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Roy não se lembrava de quem era Audrey, apesar da moça estar sempre ao lado dele a três anos ininterruptos. Porém, o fato de que ela o quer morto a qualquer custo, não parece significar boa coisa sobre o passado que provavelmente tiveram juntos.


Conto Para maiores de 21 anos apenas (adultos).

#terror #Espelhos #Audrey #morte #violência #sangue
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Audrey

Batendo com força a porta atrás de si, Roy Johnson caminhou em direção ao elevador com certa dificuldade por causa do tornozelo direito que se encontrava inchado. Uma consequência da noite anterior que Johnson mal se lembrava, ainda que isso não o impedisse de ter consciência do que provavelmente aconteceu.


E então seu maior obstáculo estava a espera com as portas abertas, vazio. Roy observou por uns longos minutos o elevador e a área das escadarias, tentando decidir entre um e o outro, mesmo sendo óbvio que se pegasse o elevador chegaria mais rápido do que descer degrau por degrau. Ainda mais com o tornozelo torcido que dificultaria tudo e faria com que levasse o dobro do tempo, e infelizmente, além do azar de morar no décimo quinto andar, Roy também não possuía tempo para desperdiçar. Principalmente se quisesse chegar no horário em que precisava.


Em dias "normais", em que estivesse com o psicológico mais estável, enfrentar o elevador e seus espelhos de ambos os lados, seria menos difícil. Mais nesses dias raramente o fazia, preferia as escadas, assim como o fato de não ter nenhum espelho em seu apartamento ou alguma superfície espelhada. Evitava ver seu reflexo em qualquer lugar, até mesmo nas vitrines das ruas, no trabalho, não importava como estava sua aparência, a curiosidade de saber sobre isso morreu a muitos anos.


O medo de se olhar em um espelho e junto a si ver Audrey, uma jovem dona de um sorriso contagiante e lindos cabelos castanhos que acompanhava Roy a três anos sem interrupções, era constante e interminável. Não importava para onde olhasse e se visse, ela estava junto, às vezes ao lado ou mais distantes e às vezes perto demais. Porém, isso foi apenas durante um ano, pois no segundo Audrey começou a falar. Alucinação, era o que ela parecia ser, certo? Mas e interagir com você? Te tocar, empurrar, morder, te afogar na banheira ou na pia, resumindo, querer te matar e conseguir quase fazê-lo?


Nos primeiros meses Johnson foi a psicólogos e até psiquiatras, mas eles e seus tratamentos não pareciam trazer alguma melhora, então os deixou de lado e seguiu com Audrey ao seu lado. E então, a três anos descobriu que ela somente podia lhe fazer mal se fosse vista, se Roy a olhasse, espelhos eram a chave de tudo. Isso ajudou um pouco, mas não muito. Ainda podia sentir a presença dela pelo apartamento, o olhar à suas costas que queimava e quando se virava não havia ninguém ou havia uma cadeira que fora parar ali do nada. A risada que ecoava junto aos passos dela, e se parasse e ficasse bem quieto, sem se mexer ou respirar, podia ouvi-la sussurrar em seu ouvido palavras nada agradáveis.


A noite os pesadelos vinham em várias formas e contextos, mas tinham sempre o mesmo desfecho que deixava Roy acordado pelo resto da madrugada remoendo a morte de Audrey. Em seus sonhos eram sempre suas mãos que se enchiam pelo sangue dela rapidamente, podia senti-lo quente, quase como se estivesse mesmo ali entre seus dedos. E quase antes de morrer ela sempre sussurrava "É tudo sua culpa" e Roy acordava, como se vê-la morta e gelada em seus braços por mais um instante fosse deixá-lo mais louco ainda.


Se alguém perguntasse a Johnson quem foi exatamente Audrey e como ela morreu, não saberia responder a nenhum dessas coisas. Apenas se lembrava dela a três anos atrás, quando olhou-se no espelho do banheiro de uma rodoviária e a viu atrás de si, sorrindo para si como se não fosse nada demais e nem um futuro enorme problema. Não lembrava-se dela e nem sabia nada sobre sua pessoa, porém sentia saudades, o sentimento vinha algumas vezes na solidão do quarto quando a presença dela sumia misteriosamente. Não a odiava mesmo com todas as tentativas de Audrey em dar um fim a sua vida.


Não a odiava, porém evitava ter que notar sua presença a qualquer custo, e o de hoje não valeria a pena, pois acarretaria consequências imutáveis. Então ter que lidar com Audrey parecia o mais viável, mesmo que talvez o deixasse com o psicológico tão abalado que a memória desse momento fosse bloqueada por si, assim como fora com a da noite anterior onde conseguiu uma lesão dolorosa no tornozelo e nem sabia como. E no fim também não queria saber, poderia ser mais alguma coisa difícil de lidar que o deixaria ainda mais fodido.


Roy entrou no elevador o mais rápido que seus pés permitiram com os olhos fechados, que ficaram tentados em se abrir ao sentir uma presença, instantes antes das portas se fecharem, entrar correndo esbarrando em seu ombro. Podia ser Audrey ou apenas um vizinho do andar, porém preferia a incerteza a correr o risco de descobrir.


O elevador começou a descer e um par de mãos deslizaram pelos ombros de Johnson, o fazendo se arrepiar por inteiro. Lábios frios beijaram seu pescoço delicadamente, uma respiração entrecortada soando ao pé do seu ouvido. Era ela, não havia dúvidas. Roy temia o que poderia vir a seguir, quando os lábios pararam em seu ouvido, e Audrey perguntou se havia algum problema, a voz dela mais audível, diferente dos sussurros de sempre. E o pior é que não havia ironia, apenas uma pergunta que parecia séria no ar.


Não respondeu a ela e nem pode pois com aquela oportunidade não tinha como Audrey não fazer nada, e confirmou isso quando as mãos finas e sem vida de Audrey lhe agarraram o pescoço para mais uma vez tentar matá-lo, Roy abriu os olhos sem nem pensar antes, vendo-se junto a Audrey nos grandes espelhos laterais. Apesar da situação a expressão dela se mantinha impassível, como se estrangular um homem não fosse nada demais, e não seria para ela.


Naquele tempo em que a olhou nos olhos, vendo sua vida ir aos poucos junto com o ar, Johnson decidiu que nada mais importava em relação a Audrey, nem a saudades e nem aquela pequena parte que parecia ter um sentimento mais forte por ela. Com isso decido, se defendeu com todas as forças que tinha em um soco certeiro no rosto de Audrey, fazendo com que ela batesse contra um dos espelhos. Cacos de vidro e sangue se espalharam pelo ar.


Mas isso não a parou, apenas fez com que sua face ficasse podre com sangue escorrendo por todos os lados, assim como no restante de seu corpo. As mãos antes frias e macias agora eram quase somente ossos sem pele banhados em um sangue velho. Como se fosse um feitiço sendo desfeito, mesmo que Johnson sempre soubesse que ela nunca fora algo bom, agora sem a aparência de sempre, isso parecia ainda mais claro.


Roy não soube lidar com essa nova versão de Audrey, mas não teve tempo para isso também, porque ela avançou em seu pescoço, dessa vez com um grunhido que o deixou até um pouco desnorteado, mas por sorte ou coisa assim conseguiu desviar-se do primeiro ataque. Quando o segundo veio, Roy a derrubou no chão com uma rasteira, sem dar espaço algum para que ela conseguisse se levantar. Então tirando forças de onde sequer imaginou, Roy subiu sobre seu corpo, agarrando seu pescoço mole e nojento, afundando os dedos na pele dela fazendo o sangue vazar ainda mais. Ela estava sufocando, com seus olhos esbugalhados como se fossem saltar a qualquer momento para fora. Audrey já não lutava mais, porém não conseguiria soltá-la até ver que estava mesmo morta, não conseguiria lidar mais com ela e sua presença após esse incidente, então que acabasse de vez ali.


Junto com o último suspiro de Audrey o elevador parou, suas portas se abriram e Roy saiu de lá para ir ao aeroporto pegar seu vôo bem a tempo, deixando para trás o corpo sem vida de Audrey ou foi o que pensou por breves minutos. Pois decidido a olhar uma última vez para aquele corpo moribundo e seguir em frente, Roy se virou para trás bem a tempo de ver Audrey em pé lhe acenando um adeus, viva e bem viva. O corpo havia voltado a pele normal e o sorriso de antes também, e dessa vez havia zombaria em seu olhar.


O elevador fechou suas portas e subiu mais uma vez, e já não havia mais sangue nas mãos ou roupas de Roy, mas havia a incerteza do que aconteceria na próxima vez que se vissem. Audrey era vingativa e não deixaria aquilo barato assim como não deixaria a noite passado, onde se recordando agora, Roy se lembrava de tê-la matado a facadas ou tentado como agora.


Mas isso só seria acertado quando voltasse para casa ou fosse azarado demais para acidentalmente se olhar em algum espelho durante seu caminho.


30 de Abril de 2020 às 13:44 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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awnthony ⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝙋𝙇𝙐𝙎 𝙐𝙇𝙏𝙍𝘼! -'ღ'- ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ também estou no wattpad e spirit fanfics com o mesmo user.

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