do momento que me toquei pensando no primeiro cara que eu senti algo além de simpatia, porque aparentemente, homens me dariam uma baita dor de cabeça. Baekhyun era do tipo que complicava tudo, mas era quase impossível ignorar sua existência.
Fiz questão de dá-lo passagem quando o puxei pela nuca e o beijei ali mesmo, longe de qualquer olhar de julgamento ou dos princípios da família tradicional que haviam me criado e me esperavam do lado de fora, como abutres. E foi exatamente aqui, no lugar de Baekhyun, que eu assinei a minha própria sentença.
Comecei veloz demais, necessitado do contato porque preservei o desejo de saber como era beijar o problema por tanto tempo, que me deixei levar pelo sentimento. Mas enquanto ele empurrava sua língua quente para dentro da minha boca, eu senti como se fosse gozar. Com certeza meu pênis endurecido marcava minha calça e eu cheguei a duas possíveis opções de como eu terminaria a noite. 1) eu certamente gastaria boas horas me masturbando antes de dormir ou 2) eu iria ignorar a existência daquele homem até que meu cérebro explodisse. Ambas as alternativas me pareciam letais e por um único momento, eu percebi que era tarde demais para achar que havia um caminho diferente a não ser, estar metaforicamente rendido a tudo que Baekhyun poderia me proporcionar a partir do instante que eu aceitei entrar naquela merda de sala.
Quebrei o beijo e ele se retirou de perto de mim sem me olhar tão bruscamente que meu raciocínio parecia ter se estagnado junto com meu corpo. Na minha mente, eu continuava beijando Baekhyun, continuava beijando-o.
Ele pegou uma caneta, escreveu algo no papel que eu havia trazido e me entregou.
― Pegue! Entregue a eles a única forma que tem de me convencer.
― Disse que não assinaria. ― Capturei o papel sem interromper nosso contato visual.
Ele sorriu. Uma aura de sensualidade extravasava de seus olhos, me arrepiando por inteiro.
― Não me procure mais para assuntos familiares, garoto. Mas caso esteja interessado em ter aulas de motocross, sabe onde me encontrar. Você tem meu endereço, Chanyeol.
― Eu não frequento problemas, Baekhyun.
― Mas sabe muito bem beijar um.
Dobrei o papel, guardei em meu bolso e com os nervos apertando o meu cenho, eu saí da sala sem me despedir. Quando eu estava longe o suficiente, meu coração estava acelerado e pronto para mexer com todo o resto do meu corpo pelas próximas vinte e quatro horas seguidas, enquanto eu simplesmente tinha o mesmo nome rondando na mente com a excitação como lembrete do beijo mais incrível do dia.
No caminho de volta para o meu mundo de mentira, eu abri novamente o papel para entender o que ele havia escrito neste. Se tratava de um recibo de divisão de herança familiar e diferente do texto formal digitalizado, no final do documento, estava anotado com letra torta, o nome da loja em que Baekhyun trabalhava, junto a uma frase, constatando que eu tinha direito a uma tatuagem gratuita.
Quando meu pai apareceu, me perguntando o que havia acontecido, eu não consegui esconder o sorriso.
Era uma guerra sem vencedores e mesmo que a tática daquele beijo tivesse me capturado pela boca, eu prometi a mim mesmo que ele não iria obter poder sobre o paraíso que eu havia construído. Byun Baekhyun podia ser a melhor proposta do jardim que eu jamais apostaria que ele conseguiria me transformar em uma presa de seu veneno. Jamais!
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