lsalcantara Lucas Alcântara

Em uma terra devastada onde nenhum homem sonhou em pisar, um andarilho segue seu rumo para descobrir o que é tão guardado além das fronteiras da imaginação. Ao chegar encontra um desafio de proporções titânicas. Ação, combate e honra nesse conto épico sobre a pergunta de um simples andarilho. O que existe depois do fim do mundo?


Conto Todo o público.

#ação #combate #armas #fantasia #mitologia #poderes
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O Viajante

Sobre a enseada rochosa um viajante caminhava tranquilamente, com roupas simples e botas de pano que mal conseguiam proteger seus pés das pedras duras e pontiagudas. As ondas batiam nas bordas, ficando mais intensas, como um desprezo constante ao andarilho que por ali caminhava, mas ele não se abalou e apenas continuou seu caminho. Um caminho cujo qual já havia decidido que não teria volta.

Aquela era a jornada final de sua vida em busca da única coisa que lhe interessava. Jornada esta que o levou a terras mais distantes que ousou sonhar, Em que conheceu amigos para toda a vida, fez inimigos que ansiaram sua morte, enfrentou perigos enormes, mas mesmo assim saiu vitorioso. Pois, seu espírito guerreiro superou a todos os outros e ninguém pôde pará-lo. Agora seu espírito o levava onde nenhum barco jamais ousou ir, onde nenhum exército ousou marchar e nenhum homem ousou pisar. Uma terra estéril, sem nenhuma planta ou animal terrestre a quilômetros de distância; apenas aves ousavam habitar aquele lugar tido como sagrado e ao mesmo tempo amaldiçoado; desejado, mas temido.

Ele chegou no fim do mundo dos homens.

Ao fim da enseada, o oceano se estendia por quilômetros até se convergir em uma cena jamais vista por ele, um imenso furacão que girava em sentido ascendente, levando as águas revoltosas até as nuvens espessas. Trovões estouravam ao longe, levando-o a memórias dos inúmeros tambores de guerra que ouviu ao longo de sua vida.

O andarilho olhou ao redor e calmamente se sentou na beira da enseada. Mesmo com as rochas duras, mesmo com a água salgada que respingava nele, decidiu parar e meditar. Só precisava de um tempo para analisar aquele momento da sua vida, sua última lembrança no mundo dos vivos. O viajante tirou uma moeda do bolso e, a arremessou no lago, e então toda ilha pareceu acordar. As águas calmas se revoltaram como um maremoto, sons de rochas quebrando puderam ser ouvidas de todo lugar e uma enorme revoada de pássaros gerou uma visão fantástica.

Um cavaleiro titânico se ergueu de uma cadeia de montanhas, desmoronando as formações rochosas como se fossem pó. Vestindo uma armadura negra como ônix, um elmo com quatro chifres arqueados e empunhando uma espada capaz de partir a terra ao meio. O cavaleiro caminhou em direção do viajante, passando pelas ondas selvagens como se caminhasse em meio a relva. A cabeça com chifres do cavaleiro tapou o sol e sua sombra cobriu toda a costa. Os trovões se intensificaram como um chamado à batalha, mesmo com essa visão o pequeno eremita continuava parado apenas vislumbrando o guardião colossal.

- Volte agora! Aqui é o fim de todas as jornadas. – Disse o guardião com uma voz tão grave quanto os trovões.
- Perdoe-me, mas a minha vida não está mais lá. – Responde o andarilho com um ar cortês. - Não há retorno para mim.
- Pois bem, se insiste nessa escolha eu te darei uma morte rápida. – O cavaleiro ergue sua espada colossal tão alto que parecia cortar os céus – Tenha a honra de ser morto por Órion, o guardião eterno.

Então ele desceu sua arma com toda força. O impacto foi tão arrebatador que explodiu o caminho pedregoso em milhares de pedaços, deixando nada além de poeira e gotículas no ar, enquanto as águas afundavam a antiga passagem.

O golpe fora certeiro e assustador, o titã se mostrava a altura do que parecia ser, mas a batalha não acabara.

Em cima da espada do cavaleiro, o viajante apareceu, firme e sem nenhum vestígio de ter sofrido o ataque. Ele começou a correr em direção ao braço do guardião, empunhando uma espada ainda em sua bainha, presa com uma corrente enrolada nela. O andarilho decidira há muito tempo que não ia parar por nada, mesmo se precisasse derrubar montanhas, cortar os céus ou até mesmo desafiar deuses, sua determinação brilhava junto com as gotas de água que voavam pelo corpo do gigante.

Ao olhar diretamente para seu adversário ele pôde sentir, por dentro do elmo escuro que escondiam seus olhos, uma sensação de respeito emanando do titã. Sabia que aquela não era uma simples batalha, era um duelo justo entre dois guerreiros e ambos deviam mostrar o que tinham de melhor. O viajante tentou correr pela espada, no entanto sentiu uma força absurda vinda de baixo. O colosso balançou sua arma em um arco para cima com a mesma potência do seu primeiro golpe, liberando uma onda de vácuo que cortou as nuvens acima dele.

O viajante foi jogado tão alto que sentiu o vento nas suas costas se quebrando como mil golpes violentos. Ele alcançou as nuvens e as ultrapassou, sendo banhado pelas luzes do sol poente. Por alguns segundos conseguiu ver o que tanto procurava. Uma pequena faixa de terra acima do mar de nuvens, além do horizonte, além do mundo, uma ilha que parecia irradiar a própria luz do sol.

Era real, mesmo com tudo que havia presenciado até aquele momento, naquele instante teve a certeza de que todo seu caminho tinha valido a pena. Ela estava logo ali, quase tão próxima que conseguia sentir seu cheiro, que conseguia ouvir sua voz, finalmente sabia que poderia cumprir sua promessa. Assim que ele voltou a cair, a ilha fantástica sumiu de sua vista, ocultada pelas nuvens densas e escuras. Enquanto isso, a figura do guardião, que antes parecia um pequeno ponto na água, voltava a aumentar e mostrar todo seu poder, mesmo daquela distância o viajante conseguia ver que seu adversário preparava outro ataque.

O andarilho segurou a espada presa com correntes à bainha e a fitou com seriedade. Aquela arma que trouxera tantas mortes, que carregava inúmeras vidas em seu fio, ele prometera a si mesmo jamais iria desembainhá-la para ferir outra pessoa, mas não lutar com todas suas forças contra aquele adversário era quase um insulto mortal. Mesmo repleto de dúvidas ele puxou o cabo com toda força, quebrando os elos da corrente, uma lâmina prateada de dois fios correu para o ar do crepúsculo e foi coberta por um brilho azul, como se absorvesse a luz das estrelas.

Lá embaixo as ondas se agitavam e o mar parecia tomado de uma fúria descomunal enquanto o guardião concentrava o próprio poder na espada, aguardando o pequeno espadachim que caía com sua espada brilhante como uma estrela cadente. Ambos guerreiros colocavam seus espíritos e poder em suas lâminas, na convicção que a batalha seria decidida naquele último golpe. Quando finalmente o mortal entrou em seu alcance, o gigante de Ônix desferiu outro ataque implacável contra seu novo adversário. A força da investida criou a ventania de mil furacões ao seu redor. Ondas de impacto destruíram a enseada rochosa. Assim que ambas as lâminas se chocaram, criaram um clarão extenso que engoliu tudo ao redor.

As águas ficaram calmas e sob elas o guardião jazia caído. Por ser tão grande, era incapaz de ser coberto pelas águas. Ele acordou atordoado, procurou sua espada pelo mar e encontrou apenas seu cabo com a lâmina partida. Aquele fato o chocou mais que sua própria derrota, a sua arma lendária, forjada no coração das estrelas de Aetheria, temida pelos próprios imortais por conter o poder de uma super nova, jazia quebrada como um pedaço de lixo. Nos escombros da antiga enseada, o viajante estava sentado, coberto de arranhões pelo corpo, mas com uma expressão serena e um sorriso no rosto.

- Você... me superou! – Disse o guardião – Nunca, desde a gênese desse mundo conheci um humano com tal poder. Diga-me, humano, qual o seu nome? Como se chama aquele que pôde rivalizar com o poder de um eterno?
- Eu não tenho nome, sou apenas um viajante. – Respondeu o andarilho.

- Pois bem, Viajante. Você conquistou sua passagem a terra eterna e também o meu respeito! Saiba que a nossa batalha ficará marcada por toda a eternidade, pois foi testemunhada pelas próprias estrelas! – O cavaleiro ergueu sua espada e aponta para o horizonte. A imensa arma se reconstruiu e um pequeno barco de jade surgiu com apenas um remo. – Vá, Viajante, siga a jornada que conquistou com sua própria força. Mas, saiba que não terá a mesma facilidade daqui em diante. Eu que sou o ser mais poderoso entre qualquer homem que já nasceu ou ainda nascerá, sou um mero servo dos verdadeiros eternos.
- Eu agradeço pelo aviso e também pelo seu respeito. - Ele agradeceu guerreiro que voltou a se sentar na ilha de onde saiu. Aquele imenso ser mostrou além do poder, um coração valente, mesmo enfrentando um inimigo que parecia inferior, este não se mostrou arrogante ou soberbo, pelo contrário, lutou com todo seu espírito.

Ao olhar para o furacão a sua frente, novamente algo correu pelo seu corpo, não sabia se era a ansiedade de reencontrá-la, ou o medo do dever que precisaria executar. Seus sentimentos ainda carregavam uma grande dúvida entre fazer o certo ou buscar o que seu coração mais desejava. Uma coisa ele tinha certeza, aquele era o único caminho que lhe restava.

17 de Abril de 2020 às 15:42 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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