albrook A.L. Brook

Em seu coração, há apenas sequências de números. 1 e 0, 0 e 1. Steven é apenas o robô que foi criado para ser. Uma máquina vazia, com ordens de aprender sobre o mundo e desenvolver a si mesmo com o passar do tempo. Um emaranhado de partes de metal ambulante com um senso de curiosidade e consciência. Mas e se houver algo além de apenas seu programa? Será que a vida de uma máquina deve se resumir apenas a isto, receber ordens e ser obediente à elas? Ou será que ele pode ser parte de um propósito maior? O primeiro passo para seguir em direção ao futuro é olhar para o passado. É exatamente o que ele precisa fazer para abrir seus olhos para a sua verdadeira realidade e descobrir por que está realmente aqui.


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#drama #tecnologia #futuro #ficçãocientífica #ficção #emoções #robôs #ciência #androides
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Doces Memórias

Modelo: XCS-3800. Gênero: Masculino. Nome: Aguardando informação...

– A partir de agora, você se chama Steven.

Lentamente, abro meus olhos, que se ajustam ao ambiente escuro em que estou, até ser capaz de ver a pessoa que está em frente a mim: um homem grisalho, de pele clara, por volta dos sessenta anos de idade, de acordo com meu escaneamento. Ele usa um jaleco branco com algumas manchas pretas de graxa, e óculos; seus olhos são verde-escuros.

– Olá! Meu nome é Steven! Prazer em conhecê-lo! – digo finalmente, abrindo um gentil sorriso em meu rosto.

...

Há apenas uma semana desde o meu despertar. Manfred Conner me criou com o objetivo de aprender e desenvolver uma personalidade de acordo com as experiências que eu vivenciar. Ele quer que eu me torne... um ser vivente, como qualquer outro humano normal, exceto pelo fato de eu apenas me parecer com um. Até agora, não fui capaz de identificar se meu comportamento tem alcançado suas expectativas, minhas análises mostram que suas emoções têm estado mais ativas que o normal.

Devagar para não o perturbar, adentro sua oficina, no porão de sua casa.

– Estou de volta! – digo com voz calma e radiante, como fui programado. – Já guardei todas as compras que pediu que eu fizesse.

Manfred se distrai do que estava fazendo e olha para mim, com a mesma face constante que tenho visto desde meu primeiro contato com ele. É curioso que, apesar de ser o humano desta casa, Manfred tenha tanta capacidade para esconder suas emoções por trás de seu rosto inexpressivo. Qualquer outra pessoa diria que ele é o robô, em vez de mim. O único motivo de eu ser capaz de saber quando está aborrecido ou não é por ser equipado com scanners que detectam alterações na respiração, batimentos cardíacos, temperatura corporal e postura de uma pessoa, até consigo saber se alguém está mentindo.

– Bom, muito bom – diz ele indiferente, se voltando para o que estava fazendo. Sua voz é calma e profunda, soa como alguém que carrega bastante experiência em seus ombros. – Por acaso aconteceu alguma coisa interessante no caminho?

– Eu vi algumas crianças brincando no parque perto de casa – respondo, me lembrando detalhadamente de todo o caminho que percorri, tanto na ida como na volta. – Estavam brincando com uma bola. Nada que fosse importante, mas a atividade deles me chamou atenção. Parecia familiar.

Ele se vira para mim, me observando com mais cautela. Detecto alterações em sua respiração e ritmo cardíaco, minhas análises mostram que Manfred tem interesse que eu fale mais sobre o assunto.

– Me conte, o que chamou a sua atenção na atividade das crianças? – pergunta ele, cerrando seus olhos.

– Não parecia ter lógica... – Repasso a cena em minha memória. – As crianças estavam brincando de forma completamente errada de acordo com as regras oficiais do futebol, mas ainda assim, pareciam estar se divertindo. Como poderiam estar se divertindo se estavam jogando por fora das regras?

Manfred suspira e se encosta em sua mesa. A forma como se move e suas alterações corporais mostram desapontamento.

– Às vezes, viver não significa jogar de acordo com as regras... – responde ele, olhando para o lado. Eu reconheço esse comportamento, o movimento em seus olhos procurando memórias em seu cérebro. Ele está se lembrando de algo. – O que importa é estar junto com os amigos e aproveitar o momento, senti-lo.

– Eu sou um androide, não sou capaz de sentir emoções humanas – respondo de forma leve e simpática. – Mas estou disposto a aprender como vocês as vivenciam.

Ele revira os olhos de forma extremamente sutil. Manfred tem estado mais instável que o normal nas suas funções orgânicas nos três últimos dias. Parece que quanto mais tempo passo perto dele, mais efeito tenho em suas emoções imperceptíveis aos olhos humanos; talvez por não estar cumprindo suas expectativas.

Estive em conflito comigo mesmo por não compreender suas motivações. Ele parecer ter me criado já esperando que fosse agir como um humano imediatamente, algo que viola a diretriz que ele mesmo deu a mim. Minha função é aprender e imitar e tenho a cumprido sem falhas. Ainda assim, ele não está satisfeito. Qual é a lógica por trás de seus pensamentos, Manfred?

– Tem razão. – Ele se vira novamente para sua mesa, voltando a trabalhar no que está sobre ela. – Mas não vou desistir após chegar tão perto... – Sua voz soa quase inaudível, mas sou capaz de ouvir claramente.

– Há mais alguma coisa que deseja que eu faça? – pergunto, cruzando minhas mãos em frente a mim, como sempre faço logo após cumprir uma ordem.

– Eu ficaria contente se você fosse lá para cima e tentasse aprender algo novo – responde ele sem olhar para mim. – Não sei, talvez ler um livro ou pintar algo. Está livre para escolher.

– Como desejar, Manfred – digo, me virando em direção a saída.

Antes de partir, escaneio todo o ambiente da sala, verificando se há alguma alteração e possivelmente alguma forma de Manfred se machucar em seu trabalho; faço isso todas as vezes antes de sair da oficina. Como um homem adentrando na terceira idade, o risco é um pouco mais alto para ele. É minha função me certificar de que fique seguro.

Detecto, então, uma alteração em seu quadro de notas pregado na parede. Há uma folha de jornal rasgado, preso com alguns alfinetes; esse quadro nunca mudou desde que despertei, Manfred o alterou hoje. Corro uma rápida varredura sobre o papel; “Acidente trágico de carro deixa três feridos e um morto.” A data é de quase treze anos atrás, há uma imagem de um carro destruído logo acima dela. Uso meu navegador de internet para pesquisar a matéria completa. Ela fala sobre um caminhão de carga que atingiu um carro que ultrapassou sinal vermelho em uma rodovia durante a noite. É uma notícia vaga, não possui nomes.

Me pergunto qual lógica Manfred encontrou para manter um jornal antigo em seu quadro. Talvez fosse algum conhecido seu que estava no acidente. Eu sei que Manfred não tem familiares morando na cidade, então, não deveria ser alguém importante.

Logo o deixo a oficina e subo para a sala-de-estar. Aprendi bastante desde que despertei, mas estou longe de atingir o nível que Manfred quer que atinja. Eu deveria fazer o que ele me pediu, aprender algo novo.

Olho em volta, escaneando o ambiente em busca de atividades que me proporcionem aprendizado, até focar minha visão num piano elétrico perto da estante de livros. Música é algo complexo, algo que envolve bastante dedicação, que leva tempo para aprender, imagino que isso vá deixá-lo contente.

Me sento no banco do piano e pouso meus dedos sobre as teclas empoeiradas; ele parece não ter sido tocado há um tempo. Pesquiso a partitura de uma música em meu navegador e a sigo de forma perfeita. Cada tecla que toco produz impecável som que se espalha pelo ambiente da sala, invadindo meus ouvidos e meu sistema. Nunca toquei qualquer instrumento, ainda assim, é fácil como seguir um algoritmo.

Fecho meus olhos, em busca daquilo que os humanos chamam de “sentir a música”. Mas não há nada, apenas uma sequência de notas a serem tocadas no momento certo, produzindo o som certo. Só matemática. Até que ouço em minha memória uma voz irreconhecível dizer: “a beleza da música não vem só da ciência por trás das notas, mas daquilo que ela produz dentro de nós.”

Abro meus olhos e paro de tocar, detectando uma alteração em meu disco de memória, como se dados enviados de alguma outra fonte tivessem chegado sem minha autorização. Isso nunca aconteceu antes, porém, não causou nenhum dano; vou reportar essa anomalia a Manfred quando estiver livre.

Me levanto do banco do piano, colocando-o de volta no lugar exatamente como o encontrei antes. Olho para estante de livros, recobrando a instrução de ler algo que Manfred deu a mim. A forma mais fácil de aprender algo é lendo, especialmente para um robô, já que jamais me esqueço do que vejo ou ouço.

Me aproximo da estante para pegar um livro qualquer. Enquanto vasculho as obras na prateleira de cima, procurando por algum livro que possa se do interesse de Manfred, encontro algo que chama a minha atenção: um álbum do fotografias, um pouco empoeirado, com o nome “Doces Memórias” gravado na lateral. Eu o pego em minhas mãos e o abro na primeira página. A primeira foto que vejo é a de Manfred, mais jovem, ao lado de uma bela moça e um bebê em seu colo.

De acordo com alguns dados coletados sobre Manfred, sua esposa faleceu de câncer trinta anos atrás, dois anos após dar à luz a um menino. Eu não pude coletar muitas informações sobre o filho dos dois, mas sei que ele foi fazer um intercâmbio em algum outro país logo que se formou no ensino médio e não voltou mais. Mesmo que Manfred seja muito conhecido na cidade por ser um cientista extremamente inteligente e que contribuiu bastante, há pouca coisa sobre sua vida pessoal em artigos on-line. E toda vez que pergunto, ele se recusa a falar sobre si, dizendo que o meu foco deveria ser a mim mesmo e minha diretriz.

Eu passo os olhos por cima de algumas fotografias antigas que contam um pouco sobre como foi a vida de Manfred antes de me criar. Há muitos momentos junto com sua esposa, mas mais ainda como seu filho em sua infância. Há uma específica que mostra Manfred e o garoto loiro sentados no banco do piano que estava tocando há pouco, tirada por alguma outra pessoa; imagino que ele tenha tentado ensinar o garoto em algum momento.

Uma outra mostra os dois brincando com uma bola. Acho que entendo por que Manfred ficou um pouco afetado quando mencionei as crianças jogando, parece que ele e seu filho faziam isso bastante no passado. Olhar para essas fotografias agora até me dá uma sensação de nostalgia...

Há pouquíssimas informações sobre o filho dele. Eu não sei seu nome ou para onde foi especificamente, nem sua idade real. Até parece que Manfred se esqueceu de sua existência. Considerando que ele tinha trinta e dois anos quando sua esposa morreu e que seu filho havia nascido dois anos antes, ele deve estar na casa dos trinta agora.

Fecho o álbum e o devolvo para a estante. Intrigado pelas fotografias que acabei de ser, observo o ambiente ao meu redor, imaginando como foi no passado. Devia ser mais vivo do que o deserto que parece agora, já que Manfred passa mais tempo na oficina do que aqui.

Enquanto observo, vejo a bola da fotografia dentro de um jarro, encostado na parede. Me aproximo e a pego, observando seus detalhes e minhas mãos tocando sua superfície. Mas quando olho para minhas mãos, não as vejo como são, as vejo como mãos menores, de criança. Eu a devolvo para o jarro, voltando a ver tudo em sua verdadeira forma.

A luz vinda da janela perto de mim chama a minha atenção. Eu me viro para ela e observo meu reflexo no vidro. Tenho olhos verdes, pele clara e cabelos castanho-claros. Me pareço perfeitamente com um humano adulto, apesar de saber que sou feito de metal e fios por dentro.

“Eu vou ser um grande jogador quando crescer!”, ouço uma voz infantil vinda de minha memória mais uma vez.

“Você com certeza irá, filho!”, ouço outra voz, desta vez, uma inconfundível, a de Manfred.

Faço uma rápida varredura nas funções de meu sistema, recebendo o mesmo diagnóstico que tive quando estava tocando o piano. Estou recebendo dados de uma fonte desconhecida sem aviso ou autorização. Talvez esteja sob ataque de algum malware que invadiu meu sistema, devo reportá-lo a Manfred imediatamente.

Devolvo a bola para o seu lugar e vou em direção à oficina, sem ser capaz de afastar de meus pensamentos o que acabei de ouvir.

“Você não pode ir brincar na chuva!” Cambaleio, descendo as escadas, sendo bombardeado mais uma vez por vozes intrusas. Meu sistema está sendo sobrecarregado, não estou conseguindo me mover com precisão. De repente, é como se minhas engrenagens estivessem sem óleo.

Entro na oficina, sem avisar ou pedir permissão, e me aproximo de Manfred, que parece focado em seu atual trabalho.

– Desculpe incomodá-lo, mas acredito estar com algum vírus em meu sistema – digo a ele, que se assusta um pouco ao ouvir minha tensa.

– Um vírus...? – pergunta ele. Manfred volta seus olhos para mim, me observando com cautela. – Isso é impossível, Steven, seu sistema é incorruptível por vírus. Espere em seu pedestal, vou dar uma olhada em você.

Me distancio dele e ando com dificuldades em direção ao meu pedestal, o primeiro local que vi assim que despertei; é basicamente meu lugar de nascimento.

“Ninguém defende um chute meu!”, ouço outra voz. Balanço levemente a cabeça e fecho os olhos, tentando fazê-la ir embora. Subo no pedestal e pouso meus olhos no quadro de notas de Manfred, mais especificamente, no jornal. Eu reconheço o carro... A cor, o modelo, é... familiar!

Uso as informações da matéria para pesquisar em vários outros sites locais de notícias sobre o que ela se tratava. Encontro vários com a mesma matéria sobre o acidente, cada um deles informando algo que o outro mostrou de forma diferente. Mas um deles me dá algo novo, que ainda não havia visto. Um pouco mais abaixo do texto principal e da imagem do carro destroçado na parte da frente, vejo o nome do jovem morto: “Steven Conner. Dezenove anos.”

É... meu nome, junto com o sobrenome de Manfred.

Junto à matéria, há um retrato de perfil do homem do acidente: olhos verdes, pele clara, cabelos castanho-claros, exatamente como eu.

Fecho meus olhos, enquanto vejo mais memórias chegando.

“Você tem certeza de que quer sair hoje, Steven?”, ouço Manfred perguntar com sua voz ecoando em meus pensamentos.

“Eu prometo que não volto tarde! Meus amigos e eu estamos planejando essa noite há semanas!”, outra voz responde, a minha voz.

“Está chovendo bastante lá fora, não acho que seja uma boa ideia dirigir assim.”, insiste ele. Mas sua voz soa diferente da de Manfred que conheço, ela tem uma entonação diferente, é mais viva.

“Não se preocupe, vou tomar cuidado. O senhor sabe que sempre tomo...”, a voz se dissipa.

“Cuidado!”, ouço uma voz feminina e, então, uma enorme batida.

Abro os olhos rapidamente. Tropeço, ao dar um passo para frente, e perco totalmente meu equilíbrio, caindo no chão como um objeto imóvel. Manfred se vira para mim alarmado, percebendo minha queda.

– Steven! Você está bem? – Ele se aproxima de mim e se ajoelha ao meu lado, me virando para olhar para o teto.

Não consigo mexer meu corpo, apenas minha cabeça. Viro meu rosto em direção a ele e nossos olhos se encontram, os meus deixando lágrimas escorrerem; nem mesmo sabia que tinha a capacidade de derramar lágrimas assim. Manfred me olha com curiosidade, deixando transparecer levemente preocupação por trás das suas feições rígidas, o rosto que conhecia de forma diferente há muito tempo.

– Eu me lembro... – digo com voz fraca.

Ele, então, desfaz suas sobrancelhas franzidas, mostrando claramente as pupilas dilatadas de seus olhos, a alma que se esconde no fundo delas.

– Steven...?! – Algumas lágrimas escorrem de seu rosto. Ele lentamente me abraça com força, mas não consigo me levar a retribuir seu abraço, não tendo uma vaga ideia do que aconteceu.

– O que o senhor fez comigo, pai...?

...

27 апреля 2021 г. 16:40 13 Отчет Добавить Подписаться
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Isabele Torres Isabele Torres
Achei interessante o final, um ar de, afinal, quem é Steven?
Mario Sergio Porto Mario Sergio Porto
Parece uma trama promissora, mas US$5 por uma história de apenas 10 capítulos pequenos, não é tão convidativo. Pelo menos 20 capítulos, para se torna atrativo. Minha história, neste tema, e também publicada aqui tem 23 partes de 3500 palavras cada, totalizando cerca de 85000 palavras e está, por enquanto, gratuita.

  • A.L. Brook A.L. Brook
    Quem decide quantos capítulos é necessário para se tornar pago não é você! Passar bem!~ June 05, 2022, 02:55
  • Mario Sergio Porto Mario Sergio Porto
    Foi apenas uma opinião, você tem o direito de não gostar, mas não precisava ficar zangado. Autores precisam ficar abertos para qualquer tipo de crítica, mas se incomodou tanto, me desculpe, pode apagar, tudo bem. June 06, 2022, 03:09
Mario Sergio Porto Mario Sergio Porto
Parece uma trama promissora, mas US$5 por uma história de apenas 10 capítulos pequenos, não é tão convidativo. Pelo menos 20 capítulos, para se torna atrativo. Minha história, neste tema, e também publicada aqui tem 23 partes de 3500 palavras cada, totalizando cerca de 85000 palavras e está, por enquanto, gratuita.
Willian Coutinho Willian Coutinho
Eae beleza? Ficou muito bom esse começo. Me lembrou de Astro Boy heheh. Gostei do nome do capítulo ser uma coisa dita no meio da história. Só uma coisa que acho que é aqueles erros bestas que a gente deixa passar sem querer. Na parte "Olhar para essas fotografias agora até me uma sensação de nostalgia" acho que teria um "até me DÁ uma sensação de nostalgia" Ficou uma lacuna ali. Ainda não li os outros capítulos, mas com esse final da vontade de seguir lendo

  • A.L. Brook A.L. Brook
    Valeu por avisar! Corrigi lá! =] February 13, 2022, 22:56
Demian Raphael Demian Raphael
Gente... isso está muito bom, tô realmente supreso com o final,amei

  • A.L. Brook A.L. Brook
    Fico feliz que tenha gostado! ^^ Logo mais sai um capítulo novo! May 17, 2021, 22:23
Rd Raiane de
♥️

Luana Borges Luana Borges
Top demais ❤️

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