https://www.youtube.com/watch?v=PjsITicBB3M
"As conversas têm se tornado cada vez mais curtas
nesses últimos tempos... E isso me assusta.
Me apavora que as palavras soem cada vez mais
escassas, vazias e desinteressadas.
Porque sinto como se eu estivesse caindo, sozinha,
e não houvesse um motivo verdadeiramente válido
que motivasse uma queda-livre do despenhadeiro.
Por favor, diga-me alguma coisa... Qualquer coisa.
Porque eu não entendo como as coisas tenham
chegado até esse ponto, e o não entendimento me sufoca...
Você diz que me ama, mas só me permite estar por perto
quando ela não está por ti, e eu continuo caindo.
Não entendo, não suporto, e enjoa dar-me conta
de todas as frases soltas, ditas com intenções subliminares
as quais, por tanto tempo, evitei enxergar...
Mentiras e enganos disfarçados de provocações sutis,
promessas e ilusões jogadas no vento, como brinquedos caídos.
Ah não, não me beije dessa forma, se teus lábios
apenas deixarão para trás com sua partida
juramentos inválidos e impossíveis.
Não me beije dessa forma, se os dizeres saídos dos teus lábios
não tinham intenção sincera de tornarem-se reais.
Se nunca teve verdadeira intenção de dar vida às tuas palavras,
porque simplesmente não as manteve cativa na curva dos
mesmos lábios que, por vezes, tocaram-me das
formas mais diversas e singulares?
Tudo seria tão menos doloroso...
Oh não, não faça isso, não ouse!
Não, não apareça na porta da minha casa, tarde da noite,
enunciando as razões pelas quais deveríamos ficar juntos,
quando é claro que isso não pode ser real, porque você
não quer que seja, porque não age por onde.
Não faça isso, porque eu sei, você sabe, ela também sabe
que nem você acredita no que diz e que, muito provavelmente,
amanhã digitará meia dúzia de vocábulos porcos, expressando
o quão fora tudo o que disse, e que eu deveria esquecer.
E eu vou. Ou melhor, já fui... Há tempo demais.
Mas ainda não consegui me livrar da constante
pergunta de... Por quê? Por que agir assim, sabendo que,
quando o dia amanhecer, você vai negar tudo o que disse e,
principalmente, o que pensou mas não teve coragem de proferir?
Se você não quis dizer isso, então, porque disse?
Porque? Porque? Porque? Me diga porque!
Está bêbado outra vez? É por isso que me escreveu aquela carta?
É por isso que recitou os versos da nossa canção,
como se isso fosse capaz de apagar os erros do passado?
Não, não é assim que as coisas funcionam.
E como poderia ser? Se de diálogos profundos e imersos
em variedades múltiplas, passamos a ensurdecedores
silêncios angustiantes, que não nos levam a lugar algum?
Você sabe, eu sei, todos sabem, todos vêem,
não adianta nem fingir, nem negar, ou esconder.
E eu não entendo, porque estou sozinha, por mim mesma,
e estou bem assim, verdadeiramente bem em anos mas,
quando você tecla, ansioso, dizendo que é o certo a se fazer,
meu coração dispara, inconsequente e idiota, me fazendo
pensar que no final das contas, a culpa disso tudo é minha,
por ser tão fraca... Ou talvez seja você, um bom farsante.
Por isso, não diga que precisa de mim, não faça minha cabeça
girar e girar feito carrossel, não me construa,
para logo em seguida, me destruir.
Não diga nada, por favor.
Eu prefiro o teu silêncio que me acompanhou por tanto tempo,
a ter de ouvir tua voz, e como ela soa atraente elencando mentiras úteis.
E chega a ser hilário teus atos falhos de tentar me ter por perto
uma vez mais, sempre audaz demais, confiante demais,
mas simplesmente não tem coragem de assumir seus erros.
Me cansa, me esgota, me desmorona... E eu não quero mais
ser as ruínas feitas das tuas vitórias.
Eu me cansei, eu virei a página, eu superei.
Por isso pare, apenas pare.
Cale tuas promessas, emudeça suas palavras,
silencie teus atos, gestos e jeitos, enclausure tuas
promessas e devaneios, porque neles, não caio mais.
Não diga mais nada... Apenas... Não diga.
O que ficou no passado, no passado se enterrou,
não vale a pena reviver, não é digno de atenção ou tempo no agora.
No agora, nesse instante, eu escolho a mim.
Estou deixando você no passado, estou veramente
enterrando você, e teu sorriso, e o som da tua voz,
e a cor dos teus olhos, e as pintas na tua cara, e o cheiro
do teu perfume, e a textura dos teus cobertores, e o brilho
das tuas promessas, e as tuas palavras, e tuas ironias,
e tuas mentiras, e tudo, absolutamente tudo.
À mim, isso não mais pertence. Acabou. Passou.
Por muito tempo, você me teve na palma de tuas mãos,
e Deus, como eu amava aquelas mãos mas... Isso acabou.
Agora, eu estou em minhas próprias mãos; o futuro está
há apenas um passo de distância e eu já calcei meus sapatos,
as malas me aguardam na porta da frente.
Fechei a última gaveta, não há mais cabides no armário,
as plantas transplantadas, já estão seguras em um lugar melhor.
A última carta foi guardada, o último respingo de tinta
já secou e as janelas, já fechei.
Essa é a última página, e eu não estou disposta a escrever
nem mais uma mínima nota de rodapé contigo.
Acabou. Então, por favor...
Não diga nada...
O tempo passou. Rápido.
E... Acabou."
YDC, 13/02/2020, 00:33hs.
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