urutake Urutake Hime

Camus decide fazer aulas de dança depois de uma provocação do ex-namorado. Aos poucos, o que começou como um capricho se torna o gancho necessário para que o francês siga em frente com um novo amor. [Casal: Shura x Camus]


Фанфикшн Аниме/Манга 18+.

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Короткий рассказ
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Capítulo Único

O relógio da sala avisava que faltavam cinco minutos para às 18:00 e o francês já parecia impaciente, mesmo que o professor não estivesse atrasado. Talvez o que lhe deixasse mais inquieto é o fato de estar ali, em uma Escola de Dança, e que teria aulas de diversos estilos para que pudesse aprender o básico de cada um deles o mais rápido possível. Seu orgulho era o motivo para tal decisão, não admitia sair por baixo de qualquer provocação que sofria do ex-namorado, com quem teve um relacionamento longo e conturbado devido ao choque entre suas personalidades.


Da última vez que se encontraram, Milo comentou para os amigos que o francês não sabia nem mexer os pés direto, por isso não pôde ir a festas com ele já que Camus "supostamente" não o deixaria dançar com ninguém e ficar parado numa festa era o fim para o grego. Para contrariá-lo e mostrar que poderia ser um perfeito dançarino, Camus procurou uma escola que pudesse dar uma espécie de “cursinho relâmpago” dos mais variados tipos de dança e de preferência do fim da tarde para a noite, já que no período diurno estava trabalhando.


Poderia parecer uma atitude infantil, mas sempre que lembrava o quanto Milo dizia que não tinha feito nada para agradá-lo durante o tempo em que estiveram juntos e que foi o namorado mais frio que já teve na vida, Camus sentia uma grande vontade de mostrar que ele estava errado e que poderia ser atencioso se quisesse. De certa forma, não tinha se esquecido do grego mesmo depois de tudo o que se passou. O francês sentia-se parado no tempo desde que fora deixado, tentando inutilmente se agarrar em coisas pequenas como essa.


— Você é o Camus?


A pergunta o fez erguer o rosto para encarar o outro homem que adentrou na sala, pendurando sua jaqueta atrás da porta. O suave sotaque espanhol naquela voz chamou sua atenção, mas não se surpreendeu já que aquela era uma região de imigrantes. O francês logo deduziu que ele seria seu professor e assentiu positivamente, se levantando do canto onde estava.


Não havia cadeiras para se sentar, a sala de dança tinha uma parede inteira de espelhos e uma barra de apoio, além de uma ampla janela por onde estava observando o pôr do sol. O moreno se aproximou e Camus percebeu que eram quase da mesma altura, além do olhar firme que o recém chegado lhe dirigia fazia com que sentisse um alto nível de confiança.


— Meu nome é Shura, serei seu professor para lhe ensinar o básico da dança. Tem preferência por algum estilo ou posso escolher?


— Pode escolher... Eu não entendo nada disso. — foi sincero, colocando as mãos nos bolsos da calça.


— E também não parece muito interessado. — o espanhol era bom em deduzir coisas baseando-se em pequenos gestos e respostas dos outros — O que me faz perguntar o que exatamente veio fazer aqui então.


— Eu apenas preciso aprender! — Camus não gostou muito daquela intromissão e não devia satisfações, então quis se concentrar no que viera fazer — E preciso aprender rápido! Então espero que você seja tão eficiente quanto a recepcionista disse.


A resposta cortante do francês não pareceu abalar o outro, este apenas arregaçou as mangas da camisa e pediu para que arrumasse a postura antes de começarem. Camus estranhou aquela falta de reação, estava acostumado a ver expressões de raiva, medo ou resignação quando dava respostas duras como aquela, fazia parte de sua personalidade afinal e ver a expressão de seriedade do espanhol se manter intacta despertou-lhe certa curiosidade. Shura ligou o rádio e ensinou alguns passos bem simples no começo, algo que o outro não sentiu dificuldade em reproduzir, mas as coisas se complicaram quando o moreno quis introduzir o verdadeiro conceito da dança de salão como um par.


A boa noticia é que Camus era o único aluno presente, já que suas exigências específicas tornaram a aula particular e não teria que se preocupar com outras pessoas lhe observando. A má noticia é que dançar junto de um desconhecido era algo que o deixava desconfortável e por isso hesitou em segurar a mão que Shura lhe estendia, ainda mais que viria a ocupar a posição feminina da dupla por enquanto. Felizmente o professor era muito paciente e ia devagar, deixando que o francês se acostumasse com a situação enquanto segurava firme sua mão e a outra estava apoiada respeitosamente em suas costas. O espanhol chamava a atenção para os pés de ambos, como deveria colocá-los a cada passo e para que ficasse atento ao ritmo da música sempre!


Camus descobriu desde os estilos mais clássicos, como a Valsa e a Polca, como estilos mais soltos como o Samba e a Salsa. Em alguns dias, o que começou como um mero desafio a ser superado diante de Milo se transformou em um estimulante exercício que preenchia a mente do francês, treinando alguns passos sozinho até em casa. Sua relação com Shura se tornou mais agradável conforme foi se soltando e perdendo o medo de errar, pois estava ali para aprender e tinha um professor dedicado ao seu lado que repetia os passos quantas vezes fossem necessárias. Percebeu que o moreno tinha preferência por ritmos latinos, então a energia das aulas com esse tipo de dança era sempre mais intensa do que em outras.


Justamente no dia que começaram a praticar a Rumba, o francês teve um encontro desagradável com seu ex na saída do trabalho e, como de costume, acabaram discutindo. Milo soltou um pouco mais de seu veneno e vangloriou-se de suas atuais conquistas, que não eram poucas por sinal e isso foi deixando Camus cada vez mais irritado. Sabia que era proposital, mas não conseguia se conter e acabou levando o mau humor para a aula, distraindo-se ao ponto de pisar no pé de Shura mais de uma vez. O espanhol achou melhor fazerem uma pausa e procurou sondar seu aluno para saber o que houve para deixá-lo naquele estado tão disperso.


— Me desculpe... Está doendo, não é? — Camus se referia aos pés de seu professor.


— Um pouco... Felizmente não estávamos treinando sapateado. — levou a situação com bom humor, bebericando a água de uma garrafa que estava ali perto — Deu pra sentir que está irritado com algo.


— Eu não queria deixar isso transparecer... Pensei que pudesse extravasar na aula, mas não desse jeito. — Camus apoiou os braços sobre os joelhos e abaixou o rosto entre eles — Que besteira!


— O que é besteira?


— Estar irritado... Deixar que ele me irrite assim tão fácil. — acabou deixando escapar, fazendo Shura ficar mais curioso — É sempre assim, não consigo deixar de lado. Até mesmo as aulas de dança foram um mero capricho para mostrar que posso ser diferente. Como se adiantasse mesmo de alguma coisa...


— Hmm... — bebeu mais um pouco da água e depois encostou a garrafa na cabeça do ruivo. Camus ergueu a cabeça e, depois de uma breve hesitação, pegou o objeto para beber um pouco também — Quando você começou as aulas, percebi que havia um motivo fútil por trás. Você era apressado, queria pegar um estilo por dia praticamente e isso é impossível, se quiser fazer o mínimo bem executado.


— Eu sei... — um suspiro abandonou os lábios do francês, reconhecendo a sua afobação inicial.


— No entanto, as coisas mudaram de lá pra cá. — ao perceber o olhar confuso do ruivo em sua direção, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios — Você passou a prestar mais atenção, se dedicou mais a cada tipo de dança que lhe ofereci e não fica mais satisfeito em seguir o básico, sempre tentando passos mais elaborados e complexos. Está treinando em casa também, posso perceber. — notou o rosto de Camus ganhar um leve rubor com a última frase — As aulas não são mais um capricho... É algo que você gosta de fazer, se empenha e pode te ajudar nos momentos frustrantes.


— Sim... Você tem razão. — concordou e deixou um raro sorriso surgir em seu rosto, porém este logo se apagou — Mas nem mesmo a aula está me ajudando a esquecer toda a irritação de hoje. Eu deveria ir pra casa...


— Não. — o tom sério na voz de Shura fez com que o outro lhe encarasse de imediato, surpreso — Dançar é muito mais do que meramente mexer os pés e o corpo em sintonia, já deveria saber disso. Se deixar que sua irritação o atrapalhe, então você nunca vai poder deixar isso de lado. — se levantou, arregaçando as mangas da camisa e seguiu na direção do rádio — Vamos dançar.


— Mas...


— Camus, não pense em mais nada além de mim e na música. — o espanhol insistiu, ligando o aparelho e escolhendo uma nova melodia. Voltou até Camus e lhe estendeu uma das mãos — Não vou deixar que vá embora desse jeito, farei você esquecer qualquer coisa que esteja te incomodando.


O francês ficou sem argumentos e eram raras as ocasiões em que ficava assim, então acabou concordando e segurou a mão do outro enquanto se levantava. O professor os guiou para o meio da sala, já seguindo a introdução lenta da música latina e tocou a cintura do outro com firmeza, assim dando o sinal para começarem os passos. Mesmo com o inicio mais vagaroso, Camus acabou por pisar no pé alheio novamente e bufou, frustrado. Sentia-se a ponto de largar tudo e ir para casa, como poderia dançar daquele jeito? Mas Shura o surpreendeu mais uma vez, puxando seu corpo até que eles ficassem rentes um do outro e soltou a mão do francês para segurar-lhe o queixo, assim erguendo seu rosto para poder encará-lo.


— Eu te disse: não pense em mais nada. Escute a música, deixe que ela flua dentro de você e leve toda a tensão embora. Pode fazer os passos que quiser, assim como farei os meus.


— Mas assim nós vamos...


— Você deve encontrar a sua maneira de se conectar aos meus movimentos, eu farei o mesmo. E mantenha os olhos fixos em mim, uma coisa muito importante entre um par é o contato visual. — soltou o queixo do ruivo, preparando-se para começar mais uma vez.


Camus se preocupou, pois se não estava conseguindo dançar os passos que deveria aprender, como poderia seguir o outro sem saber o que faria? Aquele era um verdadeiro desafio e, mesmo com a frustração, seu desejo de se livrar daquele sentimento era maior. Segurou firme a mão do professor, mostrando que iria aceitar aquela proposta e ver no que iria dar, mantendo o contato visual a todo o custo.


Os passos básicos vieram de inicio para estabelecer confiança, mas Shura logo se afastou um pouco para um passo mais elaborado, arrastando o pé direito no chão liso e o ruivo percebeu um pouco tarde, acompanhando-o com mais rapidez do que deveria. Era evidente a falta de sincronia entre eles, embora não desistissem de dançar. A música havia recomeçado e Camus ainda tentava encontrar seu caminho.


Passos fora do tempo, diferentes giros, tentativas em vão. Apesar dos olhos de ambos estarem fixos um no outro, como uma corrente que não poderia ser quebrada, ainda era difícil superar aquela situação. Como seu desastroso relacionamento com Milo... Por que tinha terminado daquele jeito? Ele havia dado um passo errado? Fez algum giro mal executado? Camus comparava sem perceber, pois o grego havia chegado em sua vida como uma onda avassaladora, tomando tudo o que podia para ele e, quando o ruivo percebeu, já estava completamente envolvido. No entanto, isso não foi o suficiente... O namoro deles era como um disco riscado, a agulha sempre batia na rachadura e a melodia era completamente arruinada.


Quis abaixar a cabeça ao pensar nisso, mas os olhos do espanhol não lhe deram permissão. Camus sabia que precisava se manter erguido e encarar as coisas de frente! Shura estava certo... Se não encarasse, nunca poderia superar. Por um passo em falso, o francês quase foi ao chão, mas seu professor estava atento e o segurou bem, colocando uma das pernas entre as do outro para ampará-lo com mais firmeza. Acabaram rindo da situação que, apesar de ligeiramente desastrosa, estava começando a tomar forma. A música preenchia seus ouvidos, os erros iam diminuindo e a sincronia aumentava, fazendo a frustração do ruivo se dissipar pouco a pouco.


Não sabiam dizer quando a dança começou a dar certo, mas seus movimentos estavam bem sincronizados agora e seguiam fielmente o ritmo da música que os embalava, sem se preocupar com os passos e giros que faziam. A conexão entre seus olhos se tornou forte o suficiente para saberem o que o outro faria e entregavam-se com confiança, percorrendo toda a sala com maestria. A música estava para terminar quando soltaram-se propositalmente por um momento, tomando distância e voltaram aos rodopios, com Shura agarrando a cintura do ruivo no último acorde da melodia, enquanto Camus havia lhe segurado a nuca e uma de suas pernas havia se encaixado no outro, elevada na altura da cintura.


Depois que a música terminou, apenas o som da respiração pesada de ambos permeava o ambiente e mantinham a posição, encarando-se com intensidade. Pela primeira vez o francês pôde notar a beleza escondida naqueles olhos pequenos, onde parecia existir um universo completamente diferente do seu e ainda assim o mantinha cativo. Shura também contemplava, pela primeira vez, o calor e a força expandidos no olhar daquele que considerou tão frio a principio. A posição foi desatada lentamente, com uma pitada de embaraço e divertimento de ambos, mas plenamente satisfeitos com o resultado da insistência. Fora mesmo o melhor remédio para Camus... Por isso não se negou a dançar com o outro mais uma vez.

≼ ✤ ≽


— Camus, você está surdo por um acaso?!


Aquela pergunta alcançou os ouvidos do ruivo com agressividade, fazendo-o despertar de seus pensamentos e erguer os olhos para encarar Milo, que estava parado a sua frente com uma expressão contrariada. O francês estava voltando de seu horário de almoço completamente distraído e sequer havia percebido a aproximação do ex-namorado, que parecia estar tentando chamar sua atenção a algum tempo. Como não o notara? Geralmente quando o grego tinha a intenção de abordá-lo, era impossível não perceber sua presença a certa distância, mas pela primeira vez foi capaz de ignorá-lo por completo, mesmo que sem intenção.


— Não achei que viveria para ver você nesse estado tão disperso. — a surpresa do grego parecia genuína.


— Sinto muito, eu não percebi...


— Está com algum problema? — ergueu uma sobrancelha, ligeiramente preocupado.


— Não, está tudo correndo muito bem. — o tom na voz de Camus era pacifico, chamando a atenção alheia.


— Oh... Tão bem assim? — o ruivo podia ver um sorriso de desdém surgir nos lábios de Milo e fechou a expressão em resposta — Vai me dizer que finalmente conseguiu superar o termino do nosso relacionamento? Não que você desse muita importância a isso, pra começo de conversa...


— Você ainda vai falar disso? — Camus não queria se deixar levar pela irritação, sabia bem que aquilo era uma provocação — Se você realmente acha que eu não dei importância ao que tivemos, definitivamente não me conhece.


— Eu conheço muito bem. — devolveu com confiança, apressando o passo na mesma medida que o ruivo — Tanto que sei do seu incomodo com cada coisa que digo. Eu também me incomodava muito com o que você fazia, por isso...


— Por isso terminou comigo... Você realmente gosta de ser repetitivo. — as palavras ríspidas saltaram de sua boca como um raio e, tanto ele quanto Milo, surpreenderam-se. Camus nunca havia conseguido agir tão friamente em relação ao outro desde que se conheceram, essa era a primeira vez — Vai continuar me seguindo?


— Eu ainda não terminei de falar! — contrariado e um pouco atordoado, o grego tentou continuar com as alfinetadas — Você realmente acha que é o dono do mundo para agir dessa forma? Deveria ter um pouco mais de consideração, principalmente pelo tempo perdido em que ficamos juntos.


— Eu não me lembro de ter te obrigado a ficar comigo, pelo contrário... Você o fez. — aos conseguir manter a postura e frieza nas palavras, o francês começou a se sentir mais confiante.


— Achei que seria divertido dominar um homem como você... Uma verdadeira pedra de gelo ambulante, sem sentimentos. Mas não sabe como me arrependo... Me aproximar de você foi um erro!


A essa altura, Milo esperava que o outro esboçasse alguma reação de ira, frustração ou tristeza, pois essa era sua intenção afinal. Infernizava Camus o quanto podia, como uma espécie de vingança pelo relacionamento mal sucedido e, claro, isentava-se de qualquer culpa. Porém, para sua total surpresa, o francês manteve a expressão impassível e parecia novamente disperso, incapaz de prestar atenção em suas lamúrias venenosas. Agora a irritação fluía no grego, como se o feitiço voltasse contra o feiticeiro e, de certa forma, se ferindo com aquela indiferença.


— O que diabos se passa na sua cabeça para me deixar falando sozinho?! — acabou por segurar o ombro do ruivo, obrigando-o a parar.


— Milo, eu preciso voltar para o trabalho. — Camus respirou fundo e afastou a mão alheia, embora tempos atrás faria de tudo para que aquele toque se prolongasse — Disse que perdeu tempo comigo, você quer perder mais tempo ainda aqui? Só me deixe em paz...


— Oh, agora está me dizendo para ir? O que há? Realmente me superou?


— E se eu disser que sim? — o choque na expressão do grego fez Camus se sentir ainda mais confiante e cruzou os braços frente ao corpo — Nós dois sabemos o quanto nosso namoro foi um completo desastre e você só está aqui para me provocar, mas já estou farto disso. Se foi um erro para você se aproximar de mim, para mim foi um erro me deixar levar por tanto tempo, até depois que terminamos. Mas isso já não tem nenhuma influência sobre mim... Eu só quero que vá embora.


— Como se você estivesse mesmo falando sério... — Milo não parecia querer acreditar, numa mistura estranha de medo e surpresa.


— Por que não? Não posso seguir em frente? Não posso focar em coisas que são muito mais importantes do que um namoro frustrado por erros que NÓS DOIS cometemos e você se quer tem a decência de admitir? Devo continuar me intoxicando com seu veneno e me jogar pra baixo só para VOCÊ se sentir melhor? — apesar de nunca ter pensado em fazer isso, estava devolvendo os ataques feitos pelo grego na mesma moeda, com toda a frieza e insensibilidade que poderia reunir no momento. Checou o relógio de pulso em seguida, suspirando — Agora é você que está me fazendo perder tempo... Faça o seguinte: me poupe de suas provocações, vá encontrar alguém que possa aguentar seu jeito impulsivo e toda a possessividade com a qual você me sufocava sem pensar duas vezes. Esqueça meu endereço, meu número e o lugar onde trabalho, não há motivos para vir afinal.


— Como ousa...?! — Milo estava embasbacado, sem chance de defesa.


— Ouso sim, pois a minha vida não está mais ao seu dispor. Adieu!


Camus deu as costas ao outro e seguiu em frente, com a cabeça erguida e o coração leve como há muito tempo não o sentia. De onde havia tirado toda aquela coragem para se livrar das correntes que ainda o prendiam ao grego? Não sabia dizer naquele exato momento, mas estava realmente feliz. Precisava ter aquela força de volta, queria renovar suas estruturas para que não fossem derrubadas por mais ninguém. Conseguiu voltar a tempo para o serviço e passou o resto do dia até o final do expediente com um bom humor invejável, mantendo a disposição ao sair do serviço e seguiu para o metrô a fim de ir para as aulas de dança.


Dentro do vagão, o francês começou a relembrar sua discussão com Milo e novamente se perguntou de onde havia tirado a coragem para enfrentá-lo. Acabou se lembrando do que estava lhe distraindo antes e este era o provável motivo, indo exatamente para lá. As aulas de dança... Ou seria o professor? Pensar em Shura agora lhe deixava um pouco inquieto e ansioso, acabava desejando que a noite caísse logo para poder vê-lo e isso era um sinal. Conseguiu superar um desgastado sentimento por um novo... Mas não sabia se podia deixar isso transparecer, afinal o espanhol parecia tão ilegível quanto ele mesmo.


— Boa noite! — Camus cumprimentou o moreno assim que abriu a porta da sala onde praticavam.


— Boa noite. — estava separando o CD que deveriam usar na aula daquela noite, sorrindo ao ver o semblante de seu aluno — Algo bom aconteceu?


— Por que a pergunta? — ergueu uma sobrancelha, intrigado.


— Seu rosto... Parece mais relaxado hoje.


— Você foi o único a notar algo diferente... — Camus se sentiu acalentado por aquela dedução certeira do outro — Dizem que não sei mostrar sentimentos.


— Então ninguém nunca observou os seus olhos. — a tranquilidade daquela resposta gerou surpresa no ruivo e um pequeno sorriso floriu em seu rosto.


— Apenas dei um basta em algo que já deveria ter terminado há muito tempo... Um fantasma que não irá mais me aborrecer.


— Isso é ótimo! Espero não te ver tão perturbado novamente, como daquela vez... — Shura relembrou aquela noite em que o ruivo não conseguia se concentrar na aula, tendo dificuldades em mantê-lo focado.


— Não se preocupe, isso não voltará a acontecer. — com a confiança expressa em sua voz, não tinha como duvidar das palavras do francês — Eu gostaria de pedir uma coisa... Podemos fazer algo livre hoje? Como naquele dia, quero testar a sincronia.


— Claro, sem problemas... Será um bom teste para saber até onde pode ir agora. — Shura percebeu que o outro queria extravasar aquele sentimento de liberdade, então não se negaria a acompanhá-lo.


Era preciso apenas decidir um ritmo antes de começarem e logo um CD com músicas latinas foi posto para tocar. Tomadas às posições, seus olhares se cruzaram para não mais desatarem durante toda a dança e a melodia embalou seus primeiros passos, conduzindo-os a uma cadência lenta e envolvente. Diferente da primeira vez, não levaram tanto tempo para encontrar a sincronia certa para seus corpos e a cada nova música que tocava, os passos iam ficando cada vez mais velozes e elaborados, flexíveis ao refletirem a liberdade e confiança para dançar.


Assim era visível o quanto estavam aproveitando aquela oportunidade, com sorrisos surgindo vez ou outra em seus lábios e satisfaziam-se com cada performance bem executada. Depois da 6º música, já estavam ofegantes e as peles estavam brilhantes de suor, mas nem assim queriam parar. Haviam mergulhado de cabeça naquele momento só deles e parecia que só iriam parar quando já não tivessem mais forças nas pernas, porém a interrupção veio antes disso.


Ao puxar Camus contra si depois de um giro, seus corpos ficaram colados e a mão de Shura foi automaticamente para a coxa alheia, pois a perna do francês engatou em sua cintura. A aproximação perigosa fez com que o ar que ainda restava neles se fosse e o coração do ruivo vacilou, dando-lhe o impulso necessário para realizar um desejo. Antes que pudessem usar a razão, os lábios se uniram com um magnetismo surreal que finalmente os obrigou a parar de dançar.


O espanhol, apesar de estar um pouco surpreso, já havia notado algo a mais no olhar que seu aluno lhe dirigia estes últimos dias e deu alguns passos a frente, levando-os até o espelho que tomava uma parede da sala. Camus sentiu suas costas sendo pressionadas contra o espelho, não conseguindo pensar em mais nada que não fosse o beijo ardente e nas mãos de Shura, que deslizavam por suas pernas até a cintura. Os dedos do francês se perderam nos fios negros e os puxava, ganhando mordidas no lábio inferior em resposta. Quando finalmente encerraram o intenso contato, apoiaram as testas um no outro e ficaram em silêncio por alguns minutos, focados em regularizar a respiração.


— Eu... — Camus tentou dizer algo, mas seus olhos mantinham-se abaixados enquanto sentia os lábios formigarem — Isso é...


— Se me disser que isso foi um erro, vou ficar muito irritado. — o espanhol o cortou enquanto ainda mantinha-o cativo em seus braços.


— Não, não um erro... — finalmente ergueu o olhar e, ao encarar Shura, sentiu sua pulsação acelerar — Talvez uma precipitação. Eu não pretendia... Eu não...


— Esse beijo não aconteceu só porque você quis. — parecia entender o conflito alheio, então o moreno quis tranquilizá-lo.


— Então... — o ruivo sentiu-se um pouco mais confiante para dizer o que queria, principalmente ao ver um pequeno sorriso nos lábios do outro — Você quis que acontecesse também.


— Talvez o meu desejo tenha surgido bem antes do seu. — Shura tombou o rosto para frente, fazendo com que a ponta de seu nariz deslizasse lentamente pela bochecha alheia até chegar ao pescoço — Mas algo me impedia de dar o primeiro passo... Você parecia estar seriamente envolvido com alguém.


— Não exatamente... — Camus queria se explicar, mas era um pouco difícil manter o foco enquanto recebia alguns beijos no pescoço — Era um relacionamento mal resolvido, tive um termino terrível... E ele ainda me provocava. Porém, lhe disse quando cheguei: fui capaz de dar um basta neste fantasma.


— Sim, percebi o quão aliviado você parecia quando chegou. — o professor sentia-se cativo pelo cheiro delicioso que vinha do ruivo, prolongando o contato — Sendo assim, também me senti livre para investir.


— Investir... — Camus se arrepiou, recebendo uma mordida no lóbulo da orelha — Então, realmente não se importa que eu seja um homem? Talvez prefira algo as escondidas...


— Não, de forma alguma... Sou muito bem resolvido quanto a minha sexualidade e se eu desse ouvidos a opinião alheia, provavelmente nem seria um professor de dança. Gosto de seguir a minha própria vontade, só assim alcançarei a felicidade.


— Tem razão. — deu sorriu largo como poucas vezes fez na vida e, por ainda estarem praticamente colados, se inquietou um pouco — Nós... Hm, vamos continuar...?


— Oh! Tem razão... — Shura o soltou devagar mesmo que a contra gosto e sentiu o calor finalmente começar a abaixar — Vamos parar por aqui, você já está dançando muito bem. Podemos continuar na próxima aula ou... Quem sabe, no meu apartamento.


O convite permeado de intenções fez com que o ruivo suspirasse, mas assentiu positivamente e o viu sorrir, fazendo seu coração acelerar outra vez. O espanhol estava mesmo disposto a ter algo sério e isso deixava muito Camus feliz, como há tempos não ficava. Shura era tão diferente... Com ele, sentia-se seguro e sem medo de arriscar-se a fazer coisas novas, como foi com a dança. Era como se, ao segurar sua mão, nada mais poderia atingi-lo e enfrentaria qualquer coisa, com uma confiança que era difícil ter com um parceiro. Sem medo, sem hesitação... Queria mergulhar naquela oportunidade e desfrutar de cada instante, assim como em cada passo de dança para concluir a mais sublime performance. Por aquele sentimento, o francês sempre pediria mais uma dança!

3 мая 2021 г. 22:47 0 Отчет Добавить Подписаться
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Urutake Hime Uma garota que escreve desde 2009, com diversas temáticas e fandom diferentes. Nyah: https://fanfiction.com.br/u/30892/ Spirit: https://www.spiritfanfiction.com/perfil/urutake-hime Wattpad: https://www.wattpad.com/user/Urutake-Hime

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