okaasan Okaasan Ackerman

Incompatíveis: definição de Inuyasha e Sesshoumaru. Porém, a vida deu inúmeras voltas ao longo dos séculos e, no fim das contas, eles só tinham um ao outro. Os laços de sangue podem ser mais fortes do que o ódio, a rivalidade e as mágoas.


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público.

#inuyasha #sesshoumaru #drama #family #anime
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I - Esperando o Natal chegar


Nakameguro, noite de 23 de dezembro.

— Sesshoumaru, cheguei... — disse Inuyasha, ofegante, abrindo a porta do pequeno apartamento.

— Já não era sem tempo, tapado. Eu ia te ligar, você demorou — resmungou o outro, sem erguer os olhos do seu livro. — E aí, já constatou o que eu te disse mais cedo?

O hanyou baixou a cabeça, coçando os cabelos negros.

— Não consegui nada.

O mais velho suspirou quase que imperceptivelmente. Inuyasha, ao tirar a jaqueta, tentou sufocar uma tosse, mas não conseguiu.

— Eu disse a você, idiota, em semana de feriado não se consegue emprego em lugar nenhum! E você já se viu no espelho hoje?

— Que negócio é esse de se ver no espelho, imbecil? — perguntou o hanyou, irritado.

— Não seja retardado, Inuyasha, você está doente. Do-en-te! Está pálido, com falta de ar, olhos fundos... E tossindo, seu maldito!

— Keh! Essa tosse não é nada demais. Amanhã eu vou ficar bom! E vou conseguir um emprego!

Sesshoumaru revirou os olhos.

— Tá, tá, faça o que quiser, estúpido. Tem antitérmico na minha gaveta.

— Não preciso disso não... — ia respondendo ele, mas um novo acesso de tosse começou.

— Claro que não precisa... — ironizou Sesshoumaru. — Agora vá deitar e me deixa estudar em paz. E tome o maldito remédio!

Resmungando, Inuyasha foi para o quarto, abraçando o próprio corpo por causa do frio. Sesshoumaru tentou retomar a leitura, mas a tosse constante do outro o deixou angustiado.

*

600 anos após a batalha contra Naraku, os dois ainda conservavam traços jovens, quase que idênticos aos do passado – Inuyasha tinha algumas linhas de expressão sob os olhos, mas era só. Sesshoumaru, muitas vezes, amaldiçoou sua longevidade, ao ver sua amada mulher morrer aos 52 anos de idade, sem deixar filhos. Segundo a saudosa mulher de Inuyasha, Kagome, que morrera aos 88, o mal de Rin seria facilmente tratado na era moderna, se sua suposição estivesse correta – pneumonia. Seria eternamente agradecido à sacerdotisa pelo esforço que ela fez para salvar Rin daquela enfermidade: remédios da era moderna, combinados com rituais espirituais, dentre outras coisas. Porém, não foi o bastante e, em um dia de inverno, Rin, já muito fraca, sorriu-lhe uma última vez e fechou os olhos para sempre.

Ver sua esposa partir tão depressa foi a pior dor de sua vida, a única dor capaz de fazê-lo chorar amargamente. A Tenseiga não poderia trazê-la de volta. Perdendo um pouco da sanidade, Sesshoumaru se transformou logo após a cremação de Rin e saiu sem rumo pela floresta, uivando e ganindo, deixando grossas lágrimas caírem por seu rosto de cão. Perdeu a consciência e fora achado por Inuyasha no dia seguinte, caído em uma praia muito distante de onde vivia.

O hanyou, ainda que hesitante devido à enorme rivalidade que ainda havia entre eles, pegou-o nos braços e o levou para sua cabana. Em seu desespero, Sesshoumaru colidira com diversas rochas e árvores e quebrara o braço renascido, além de cortar a testa e se arranhar bastante. Kagome, ao vê-lo inconsciente e ainda agitado, chamando por Rin, estendeu as mãos sobre sua cabeça e projetou sobre ele um houriki quente e tranquilizador, levando-o a acordar. Inuyasha não se afastou em nenhum momento, velando preocupado pelo irmão.

O youkai se lembrava com clareza de ver os olhos marejados de Kagome, que também estava sofrendo muito com o luto, e os olhos atentos do hanyou sobre si. Levantou-se de chofre e saiu, sem dar satisfações. A última coisa que queria era a piedade do seu irmão idiota e de sua humana.

Contudo, a solidão que sentia era tão grande que se via, quase que semanalmente, voando sobre o vilarejo onde Inuyasha morava. Acenava com a cabeça para a cunhada e a taijiya Sango, viúva de Miroku, que costumavam lavar roupas num braço do rio que passava ao lado da aldeia. Um dia, Sesshoumaru se deparou com um enorme javali e lembrou-se imediatamente do irmão. Matou-o e deixou-o na porta da cabana de Inuyasha sem dizer uma palavra, diante dos olhares confusos do casal. Alguns meses mais tarde, apareceu com duas galinhas e disse a Kagome, sem rodeios, que as queria assadas para o almoço. Então, enquanto sua cunhada esteve viva, visitava seu irmão com mais frequência.

O youkai fechou o livro, já que não conseguiria se concentrar mesmo, e foi até a cozinha preparar algo para o jantar, não sem antes prender os cabelos loiros num coque. O salário daquele mês viera um pouco maior, mas ainda assim não deu para comprar a quantidade de comida que gostaria, já que ele e seu irmão caçula eram bons garfos e adoravam comer bem. Abriu a porta do velho armário e torceu o nariz.

— Inuyasha é um desleixado mesmo, guardou os panos de prato misturados com as panelas!

*

Deitado e respirando com certa dificuldade, Inuyasha ouvia música em fones de ouvido. O hanyou, em agosto, fora obrigado a sair do emprego de repositor de uma loja de brinquedos ao ter a triste notícia de que desenvolvera insuficiência cardíaca. Sua natureza híbrida não lidava tão bem com a longevidade e, em termos de saúde, era como se Inuyasha fosse muito mais velho do que seu irmão. Tomava cápsulas para hipertensão e evitava emoções fortes. Ou, pelo menos, tentava, já que seu videogame o deixava a mil. Os dois irmãos acabavam discutindo frequentemente por causa do aparelho, mas o hanyou, teimoso como sempre, nunca cedia aos apelos para vendê-lo.

Inuyasha era o mesmo resmungão irritadiço de toda vida, com a diferença de que, agora, era mais maduro e controlava bem a língua. Não tinha amigos; se limitava a apenas cumprimentar as pessoas que viviam próximas a ele. Preferiu ficar isolado, depois de ver as pessoas que amara tanto indo embora, uma após a outra. Seu refúgio era seu irmão e suas músicas – ele havia se tornado um exímio guitarrista autodidata, ao passo que Sesshoumaru adorava cantar. Não conversavam sobre o que sentiam, a música era o desabafo de ambos.

Miroku, o monge pervertido a quem considera seu melhor amigo, morrera ainda jovem, durante uma batalha contra youkais. Deixara Sango e três crianças, que cresceram, se casaram e foram embora daquela região. A taijiya envelheceu trabalhando ativamente ao lado de Kagome, auxiliando-a em suas funções de sacerdotisa, ao passo que fora ajudada pelo casal a criar seus três filhos – ambas morreram no mesmo ano.

Antes de morrer, a amada de Inuyasha havia desenvolvido um poder espiritual invejável e conjurou sobre ele um encantamento que lhe permitiria mostrar sua forma humana sempre que quisesse; bastava recitar um mantra. No dia em questão, o youkai branco se encontrava na casa e, acidentalmente, recebeu o mesmo encantamento sobre si, já que Kagome o atingira com o houriki “sem querer”. Evidentemente, ela e Inuyasha tiveram um trabalho absurdo para se defender da fúria de Sesshoumaru, que se sentira aviltado. Mal sabiam ambos que aquilo lhes seria muito útil e até mesmo essencial nos séculos que se seguiriam.

Uma noite, Sesshoumaru voava sobre o vilarejo, quando ouviu um grito de lamento. Seu irmão havia ido buscar ervas para temperar o jantar e, do nada, a coleira para demônios que estivera em seu pescoço no último meio século se despedaçara. Voltando rápido, ao chegar à cabana, encontrara sua esposa dormindo no futon. Inuyasha viu aquele rosto bonito e maduro, ficou enternecido e resolveu acordá-la com um beijo.

Kagome, porém, não respirava.

O youkai branco preferiu ir embora para não ver a dor do hanyou sem sucumbir à própria tristeza.

Após a cerimônia e a cremação da sacerdotisa, um Inuyasha totalmente destruído abandonava para sempre o vilarejo, deixando tudo para trás. Sesshoumaru apareceu na mesma tarde, procurando pelo caçula, e foi informado da partida do mesmo. Tentando ignorar a sensação de perda que lhe subiu ao peito, saiu em busca de Inuyasha, alegando para si mesmo que só queria evitar que ele fizesse uma loucura.

Encontrou-o não muito distante do poço Come-Ossos, sentado no chão, parecendo aéreo e desligado da realidade. A Tessaiga não estava com ele.

— Ei, Inuyasha — disse Sesshoumaru.

Silêncio.

— Idiota, levante-se daí. Onde está a Tessaiga? O que você fez com ela?

O silêncio continuava, os olhos âmbares do hanyou parados em algum ponto da copa das árvores.

— Fale comigo, maldito. Kagome não está mais aqui para dizer “osuwari”, o que é uma pena, pois é disso que você precisa agora...

A menção ao nome da sacerdotisa fez Inuyasha encarar o irmão na mesma hora, rosnando. As listras apareceram em seu rosto e os olhos ficaram vermelhos; o hanyou estava se transformando, depois de mais de quatro décadas de calmaria. Saltou em Sesshoumaru, arranhando-lhe o peito e o abdômen; o youkai se surpreendeu consigo mesmo, ao ver que não conseguira evitar aquele ataque. Antes, porém, que Inuyasha o atacasse de novo, pegou-lhe pelo pescoço, na intenção de fazê-lo desmaiar. Mas o sangue youkai era uma força poderosa e o caçula conseguiu derrubá-lo.

Foi a primeira luta corpo-a-corpo entre os dois irmãos, onde Sesshoumaru se deu conta de que seus reflexos já não eram mais os mesmos desde que perdera Rin. Sua alma estava alquebrada, sua altivez não se sustentava mais.

Por fim, depois de muito esforço, o youkai branco conseguiu fazer o hanyou perder a consciência. Ele acordou depois de quase uma hora desmaiado, com a mente já reestabelecida. A Tessaiga, que ele jogara dentro do poço, estava de volta às suas mãos e Sesshoumaru se encontrava sentado a poucos metros de si, segurando duas maçãs. Atirou uma ao hanyou e se pôs a comer a sua, sem delongas. O caçula ficou confuso.

— S-Sesshoumaru... O que aconteceu...? — gaguejou ele.

— Coma logo a sua maçã — retrucou ele, ríspido. — A sua mulher morreu, você ficou louco, jogou a Tessaiga no poço, virou um mononoke e tentou me matar. Respondi à sua pergunta?

Inuyasha arregalou os olhos e as lágrimas apareceram ligeiras.

— Kagome... Ela... — murmurou ele, sentindo a dor do luto voltar impiedosa.

— Morreu, ela morreu — disse Sesshoumaru, aparentando estar sem paciência alguma. — Ela era humana, estúpido. Humanos vivem pouco. Minha Rin também se foi e agora eu estou aqui... sozinho. Como você.

Os dois se encararam, um laivo de dor presente nos olhos âmbares.

— Sabe, Inuyasha — explicou Sesshoumaru — você e eu somos inuyoukais. Geralmente inuyoukais são famosos por viverem muitos séculos. A minha mãe, que você não conheceu, morreu no mês passado, com mil e doze anos. Nosso pai morreu aos quinhentos e cinco porque foi gravemente ferido, pois, se não fosse por isso, talvez ele ainda estivesse vivo hoje. E, pelo que sei, não há mais inuyoukais vivos nesta região de Edo.

— É? — ecoou Inuyasha, apático. — Por que você está me contando isso, Sesshoumaru?

O youkai bufou, irritado.

— Somos só nós dois agora, idiota. Antes de morrer, minha mãe me contou que nosso pai foi amaldiçoado por um feiticeiro a não ter uma descendência. Você e eu somos estéreis, jamais poderemos ter filhos. O legado de InuTaisho acaba com a nossa morte.

— Continuo sem entender!

— Seu estúpido! — esbravejou Sesshoumaru. — Nós não temos mais família e somos os únicos sobreviventes da espécie inuyoukai no continente. Isso quer dizer que...

— Você não está querendo me dizer que nós dois teremos que viver juntos de agora em diante, não é? — retrucou o hanyou, de cara feia.

— Oh, meu meio-irmão hanyou é um gênio! — ironizou Sesshoumaru, dando um sorriso totalmente falso.

Inuyasha se levantou, gritando:

— Pode esquecer! Eu não vou viver com você! — o mais velho, contudo, foi mais rápido e o enlaçou com seu chicote. Em instantes, ambos já estavam nos ares. — Me solta, desgraçado!

— Pode crer, detesto essa ideia tanto quanto você! — exclamou Sesshoumaru. — Mas você é sangue do meu sangue! Não vou passar os próximos séculos sozinho! A partir de agora, querendo ou não, seremos uma família!

*

Após ver que Inuyasha havia jantado bem e tomado seus remédios, Sesshoumaru saiu para dar uma volta na rua e ver os diversos brilhos e cores dos enfeites natalinos, enquanto fumava um de seus cigarrinhos franceses. Continuava bonito como sempre, atraindo olhares dos transeuntes. Sua forma humana tinha longos cabelos loiros, olhos azuis entediados e um timbre de voz mais agudo, além de um rosto simetricamente perfeito que sugeria uns 37 anos de idade e uma miopia, sua única enfermidade, que lhe forçava a usar óculos e o deixava ainda mais charmoso, o que levava a um certo frisson nas mulheres que procuravam o escritório de contabilidade onde trabalhava. Um pensamento – um presente barato para o caçula, que sofrera demais no último ano, perdendo o emprego e a saúde. Não era segredo para o youkai branco que Inuyasha tinha eventuais crises depressivas, além dos episódios de dores no peito que o levavam para a emergência do hospital.

Sesshoumaru agora entrava em uma lojinha de instrumentos. O vendedor era um senhor calvo de grandes olhos, que fez o youkai se lembrar do falecido ferreiro Toutousai. Disfarçou um sorriso.

— O que deseja, meu jovem? — indagou o velhinho.

O que diria esse humano se soubesse dos meus 986 anos?”, pensou ele, ao responder para o vendedor que queria ver clarinetes.

*

Em casa, o hanyou deixava vir à tona sua forma original, que lhe permitia respirar melhor. Conferia um fórum de jogos online no computador, quando lhe passou pela cabeça a ideia de conferir o histórico, para ver o que seu irmão andava pesquisando. Poderia usar aquelas informações para fazer piadinhas com ele. Todavia, seu coração doera ao ver a maioria dos resultados: “técnicas de relaxamento para hipertensão”, “vestibular para medicina Okayama Daigaku”, “prazo para inscrição vestibular medicina Tokyo Daigaku”, “músicas do cd Yanni Voices” etc.

Inuyasha sabia que seu irmão queria fazer medicina, mas o fato de ser agora o único provedor da casa dificultava, e muito, seu intento. Sentiu-se um lixo. Mas, antes de dar vazão à vontade de chorar, desligou o computador e pegou seu velho violão.

Como dizia a letra da abertura de um anime que gostava de assistir no YouTube, “ao invés de qualquer lágrima, me dê uma canção gentil” ¹.

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1 - Siiiiiiiiiim, Inuyasha também é fã de Cavaleiros do Zodíaco! rsrs. Esta seria a tradução mais literal para "Chikyuugi", tema de abertura de Saint Seiya - Saga de Hades. Ou, para quem não se lembrou ainda, "ouvir uma canção é melhor do que chorar; receba o meu calor e nem pense em se entregar".

30 de Março de 2020 às 01:23 0 Denunciar Insira Seguir história
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