Anselmo vê as nuvens chumbo, ignora o guarda-chuva. As gotas de chuva caem, ignora o aviso da guarda-costeira. Entra no seu barquinho, teima em chegar do outro lado. A chuva vira uma tempestade, uma cortina sólida de água. O pequenino de velas rodopia, ignora a ajuda dos barcos maiores. Os raios cortam o ar, os ventos açoitam o mar, ele apenas ignora. A chuva lava tudo, menos a dor, a de ignorar os avisos. Do outro lado, os fragmentos do barquinho avisam que Anselmo ficou no meio do caminho.

As águas retomaram seu lugar. Em 3020, os esqueletos dos prédios jaziam por habitação dos peixes. Nas profundezas, podia ser lido numa placa azul presa aos destroços: avenida Nossa Senhora de Copacabana. Também, visitantes eram vistos por lá. Possuíam braços, pernas e cabeça, pendentes do tronco. Cheiro das profundezas das águas salgadas. Grandes. Ameaçadores. Dominará o novo ser humano sobre os peixes do mar? Maglutos.

A Casa Principal tinha poder sobre as famílias da Casa Secundária. Hiroshi Hyuuga sabia que era assim há muito tempo. Suas emoções estavam machucadas, o rapaz passou a acreditar que aquele era seu fado. As palavras do seu primo Koji Hyuuga ainda podiam ser ouvidas em sua mente: "não adiantou fugir de seu destino. Você nasceu para isso Hiroshi, para ser sempre um escravo." Ele poderia aceitar o poder daquelas palavras ou realimentar o ideal de que nem tudo deve continuar sendo como sempre foi.

O cheiro de enxofre daria tonteira para qualquer um, menos para os seres que acompanhavam o lorde reptiliano. Nas profundezas, diante da forma ofuscada espectral, dobraram seus joelhos e inclinaram suas cabeças em submissão. Suas mentes recebiam a funesta missão. Assentiram e levantaram-se, retiraram-se em seguida. Os sete emissários retomaram o caminho. A missão fora confiada àquelas sete testemunhas do poder incomensurável da criatura das profundezas. Os Sete Flagelos ganharam a estrada...

Ele abraçou a filha. Chorou muito. Acreditou que, de alguma maneira, Margareth estivesse ali. No entanto, Zyan sabia que na verdade aquela menina não era sua filha. Os pés, as mãos, o rostinho, os olhos castanhos, o sorriso meigo, tudo era uma cópia humana para aplacar sua dor da alma. Envolveu-a com força sem saber o que fazer daquele momento em diante. Enlouquecer?

Chegou o dia em que Matilde cumpriria o que prometera a si, quando criança. Por gerações, contavam-se histórias sobre a floresta: habitação de monstros, ataques de feras e aparições de entes . Ninguém no vilarejo ousava atravessá-la. Isolados pelo medo, viviam como seus antepassados. A jovem faria o inconcebível. À vista de todos os pesarosos, entrou no antro. Anos depois, retornou pilotando um helicóptero, com novos alimentos e vacinas.

Jonas profetizou na rua. Era apelidado assim no bairro por ter um cão chamado Baleia. O nome verdadeiro ninguém sabia, nem ele mesmo. Carregava um sotaque de estrangeiro, perambulava pelas ruas há décadas, vivendo de profecias e doações. Diziam os idosos que ele previu a Crise do Petróleo, As Diretas Já e a morte dos Mamonas Assassinas. O mais intrigante é que o bolão na vizinhança, sobre quanto tempo ainda viveria, não teve ganhador, a maioria morreu de velhice. Jonas continuou a profetizar.

O comedido universitário Estremegildo queria poder ler a mente das pessoas. Primeiro, gostaria de saber se caçoavam do seu nome. Segundo, descobrir um segredo do caçoador para fazê-lo pagar de alguma forma. Antes de dormir, desejou intensamente. Pela manhã, já na sala de aula, almejou não ter recebido o dom. Saiu estremecido pelos corredores com o rosto vermelho.